![]() |
Praça Onze (1928) |
A Praça Onze é uma sub-região da
Zona Central da cidade do Rio de Janeiro, cujo nome foi herdado de um antigo
logradouro, hoje extinto. A Praça 11 de Junho (data da Batalha de Riachuelo) antiga,
retratada na foto de 1928, existiu por
mais de 150 anos até a década de 1940 e era delimitada pelas ruas de Santana,
Marquês de Pombal, Senador Euzébio e Visconde de Itaúna
A primeira denominação recebida
foi de Largo do Rocio Pequeno. Tendo se tornado, nas primeiras décadas do
século XX, um dos locais cosmopolitas da então Capital Federal, ao abrigar
famílias de imigrantes recém desembarcados. As etnias mais populares no entorno
da Praça Onze eram os negros (na maioria oriundos da Bahia), seguidos pelos
judeus de várias procedências. Portugueses, espanhóis e italianos, imigrantes, também
eram ali numerosos.
Em 1810, Dom João VI mandou criar uma Cidade Nova, entre
o atual Campo de Santana e São Cristovão. A área se destacou das demais ruas da
cidade velha por causa das ruas retilíneas e dos extensos lotes. Foi criada,
também, uma praça onde começava o
extenso Mangal de São Diogo que recebeu o nome de Largo do Rocio Pequeno, mais tarde, Praça Onze
de Junho.
A praça era, de início,
pantanosa, apesar de ser a única praça de comércio da Cidade Nova. No começo do
segundo Império (1848) o local recebeu melhorias: um grande chafariz
neoclássico em pedra, projeto do
arquiteto Grandjean de Montigny.
O Barão de Mauá, Irineu
Evangelista de Sousa, muito fez pelo progresso da área, com a construção, em
1851, da Fábrica de Gás, num prédio neoclássico perto
da praça, e que hoje em dia é a atual sede da Companhia Estadual de Gás. Também
em 1851 foi iniciada a obra do Canal do Mangue devido a necessidade de
saneamento da cidade que vivia às voltas
com a febre amarela. Foi estabelecido, no mesmo canal, um sistema de hidrovias
que ligava a Cidade Nova ao Centro. Em 1858, a Estrada de Ferro da Estação Dom
Pedro II atingiu aquele ponto da cidade e o sistema de hidrovias caiu em
desuso.
Com a vitória das forças navais
brasileiras contra a esquadra paraguaia em Riachuelo, no dia 11 de junho de
1865, a Câmara Municipal mudou o nome do Largo do Rocio Pequeno para Praça Onze
de Junho. Seis anos depois, a praça ganhou sua primeira escola pública, numa
época em que a área já teve várias fábricas e manufaturas. Logo em 1859
circulava a primeira linha de bondes pela Cidade Nova. Em 1872, outra linha de
bondes tornava o bairro uma área bem servida de transportes coletivos. Em 1869
o mangue foi embelezado com palmeiras.
Em 1888, havia na Praça Onze
grande leva de judeus imigrantes, sendo que um deles, Joseph Villiger, fundou
no local a primeira fábrica de cervejas do Rio: a Brahma.
Com a abolição da escravidão (1888)
e a Proclamação da República (1889), os moradores de melhor nível social
mudaram-se para os novos bairros da Zona Sul, deixando na Cidade Nova enormes
casarões desertos, logo ocupados por fábricas, casas-de-cômodos, cortiços e
barracos.
Pela proximidade das áreas
portuária e central, pelos bons transportes coletivos , pela derrubada de
muitos cortiços na área da cidade velha e pela existência no local de muitas
fábricas e manufaturas, o local foi escolhido para moradia de ex-escravos
saídos das senzalas das fazendas do Vale do Paraíba. Essa comunidade
aglomerou-se em volta da Praça Onze, transformando-a em o primeiro gueto negro
do Rio de Janeiro. Para lá, levaram sua cultura e arte, surgindo desse amálgama
social o samba, canção e dança negra de cunho nitidamente urbano, feito nas
senzalas e aprimorado na Praça Onze.
Na casa da negra baiana Tia
Ciata, ou Assiata, os muitos ritmos africanos eram tocados e dançados. Ela era
tida como conhecedora de músicas e ritmos africanos da comunidade. Dalí saíram
sambas históricos e compositores de talento como Donga, Pixinguinha e Sinhô.
Em agosto de 1928, Ismael Silva e
outros sambistas fundaram a "Deixa Falar", considerada a primeira
Escola de Samba, depois de longa perseguição policial. A divisão da "Deixa
Falar" resultaria anos depois em várias escolas: a Estácio de Sá, Estação
Primeira de Mangueira, a Azul e Branco (hoje Salgueiro) e a Vai Como Pode
(atual Portela).
Em 1933, o então prefeito Pedro
Ernesto Batista, organizou o primeiro desfile oficial de Escolas de Samba da
Praça Onze, de onde a Mangueira saiu vencedora. Os desfiles passaram a ser
anuais, naquele local, com grande afluência do público.
Entretanto, em 1942, com a
abertura da Avenida Presidente Vargas, a Praça Onze foi arrasada pelas obras,
incluindo a transferência do Chafariz de Grandjean para a Praça Afonso
Vizeu, no Alto da Boa Vista.
Apesar da destruição do local, a
resistência cultural era já muito grande e a Cidade Nova nunca deixou de sediar
os desfiles de samba, a não ser por curtos períodos. Depois, os desfile foram
realizados na Avenida Presidente Vargas. A seguir , passaram para a Avenida
Marquês de Sapucaí, no Catumbi. Foi nela que, em 1983, se construiu a avenida
dos desfiles, mais conhecida por Sambódromo, num projeto do arquiteto Oscar
Niemeyer, inaugurado em março de 1984, com um desfile histórico, onde a
Mangueira ganhou mais uma vez.
No local da velha Praça Onze de
Junho, foi levantado em 1986 o monumento em bronze e cimento em homenagem à
Zumbi dos Palmares, como lembrança da resistência cultural da comunidade negra
que ali habitou e sobreviveu a todas as intervenções sofridas naquele espaço
geográfico. A 20 de novembro, anualmente, a comunidade negra ali se reúne para
homenagear Zumbi e reviver as tradições culturais importantes que o tempo e as
intervenções não deixaram morrer.