Figura 1 1856. Praça do Comércio com Rua Direita.
Fonte:
P. G. Bertichem, Lithographia Imperial de Eduardo Rensburg, Rio de Janeiro.
Olho o velho
edifício amarelado ao final da Avenida Presidente Vargas e lembro que ali,
freguesia da Candelária no período colonial brasileiro, está uma obra do
arquiteto Grandjean de Montigny (1776-1850), integrante da Missão Artística
convocada por D. João: o edifício da Real Junta de Comércio, Agricultura,
Fábricas e Navegação, na antiga Praça de Comércio. Segundo descrição da época, a arquitetura mostrava: na parte superior as armas dos três reinos, em
baixo-relevo, sustentadas por dragões, e nos quatro ângulos figuras sentadas
representando as quatro partes do mundo. No interior, um salão em forma de
cruz, cercado de colunas da ordem dóricas, formavam uma galeria em roda. O teto
arqueado, parecendo abóbada, possuía, no centro, uma claraboia. Nos arcos que a
sustentavam, o dístico J. VI e as armas do Reino Unido a Portugal e Algarves
deixavam à vista os ornatos e colunas. Ao lado do mar, uma escada, que um dia
chegou ao antigo cais. O edifício esteve encravado entre os armazéns da
alfândega e, provavelmente, ali se sentia os cheiros que envolviam o cais: o do
fumo guardado, o cheiro das sacas de café, do suor de trabalhadores livres e
dos escravos que chegavam aos montes, vivos ou mortos. Era uma bela construção
e pelos desenhos de Grandjean de Montgny, do acervo do Museu Nacional de Belas
Artes, se percebe um vestíbulo
ornado com grades em fer forgè , três
portas de verga curva na frontaria e 24 colunas dóricas. Também o desenho mostra uma claraboia central onde se permite
contemplar o céu.
A Praça do
Comércio, onde estava o prédio da Real Junta de Comércio, reunia os negociantes
do período colonial. Era ali, junto aos trapiches de armazenamento das
mercadorias que saiam para exportação e entravam, pela importação, que se
juntavam mercadorias e escravos – tratados por peças, como se mercadoria fossem
– em um amarfanhado de gente rica,
impecavelmente vestida, os negociantes e compradores; os escravos da estiva na
labuta e os escravos recém-chegados que se misturavam junto ao mar. Ali circulava
o dinheiro que transformava traficantes de escravos em nobres ou em respeitados
senhores com lícitas atividades.
A Praça do Comércio da Corte, desde D. João, que a visitava sempre e ali era aclamado pela abertura dos portos, tinha grande
influência sobre as atividades na Corte. Dali saía o dinheiro para remodelar a
cidade e tornar lícitas, a partir de 1831, as atividades ilícitas dos homens que traficavam vidas.
Em 1821, uma revolta popular dali partiu, reivindicando do rei, que se preparava para
retornar a Lisboa, uma constituição liberal. A sangrenta revolta levou ao fechamento da “Praça” até 1824, quando foi
transformada em Alfândega e o prédio foi modificado por questões de segurança.
Lembranças da
história do Rio que poucos conhecem!
Para saber mais:
ALBUQUERQUE, Aline Emanuelle De
Biase. De “Angelo dos retalhos” a Visconde de Loures: a trajetória de um traficante
de escravos (1818-1858) . Dissertação (Mestrado em História) Universidade
Federal de Pernambuco, 2016.
ANDRADE, Leandro Braga de. Negociantes
regionais e mercado interno: uma análise da praça comercial de Ouro Preto,
Minas Gerais, no século XIX. Anais. XV
Encontro Regional da ANPUH-Rio. Rio de Janeiro: ANPUH, UNIRIO, 2010
FRAGOSO, João Luis Ribeiro. Homens de Grossa Aventura: acumulação e
hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional. 1992.
FUNDAÇÃO CALOUSTE GOULBEKIAN. Patrimônio
de Influência Portuguesa. PESSÔA, José Simões Belmont. Praça
do Comércio do Rio de Janeiro. Disponível em http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=861
Acesso 10/12/2018