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Ata das sessões da Congregação da Escola Normal Acervo pessoal. |
Heloisa Helena Meirelles dos Santos
INTRODUÇÃO
...a
memória é constituída por pessoas personagens... POLLAK
(1992, p.201)
A história de uma instituição centenária como o Instituto de
Educação, antiga Escola Normal da Corte, antiga Escola Normal da Capital
Federal[1],
hoje denominado Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ) tem
muitas nuances. Alguns períodos têm realces e cores nítidas, outros ficam
obscurecidos, enevoados, esfumaçados como se, em tendo existido, não tivessem
muita importância. Entendo que a memória tem uma seletividade, e essa
seletividade tem explicações. As explicações nem sempre estão afinadas com a
história oficial, e por isso ficam, por vezes, obscurecidas. Não deixam de existir,
no entanto, subsistindo de forma subterrânea e emergindo num dado momento
(POLLAK,1989). Assim, alguns aspectos da memória da história embora
importantes, por forjarem a identidade institucional, foram minimizados.
Ao começar a manusear os documentos que comporiam o Centro de
Memória Institucional do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro
(CEMI) [2]
para separá-los e catalogá-los, vi a possibilidade de conhecer algumas nuances
desta história, contida em escritas ordinárias, documentos guardados por muito
tempo, amarelecidos e precariamente conservados, que a instituição parecia
desconhecer. Assim, a reunião e leitura destes papéis possibilitaram desvelar segredos,
rever emoções, conhecer sonhos, expectativas, projetos, costumes e práticas (MIGNOT, 2003).
Até a criação do CEMI, a instituição mantinha os documentos
de seu acervo espalhados e misturados, inacessíveis em sua quase totalidade e,
por consequência, ignorados. A pesquisa da história institucional até 2006 foi
feita de forma bastante difícil, o que não permitia que se pudesse conhecer grande
parte dos documentos do acervo escolar. Por isso usou-se para pesquisas
anteriores, principalmente, o que estava disponível nos demais lugares de
memória e pouca informação, apenas o que se conseguia encontrar, do acervo
escolar.
Os acervos escolares,
no entanto, têm sido objeto de investigação de pesquisadores (SOUZA e
VALDEMARIM, 2005; MOGARRO, 2006; MOGARRO e MARTINS, 2010; NUNES, 1992; NUNES E
CARVALHO, 1993) porque, através de novas fontes que se revelam, permitem um
melhor e mais amplo estudo das instituições que os originaram especialmente nas
relações cotidianas que ali se estabeleceram e que formaram a sua cultura
escolar.
O número de documentos
que encontrei sobre a Escola Normal – seja na época monárquica, quando era
denominada Escola Normal da Corte, seja na era republicana, quando era chamada
Escola Normal da Capital Federal – períodos que me instigavam, e eram parte
significativa da cultura escolar institucional – não era grandioso em termos de
acervo, parte deles se perdeu com o tempo e o descuido; muitos foram
descartados ao longo das administrações que dirigiram a instituição; outros,
guardados sob condições inóspitas, simplesmente se degradaram, “viraram pó”,
segundo as palavras da servidora responsável por aquele arquivo, a secretária escolar
da época. Mas, percebi, ao manusear aqueles papéis de memória [3],
que o acervo que restara era muito importante e continha informações
relevantes, e ainda não pesquisadas, que remetiam a lembranças que
individualizara durante o estudo.
Bosi (2004) ao explicar
como a memória é tratada pelo tempo e por nós mesmos no processo de
agir-lembrar apresenta a substância social da memória, a matéria lembrada. Ela
é identificada, diz, através de eventos que deixam fluir a lembrança, e a forma
como ela repercute em nós, porque o recordador,
diz ela, vai paulatinamente
individualizando a memória comunitária (p.31).
Este modo individualizado de deixar fluir a minha memória
quando encontrei os documentos que contavam a história daquela instituição de
forma múltipla, heterogênea, contraditória, bem diferente da memória linear que
o dia a dia institucional apresenta e de certo modo referenda, me fez buscar o
que era meio-conhecido, do ouvir falar de minhas tias: a Escola Normal. Um
período obscurecido pela comunidade escolar, mas um período instigante para uma
professora primária, como fui.
Ao decidir-me sobre qual aspecto daquele acervo iria
concentrar minha pesquisa por muitas vezes hesitei por que
[...] a aproximação dos historiadores da cultura aos lugares de memória que pretendem
estudar postula [...], uma operação crítica meticulosa que permita construir,
com os fragmentos que esses lugares
de memória representam uma das leituras possíveis da totalidade do
processo histórico que os selecionou e revestiu de um particular significado,
para desvendar assim os códigos dos rituais que os monumentalizam e, por fim,
historicizá-los, ou seja, perceber, como num palimpsesto, as marcas do tempo
vivido que, por vezes de forma muito tênue, transparecem sob a ilusão de eternidade que é uma de
suas características. (NEVES, 2005 p.82)
Minha opção foi de
estudar a Escola Normal como um todo, a partir de sua criação em 1880, até
1932, quando a instituição passou a ser designada Instituto de Educação. Não
pude fazê-lo pela quantidade de documentação existente – em diferentes instituições
de guarda – e pelo seu manuseio, para análise e confronto, em curto espaço de
tempo.
Verifiquei, também,
que a historiografia já se ocupara da Escola Normal da Corte, como o demonstram
os estudos de Tanuri (1970), Accácio (1995, 1996,
2008, 2009), Martinez (1998), Gondra e Uekane (2005),
Lopes (2010), dentre tantos outros pesquisadores que descrevem o início
da Escola Normal, o programa ministrado, a formação de professores no Rio de
Janeiro imperial, e o Regulamento que ordenava administrativa e pedagogicamente
o educandário no oitocentos, e até a visão jornalística da escola e seus (in) sucessos como formadora de
professores no seu primeiro ano de existência mas não pesquisavam a Congregação de Professores, o que, provavelmente ocorreu, em função da própria
dispersão documental.
Nos
estudos sobre a Escola Normal do Distrito Federal destacam-se os de Accácio
(1996, 2005), Tanuri (2000), Castro (1986), Martins (1996) e Lopes e Martinez
(2007) e outros pesquisadores. Tais estudos privilegiam a década de 1930,
especialmente o advento do Instituto de Educação, embora esta designação muitas
vezes seja trocada por Escola Normal.
Também neste caso não pude encontrar estudos sobre a Congregação de Professores
daquele momento, o que permite que se possa tentar preencher esta lacuna
historiográfica com documentos ainda inéditos.
Marcílio (2001), no prefácio do livro Educação da Infância Brasileira (1875 -
1983), ao comentar o campo da História da Educação e as incursões que vêm sendo
nele realizadas a partir de 1980, enfatiza que têm sido enfocadas novas
temáticas garimpadas nos arquivos e fontes,
trazendo um renovar nos conhecimentos, uma
surpresa em descobertas e realidades inusitadas, um despertar de vocações de
pesquisa e uma preocupação com a memória no campo da educação. (p.VII).
Estudar a Congregação da Escola Normal no período
de 1881 a 1910 (Escola Normal da Corte, Escola Normal do Distrito Federal) é,
também, contribuir para o conhecimento institucional desvelando um pouco sobre
este espaço político-educativo ainda não investigado, assim como as fontes que
se apresentaram no acervo institucional.
Instigava-me
a Escola Normal do final do século XIX e início do século XX. Como seria esta
Escola de que a comunidade não tomara conhecimento e que ocupava um espaço
diferente daquele que conhecíamos? Como começara esta formação de professores
quando as escolas primárias começaram a substituir as casas-escola?
No estudo da Escola Normal republicana, há lacunas
historiográficas, especialmente da primeira década deste regime, de um momento
histórico conturbado e pouco compreendido, que talvez as novas fontes
encontradas no acervo pudessem preencher. Teria a República modificado de algum
modo a formação de professores? Qual seria o perfil do professor primário do
início da República? Como a Escola Normal esteve incluída no projeto
civilizatório republicano?
Descobri, então, que não podia desvincular o final do período
monárquico e o período republicano em sua primeira década porque os elementos
que as fontes historiográficas que consultava traziam, mostravam um período difícil
e agitado e até pouco diferenciado, apesar da mudança de regime. Qual o papel
da Congregação de Professores na Escola Normal neste período?
Pelas leituras que fiz dos documentos do CEMI descobri que a
Congregação, desde sua criação no período imperial, era legitimada pelo
Regulamento que a criou. Depois, em 1888, por força de mudanças no cenário
político, a Congregação foi extinta. Teria seu prestígio permanecido no regime
republicano?
Percebi, também, que a Congregação se tornara um grupo importante
dentro da Escola Normal e no ensino público primário da cidade do Rio de
Janeiro. Quem compunha este grupo? O que estes professores faziam?
Estes registros, especialmente os descritos nas atas da
Congregação, precisaram de confrontos com outros documentos para que pudessem
ser contextualizados e mediados, pois, como explica Lopes (2006), ao discutir
as memórias em disputa, além da credibilidade que a memória oficial deve passar
para ser aceita, ela precisa também da
organização e do registro para que possa contextualizada e mediada, deixar de
ser obscurecida (p.192). Foi este
meu propósito: deixar aclarar a memória da Escola Normal através dos seus
professores que se constituíam em Congregação, para que esta memória até então
obscurecida pudesse, também, fazer parte dos rituais, do calendário, da sala
que ocupavam – que a comunidade conhece apenas como sala de vídeo –
incorporando-se, então, de fato, à memória institucional. A Congregação de Professores da Escola Normal
tinha um papel político que a diferenciava? Quais as atribuições destes
professores?
Muitas vezes me perguntei por que a relevância
histórica da escola em que eu trabalhava não estava mais afeita ao trabalho
docente que ali tinha sido realizado, muitas e repetidas vezes de forma
vanguardista, desde a Escola Normal da Corte. Muitas vezes me questionei o
porquê do orgulho, que todos nós que ali trabalhamos temos, por estarmos
naquele espaço onde se convive com o passado diariamente, mas que não tem todo o
passado como referência, só uma pequena parcela dele, parte confundida, parte
enquadrada e parte obscurecida.
Hoje, depois de mais de dez anos de escola, depois
da leitura da maior parte dos documentos do acervo escolar, penso que, talvez,
a história coletiva tenha ficado cristalizada e ressoe de forma que, ao lá
chegarmos para o estudo ou para o trabalho, vemos aquele mundo através dos
conceitos que ali foram construídos para serem vistos (ELIAS, 1994a) sem nos
darmos conta nem da construção, nem da história coletiva que vem se
perpetuando.
A pesquisa trouxe-me também a possibilidade, através de lembranças
afetivas de minhas tias, ex-alunas da Escola Normal, de reconstituir uma
memória que nem sabia ter. Talvez, para trazer ao meu trabalho de pesquisadora,
subsídios que a memória esquecera. Pollak (1992), explicando os elementos da
memória individual e coletiva, aponta para uma construção de memória vivida
por tabela, (p.200) herdada,
que é possível existir por meio da socialização histórica onde haja
identificação com determinado passado. Assim, de forma imperceptível, fui me
apropriando da história institucional, através da memória de minhas tias e dos
inúmeros documentos do CEMI, que incorporei e nem sabia ter incorporado.
O estudo das duas épocas da Escola
Normal me apresentou a Congregações diferentes, que busquei pesquisar para,
como indivíduos, situá-los na sociedade de sua época e deixar aflorar suas
estratégias políticas e sua rede de sociabilidade que advinha de suas
atividades, seguindo a orientação de Elias (1994) de começar o estudo de um
grupo de indivíduos por cada um deles, antes de se tornarem parte daquele grupo.
No estudo da Escola Normal do Distrito Federal não pude
deixar de colocá-la na conjuntura, no contexto de uma cidade - capital do país.
Como não pude ignorar os cronistas da época – João do Rio, Lima Barreto,
Aluísio de Azevedo e Machado de Assis.
Outro ponto que considerei relevante foi trazer à discussão o
Regulamento de 1901, dentro do contexto da belle
époque que permitia, somente às moças, o estudo para a formação de
professores na cidade do Rio de Janeiro. Qual o perfil desejado pela
Congregação para a professora primária da cidade do Rio de Janeiro no século
XX?
De modo a poder analisar a
Congregação busquei como fonte e objeto privilegiado de pesquisa, as Atas da
Congregação, no CEMI. Somente achei dois grandes livros, um completo e outro,
apenas com a capa e folhas arrancadas. As páginas manuscritas, amarelecidas
daquele exemplar completo, encadernadas, com o dourado brasão do Império a
orná-la, remontando às sessões dos últimos anos do século XIX, não só
ofereceram as discussões havidas neste espaço escolar, como possibilitaram
pelas assinaturas que a referendavam, identificar seus membros e suas decisões,
através da retórica utilizada nas sessões. Nestas leituras e análises consegui
muitos indícios de Leis e Regulamentos, o que era comum quando havia
necessidade de respaldar a fala, e que apoiavam as decisões, assim como
espectros do cotidiano que valeram a pena investigar. Este livro de Atas completo foi, nesta pesquisa, fonte e
objeto privilegiado para conhecer a Congregação e apresentar os caminhos para o
estudo. Até pelo que nele não era escrito, como o período de 1897-1898, por
exemplo, onde não houve reuniões da Congregação e um rascunho de Ata,
meticulosamente cortado em quinze pedaços, achado dentro do livro.
Buscando informações sobre a Escola Normal do Distrito
Federal, utilizei também, inúmeros documentos do período, ainda no acervo do
CEMI, que apresentavam cada qual, uma peça a mais deste mosaico que optei por
montar, fontes privilegiadas e inexploradas: o Livro de Correspondências; o
Livro de Exames Práticos; o Livro de Designações; o Livro da Porta; o Livro de
Ofícios; os Programas, muitos, de vários anos, manuscritos e publicados; o
Livro de Inventário dos Laboratórios de Física e Química; a Correspondência do
Diretor de vários anos; o Livro de Inventário da Biblioteca; o Livro de
Inventários dos Bens Móveis; as reproduções parietais de diferentes Cadeiras,
de origem francesa, transcritas em português de Portugal, enfim, o acervo do
CEMI, praticamente desconhecido pelos pesquisadores porque nunca fora, antes de
2005, reunido. Isto me proporcionou, uma visão ampla e privilegiada da Escola
Normal da Corte e da Escola Normal do Distrito Federal, seja através das
escritas produzidas no seu cotidiano, seja de uma parte significativa do acervo
iconográfico.
Lancei mão, ainda, das informações de Alfredo Balthazar da
Silveira, historiador oficial da instituição que, em seu livro História do
Instituto (1954), descreveu-a, desde os primórdios, ainda que de forma
aligeirada, e sem fontes designadas, mas proporcionando inúmeras pistas, que
forneceram um esboço a ser investigado. Dentro do CEMI pude ainda ter acesso às
publicações de época como, por exemplo, os livros de Primitivo Moacyr, Venâncio
Filho, Afrânio Peixoto, Manuel Bonfim, Rocha Pombo, João do Rio, Machado de
Assis e outros, que como fontes e objetos, complementaram minha imersão no
período.
Recorri aos Relatórios Ministeriais das pastas onde esteve
vinculada a Instrução Pública, durante os primeiros trinta anos do período
republicano assim como os Relatórios da Instrução Pública e da Escola Normal e
ao Almanack Laemèrt, sob a guarda da Biblioteca Nacional do Brasil (BN),
disponíveis online no Center for Research Libraries; e aos
documentos, sob a guarda do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ), também
disponíveis online no Acervo Digital
deste Arquivo; às biografias
disponibilizadas pelos sítios da Academia Brasileira de Letras, da Enciclopédia
Itaú Cultural da Literatura Brasileira, do Colégio Brasileiro de Genealogia, do
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930) –
FIOCRUZ –; às informações sobre a cidade do Rio de Janeiro no sítio do Arquivo
Nacional e do Museu Virtual do Transporte, além de muitos outros listados nas
referências bibliográficas.
O uso destas fontes, especialmente, foi fundamental para que
eu pudesse realizar minha pesquisa sem precisar, necessariamente ir, pessoalmente,
aos lugares de memória, às fontes
para confrontar os documentos achados no CEMI e/ou para complementá-los ou
esclarecê-los.
Deste modo, usei também artigos de
revistas eletrônicas de História, de projetos que estão sendo desenvolvidos nas
universidades brasileiras, e outros que, na era tecnológica, puderam, de algum
modo facilitar o acesso às minhas pesquisas que envolveram muitos lugares de memória para revelar a
Congregação do final do século XIX e início do século XX. Esta possibilidade
usei-a sem preconceito por que precisava dos dados e pude obtê-los com a
tecnologia do século XXI.
Foram fontes, também, alguns jornais
do período estudado, onde muitos professores exerciam a função de jornalistas
e/ou debatiam os assuntos escolares, constantes do acervo da Biblioteca
Nacional Digital e de biografias específicas, que pude, também, acessar online no sítio desta instituição e outros
que pude disponibilizar pelo sítio da Brasiliana, da Biblioteca da Câmara de
Deputados (onde estiveram, em função legislativa, vários congregados e onde estão
depositadas as Coleções de Leis do Império e as Coleções das Leis da República
Federativa do Brasil). Estas fontes possibilitaram entender melhor a posição de
alguns dos membros da Congregação pelo alargamento das ideias destes docentes
apenas referenciadas na Ata e também os “casos públicos” discutidos na imprensa
sobre a Escola Normal.
Usei também, os cronistas da época
de modo a que me possibilitasse uma imersão necessária em um contexto tão
diverso do meu: João do Rio, filho do professor de Matemática, positivista e
congregado da Escola Normal, Alfredo Coelho Barreto; Lima Barreto, Machado de
Assis e Aluísio de Azevedo que, acredito, tenham trazido a belle époque ao meu texto assim como as percepções de cada um da
vida citadina tão peculiar do Rio de Janeiro do fim do século XIX e do início
do século XX.
Enfim, procurei estudar o processo
de legitimação da Congregação de Professores da Escola Normal, através da
pesquisa biográfica de cada um deles, de suas redes de sociabilidade, de seus
papéis diferenciados de conhecedores da formação do magistério primário, de
suas estratégias individuais para consolidar-se no campo intelectual e dos seus
embates, que lhes permitiam defender a legitimidade (re) conquistada pelas mãos
do ex- congregado Benjamin Constant [4],
legitimidade que assinou, junto com o Marechal Deodoro da Fonseca [5],
no Decreto nº 407, de 16 de maio de 1890, que
approva o regulamento para a
Escola Normal da Capital Federal.
Acredito que, desde modo, a
investigação contribui para ampliar os estudos sobre aspectos até então
inexplorados da Escola Normal, importantes para compreender sua história.
POR TRÁS DAS JANELAS NA PRAÇA DA
ACLAMAÇÃO
1.1
A rua, um espaço geográfico de poder
político
A
rua é um fator da vida das cidades. A rua tem alma! [...] A rua faz as
celebridades e as revoltas [...]
(João do Rio, 1995, p.4)[6]
Figura 2 Jornal Correio
do Povo de 16 de novembro de 1889
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/festas/brasil00.htm
Os professores da Escola Normal, em
sua maioria republicanos, apesar de um amplo círculo de relações monarquistas,
saudaram as novidades: a República chegara. Afinal era o que se dizia pela
cidade depois dos inflamados discursos de Lopes Trovão e José do Patrocínio, na
Câmara, defendendo o novo regime. Era o que se presenciara na Praça da
Aclamação, por trás das inúmeras janelas da Escola Normal, no dia 15 de
novembro de 1889, desde cedo. Era este o falar das ruas nas esquinas, nos
quiosques, nos bonds, ou de quem
estava só flanando [7]
pelo centro da cidade, possivelmente como o Conselheiro Aires[8],
que passava pela Praça a caminho da Rua do Ouvidor achando estranhas, naquele
dia, as pessoas e suas atitudes.
[...] a pouca gente que havia ali não estava
sentada, como de costume, olhando à toa, lendo gazetas ou cochilando a vigília
de uma noite sem cama. Estava de pé, falando entre si, e a outra que entrava ia
pegando na conversação sem conhecer os interlocutores; assim lhe pareceu, ao
menos. Ouviu umas palavras soltas, Deodoro, batalhões, campo,
ministério, etc. Algumas, ditas em tom alto, vinham acaso para ele, a
ver se lhe despertavam a curiosidade, e se obtinham mais uma orelha às
notícias. Não juro que assim fosse, porque o dia vai longe, e as pessoas não
eram conhecidas. O próprio Aires, se tal coisa suspeitou, não a disse a
ninguém; também não afiou o ouvido para alcançar o resto. Ao contrário, lembrando-lhe algo particular, escreveu
a lápis uma nota na carteira. Tanto bastou para que os curiosos se
dispersassem, não sem algum epíteto de louvor, uns ao governo, outros ao
exército: podia ser amigo de um ou de outro. Quando Aires saiu do Passeio
Público[9],
suspeitava alguma coisa, e seguiu até o Largo da Carioca [10].
Poucas palavras e sumidas, gente parada, caras espantadas, vultos que
arrepiavam caminho, mas nenhuma notícia clara nem completa. Na Rua do Ouvidor[11],
soube que os militares tinham feito uma revolução, ouviu descrições da marcha e das pessoas,
e notícias desencontradas. Voltou ao largo, onde três tílburis [12]
o disputaram; ele entrou no que lhe ficou mais à mão, e mandou tocar para o
Catete. Não perguntou nada ao cocheiro; este é que lhe disse tudo e o resto.
Falou de uma revolução, de dois ministros mortos, um fugido, os demais presos.
O imperador, capturado em Petrópolis, vinha descendo a serra. [...] (MACHADO DE
ASSIS, 1994, p. 73)
A Escola Normal, com a visão
privilegiada da rua através de suas janelas, ocupara o endereço da Praça da
Aclamação [13],
na esquina das ruas de São Pedro e São Joaquim, a partir de 1888, o que
possibilitava que os acontecimentos, em frente, fossem não só observados, mas
deles se fizesse parte.
Era um prédio imponente, embora acanhado se comparado
ao de 1927 [14],
mas sóbrio e majestoso, como convinha a um estabelecimento público de uma
cidade onde tudo – ou quase tudo – deveria assemelhar-se a Paris. Possuía dois
andares, a que se tinha acesso, conforme fotografias no acervo do Arquivo Geral
da Cidade do Rio de Janeiro, por escada interna de madeira e externa. Dispunha
de muitas janelas com pequena sacada de frente, pelo menos duas, em cada sala
interna.[15]
Ficava ao lado do ponto do bond que fazia a curva na Praça, recordado pelo escrivão Isaías
Caminha [16] que sempre tomava assento ali ao sair do
trabalho:
[...] o veículo ia-se enchendo: meninas da Escola
Normal, cheias de livros, de lápis e de réguas; funcionários de roupas
surradas; pequenos militares com uniformes desbotados... (LIMA
BARRETO, 1917, p.65)
Era um local de passagem, pois, também por ali se
fazia o trajeto dos normalistas que, indo para o subúrbio, utilizavam os trens
da Estrada de Ferro D. Pedro II [17].
Nesta época os trens partindo da Praça da Aclamação, ligavam os bairros mais
distantes ao centro da cidade velha, por isso muitos normalistas deles se
utilizavam como meio de transporte.
À entrada da Escola Normal, um jardim com poucas
árvores ladeava a construção. Era um jardim bem tratado e acolhedor, e ajudava
a separar os espaços da edificação e da rua.
A rua, é um fator de vida [...],[mas] comete crimes [...], desvaria a noite [...],
treme com a febre dos delírios [... ] (JOÃO DO RIO,1995, p.5) [18] e por isso devia afastar-se, ainda que
por pequeno portão e algumas árvores, de um edifício que mais que educar, civilizava.
A civilidade pode ser entendida neste período conturbado de
instalação do novo regime como um resquício, ainda, de uma sociedade rural,
escravocrata, oriunda de um Estado absolutista, com uma população analfabeta. Do
ponto de vista da representação política a 1ª República não significou grande
mudança em relação ao período anterior. Em 1890, no Rio Janeiro, segundo
Carvalho (2007a, p.40) eram 500 mil habitantes e só metade desta população era
alfabetizada.
A civilidade que se
pretendia desde o Império, era lenta e gradual (CARVALHO, 2007a) e é entendida
aqui, também como coerção de atitudes, não só como práticas burguesas europeias.
A coerção, neste caso, vai surgir quando de fato se implementar, no Rio de
Janeiro, a coerção de atitudes tradicionais que passam a se revestir e ser
encaradas como primitivismo colonial, avesso às modernidades da
industrialização.
O estudo da arquitetura dos prédios escolares (WOLFF, 1992; FARIA
FILHO e VIDAL, 2000; VIÑAO, 1995) tem mostrado que, à vista do passante, o
espaço escolhido para educar deveria transparecer a nobreza das intenções do
ato educativo assim como a estabilidade da administração pública. As janelas da
Escola Normal se destacavam para propiciar, quando abertas, luz e calor ao
espaço interno e possibilitar uma ampla visão do que se passava no exterior.
Assim sendo, também podia ser fonte das muitas informações da rua, antes que se
tentasse separar os dois espaços.
A posição
de fonte de informações, ainda que a isso não se habilitasse, fez da Escola
Normal, pela localização e as inúmeras janelas, parte do intrincado processo
noticioso da imprensa no Rio de Janeiro do século XIX, que incluía a Rua do Ouvidor [...] a casa do Moutinho ou do Bernardo, a casa do
Desmarais ou do Garnier, [que eram]
verdadeiras estações telegráficas [...] (MACHADO DE ASSIS, 1873, p. 107), ou,
ainda,
[...] no burburinho
continuado de vozes da cidade, dos gritos e sussurros das ruelas e praças, o
que se ouvira dizer, as informações que “corriam léguas” e já “andavam de boca
em boca” migravam para as páginas impressas. À medida que produziam informações
que já eram do interesse de muitos, já que “corriam de boca em boca”, os boatos
recebiam a certificação para a publicação. (BARBOSA, 2009, p.130).
O espaço abrigara, antes da chegada da Escola Normal, a
Escola da Freguesia de Sant’Anna, uma das Escolas do Imperador. As Escolas do
Imperador foram construídas com o dinheiro arrecadado por populares para a
construção de uma estátua do Imperador D. Pedro II logo após o término da
Guerra com o Paraguai, em 1870. O Imperador não aceitara a homenagem e sugeriu
que fosse empregado na construção de escolas públicas primárias. Foram construídas
então, com este dinheiro, dez escolas: Escola da Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição da Gávea depois chamada Escola Municipal Luiz Delfino; a Escola da
Freguesia de Nossa Senhora da Glória, que hoje é chamado Colégio Estadual Amaro
Cavalcanti; a Escola da Freguesia de Santa Rita, onde hoje funciona o Centro
Educacional José Bonifácio; a Escola da Freguesia de Sant’Anna, que hoje é a
Escola Municipal Rivadávia Corrêa; a Escola de São Francisco Xavier do Engenho
Velho, que hoje é a Escola Municipal Orsina da Fonseca; a Escola da Freguesia
de São José e a Escola de São Cristóvão, que hoje é a Escola Municipal
Gonçalves Dias. É emblemático o episódio,
ocorrido após a Guerra do Paraguai, no qual D. Pedro II doou o bronze da
estátua equestre que seria erguida em sua homenagem para a construção de
escolas.
As escolas então construídas, que ficaram
conhecidas como "Escolas do Imperador", caracterizam-se pela
imponência que resulta da escala e da implantação e pela nobreza em seu
acabamento e materiais. A arquitetura obedece ao estilo classicizante
(simetria, embasamento de cantaria, frontões, ordens clássicas, vergas em
arco). A simetria é não apenas um recurso formal, mas conseqüência da
necessidade de dividir o espaço da escola em ala feminina e masculina. Os
relógios engastados nos tímpanos, em substituição aos sinos, são bastante
claros quanto à ruptura entre Estado e Igreja, inclusive caracterizando o
primeiro com a marca da modernidade. Neste mesmo frontão encontravam-se ainda
as armas imperiais. As duas torres laterais acabam por conferir um aspecto de vigilância,
ou proteção, ao entorno do edifício. Os nomes das escolas são dados em função
do bairro onde se encontram. Nestes bairros, ficam sempre defronte a praças,
onde poderiam assumir proeminência junto à população, numa provável analogia
com as igrejas Tinham dimensões
monumentais e localizavam-se nas freguesias - como eram chamadas, à época - as
diferentes áreas da cidade. Nessas escolas, a instrução era gratuita, separada
e diferenciada por sexos. As meninas aprendiam as letras, matemáticas e prendas
domésticas. Os meninos, além das letras e matemáticas, aprendiam as ciências. (DRAGO e PARAYSO, 1999) [19]
Estas escolas de ‘ler e escrever’, foram sendo construídas no
período de 1870 a 1889, e se destacavam pelo grande e majestoso prédio que as
abrigava. A Escola da Freguesia de Sant’Anna, originalmente a escola primária
que ocupava o prédio que fora dado à Escola Normal, teve sua pedra fundamental
lançada em 5 de outubro de 1874, pelo Imperador D. Pedro II, com projeto
arquitetônico do Engenheiro Francisco Pereira Passos. A construção, inaugurada
em 1877, segundo documento impresso do Centro de Referência do Município do Rio
de Janeiro[20], abrigou
a primeira escola primária para ambos os sexos da cidade do Rio de Janeiro. O
governo encomendara ao Engenheiro Francisco Pereira Passos o projeto de
construção sendo esta realizada em terreno doado pela família Raythe.
A Escola Normal para
ali se mudara em 1888, após algumas alterações no projeto arquitetônico
original de Pereira Passos, de modo a abrigar uma escola formadora de
professores. Era um prédio suntuoso, como o das escolas primárias do período, e
passara a ter próxima a si, seu curso anexo, por isso a Praça da Aclamação
provavelmente estava sempre cheia com o vaivém dos alunos do primário, dos
normalistas e dos professores.
A Escola Politécnica [21]
teve, enfim, com a mudança de endereço da Escola Normal, as suas salas e seus
laboratórios de volta para os cursos de engenharia, depois de oito anos, mas
isso criou um problema para os trabalhos pedagógicos, especialmente nas
Cadeiras de Física e Química, que somente se resolveria no período republicano.
A ida para a Praça da Aclamação, que permitira a
ocupação de todo um edifício, com a possibilidade de uma Escola Anexa, trouxera
o problema da falta de Gabinetes. O programa de ensino estabelecido anualmente ficara
prejudicado em termos metodológicos porque não havia como usar apenas a palavra
para motivar os sentidos, para atingir-se a racionalidade de que se precisaria
para aprender estas disciplinas. Sem o uso dos gabinetes e, por conseqüência
sem a experimentação, como explicar termologia, ótica, barologia, as
composições e reações químicas no método intuitivo
[...] que corresponde ao método
experimental em uso em níveis mais avançados de ensino, pois a experimentação é
um procedimento aperfeiçoado da observação. O caminho a ser seguido é progredir
da percepção à idéia, do concreto ao abstrato, à inteligência por meio dos
sentidos, ao julgamento por meio de provas [...] (VALDEMARIN, 2004, p.107)
A resolução do problema foi dada com a implantação dos Gabinetes
de Química e Física, longos anos depois. Neste caso com o substancial auxílio
do Ministro de Instrução Pública, Correios e Telégrafos, Benjamin Constant, que
providenciou a compra do material. Os itens foram listados pelo Professor
Engenheiro Pedro Barreto Galvão, responsável pelas Cadeiras de Química e Física,
e comprados na Europa pelo Professor Vicente Athanazio Licinio Cardoso, que lá
estava em viagem pedagógica de cunho oficial.
Naquele espaço geográfico importante da Praça da Aclamação, o
centro político-administrativo da cidade do Rio de Janeiro, a Escola Normal
acompanhou cada acontecimento cotidiano, as agitações abolicionistas, a
repercussão da abolição da escravatura, o movimento republicano, as
modificações que foram surgindo no seu entorno e na própria cidade, que ganhava
a cada dia ares de capital europeia, mesmo com interstícios de cólera próprios
de países pouco civilizados; de roupas bonitas nos transeuntes que passavam
distraídos em ruas mal cheirosas.
Da mesma forma a
cidade que crescia, nos moldes europeus, acompanhava a Escola Normal através do
debate, nos jornais, de assuntos escolares, descritos às minúcias por parte de
sua congregação de professores, em sua grande parte jornalistas. Importante
destacar que o Jornal do Commercio e
o O Paiz não apresentavam
ilustrações, enquanto que O Correio da
Manhã apresentava um folhetim
ilustrado e o Jornal do Brasil se
destacava por apresentar, cada vez em maior número, ilustrações diariamente.
Isto quer dizer que somente os letrados tomavam conhecimento do que estava
atrás das oito ou dez folhas de O Paiz
ou de O Século,[22]
jornais onde os congregados discutiam assuntos que haviam sido temas de sessões
anteriores. Esta é outra peça do mosaico da Escola Normal, conhecê-la através
das páginas dos jornais, ainda por investigar, visto não ser objeto desta
pesquisa.
A Escola ocupava,
então, um espaço geográfico privilegiado num local onde se demarcava sua
posição social, por isso, e pela forma como se representava, legitimamente, no
campo intelectual, tudo que ali acontecia, interessava a quem sabia ler. O
caso, por exemplo, descrito no O Paiz
em junho de 1899[23],
sob o título Escola Normal, comenta
que o Professor Narciso Figueira Faria teria dito palavras grosseiras a uma aluna; a denúncia do Jornal do Commercio que reclamava do cumprimento do programa da
Escola Normal[24];
o sensacionalismo do jornal A República
que divulgou, em 1897, com estardalhaço, que uma aluna da Escola teria
contraído matrimônio com um homem que já era casado[25];
tudo interessava.
Figura 3 Prédio da Escola Normal
Praça da Aclamação (Visão lateral. No chão os trilhos dos bondes que
circundavam a praça) Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
Interessava, talvez,
porque o homem devia interessar à rua, no seu desejo de ganhar a vida com mais
abundância ou mais celebridade. Esta história começou, provavelmente, com a rua
vendo o homem a fazer discursos, mas, as palavras, levava-as o vento. O homem,
então, ingenuamente, ficou a prender
cartazes para que o vento não levasse suas palavras a melhor conserva, o doce mais gostoso,o ideal político mais austero, o
vinho mais generoso... (p.15) Como se os cartazes não bastassem, resolveu o
homem compor-lhe a história e fizemos o jornal – esse folhetim-romance
permanente, composto de verdades, mentiras, lisonjas, insultos e da fantasia
dos Gaboriau que somos todos nós... (JOÃO DO RIO,1995)
A foto de Gutierrez, feita no quinto ano republicano,
apresenta a vista, tomada do morro da Providência, dando um idéia do entorno e
as possibilidades da Escola Normal para apreciar qualquer manifestação feita na
praça da Aclamação. Em segundo plano, à esquerda na foto, o Quartel General
(erguido em 1811 e demolido em 1937 para dar lugar ao Palácio Duque de Caxias)
visto pelos fundos e, à direita, a estação de embarque e as oficinas da Estrada
de Ferro D. Pedro II; em segundo plano, acima, o Campo de Santana, área do
antigo Campo da Cidade, antes designado Campo de Aclamação, urbanizada no
início do século XIX, e reformada a partir de 1873, segundo projeto do
paisagista francês Glaziou[26].
Ao fundo, o morro de Santo Antônio, e, à esquerda, o morro de Santa Teresa. No
entorno da Praça da Aclamação funcionavam: o Paço Municipal, o Quartel Geral do
Exército, o Senado, a Casa da Moeda e a moderna Estrada de Ferro D. Pedro II.
Ali perto, à Rua do Ouvidor número 70 [27],
bem à porta da Gazeta de Notícias,
conta Afrânio Peixoto (1944, p.167), que Capistrano de Abreu escreveu no
quadro-negro que ali existia, que a República havia sido proclamada e que,
tantos quantos por ali passavam liam e, de imediato iam divulgando a notícia.
Não sei exatamente a intenção de Afrânio Peixoto ao publicizar este fato, se
ele desejava ser um personagem da memória do regime que se instalava, ou se lhe
aprazia demonstrar uma rede de solidariedade no jornal. Não sei, mas ele foi
congregado da Escola Normal, e foi seu Diretor, suas intenções sempre foram
ideológicas, pois a Congregação, como seus partícipes, não eram neutros. Sobre ele, e para uma conclusão ainda por
vir, conta seu amigo Josué Montello que
[...] para quem teve o
privilégio de conhecê-lo, como eu o conheci, em longo convívio, quase dia a
dia, houve dois Afrânios: um que se transferiu para seus livros; outro, que não
se separou do próprio Afrânio, e que o acompanhava aos salões, aos encontros de
rua, às conferências e às salas de aula. O segundo, sem dúvida alguma, era
maior que o primeiro. Porque os livros não conseguiam captar e guardar todo o
fulgor da inteligência do mestre baiano, que dava de si, com todo o brilho, no
improviso de uma palestra ou de uma conversa. Baixo,
cabeça grande, uns restos de cabelos grisalhos, que penteava com um pente
pequenino que a mão esquerda segurava, não tinha ele a voz harmoniosa nem
falava alto. Mas ao falar impunha silêncio repentino. A frase curta como que se
alongava nas pausas intencionais a que o olhar muito vivo comunicava o matiz de
uma intenção maliciosa ou terna, e nisso estava o seu poder de comunicação.
Nessas ocasiões, sabia tudo, e sobre tudo dissertava, com a memória pronta, o
comentário jovial na ponta da língua.
(VENÂNCIO FILHO, 2007 p.8)
1.2 Sonhos e anseios republicanos
A República, à vista dos transeuntes e dos olhares
preocupados por trás das janelas na Praça da Aclamação, trazia novos tempos
para o país que se construía celeremente desde a Independência, eram novos
tempos para a população letrada que, desde a abolição da escravatura, fazia de
tema principal este assunto, a república, nas esquinas, confeitarias,
associações e nos inúmeros quiosques espalhados pela cidade; eram novos tempos
para os professores da Escola Normal que, desde 1888, não tinham mais poder
político, pois que o novo Regulamento proibia as sessões da Congregação de
professores designando-as, apenas, como reuniões pedagógicas.
Os
professores da Escola Normal tinham provavelmente a esperança de fazer
ressurgir na República a Congregação, legitimada pelo poder público através do
Regulamento, como o fora durante o Império, até a reforma proposta pelo Decreto
10.060, de 13 de outubro de 1888[28]
que a extinguiu. Era este, possivelmente, o desejo dos professores naquele dia
movimentado da instauração da República. Afinal, os temas de interesse de
indivíduos e de grupos, dentre eles o dos professores, estavam na ideia de
República. (CARVALHO, 2005a)edito Calixto
O grande movimento do Campo da Aclamação naquele dia
de “proclamação” deve ter sido o tema do espanto e de todas as conversas
possivelmente porque de nada sabiam sobre o evento. Explica Carvalho (2007b)
que a participação popular no ato foi menor que na proclamação da independência
porque não havia movimentação popular nem de aprovação, nem de desaprovação da
República. Na verdade, os jornais só publicaram o que viram ou ouviram dizer, o
que era bastante comum no Rio de Janeiro do século XIX. Não houve sequer uma
fotografia ou desenho que ilustrasse a informação. Como era necessário ao
regime reter na memória a data e o fato, cinco anos depois, em 1894,
reuniram-se na Praça da Aclamação, então já designada Praça da República, todos
os envolvidos que, relembrando o dia 15 de novembro tal qual ocorrera,
possibilitaram que fotos fossem feitas e quadros, como o de Calixto,
retratassem àquele momento, principalmente para os muitos habitantes que não
sabiam ler.
A
reforma na Escola Normal, expressa no Regulamento de 1888, causara um enorme
rebuliço que fora discutido dentro e fora dela pelos jornais, visto que grande
parte dos professores também era jornalista de profissão. Assim os jornais
refletiram a ação política dos professores e de seus adversários porque o
jornalismo era também, neste momento, um modo de fazer política.
Não
só os professores tinham sonhos. Também os tinham os brasileiros que sonhavam
com mais moralidade, com mais patriotismo, com mais poder, com mais democracia.
A ideia de República carregava junto o sonho dos descontentes com a
monarquia.
Por falta do conhecimento da leitura e da
escrita, que não interessava às lutas de família, a população ficou sempre
alheia aos debates jornalísticos e literários, ainda que participante indireta
dos acontecimentos que ouvia, parcialmente sendo relatados, na rua, ou vendo
charges e caricaturas que apresentavam, satiricamente, os fatos que não se
podia ler.
Ao estudar o processo de urbanização no Brasil, Viotti
da Costa (1979) mostrou que, nas cidades, eram frequentes as lutas de família
porque as relações pessoais de parentesco, clientela e padronagem tiravam a
população do processo político direto e, ainda, reforçavam o poder dos
proprietários rurais. Por isso o espanto
dos transeuntes não teria sido, possivelmente, incomum e o que se via e noticiava
por carta, também não, como retrata um texto literário:
Queres tu saber meu rico irmão, a notícia que
achei no Rio de Janeiro, apenas pus pé
em terra? Uma crise ministerial. Não imaginas o que é uma crise ministerial na
cidade fluminense. Lá na província chegam as notícias amortecidas pela distância,
e, além disso, incompletas; quando
sabemos de um ministério defunto, sabemos logo de um ministério recém-nato.
Aqui a coisa é diversa; assiste-se à morte do agonizante, depois ao enterro,
depois ao nascimento do outro, o qual muitas vezes, graças às dificuldades
políticas, só vem à luz depois de uma operação cesariana. (MACHADO DE ASSIS,
1873, p. 105)
No meio dos acontecimentos, na Praça da Aclamação,
estava o professor, e ex-congregado, da Escola Normal, Benjamin Constant. Ele
foi saudado e carregado nos braços como o foram, também, Quintino Bocayuva e
Deodoro da Fonseca[29].
Cada um deles republicano de uma república completamente diferenciada uma da
outra e que estava, naquele momento se implantando como regime brasileiro.
Os fatos não eram, porém, somente
aqueles a que tinham acesso os olhos ansiosos e estupefatos de quem andava pelo
centro da cidade do Rio de Janeiro, ou se escondia por trás das janelas dos prédios,
dentre eles a Escola Normal. A res
publica[30]
chegava, dividida, multifacetada, tal qual um caleidoscópio, e para
consolidar-se precisaria unir idéias diferenciadas.
Os militares, por exemplo,
desejavam uma república moralizadora sem políticos corruptos, uma república
patriótica; já os positivistas, uma república sociocrática, autoritária e
voltada aos problemas sociais; os chamados jacobinos [31] queriam uma república popular e
democrática mas com um poder centralizador; ainda os chamados republicanos
históricos[32]
queriam uma república liberal, federalista, que representasse os interesses da
oligarquia rural.
Naquele dia 15 de novembro professores, alunos e funcionários
puderam, provavelmente, observar das grandes janelas da Escola Normal, como foi
descrito no jornal Novidades-RJ, que
as tropas estavam reunidas desde o amanhecer em frente ao quartel, fechado e
vigiado com guardas portando baionetas, onde se mantinha prisioneiro do povo e dos militares [33], o gabinete do Império.
É possível que tenham percebido, também, que evoluíam sob o
comando do general Deodoro da Fonseca, os 1o e 9o Regimentos de Cavalaria, o 2o Regimento de Artilharia de Campanha,
os 1o, 7o e 10o Batalhões de Infantaria, os Corpos
de Imperiais Marinheiros e Navais, os Corpos de Alunos das Escolas Militares da
Praia Vermelha e da Superior de Guerra, o Corpo de Bombeiros e os Corpos de Polícia
da Corte e da Província do Rio, como descreveu o periódico.
Teriam visto, possivelmente, as
tropas permanecerem no Campo da Aclamação durante horas e ouviram-nas,
certamente pela proximidade, dando sucessivos vivas à liberdade, ao Exército, à
Armada e à República. E, se viam e
ouviam, provavelmente perguntavam-se o que acontecia e, ao saber, indagavam-se o
que lhes reservara o novo regime.
Importante ressaltar que, apesar
da imprensa haver noticiado amplamente a República que surgia, após os fatos da
Praça da Aclamação, houve tensões para promover uma construção oficial dos acontecimentos,
assim como para estabelecer um mito de
origem (CARVALHO, 2005a, p.35). Isto se deveu pela necessidade de ter que
ser demonstrado para a posteridade que o movimento militar envolveu também a
população civil no seu período conclusório. Para consolidar o mito foi necessária a colaboração da
imprensa.
O papel da imprensa na construção da ideia de
República, como “leitora” e “escritora” dos acontecimentos que se passavam
dentro e fora da Praça da Aclamação foi fundamental para não apenas informar os
fatos, mas também, como formadora da opinião pública. Sodré (1999) informa que,
em 1887, a imprensa republicana já contava com 74 jornais distribuídos pelo
país[34]
(p.238) e mais de duas centenas de Clubes Republicanos que não se cansavam de
distribuir panfletos. Assim, dois anos depois, é possível que o número de
jornais, só na cidade do Rio de Janeiro, fosse bastante grande e republicano, o
que, por certo, dá parcialidade ao que fosse publicado. Os jornais do período publicaram
assim o que viram, ou ouviram:
Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos tão
graves e tão imprevistos que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa.
Rompeu com o dia um movimento militar que, iniciado por alguns corpos do
exército, generalizou-se rapidamente pela pronta adesão de toda a tropa de mar
e terra existente na cidade. A
conseqüência imediata desses fatos foi a retirada do ministério de 7 de junho,
presidido pelo Sr. Visconde do Ouro Preto, que teve de ceder à intimação feita
pelo Sr. Marechal Deodoro da Fonseca que assumiu a direção do movimento
militar. À exceção do lastimoso caso do Sr. Barão do Ladário, que não querendo
obedecer a uma ordem de prisão que lhe fora intimada, resistiu armado e acabou
ferido, nenhum ato de violência contra a propriedade ou a segurança individual
se deu até o momento em que escrevemos estas linhas. (...) (Jornal
do Commércio, 16 de novembro
de 1889, s/p)
Esta República que veio assim, no meio do delírio
popular, cercada pela bonança esperançosa da paz; esta República no século XIX
que surgiu com a precisão dos fenômenos elétricos, sem desorganizar a vida da
família, a vida do comércio e a vida da indústria; esta República americana que
trouxe o símbolo da paz, que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e
a admiração dos sensatos - esta República é um compromisso de honra e um
compromisso de sangue. (...) (República Brazileira, 21 de novembro de 1889, s/p)
A República marca também o momento
das “modernidades” dos jornais: as novas máquinas que possibilitam não só
promover maior circulação do periódico, mas a inclusão das charges e até fotos,
o que levava a notícia, iconograficamente, ao leitor não alfabetizado. (SODRÉ, 1999)
Desde o final do oitocentos, o
número de jornais aumentou do mesmo modo
que a gráfica para impressão foi sendo modernizada de modo que o uso de
desenhos e fotos para explicar, a quem não lia, do que se tratava a notícia e, também
difundir comentários, preconceitos e fofocas atingia um maior número de
“leitores”.
Nesta primeira edição de O Malho, à página 3, há um poema
preconceituoso, dedicado ao Professor Hemetério José dos Santos, que
interessava a uma parcela da população, como tudo que se passava na Escola
Normal, mas que provavelmente atingiu outros negros que, àquela época ascendiam
socialmente, (como por exemplo: o flautista Patápio Silva [35],
o Engenheiro André Rebouças, o poeta José do Patrocínio, o poeta Cruz e Souza e
outros), apresentando-o de forma rude, racista – aos dias de hoje – e
debochativa, o que era comum no periódico que se dizia o Malhor [porque] tudo que
passar a seu alcance será a bigorna (capa).
Este periódico, como os outros,
ajudavam a difundir a ideologia, os preconceitos e as notícias, principalmente
através de charges e caricaturas que atingiam – e esta era a função desses
recursos gráficos – a quem não era letrado e era versado no “ouvir falar”.
Sobre o
professor Hemetério a revista publicou:
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Hemetério José
dos Santos (1858-1939) foi professor, gramático, filólogo e escritor,
nasceu em Codó, no Maranhão, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Com cerca de
20 anos de idade já era professor do Colégio Pedro II, na capital do Império; em
1890 era nomeado professor adjunto do Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde,
mais tarde, tornou-se professor vitalício. Cursou a Escola de Artilharia e
Engenharia, conquistou a patente de Major, obtendo, depois, o galardão de
Tenente-Coronel honorário. Foi também professor da Escola Normal do Distrito
Federal, granjeando fama de grande mestre. Na opinião de Sílvio Romero, ombreava
com Olavo Bilac, Graça Aranha, Aluísio e Artur Azevedo, no uso da palavra escrita.
Em 2008, no livro A cor da escola, de
Maria Lúcia Rodrigues Muller (Cuiabá, UFMT), resgata parte de sua memória,
publicando inclusive fotografias que ressaltam a harmonia de seus traços
físicos e sua elegância, além de sua condição de único negro entre os docentes
do Colégio Militar em seu tempo. Obras publicadas: Gramática Elementar da Língua Portuguesa; O livro dos Meninos; Gramática
Portuguesa; Segundo Grau Primário; Pretidão
de Amor (conferencias literárias); Carta
aos Maranhenses; Da construção
Vernacular; Gramática Portuguesa:
adotada na Escola Normal do Distrito Federal; Frutos Cativos (poesia); Etimologia:
“Preto” (artigo).
As tradições que o plano de modernização, civilização e progresso que a
elite queria esquecer, contudo, não eram somente a insalubridade e a
ineficiência, já que esta herança advinha do período colonial. O que se
pretendia esquecer, mudando hábitos, não se restringia às ruas estreitas e
fétidas, envolvia às fachadas das casas sem pintura; os estilos rurais de
consumo que consideravam natural transportar a vaca para tirar o leite à frente
de quem desejava comprá-lo; os entrudos e os cordões do carnaval que lembravam
a cultura africana. Desejavam esquecer que o Brasil recentemente tinha
libertado os escravos e que a miscigenação, embora vista com cara feia, era
praticada pelos que a ela se opunham publicamente. E os “atos religiosos” dos
negros, os cordões? Esses eram tidos como orgias à Nossa Senhora do Rosário,
como comenta João do Rio (1995):
[...] Eles vêm da festa de Nossa Senhora do Rosário, ainda dos tempos
coloniais [...] Já naquele tempo gostavam e saíam à rua vestidos de reis, de
bichos, pajens, de guardas, tocando instrumentos africanos, e paravam em frente
à casa do vice-rei a dançar e a cantar [...] a origem dos cordões é o afoxé
africano, dia em que se debocha a religião [...] (p.130)
Como esperar, então, que a elite –
da qual a imprensa era parte – não fizesse troça dos negros que conseguiram
ascender e fazer parte da intelectualidade? O professor Hemetério certamente
não era o único, numa sociedade onde a elite achava deselegante e primitivo
tudo que não lembrasse Paris.
O momento da “proclamação”, a
mobilização militar existente na Praça da Aclamação que o periódico Correio do Povo, um órgão republicano,
como se designava, demonstrou na manchete, nos deixou perceber que os
jornalistas, além de estarem presenciando um fato que sabiam ser histórico e
por isso de grande repercussão, também ali se colocaram enquanto sujeitos da
história ao imprimirem suas observações, aspirações, ideologias e interesses em
cada manchete, em cada artigo, em cada opinião.
A
imprensa, então, foi importante para reter as lembranças que se desejava fossem
retidas, colocando deste modo, os recursos da memória coletiva a serviço das
sutilezas e detalhes, que interessavam fossem lembrados na memória republicana
(HALBWACHS, 1990).
Ora, dentre os espectadores por
detrás das janelas da Escola Normal, entre os professores, também havia jornalistas,
muitos deles com colunas fixas em jornais importantes, como será visto mais
adiante. Para eles, provavelmente, havia além de grandes possibilidades
pessoais na instauração da República, o privilégio de ver acontecer um fato
relevante de grande interesse jornalístico que, no dia seguinte, venderia
muitos e muitos jornais.
Carvalho (2005a) problematiza os
fatos que foram divulgados pela imprensa de modo a demonstrar que, sobre o dia
da instauração da República, faltam dados e dados, se existem, podem ter sido
manipulados para atender aos anseios jornalísticos o que de certa forma
auxiliou o regime republicano na construção de uma memória que a
favorecesse.
Também Lopez (1997) enfatiza que o
movimento deflagrado e enfaticamente comemorado na Praça da Aclamação era
predominantemente militar. Prado Júnior (1977) chega a afirmar que a
transformação, de Império à República – teria sido tão repentina que os mesmos
indivíduos representativos da monarquia, passaram a ser ativos especuladores e
negocistas do novo regime. Costa (1979) informa que há duas linhas de
interpretação para o evento, a dos vencedores – que afirmam que a República
sempre foi uma aspiração nacional – e a dos vencidos – que exaltam as
qualidades do Império e os vícios republicanos.
Enfim, a historiografia é pródiga
em analisar o evento, deixando sempre claro que o movimento, em seu ápice – o
dia 15 de novembro de 1889 – esteve sempre isento da participação popular. Que
foi fruto de um movimento de um pequeno grupo de pessoas que conseguiram
aglutinar uma parte do Exército, insatisfeita desde muito com seu papel frente
à Guarda Nacional e à monarquia.
Os últimos anos do regime imperial e a expansão das
forças produtivas, ali iniciadas, ativaram-se ainda mais com a República. Para
isso, concorreram, segundo Prado Júnior (1977), fatores externos, como o grande
incremento do comércio internacional, o considerável desenvolvimento industrial
da população europeia e norte-americana e a ascensão do nível de vida destas
populações, por conta da industrialização e da rede de transportes. No Brasil, fatores
internos, também foram relevantes, como a solução do problema da mão de obra,
substituindo-se escravos por imigrantes; o aperfeiçoamento técnico da
navegação; a participação brasileira em feiras internacionais e o próprio
desenvolvimento do país, proporcionado, em parte, pelo intercâmbio, em parte
pelas novas tecnologias que se passou a
usar, ainda que somente em algumas cidades, como o Rio de Janeiro. Já havia,
pois, uma mudança econômica em curso, o que fatalmente mudaria as peças do
intrincado xadrez político em curto espaço de tempo, quando a República se
instalou.
Para os oito
sobreviventes da Congregação existente até 1888, João Carlos de Oliva Maya, Pedro Severiano de Magalhães, Carlos
Ferreira França, Eugenio Guimarães Rebello, Balthazar Bernardino Baptista
Pereira, Felisberto Rodrigues Pereira de Carvalho, Eugenio de Barros Raja
Gabaglia e José Gurgel do Amaral Barbosa, a República representava a esperança
de dias melhores para os intelectuais que todos eles eram, a manifestação
explícita de uma ideia discutida, acalentada e, para eles, politicamente
necessária, ainda que pautada em interesses diferentes e conflitantes.
1.3 Missão: Educar e Civilizar o povo
A Escola Normal, desde 1881, acreditava fazer parte do
processo civilizador em curso. No novo regime que se instaurava, a Congregação
de Professores além das expectativas de provável consolidação da legitimidade
com que sonhava, desejava permanecer como parte deste processo, não só porque
as afinidades a impeliam, mas porque era o que sua autoimagem projetava. Para
os congregados era importante que continuassem associados ao projeto nacional
que modernizava o país industrializando-o e fazendo uso das novas tecnologias
que se apresentavam, mas, principalmente aliar-se à política de educar o povo
em modos e posturas ditas civilizadas, ainda que sob a coerção educacional ou
da lei.
Desde o Império a instrução primária foi tratada como de
importância como instrumento de civilidade para o povo brasileiro e da unidade
do território. Era importante forjar o sentimento nacional, a brasilidade, o
sentido de nação:
[...] um primeiro passo sem
o qual não póde o homem melhorar ou progredir [porque] não há civilização sem
sucessivas conquistas da intelligencia; esta só com a cultura se desenvolve:
essa cultura é a instrucção, de que a primaria é o fundamento.[...] (Relatório do Ministério dos Negócios do Império de
1871, apresentado em maio de 1872, p.18)
Ao comentar o Estado brasileiro em
perspectiva histórica, Reis (1988) mostra que a construção da nação pelos
Estados Nacionais modernos implicou numa representação ideal de como a
sociedade deveria ser organizada. No caso brasileiro essa ideologia política
apareceu até antes da Independência, isto é, antes de haver um Estado. No
Império, a necessidade de interligar, num amplo território, áreas pouco ou não
povoadas tornou a construção do Estado mais relevante que a nacionalidade. Esta
somente se torna relevante, afirma este autor, na República, quando já tinham
sido integradas áreas territoriais, o centro burocrático de poder estava
determinado e havia necessidade de impor uma ordem pública ideal dentro de uma
perspectiva político-ideológica.
Construir uma nação que pudesse inserir-se no mundo exigiu,
dentre outras ações concretas e pragmáticas, manter e conservar o território,
educar o povo, dar-lhe civilidade, mas também espargir sobre todo o país uma
cultura ideológica que o representasse, um sentimento de nação e uma língua
nacional que pudesse ligar os mais distantes recantos brasileiros dando-lhes
unidade. Era esta a tarefa gigantesca do regime republicano.
Após a Independência do Brasil, o Império brasileiro já havia
buscado como meta, a preservação do território nacional. Deste modo utilizou
recursos humanos e financeiros altos, despendidos em lutas e tratados. Para
isso, também, tentou fazer chegar ao povo, através da educação escolar, os ares
da civilização que, em bases europeias, serviriam como modelo para a empreitada
que se levava a cabo.
Reconheço a necessidade de uma escola normal; mas no
Brasil elas têm sido plantas exóticas: nascem e morrem quase no mesmo dia. O
professorado, entre nós, não está, nem estará tão cedo à altura de sua
carreira, que estimule as ambições legítimas de quem quer que seja, muito menos
abre a porta a aspirantes legítimos [...]Por todas estas considerações, não me
inclino à adoção de uma escola normal nas províncias[...] Discurso do Presidente da Província do
Paraná, Polidoro César Burlamaqui, em 1867, na Assembléia Provincial (apud
MOACYR, 1937, p.113)
A civilidade deveria começar,
imaginavam, em redutos específicos, feitos para este fim, que objetivassem instruir
e civilizar, a partir da criança, os pais: as escolas. As escolas seriam, pois,
as difusoras ideológicas de como civilizar-se, posição que a família não podia
ter. Debates foram travados entre os que podiam opinar e aqueles que atuavam
efetivamente nas Assembléias Provinciais, e depois nas Câmaras, sobre o melhor
método para chegar aos objetivos a que se propunham (MOACYR, 1937). Esforços
diferenciados foram realizados em iniciativas governamentais e particulares, em
diferentes pontos do solo brasileiro para fazer chegar ao povo os ares de
civilidade que se pretendia.
[...] A política brasileira
tem a perturbá-la, intimamente, secretamente, desde os dias mais longínquos da
independência, o sentimento de que o povo é uma espécie de vulcão adormecido.
Todo perigo está em despertá-lo. Nossa política nunca aprendeu a pensar
normalmente o povo [...] (FAORO, 1975, p.323)
A substituição
progressiva do regime preceptoral pelas casas-escola, por exemplo, mostrou os primeiros
passos deste caminhar, embora muitas vezes concomitantemente os regimes
coexistissem. Depois, das casas-escola, a construção de prédios para escolas
públicas. O tamanho do território nacional e a diversidade de sua população
fizeram com que estas iniciativas estivessem muitas vezes, ao lado de outras,
numa complexa e intrincada teia. No entanto, pode-se afirmar que a formação
deste Estado nacional a partir da instrução do povo se fez presente, em espaços
temporais diferenciados, em todo o país (GONDRA e SCHUELER, 2008).
As Escolas Normais foram uma consequência
deste processo civilizatório, porque a educação institucionalizada exigiu que
se diferenciasse o aprender do ensinar. Saviani (2008) mostra que, desde a
Convenção, criada depois da Revolução Francesa, ainda no século XVIII, [37]
denominou-se de Escola Normal a instituição encarregada de formar os
professores da instrução primária. No
Brasil a primeira Escola Normal foi instalada em 1835, em Niterói, no ano
seguinte ao Ato Adicional de 1834, que passava às províncias os encargos com o
ensino elementar.
O Império criou Escolas Normais que
por razões diversas, inclusive falta de dotação orçamentária da província que
as mantivesse, tiveram, quase todas, efêmera duração e não chegaram a suprir a
formação de professores primários como se pretendia. (ARAÚJO et all, 2008)
Elas foram instituídas para, principalmente, formar
professores homens e, aos poucos estas funções foram sendo ocupadas por
mulheres. Nas casas-escola, para receber subvenção do governo, exigia-se que o
candidato fosse principalmente um homem probo, atestado pela paróquia onde
residia.
[...] qualquer pessoa que se
propuser a dirigir uma escola ou colégio, ou a lecionar nestes estabelecimentos,
deverá requerer licença ao inspetor geral justificando aptidão, idade maior de
21 anos e moralidade, aos estrangeiros só concederá licença se a metade, pelo
menos, de seus professores forem brasileiros; o governo regulará as
habilitações para o magistério público e as provas por que devem passar os
candidatos tendo em atenção as
matérias do ensino designados; todas as escolas e colégios particulares ficarão
sujeitos a inspeção sob pena de suspensão e multa [...] (MOACYR,1937, p.54)
Na Escola Normal da Corte, criada em 1880, uma das últimas a
serem criadas, e já no Município Neutro e às expensas do Império e não da
província, o primeiro aluno matriculado era um rapaz. Segundo o Livro de Porta
de 1880, a primeira matrícula da Escola Normal da Corte foi a de Antonio
Teixeira da Cunha Júnior, para a 1ª série, efetivada em 29 de março de 1880.
Percebe-se, também, que dependendo do local onde estava no
território brasileiro, as vagas não eram sequer supridas pelas matrículas, o
que também contribuiu para a extinção do educandário. Só no Município Neutro,
em 1876, consegue-se um número razoável de alunos, mas faltou capital às
províncias para mantê-las funcionando. As finanças do Império eram um grande
entrave à consecução das políticas para a instrução pública que se desejava
implementar.
Neste período, por exemplo, a Guerra do Paraguai, iniciada em
1870, extinguia grandes recursos do Tesouro. A problemática cafeeira, que
afetava as exportações, era, também, parte do pano de fundo das finanças
imperiais, posto que o café representava mais da metade das exportações
brasileiras nesta década. Havia, também, por força das pressões internacionais,
o problema escravista que causava graves transtornos financeiros à produção e,
por extensão, às exportações: a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, em 1850,
que extinguira o tráfico negreiro deixara lacunas na produção; a Lei do Ventre
Livre, de 1871, que declarava livres os nascidos de escravos, reduzira, ainda
mais, a mão de obra dos cafeicultores. Havia pouco dinheiro para escolas.
Ainda que, pelo Ato Adicional de 6 de agosto de 1834, ficasse
estabelecido que a instrução era responsabilidade das províncias, e o Município
Neutro fosse desmembrado da província do Rio de Janeiro, o Império procurou atender
a demanda da formação de professores, naquele
Município, só em 1876, como se viu.
Nunes (2003) ajuda a entender o papel da escola primária,
neste contexto:
A escola, como instituição
especializada foi, portanto encarregada de transmitir uma cultura civilizatória
homogênea e, a partir daí a educação sistemática constituiu-se em um dos
direitos sociais fundamentais, no
intuito de apagar [grifo da autora] as diferenças hereditárias e criar o
cidadão que requeria o estado moderno. (p.14)
O quadro a seguir mostra que as Escolas Normais tinham pouca
duração, por vezes sendo substituídas por Liceus, o que atendia a um número
maior de candidatos.
Localização
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Criação
|
Observações
relevantes
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Rio de
Janeiro
|
1835
|
Começou com
21 matrículas, em Niterói. Em 1847, a Escola
Normal, juntamente com outros estabelecimentos, por força de uma nova reforma
no ensino, fundiram-se para constituir o Liceu Provincial de Niterói. Em 1851 este é
extinto, e a Escola Normal foi reinaugurada pelo Imperador Dom Pedro II em 29 de junho de 1862.. Em 15 de abril de 1890 é novamente
é extinta para formar o Liceu de Humanidades de Niterói, subsistindo
apenas como uma divisão pedagógica.
|
São Paulo
|
1843
|
Suprimida
em 1867. Restabelecida em 1875. Em 1876 abriu matrícula para mulheres.
Fechada em 9 de maio de 1878. Reaberta em 25 de abril de 1880 com curso de 3
anos e aulas para ambos os sexos.
|
Bahia
|
1850
|
Em 1850
tinha curso de 2 anos para homens e curso teórico para as mulheres.
|
Minas
Gerais
|
1852
|
Restabelecida
em 1871 com cursos de 2 anos e freqüência comum a homens e mulheres.
|
Alagoas
|
1864
|
Instalada
só em 1869. Em 1881 tinha 6 alunos no 1º ano e 3 alunos no 2º.
|
Sergipe
|
1864
|
Reabertura
em 1864. Em 1871 tem curso de 2 anos de duração com 6 alunos dos quais só 2
fizeram Exames.
|
Pernambuco
|
1865
|
Na abertura
apenas para o sexo masculino com curso de 2 anos. Em 1869 com curso de 3
anos. Em 1887 com curso de 4 anos.
|
Piauí
|
1866
|
Na criação
com curso de 2 anos. Suprimida em 1867. Reaberta em 1871 com curso de 3 anos.
Fechada em 1876. Reaberta em 1882 com curso de 2 anos.
|
São Pedro
do Rio Grande do Sul
|
1869
|
Em 1871 tem
curso de 3 anos de duração.
|
Amazonas
|
1871
|
Criada como
“Aula de Pedagogia” no Liceu Provincial. Estabelecia como ingresso ter sido
aprovado nos Exames do ensino primário. Escola Normal, com este nome, criada
em 1872.
|
Espírito
Santo
|
1873
|
Anteriormente
existia a “Aula Normal” e o curso de Pedagogia que eram ministrados pelo
Colégio do Espírito Santo.
|
Rio Grande
do Norte
|
1873
|
Em 1874
tinha 5 alunos; em 1875 tinha 4 alunos no 2º ano e 4 matriculados no 1º ano.
|
Maranhão
|
1874
|
Fechada em
1877 por falta de alunos. Houve determinação para criação de uma Escola
Normal em 1883, mas a escola só começou a funcionar no período republicano.
|
Município
Neutro
|
1876
|
Criadas
pelo Decreto 6370 de 30 de novembro. Curso de 3 anos. Escola subvencionada. Duas
escolas: uma para cada sexo. A de mulheres em regime de internato e a outra
em regime externo. No 1º ano foram matriculados 104 alunos de ambos os sexos.
Fechou por falta de verbas para manutenção.
|
Paraná
|
1876
|
Com curso
de 2 anos só para o sexo masculino. Constam duas instalações anteriores: 1856
e 1870. A primeira turma concluinte tinha 1 formando. Em 1882 não funcionou
por falta de alunos. Em 1885 o 1º ano não teve alunos matriculados. Em 1886
não habilitou ninguém.
|
Santa
Catarina
|
1880
|
Apenas uma
Cadeira de português, pedagogia e metodologia no Liceu Provincial. Não houve
matrícula.
|
Ceará
|
1881
|
Foi
instalada somente em 1884. Atendia a ambos os sexos. Com curso de 2 anos.
Consta que houve tentativa anterior de instalação.
|
Paraíba
|
1883
|
Começou a
funcionar em 1885 com curso de 3 anos de duração.
|
Goiás
|
1886
|
Funcionava
em 1886.
|
Quadro I
Situação das Escolas Normais Provinciais
Fonte: Quadro adaptado de FREIRE, Ana Maria Araújo, 1989, p 98- 100
As Escolas Normais de 1876, criadas no Município da Corte, eram
duas, atendiam a moças e rapazes, às primeiras em regime de internato, aos
rapazes em regime de externato. Até o prédio construído para abrigar as Escolas
(uma feminina e outra masculina) não pode ser concluído pelas razões de sempre:
falta de verbas.24 Ficava no centro da
cidade, na Rua da Relação, esquina com Rua dos Inválidos, como nos informa
Silveira (1954):
A 2 de dezembro desse ano (1876), aniversário
natalício do Imperador, então na Europa, lançou-se a pedra fundamental do
edifício da Escola, na Rua da Relação esquina da Rua dos Inválidos, onde hoje
está a Repartição da Polícia. A cerimônia realizou-se às duas horas da tarde na
presença da Princesa Imperial Regente, do Ministro do Império, que referendou aquele
decreto, o Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo, do Bispo Dom Pedro Maria
de Lacerda, que benzeu a pedra, pronunciando um discurso o Comendador Bittencourt
da Silva, arquiteto autor do projeto do edifício que ia ser erguido e
Presidente do Liceu de Artes e Ofícios. Era então professor e secretário deste
Liceu e fora também professor da Escola Normal Particular, o Dr. Francisco
Carlos da Silva Cabrita, a esse tempo ainda aluno da Escola Politécnica, e foi
ele quem redigiu a ata, desse lançamento, ata que se acha hoje no Arquivo
Público.(SILVA, 1936 apud SILVEIRA, 1954,p.8)[38]
Fernando de Azevedo (1951) explica
esta situação em que os sistemas pedagógicos começam a
organizar-se de cima para baixo, isto é, das escolas superiores para as
secundárias e depois para as primárias, como ocorreu no
Brasil, pela anterioridade das formas
aristocráticas sobre as democráticas (p. 179) isto
é, a educação é organizada, primeiro, para as classes e camadas superiores
da sociedade, a elite. Ela só se desenvolve para baixo, sob a pressão das
tendências e dos ideais democráticos, como os que começavam a aparecer no final
do Império. Continua o educador, apontando outras causas:
A participação de todas as
forças e instituições sociais no processo de integração a que correspondem, nos
sistemas pedagógicos, as escolas de ensino elementar (primárias) e, até certo
ponto, as de ensino médio [ginásios, colégios],[ ..]. é, pela sua própria
natureza, obra de grupos e de poucos[...]; [...] o progresso científico e a divisão do
trabalho: a “especialização” que, devido ao pequeno volume de conhecimentos, se
fazia sentir na esfera superior, somente mais tarde ganhou o ensino de grau
médio e o ensino elementar, transferindo para professores e meios especiais
[escolas] o ensino geral ou comum que passou a ter importância capital.[...](op.cit.
p.181)
No entanto, apesar da crise financeira e do impulso da
aristocracia sobre a democracia, havia em 1880, no Tesouro Nacional, metade do
dinheiro proveniente das cláusulas de concessão das empresas de carris de
ferros urbanos (bondes) que poderia ser empregado para outras políticas. Acreditamos que, pelo fato do Imperador ser um homem
voltado à cultura e à educação, conforme o demonstram muitos de seus atos
durante o reinado, ele tenha optado por fundar e manter uma Escola Normal de
instrução primária para professores e professoras na Corte, atendendo desta
forma parte dos parlamentares que a desejava. Entendemos, no entanto, que o
Imperador, sempre bem informado do que se passava no Império e no mundo, também
percebia que, se o Brasil precisava civilizar-se aos moldes europeus, teria que
ter um povo com uma instrução pública primária que necessitava aperfeiçoar-se e
que a formação dos “professores” era item primordial neste projeto de
civilização a ser atendido.
Quando o regime republicano se instaurou muitos projetos, de
maior ou menor envergadura, foram pensados, continuados e implementados.
Construir uma nação não tinha, e não tem fórmulas e ensinamentos. Por isso, no
primeiro momento, nos primeiros anos, se observam marchas e contramarchas rumo
ao ideário tão acalantado, especialmente discutido pós- abolição da escravatura.
A república dos sonhos e anseios muitas vezes não se
fazia no cotidiano.
A oligarquia deposta com D. Pedro II não fora com ele, no
mesmo vapor[39],
rumo à Europa. Ela mandava ainda. A economia agro-exportadora mudara a mão de obra,
de escravos para imigrantes, mas continuava desfrutando de parcelas, por vezes
grandes, do poder político. Ela aumentava, se distribuía em novos espaços que
serviam às plantações de café além do vale do Paraíba, ela crescia nos centros
urbanos – especialmente na cidade do Rio de Janeiro – que se estruturavam, o
que dividia a elite. Os centros urbanos eram agora tomados por um grupo de
pessoas da cidade que disputavam os empregos de uma burocracia que crescia
frente à modernidade que se impunha e de outras ideologias que, junto com os
imigrantes vieram trazer à tona um proletariado que começara a surgir, com
direitos a conquistar.
O Império
do Brasil, a partir de 1822, constituiu uma entidade política diferenciada no continente
americano, pela sua forma monárquica, e pelo seu centralismo administrativo e
político, pela permanência até 1888, do trabalho escravo e pela estabilidade
política que vai se estender até a proclamação da República, meio século
depois.
As origens
da República no Brasil são facilmente estudadas quando se verificam as muitas
transformações no Império, especialmente a partir da segunda metade do século
XIX, com a abolição da escravidão e expansão do trabalho livre e a chegada de
imigrantes, a difusão da ideologia republicana entre os letrados,
principalmente, e as diferentes questões por que passou o Estado com a Igreja e
o Exército, que desejava fortalecer-se frente à Guarda Nacional, e com a
modernização de setores sociais defensores de um regime político mais
descentralizado.
A proclamação
do regime republicano não foi, então, como os fatos mostraram, decorrência de
um evento que contasse com a participação popular; na verdade, a República
resultou de um golpe militar que
se por um lado, não enfrentou resistência dos monarquistas, por outro, também
não contou com adesão do povo que sequer sabia o que estava acontecendo.
Para o dia
a dia da população, o advento do regime republicano praticamente nada mudou,
até porque não houve nenhuma alteração na estrutura fundiária do país, num período
em que a maioria da população vivia no campo. No entanto, o sistema político
sofreu alterações, como explicita a Constituição
de 1891, que, estabeleceu o princípio do federalismo e separou a Igreja
do Estado, o que, para o povo não alterava muito.
Os cafeicultores de São Paulo
constituíram o grupo social mais poderoso nos primeiros anos do regime
republicano, onde os militares ocupavam a centralidade política. Houve, até,
tentativas de promover a industrialização do país, embora com resultados
diferentes do esperado, como ocorreu no encilhamento, durante o governo provisório de Deodoro da Fonseca (1889-1891). O Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, na tentativa de
estimular a industrialização do Brasil, adotou uma política baseada em créditos
livres aos investimentos industriais garantidos pelas emissões monetárias. A especulação financeira desenfreada,
a inflação e os boicotes através de
empresas-fantasmas e ações sem lastro desencadearam, em 1890, a Crise do Encilhamento. O ato de
encilhar refere-se às apostas que seriam o modo com que os especuladores
atuavam na Bolsa de Valores com as empresas fantasmas. Esta crise causou o
aumento da inflação, crise na economia e aumento da dívida externa, o que era sentido de
perto pelos moradores da cidade, especialmente no Rio Janeiro.
Eles também – os moradores da cidade – queriam ser ouvidos e queriam
ter voz para equalizar seu destino, principalmente quando souberam que podiam
fazer isso através de greves. À elite não interessavam os problemas urbanos,
ela tinham a base fundiária de que necessitava para exercer poder. Era o
bastante, por enquanto, acreditava.
Esses novos pensamentos urbanos foram trazidos pela
modernidade que viajou para o Brasil junto com os imigrantes, que pisavam na
nova terra para trabalhar na cafeicultura ou para ficar na cidade do Rio de
Janeiro. As ideias anarquistas e socialistas que se disseminavam entre os
operários, foram se espalhando, como se boatos fossem, fazendo-os lutar por
melhores condições de vida para si mesmos e não para seus patrões ou donos. Por
conta dessa luta por fatias do poder, de não haver como transformar sonhos em
realidade palpável, a República, em seus primeiros momentos é confusa e desorganizada
até, porque precisava atender ao que conhecia e ao que ainda começava a
conhecer.
A inclusão de novas ideologias como o anarquismo e o
socialismo não podem ser esquecidas se pretendemos ter uma imagem mais nítida
do final do século XIX e início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro, que
recebia imigrantes europeus para despachá-los – ou não – a outros pontos do
território brasileiro. Estes imigrantes que aqui chegavam e ficavam na cidade, também
trabalhavam nas gráficas dos jornais que se modernizavam e proliferavam. Eles
liam e estudavam Owen, Fourier e Proudhon, (RODRIGUES, 1976) do mesmo modo que
alguns intelectuais liam e estudavam Spencer e Comnte. Eles tiveram importância
considerável no movimento sindical que ajudaram a construir e na formação de
organizações operárias como a Confederação Operária Brasileira, criada em 1906.
No Rio de
Janeiro, sede do poder político, de instituições importantes como o Banco do
Brasil, do núcleo da maior Rede Ferroviária do país, a maior cidade a oferecer mão
de obra às indústrias que começavam a surgir, o terceiro maior porto em volume
de comércio da América (SEVCENKO, 1983), observam-se os primeiros grandes
sinais de inquietação urbana, com a entrada cada vez maior dos imigrantes e das
novas ideologias, que se apresentam através das greves. Rodrigues (1976) lista,
dentre outras, a greve da Estrada de Ferro Central do Brasil (1891), a greve da
fábrica de tecidos (1898), a greve dos cocheiros e condutores de bonds (1898), a greve da Estrada de Ferro
Central do Brasil (1899), e outras, esparsas, que vão aumentando paulatinamente
até 1900. Conta, Rodrigues (1976), cento e onze greves no Brasil entre 1900 e
1910. Essas greves não estavam dentro da proposta de civilidade que se
pretendia e foram combatidas ferozmente pela polícia.
[...] os pobres operários foram arrancados do
fundo das cocheiras e dos cortiços, para o xadrez, e espancados brutalmente
quando pleiteavam um aumento salarial perfeitamente justo [...] Depoimento do
Dr. Evaristo de Morais ao Jornal do
Brasil em 17 de março de 1898. (apud RODRIGUES, 1976, p.51)
Como tornar o povo civilizado? Era a
preocupação do regime republicano de modo a consolidar-se e ao mesmo tempo
aparecer para o mundo. Às escolas,
representação da estrutura social no espaço educativo, cabia a tarefa de, pela
instrução, trazer a civilidade. Aos professores, os executores do processo
escolar, competia o esforço patriótico de serem os construtores
da nação[40]. Mas todo
esse processo seria talvez mais simples se o país tivesse professores. Quem
eram aqueles que ministravam aulas? Eram
homens probos, em sua maioria, que ensinavam a ler, escrever e contar, sem
preparação para tal. Ensinavam o que sabiam.
O imigrante que aqui aportava também ajudou a civilizar o
povo, educava o operário que com ele trabalhava nas novas ideologias e o
operário aprendia a reivindicar seus direitos; também ensinava a ler e
escrever, mas, certamente, para as elites, não estava “ civilizando” ninguém. O
imigrante é descrito assim por Rodrigues (1976):
[...[ o ‘eldorado brasileiro’ apresentava-se aos olhos
do trabalhador estrangeiro, do imigrante que chegava com a cabeça cheia de
sonhos, um deserto sem oásis. Sentia que lhe faltava tudo. Estava diante duma
estrada a percorrer[...] e para os vencer contava apenas consigo mesmo, com sua
sabedoria profissional, sua inteligência [...] associa-se então [...] aos seus
camaradas de trabalho [...] auto-educa-se, instrui-se, especializa-se e parte
para alfabetizar os demais companheiros [...] funda sindicatos e, no sindicato,
escolas. Fez-se professor e conferencista [...] (p.24)
As Escolas Normais, por outro lado, as instituições formais e
com legitimidade para executar o processo civilizador tinham seu modelo, nem
sempre atingido, de educação secundária, no Imperial Colégio de Pedro II[41].
Por vezes uma única disciplina, Pedagogias, as diferenciava do ensino
secundário. Muitas surgiram em inúmeros pontos do território nacional, como
explicita o quadro já apresentado, tendo existência efêmera ou mais duradora,
provavelmente, pelas seguintes razões: desânimo dos normalistas frente aos
parcos salários pagos quando formados professores primários; as Escolas
dependiam das possibilidades financeiras provinciais; a resistência social à
favor da co-educação também dificultava o processo metodológico que se
pretendia; e o problema que todas as províncias enfrentavam, com maior ou menor
vigor, que eram as despesas da
casa-escola com as quais os professores também arcavam.
A
Escola Normal da Corte
passa a existir pelo Decreto 7.684, de 6 de março de 1880 que, de conformidade com o Art. 9 do
Decreto 7.247, de 19 de abril de 1879,
cria uma Escola Normal de instrução primária para professores e professoras,
vinculada, também, como o Imperial Colégio de Pedro II, ao Ministério dos
Negócios do Império. Ainda que a
cerimônia da inauguração da Escola Normal, em 8 de abril (data do Relatório),
tenha sido realizada num dos salões do Externato do Imperial Colégio de Pedro
II, e também neste educandário tenham sido efetivadas as matrículas dos 282 candidatos, em 30 de abril, as aulas
foram iniciadas no edifício da Escola
Politécnica (Relatório dos Sucessos mais Notáveis de 1880, p.3-5). Existe um
livro no CEMI de capa vermelha, com o brasão do Império, com as páginas
assinadas no frontispício direito por Benjamin Constant que contradiz a data de
inauguração. Este livro esteve desaparecido por muito tempo e comecei a
procurá-lo, durante dois anos, ao ver uma citação dele em um livro de Francisco
Venâncio Filho. Ele reapareceu e foi trazido pela Secretaria Geral ao CEMI.
Este livro, em sua primeira página, tem um ato de abertura explicando servir
para a ata de inauguração da Escola Normal. Na transcrição do dia da
inauguração, o texto diz que a solenidade, com a presença do Imperador e da
Imperatriz, foi realizada em 5 de março. O texto é conciso e provavelmente esta
foi a fonte do historiador oficial, Baltazar da Silveira, em 1954. Verificando
o livro observei que nenhuma autoridade citada o assinou, exceto o próprio
Benjamin Constant no frontispício direito, não no local das assinaturas, que
presumo, ele acreditava colher depois. Confrontando as demais assinaturas com o
Livro de Porta, de matrículas, verifiquei que a maioria das assinaturas
pertenciam a alunos. Três professores assinam o texto. Achei também a
assinatura de Raul Pompéia, na época jornalista do seu próprio jornal O Archote. Do mesmo modo usaram este
mesmo livro para estampar o convite da festa de inauguração da Escola Normal,
quando esta se mudou às pressas para o prédio novo da Rua Mariz e Barros, em
1930, festividade que não ocorreu por ter sido marcada durante a revolução, por
isso o prédio nunca foi inaugurado oficial ou extra-oficialmente. Há, no AGCRJ,
Ata de Inauguração da Escola Normal da Corte, provavelmente a criada em 1876, escrita
pelo secretário Francisco Cabrita, que não pude verificar, pois minha pesquisa
não abrangia este período, senão como referência. Esta é uma das peças do
mosaico da Escola Normal ainda por investigar.
Inaugurada, formalmente, em 5 de abril de 1880 (data de Benjamin
Constant na Ata, usada por Silveira, e data em que é comemorado o aniversário
da Escola), em uma sala do externato do Imperial Colégio de Pedro II,
com a presença de Sua Majestade o Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, D. Pedro II, Sua Majestade a
Imperatriz, o Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império,
Conselheiro Barão Homem de Mello, o Bacharel Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, diretor interino da Escola
Normal e outros convidados (Acta de Inauguração, 1880).
Como não existia onde abrigar a Escola Normal ficou decidido
que funcionaria, provisoriamente, em salas do edifício do externato do Colégio
de Pedro II. Face ao grande número de
pessoas matriculadas, transferiu-se, em 30 de abril do mesmo ano, para o prédio
da Escola Politécnica, no Largo de São Francisco de Paula, conforme o Relatório
dos Sucessos mais Notáveis da Escola Normal de 1881. A instituição vai sofrer
outra mudança de endereço, em abril de 1888, quando passará a ocupar próprio
nacional [42]
na Praça da Aclamação, entre as ruas São Pedro e Larga de São Joaquim.[43]
A Escola Normal da Capital Federal,
sucedânea em denominação, da anterior, com a República,[44]
incorporou, através do grupo de intelectuais
que se constituiu em sua Congregação de Professores, desde a criação da
instituição, esta missão civilizadora de tal forma que, apesar das alterações
políticas contextuais que vão existindo neste percurso, criou tensões e
embates, pelo que considerava, possivelmente, desvios da meta de civilizar a
ser atingida.
A necessidade de construir uma nação
civilizada tem sido tratada pela historiografia e história da educação (GONDRA
e SCHUELER, 2008; NEVES, 2003; GOMES, 2002; OLIVEIRA, 1990 e outros) como
projeto central dos regimes imperial e republicano, ainda que o desdobramento
dessa política, na prática, possibilite que possamos diferenciar suas
estratégias, por isso, o sentimento patriótico de pertencimento esteve sempre,
não importa em qualquer destas épocas, no âmago da questão a ser tratada. O
sentimento patriótico tinha de ser disseminado, e mais que isso apreendido, de
tal forma que se constituísse um povo e este, por consequência, uma nação.
A idéia de nação faz parte
do universo simbólico. Sua valorização visa proporcionar sentimentos de
identidade e de alteridade a uma população que vive ou que se originou em um
mesmo território. Trata-se de um símbolo que pretende organizar o espaço
público, referindo-se, portanto, à dimensão política. (OLIVEIRA, 1990, p.14)
A escola primária era o local mais apropriado, enquanto
espaço sistemático de ensino, para transmitir à nova geração de brasileiros o
sentido da política que se desenvolvia e, mais, que se pretendia tornar real. A
família, centro até então do processo educativo, ainda que por vezes
desenvolvido por preceptores, não tinha como transmitir os novos valores, as
novas tendências, a ideologia, o modelo a ser seguido.
O papel do Estado no que se
refere à educação, exatamente no momento de conciliação política e crescimento
econômico do Segundo Império, se resume em alguns pontos vitais para a
perpetuação da sociedade: vigilância à moralidade dos comportamentos dos
professores, diretores e alunos [...] (FREIRE, 1989, p.94)
Os debates sobre a educação primária,
obrigatória desde a Constituição de 1824, envolveram amplamente a
intelectualidade e refletiram a diversidade de propostas a serem postas em
prática, o que não alavancava os procedimentos a serem tomados, mas colocavam
em evidência uma necessidade nacional.
Na República, com este processo já
tendo sido iniciado, urgia levar avante o projeto, o que só poderia ser feito,
acreditava-se, com a recriação, sob nova ótica, das Escolas Normais, como no
Império, de modo a formar quem teria como profissão educar e instruir o povo
civilizado. Assim, estas escolas passaram a funcionar na República legitimadas
pelo poder vigente pela necessidade de civilizar a nação, através do trabalho
de seus professores que eram formados na Escola Normal. Mas, quem eram estes
professores que formariam os professores primários no Rio de Janeiro? Como
foram escolhidos? Que experiência eles tinham?
A
INTELECTUALIDADE NA CONGREGAÇÃO DA ESCOLA NORMAL
2.1 A
Congregação da Escola Normal
A Congregação da Escola Normal [45] era
constituída pelo corpo de professores que ali ministrava aulas no curso de
formação de professores para as escolas públicas primárias, deste modo deveriam
acompanhar o ensino primário, emitir pareceres, analisar e interferir nos
Regulamentos da instituição de que faziam parte e das escolas primárias, além
de escolher as obras didáticas a serem utilizadas naquele curso e no curso do
ensino primário, dentre outras atribuições. A Congregação existe nos
Regulamentos a partir de 1880, quando foi criada a Escola Normal da Corte. Foi
extinta pelo Regulamento de 1888, (re)conquista sua existência, autonomia e
legitimidade em 1890. Sendo extinta, outra vez em 1932, quando o Instituto de
Educação foi criado. Por Ato de 10 de fevereiro de 1947, ressurge, apenas para
os professores catedráticos, na gestão do Diretor Mário da Veiga Cabral. A
última menção de que tive conhecimento documental da Congregação foi em Ata de
1964, gestão do Diretor França Campos.
Assim, ao refletir sobre o movimento destes professores
através do estudo das atas da Congregação da Escola Normal [46],
dos ofícios expedidos e recebidos da instituição e dos Relatórios dos Sucessos
Mais Notáveis, pretendo poder identificá-los, através das ações e estratégias
de posicionamento político no campo intelectual refletidas em seus embates com
o poder público e entre eles mesmos, como intelectuais.
Esta reflexão, no entanto, não pretende tratar do papel dos
intelectuais, nem entrar na tormentosa discussão de como identificá-los a
partir de algumas características, mas pensar sobre a inclusão nesta categoria de
um grupo de professores que, no século XIX e início do XX atuavam na
Congregação da Escola Normal como formadores dos professores primários, na
cidade do Rio de Janeiro.
Para isso tomarei da historiografia as seguintes condições de
classificação: erudição, uso da escrita como instrumento para defesa de
convicções políticas e forma de intervenção social, defesa da autonomia para o
desenvolvimento de seu trabalho intelectual, uso da retórica ou da lógica para
apresentação e defesa de idéias, uso sistemático da reflexão como instrumento
de trabalho e criação de um grupo diferenciado pelo seu conhecimento.
Segundo Elias (1994a) a única maneira de
compreender esta unidade é dissecar de tal forma o objeto da pesquisa que se
perceba o que existe antes – independentemente dos indivíduos – sem a
interdependência das relações que venham a se estabelecer. Foi o que procurei
fazer, para conhecer os congregados no momento anterior de sua inclusão na
Congregação. Quem eram estes professores? O que os identificava no grupo que
foram formar?
Assim, foi necessário que entendesse os
indivíduos que depois formariam o grupo diferenciado da Congregação, antes que deste fizessem parte, por isso fui
investigar em suas biografias não só o seu passado, mas sinais de experiência
na área educacional e redes de sociabilidade. Precisei entender primeiro o
professor do século XIX, antes do aparecimento da Escola Normal: o homem probo
tão discutido em Primitivo Moacyr em A Instrução e o Império: Subsídios
para a História da Educação no Brasil, 1854-1888:
Só podem exercer o magistério público os cidadão
brasileiros que provarem: maioridade legal, moralidade e capacidade profissional.[...]
A prova de moralidade será dada perante o inspetor geral, apresentando o
candidato: folhas corridas nos lugares onde haja residido nos três anos mais
próximos à data do requerimento e atestações dos respectivos párocos. A de
maioridade legal por certidão ou justificação de idade. A capacidade
profissional prova-se em exame, oral e escrito, que terá lugar sob a
presidência do inspetor geral e perante dois examinadores nomeados pelo governo
[...] (MOACYR, 1937, p. 100)
O homem probo que
se dedicava ao magistério podia ser, apenas um erudito com conhecimentos que
podia transmitir, ou um indivíduo que se valesse desta profissão – como o pai
de Benjamin Constant – apenas por falta de outro serviço que o pudesse manter,
e à família dignamente. Podia ser também alguém que pouco mais soubesse, além
do que já sabia seu aluno.
Moacyr (1937) mostra a dificuldade de preencher as vagas de
professor pelo conhecimento dos candidatos ao cargo e a “solução” que foi dada
ao problema:
A mais séria dificuldade para execução da Lei de 15 de
outubro era o provimento dos lugares de mestre. [...] Não concorrendo aos
Exames Públicos das Cadeiras de 1ªs letras, opositores que possuam
conhecimentos, noções mais gerais de geometria prática, serão as mesmas
Cadeiras providas naqueles que se mostrarem mais dignos pela aprovação que
merecerem nas outras matérias [...] Aos professores providos sem conhecimento
das noções mais gerais, de geometria prática, unicamente só poderia taxar o
ordenado de 200$000 a 300$000, e só lhes poderá aumentar este, quando em novo
Exame sobre esta matéria se mostrarem suficientemente instruídos nos mesmos
conhecimentos [...] (p.191)
Não há como ver o professor da Congregação, um intelectual diferenciado,
nela ou antes dela, dissociando-o da sociedade a que pertence, que o influencia
e por ele é influenciada, porque ela o forma, molda e por ele é formada e
moldada no núcleo das interrelações pessoais, por isso tive que voltar no
tempo, conduzindo-o de modo a que me desse respostas.
Uma de minhas questões era saber o que aproximava tanto cada indivíduo
congregado, antes de formar-se a Congregação de Professores: sua procedência.
Congregação
de 1880
Áreas
de Atuação Anterior
|
|
Educacional
|
10
|
Eclesiástica
|
01
|
Jurídica
|
01
|
Política
|
01
|
Sem
procedência encontrada
|
03
|
TOTAL
|
16
|
Quadro II Procedência
dos professores da Congregação formada no ano de 1880,
por área
de atuação anterior
Fonte: Relatório do Ministro
dos Negócios do Império,1881:AC3-2,
Almanack Laémmert, 1881 e BLAKE (1895)
No quadro acima, podemos observar que a maioria dos
professores veio da área de Educação, especialmente do Imperial Colégio de
Pedro II e do Instituto Comercial, o que vai proporcionar à Escola Normal da
Corte, valer-se desta experiência profissional em suas propostas. Por outro
lado, mesmo aqueles que militavam em outras áreas, como a Jurídica, tinham
alguma experiência na área de Educação. É o caso, por exemplo, do Dr. Pedro
Autran da Matta e Albuquerque, que fundou o primeiro curso de Direito do Brasil,
em Olinda, Pernambuco. A procedência dos congregados, embora com atuação
diferenciada anterior, era comum: o exercício do magistério.
O uso da história individual de cada congregado, por
exemplo, me permitiu verificar as suas redes de sociabilidade, as associações
de que fazia parte, que, na Escola Normal, permitiu a criação de um grupo tão diferenciado e do seu pertencimento, a concessão de
favorecimentos e negativa do que não lhes interessava, especialmente na gestão
de Benjamin Constant como Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos.
O estudo da Congregação propiciou-me entender, também, o uso da linguagem
retórica, comum nos intelectuais deste momento histórico, usada para convencer
o congregado partícipe e convencer-se.
A Congregação foi no que pude depreender, uma
representação social do processo civilizatório que se pretendia e como tal,
nunca foi neutra, porque atuava por ação
ideológica, usando estratégias e práticas para implementar, legitimadamente, a autoimagem de civilizadores.
A Congregação da Escola Normal da Corte, na
cidade do Rio de Janeiro surgiu, pela primeira vez, sob a legitimidade outorgada pelo poder público. Ainda que não tivesse sido explicada adequadamente no
Regulamento[47],
que apenas fazia menção às suas atribuições, porque a Congregação
assemelhava-se a Congregação do Imperial Colégio Pedro II, criado em 1837, e
que servia como modelo à educação secundária no Brasil naquele momento.
Era um espaço político-educacional de discussão
dos intelectuais para tornar possível a implantação de políticas públicas
específicas da formação de professores primários para a cidade do Rio de
Janeiro, o que possibilitava que, na prática, as grandes questões não fossem
apenas decididas pelo Diretor do estabelecimento, e que o representava
socialmente, mas que de fato fazia parte de um grupo que administrava o
educandário junto com ele, e por vezes, mais que ele.
O número de sessões da Congregação
era definido, em sua periodicidade, pelo assunto a ser tratado e pela sua importância
para a formação de professores ou o ensino primário da cidade do Rio de
Janeiro. Como as
reuniões da Congregação não tinham data fixa, elas ocorriam quando havia
assuntos a resolver. No ano de 1880, reportado à Congregação para aprovação em
11 de fevereiro de 1881,[48]
foram realizadas 15 sessões das quais 12 sobre as modificações do Regulamento,
à luz das experiências que tinham. As sessões realizaram-se de 22 de julho a 25
de agosto, daquele ano.
Modificando o Regulamento suprimiram Cadeiras, criaram
outras, tornaram facultativas as Cadeiras de Instrução Religiosa e Francês,
alteraram o tempo do curso, enfim tornaram mais acommodado [o curso] aos fins
da Escola.[49]
Estas sessões pragmaticamente criaram a Congregação no que se refere ao
grupo diferenciado que ela passou a ser.
Esta experiência comum, sobre a formação de professores que
passaram a ter, incluía os conhecimentos que tinham, individualmente, do
magistério; dos livros que possivelmente leram sobre a Educação e sobre a
Escola Normal francesa, modelo para a que se implantava; dos sucessos e
fracassos de que tomaram, provavelmente, conhecimento das demais Escolas
Normais criadas no Brasil; e pragmaticamente, dos acertos e erros do
Regulamento que normatizava pedagógica e administrativamente o educandário.
Bourdieu (2007) explica que um grupo inteiro se congrega em torno de experiências comuns com o intuito
de reafirmar sua unidade e valores (p.197) – e foi o que fizeram ao
escrever o novo Regulamento – denotando sua posição social e projetando seus
valores e crenças. Elias (1994b), completando este raciocínio, afirma que os
valores e crenças emergem da natureza de muitas pessoas e só passam a existir
aos poucos, com a crescente diferenciação das sociedades humanas porque são produtos de um processo sócio-histórico, de
uma transformação na vida comunitária. (p.36)
A Congregação, depois
da alteração do Regulamento, tratou dos seguintes temas em suas sessões de 1881
a 1885, gestão de Benjamin Constant como seu presidente, segundo os Relatórios
dos Sucessos mais Notáveis: uso dos gabinetes da Escola Politécnica para o
ensino de Ciências Físicas e Biológicas da Escola Normal; apresentação dos
relatórios dos Sucessos mais Notáveis do ano; morte de um dos congregados, o que
abria vaga na docência e na Congregação (falecimento do Professor Dr. Pedro
Autran da Matta e Albuquerque, em 1881 e do Prof. Augusto Emílio Zaluar, em
1883); atos de louvor a alguém (foram feitos para o Bacharel Benjamin Constant,
em 1882 e para o Dr. Rodrigues Lyra da Silva, em 1883); escolha de livros
didáticos para a Escola Normal (troca dos livros didáticos de Ornamentos da
Memória, de Roquette e de Selecta Nacional, de Caldas Aulette, por Grammática,
de Julio Ribeiro, e Curso de Litteratura
Brazileira, de Mello Moraes Filho, respectivamente, em 1882) ou para as
escolas públicas primárias; elaboração de novo regulamento (em 1880); discussão
sobre se os mestres (do curso de Artes) podiam votar e ter voz na Congregação [50];
nomeação de bancas e pontos para Exames; nomeação de comissões para estudar
reforma do regimento interno das escolas públicas primárias; divisão de
Cadeiras no curso (Ciências Físicas e Naturais foi dividida em Ciências
Físico-químicas e Ciências Biológicas, em 1881); horários e programas dos
cursos; pareceres sobre questionários enviados à Escola; representações da
Escola Normal (na Exposição Pedagógica de 1883, júris e concursos); prêmios
oferecidos à Escola Normal (prêmio Amanda Doria, da Associação Promotora da
Instrução; exemplar de Os Lusíadas,
oferecido por Oscar Rego Monteiro e o prêmio Barão Homem de Mello, oferecido pela
Srª D. Marianna Carolina de Brito Souto); parecer sobre a criação de uma
Universidade na Corte (1882); criação de museu escolar e biblioteca na Escola
Normal; parecer sobre o estabelecimento
de Jardins de Infância e escolha de comissões para visitarem, e também
escolherem para o exercício prático, as escolas públicas de instrução primária
(1884).
No quadro a seguir, observa-se, também, que no ano de 1882,
houve o maior número de reuniões, provavelmente porque tinham que definir quais
as escolas primárias estavam em condições para terem aulas de Ginástica, pois
pela primeira vez a Cadeira estava sendo incluída no currículo destas escolas[51].
Não eram debates tranquilos porque todos os partícipes, sendo homens cultos,
gostavam de apresentar argumentos.
Ano Letivo
|
Nº reuniões
|
Professor Responsável pelo Relatório dos Sucessos mais Notáveis do ano
|
1880 (3/80 a 1/81)
|
15
|
Dr. Carlos Maximiano Pimenta de Laet
|
1881
|
12
|
Dr. Affonso Carlos Moreira
|
1882 (3/01 a 29/11)
|
17
|
Dr. Antonio Herculano de Souza Bandeira
Filho
|
1883 (03/83 a 03/84)
|
09
|
Paulino Martins Pacheco
|
1884-1885 *
|
09
|
Manoel Cyridião Buarque
|
Quadro III Quantitativo de sessões da Congregação por
ano, na Gestão Benjamin Constant
Fonte:
Relatório dos Sucessos Mais Notáveis 1881, 1882, 1883, 1884-1885
* Em 1884, o Diretor
efetivo por alguns meses, até 14 junho de 1884, foi
Sancho de Barros Pimentel,
voltando depois Benjamin Constant a dirigi-la até 1885.
Também foram encontradas nos
Relatórios referências às comissões criadas para, visitar as escolas
subvencionadas, estudar e debater as publicações e aparelhos a serem adotados
nas escolas públicas primárias e na Escola Normal[52]
para receberem parecer da Congregação. Uma dessas comissões foi composta pelo
Cônego Amador Bueno de Barros, Dr. José Manoel Garcia (Mestre em Artes pela Universidade da
Pensilvânia, Estados Unidos da América. Doutor em Filosofia. Lente de Português
do Colégio Pedro II; diretor dos cursos da Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional, sendo um dos iniciadores de aulas do ensino secundário para moças
daquela instituição; escreveu As Escolas
Públicas da Corte do Império do Brazil (1873), dentre outras obras).[53]
e Paulino Martins Pacheco (professor por concurso de Caligrafia e
Desenho Linear do Instituto Comercial; professor de Desenho do Colégio Pedro II;
um dos fundadores da Escola Normal Livre; escreveu, dentre outras obras Breves Notícias sobre a Escola Normal do Rio de Janeiro, 1895)[54],
em 1883. Outra comissão, composta pelo Dr. Evaristo Nunes Pires (bacharel em
Letras pelo Colégio Pedro II; doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro; professor da Escola Normal e do Colégio Militar; sócio do
Instituto dos Bacharéis em Letras e da Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional; escreveu, dentre outras obras Das
Altas Localidades e dos Vales em Relação à Hygiene ,1861)[55],
Cônego Amador Bueno de Barros e Dr. Affonso Carlos Moreira, avaliou o livro História
Universal, de Guilherme Henrique Teodoro Schieffler (nasceu em Hanover; doutor em Direito pela
Universidade de Gottingen; serviu em diversos cargos da magistratura em seu
país; hábil preceptor; professor de grego, por concurso, no Colégio Pedro II; escreveu,
dentre outras obras, Grammática da língua
Alemã, 1861) [56]
que era, também, membro da Congregação, para escolha de compêndio a ser usado
na Escola Normal.
O parecer foi para que o compêndio não fosse adotado. A
Congregação referendou o parecer da comissão, o que normalmente fazia. Mas o
autor da obra não. Pouco tempo depois pediu sua exoneração. Embora não tenha
encontrado nenhuma referência nos Relatórios dos Sucessos Mais Notáveis, achei
em parte da biblioteca do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, que
foi repassada ao CEMI por conta de possuir um acervo específico para pesquisas
de História da Educação, um livro, para uso das escolas primárias, da Cadeira
de Música, de 1881, de autoria do mestre Miguel Cardozo, autorizado pela
Congregação da Escola Normal da Corte e pela Inspetoria da Instrução Pública.
Fica claro que nem sempre um dos
congregados podia, em benefício próprio, utilizar a Congregação. Por outro
lado, fazer parte da Congregação da Escola Normal podia ser uma possibilidade
de ter seu livro adotado e chancelado pela Inspetoria da Instrução Pública o
que garantia várias edições à obra. É o caso de Augusto Emílio Zaluar, (nasceu em Lisboa e naturalizou-se
brasileiro; nomeado amanuense da Secretaria de Justiça, serviu como examinador
da Instrução Pública e, em 1881, foi nomeado lente na Escola Normal; Cavaleiro
da Ordem da Rosa, e sócio da Sociedade Auxiliadora da Indústria; escrevia no Diário do Rio de Janeiro e no Correio Mercantil; escreveu, dentre
outras obras: Doutor Benignus, em 1875,
Lições das Cousas Inanimadas e Animadas,
em 1876; escreveu para os jornais O
Parahyba, A Civilização, O Vulgarizador
e Jornal dos Conhecimentos Úteis. um hebdomatário).
[57].
Duas de suas publicações foram adotadas: o compêndio Primeiro livro da
infância, ou exercícios de leitura e lições de moral, tradução do livro do
Conselheiro Delapalme, foi adotado pela Inspetoria Geral de Instrução Primária
e Secundária, e teve aprovação, do
Governo Imperial, para uso nas escolas primárias. Em 1883, três anos depois de
sua publicação, estava na 5ª edição. O outro livro deste autor, Primeiro
livro da adolescência, ou exercícios de leitura e lições de moral, provavelmente
uma continuação do primeiro, também traduzido, chegou a 4ª edição em
1883. (BLAKE, 1895). Muitos dos congregados escreveram livros didáticos,
provavelmente com o objetivo de tê-los adotados nas escolas públicas primárias,
mas também porque o Regulamento da Instrução Pública, de 17 de fevereiro de
1854, oferecia um prêmio, uma vez que o referido compêndio, ou livro, fosse
adotado por uma Congregação, o que consistia uma honraria e, a circulação da
obra era significativa, o que significava ganhos financeiros. Neste caso, os
seguintes livros, por exemplo, tiveram muitas edições: Selecção litteraria (em verso e prova) de alguns dos principais
escritores da língua portugueza do século XVI ao século XIX (1887) de autoria de Fausto Carlos Barreto
(estudou até o 4º ano na
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, depois passou para o magistério, a
princípio como professor livre de Português, Francês, Latim e Inglês, depois
como professor de Português do Colégio Pedro II)[58],
que teve livros adotados no Ginásio Nacional e na Escola Normal, com edições
até 1891; Exercícios de Analyse
Portugueza, de Frederico Carlos da Costa Brito (que era Engenheiro Civil
pela Escola Central, lecionou na Escola de Humanidades do Instituto
Pharmaceutico) com a segunda edição, já em 1894; Grammatica Portugueza, 2ª edição, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo
Horizonte: Livraria Francisco Alves, 1907, de Hemetério José dos Santos,
adotado na Escola Normal. A 2ª edição
aumentada foi composta de um milheiro
de livros.[59]
Este período monárquico da
Congregação se reveste de relevância porque, legitimada por seus conhecimentos
sobre a formação de professores primários, passa a usar esta diferenciação para
obter mais poder político assim aumentando e valorizando sua rede de sociabilidade
e, mais que isso, passa a lutar para defender o lugar que conquistou no campo
intelectual.
O trabalho da Congregação era grande, no Império e na República,
abrangendo nas sessões, assuntos da própria Escola, os da instrução pública
primária e a tomada de decisões do poder público, através de pareceres que a
Instrução Pública referendava. Na maioria das vezes estes pareceres se tornaram
Avisos da Instrução Pública. A competência dos partícipes da Congregação, e a
atuação deles, demonstrava o espaço de poder político por ela ocupado frente às
políticas públicas da instrução primária, e outras, da esfera educativa.
A
Congregação se fazia, também, pelo poder pessoal dos homens que a integravam.
Esse poder político, de algum modo, ajudou a obscurecer seus nomes na História
institucional, porque sua menção e ações talvez não realçassem o que se firmou
posteriormente como primazia na memória de uma educação civilizadora.
Os congregados eram sabedores dos avanços
tecnológicos na esfera da educação não só porque participam de feiras e
congressos, mas pelo intercâmbio que faziam com outras instituições, através
das viagens pedagógicas. As viagens pedagógicas eram, normalmente, patrocinadas
pelo Governo imperial ou republicano, para conhecimento, in loco, de instituições que poderiam servir de exemplo, em termos
pedagógicos. Ao retornar, o professor que fazia a viagem escrevia um Relatório
contando o que viu e apresentando sugestões.
Desse modo, já em 1883, deram parecer sobre o
aparelho Graphoscopio, do Dr. Menezes
Vieira, na parte relativa ao uso nas Escolas Normais. Também neste ano, quando
houve uma exposição pedagógica no Rio de Janeiro, foram oferecidos à Escola
Normal muitos instrumentos e aparelhos
modernamente inventados para auxiliarem os alumnos na percepção do objeto da
lição (Relatório dos Sucessos, 1883). Muitas vezes sabiam que uma escola
recebera alguma coisa, tal era sua fonte de informações, e pediam, se fosse de
seu interesse:
Constando a esta Directoria
existirem grande numero de modelos em gesso que pertenceram ao Pedagogium e às
escolas de 2º grão e que foram remetidos para o Instituto Profissional, peço-vos
providências para que sejam enviadas à esta Escola, quarenta desses modelos,
assenta a necessidade urgente de material para o ensino de dezenho de ornato
pelo desdobramento da respectiva cadeira. Ao Sr.Dr. Director Geral da
Instrucção Pública. O Director Joaquim Abílio Borges. (Ofício nº76 de 15 de
junho de 1899) [60]
A Congregação republicana de 1890,
como a de 1880, era composta por todos os professores que se dedicavam ao
magistério na Escola Normal da Capital Federal, sem distinções do curso em que
atuavam. Foi, também, um grupo constituído por homens e mulheres
intelectuais, que se distinguia pela heterogeneidade de procedência, seja pela
região brasileira ou estrangeira de onde provinham, seja pela formação que os
habilitava. A homogeneidade de seu saber, cultivado por inúmeras leituras e viagens,
dava voz, valores e corpo à educação que ministravam (CIAVATTA, 2003) no curso
de formação de professores primários revelando seus pensamentos, sonhos, aspirações e interesses para a
instrução nas escolas públicas.
2.2 Os Congregados
A foto a seguir reproduz alguns membros da Congregação da
Escola Normal. Da esquerda para a direita, Afrânio Peixoto[61],
Emílio Zaluar[62],
Carlos de Laet[63],
Esther Pedreira (primeira mulher presidente da Congregação Republicana e ex-aluna
da Escola Normal)[64],
Luiz Nazareth[65], Francisco
Cabrita[66],
José Veríssimo[67] e
Valentim Magalhães[68].
Os congregados da Escola Normal
eram os professores que ministravam aulas. A princípio os professores do Curso
de Artes, isto é, os mestres de Ginástica, Música, Trabalhos Manuais e
Trabalhos de Agulha não podiam participar das sessões. A partir de 1882, no
entanto, os mestres podiam participar e opinar sobre os assuntos afeitos à Cadeira
que ministravam.
Durante o regime
imperial e na primeira década do regime republicano, período deste estudo, as
únicas mulheres que trabalhavam na Escola Normal como mestras, eram as
responsáveis pela Ginástica feminina e Trabalhos de Agulha, Cadeiras que
somente eram ministradas às moças. Os congregados não eram sempre os mesmos,
tendo havido, nos nove anos da Escola Normal da Corte, cinquenta e quatro
congregados. Os professores da Escola Normal eram substituídos por outros no
caso de falecimento, de transferência para outra repartição por acúmulo de
cargos, ou por ocuparem – o que era bastante comum face à rede de solidariedade
de que faziam parte – uma posição mais expressiva e de maior poder político.
No final do século XIX, o Brasil
foi palco de inúmeros embates ao mesmo tempo em que se modernizava através do que
as ciências traziam, com novos valores e novos processos identitários sobre os
quais os intelectuais precisavam
refletir e posicionar-se. Este contexto facilitou e promoveu a possibilidade
para que vários professores pudessem expor suas opiniões.
2.2.1 A intervenção política
A intervenção política da
Congregação apresentou-se de vários modos: pelo silenciamento, pela seleção do que
deixar para a memória, pelo embate, pelo uso da retórica, pela publicização dos
fatos, pelo uso do conhecimento adquirido como balizador de sua opinião... Porque,
ao final do século XIX, o Brasil foi palco de inúmeras ideologias que se
confrontavam, do paradigma que se modificava, da alternância social de regime
político, era um tempo em que se modernizava através do que as ciências
traziam, com novos valores e novos processos identitários sobre os quais o
intelectual precisava refletir e posicionar-se.
O intelectual utilizava-se
da retórica, costume do linguajar erudito que restringe a poucos o deciframento
do que está efetivamente sendo dito, e no discurso apoiado em autores
estrangeiros, a fim de impressionar o ouvinte pelo conhecimento deles pelo
orador mais do que efetivamente explicar o porquê de sua citação, dando
credibilidade ao argumento. Esta foi uma estratégia de uso comum – e ainda o é
– quando se deseja impressionar e persuadir. Os discursos são elaborados de
acordo com quem ouve, isto é, com a platéia que escuta o discurso e deve ser
convencida. Os argumentos dos quais se vale o orador muitas vezes carecem de elementos pragmáticos de reflexão imediata, o que
facilita, de certo modo, a persuasão do ouvinte, mas também atendem ao que a
platéia gostaria de ouvir.
O século XIX foi um período de
passagem da erudição para a intelectualidade pela transposição do movimento
iluminista em cientificista (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2004). A erudição, própria de
quem exercia o magistério naquela época, incluía o conhecimento da retórica que
a instituição que os formara, quase que majoritariamente, tinha como boa doutrina, seja a Universidade de
Coimbra, sejam as Escolas de Direito, seja o Imperial Colégio de Pedro II ou a
Escola Militar. Por outro lado era sabido, e seguido, que pelas Preleções Philosoficas, de Silvestre
Pinheiro Ferreira, a retórica não deveria
separar-se da lógica e da gramática,
[porque] a teoria do raciocínio não
deveria separar-se da teoria da linguagem (CARVALHO, 2006, p.133). Assim, a
retórica me permitiu ver através das palavras e construções linguísticas os
desejos nem sempre expressos tacitamente pelos congregados.
Os congregados tinham a vida dominada
pela imprensa fazendo do seu trabalho intelectual também uma profissão pelas
causas políticas a serem abraçadas, ora pelo abolicionismo em todo o seu
percurso de eventos, ora pela apaixonada defesa da República. Como intelectuais
que todos eram, se ocupavam com a escrita de suas ideias, que se fazia, em
alguns momentos, sua principal função (BOBBIO, 1997). E era nos jornais que os
intelectuais da Congregação através das crônicas, principalmente, emitiam
opiniões e aparentavam a autonomia que não tinham em suas relações com o poder
político. (MICELI, 2001)
O caso descrito por Silveira (1954) é
um exemplo do que foi selecionado para deixar para a memória e da valorização
do conhecimento adquirido pelo intelectual. Contou-lhe o Dr. Carlos Maximiano
Pimenta de Laet que, em 1888, a Congregação estava reunida discutindo os
programas de História Natural. Um dos professores sugeriu que o programa fosse
modificado de modo a abranger o ensino integral de Zoologia, tanto para os
alunos, quanto para as alunas e, fez sentir a velharia do falso pudor
feminino: Todo o capítulo das funções da reprodução animal, disse ele, devia ser
tratado com minuciosa exposição para todos os alunos (p.126).
A Congregação ouviu os argumentos e
passou à votação. O Dr. Pedro Severiano de Magalhães, catedrático desta
matéria, ao emitir seu voto, com sua habitual serenidade pediu licença
para uma declaração que lhe parecia indispensável. Pedro
Severiano de Magalhães,
nascido em 1850, doutorou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, sua terra
natal, tornando-se depois professor da Faculdade de Medicina do Rio Janeiro.
(BLAKE, 1895,Tomo VII, p. 67-69). Foi autor de numerosos trabalhos médicos,
seus artigos sobre insetos destruidores de livros, publicados no Rio de
Janeiro, em 1905, foram traduzidos e divulgados em revistas cientificas
francesas. Foi ele quem pela primeira vez identificou e classificou o Dorcatoma
bibliophagum, coleóptero da família dos anobiídeos, assim chamados porque se fingem de mortos quando
atacados. [70]
Sou [disse ele], professor de uma Faculdade Médica, e
desta Escola Normal. Lá há mulheres já feitas, ou mandadas ali por seus pais,
com a plena ciência do que desejam aprender; nenhuma dúvida eu teria em lhes
desvendar os mais recônditos desvãos do organismo, as grandes leis da
conservação dos seres e tudo o mais que seja necessário à formação de pessoas hábeis
em obstetrícia e medicina. Aqui, porém, sinto que faltaria ao meu dever
iniciando estas crianças ou moças de tenra idade em conhecimento cuja
individuação lhes tiraria essa inciência[71],
que é como verniz do pudor feminino. Se, portanto, a Congregação entender de
outro modo, queira aceitar a renuncia que lhe faço deste meu posto de honra e
procurar quem com outras tendências, melhor possa fazer aquilo que
peremptoriamente me recuso. (SILVEIRA,1954 p.126)
Calou-se.
Os membros da Congregação se
entreolharam e imediatamente votaram o programa de acordo com as ideias de Pedro
Severiano.
Foi deste modo que
Alfredo Balthazar da Silveira, professor catedrático do Instituto de Educação,
membro da Congregação recriada em 1947, e historiador oficial da instituição,
lembrou a Congregação da Escola Normal da Corte. Quem seria o professor que formulou
as sugestões? Silveira valorizou uns, silenciou sobre outros, do lugar do tempo
em que estava. Menciona ele, ainda, ter sido aquela sessão retratada pelo inolvidável vulto das letras nacionais
e testemunha ocular daquele fato para narrá-lo no inimitável estilo (ibidem),
Carlos Maximiano Pimenta de Laet, mantendo a memória de quem lhe interessava
relacionar aos fatos.
Este caso, parte da
memória da Escola Normal, demonstra de forma clara o uso pelo intelectual do
saber. O Professor Pedro Severiano, reconhecido pelos participantes daquela
sessão da Congregação como um dos membros mais antigos atua como balizador de
opinião, frente a outro, principalmente, como deixa transparecer o narrador
Silveira, por ser um partícipe ainda não legitimado pelo conhecimento que detém
por seus iguais.
Conta Pedro Nava, em seu livro Baú
de Ossos (2005, p.205) que Pedro Severiano de Magalhães foi, a partir de
1898, chefe de seu pai na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, que era
catedrático de Patologia Clínica, desde 1891 e chefe da Clínica Cirúrgica da
Policlínica. Que era homem ríspido de maneiras, brusco de modos e de má catadura. Tudo isso, segundo o autor,
lhe vinha de um desgosto[72],
parece que doença crônica de filho ou filha. Era, no entanto, um coração de
ouro. Era continuador da Escola Parasitológica de sua província, tendo deixado
farta contribuição pessoal ao estudo das filárias, ascaris, tênias, das
bicheiras e dos bernes. Diziam, comenta o autor, que, quando via saias na Escola
de Medicina, trocava-lhes o sexo, chamando-as por nomes masculinos.
positivismo trouxera uma
nova imagem da ciência que o intelectual da época reforçava pela racionalidade
dos procedimentos e pela busca da neutralidade (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2004) o que
tornava mais científicos seus argumentos.
Esta condição dava a possibilidade de o interlocutor, também, usar um discurso
próprio para um público que sabia igual a si: os professores sem cargo político
no governo.
O uso dos
juízos de valor como argumento, ultrapassava o discurso da racionalidade, o que
por vezes tornava a retórica pouco inteligível para quem precisava ser
convencido. Os congregados respeitavam-se pelos saberes por eles próprios
construídos e que, mais que tudo, respaldavam as posições tomadas por cada um,
por isso ficou célebre e passou à história, esta sessão de 1888, onde as
modernidades do progresso se confrontaram com a experiência e a erudição.
Carvalho (2003) enfatiza que a
educação era marca distintiva da elite política, no final do império e início
da República, por isso não constitui surpresa o fato de que muitos professores
da Escola Normal mesmo durante a República, caso de Lauro Sodré (deputado
federal, senador várias vezes e governador e secretário de Benjamin Constant)
fazerem parte do poder político diretamente, atuando nas Câmaras das Províncias
ou na do Município Neutro, ou ainda representando as entidades federativas
natais no Senado Federal.
A
publicização do conhecimento do erudito como busca da justiça, da moral e do
direito (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2004), como Émile Zola, ao defender Dreyfus
publicando J´accuse [73], no sentido de melhorar o mundo, é uma
faceta característica do intelectual do século XIX, e desta forma engajar-se
num projeto civilizatório, era uma atitude comum e dentro da premissa dos
intelectuais tão logo assumiam seus lugares como partícipes da Congregação.
Ora, as relações entre intelectuais e
o poder nem sempre foram pacíficas porque nem sempre foram de submissão, aliás,
essas relações têm sido discutidas por Manheim (1968), Gramsci (1977), Bobbio
(1997), Carvalho (2000), Albuquerque Júnior (2004), Bourdieu (2005), e tantos
outros que, com interpretações diversas, analisam estes embates.[74]
A necessidade do papel político do homem culto para fazê-lo um intelectual é a
interseção entre estes autores, ainda que este papel seja diferenciado para
cada um deles.
Naquele momento a imprensa dava seus
primeiros passos o que possibilitava a todos, até aos que não eram jornalistas
de profissão, emitirem suas opiniões a respeito de tudo e todos, pelos jornais
que circulavam ainda que de modo restrito, já que pelo censo de 1872, o primeiro e único do Império,
dos 9.930.478 habitantes[75]
no Brasil, eram poucos os
letrados. Falavam de si mesmos para os que a eles se assemelhavam:
[os
intelectuais são] um grupo bem definidos de pessoas que se reconhecem entre si
mesmo quando se insultam, e que falam umas com as outras mesmo quando presumem
ou pretendem falar com o público (Bobbio 1997, p.81).
Em
29 de março de 1897[76], uma segunda-feira,
a Congregação da Escola Normal reuniu-se para decidir sobre as reformas do
Ensino Normal de acordo com uma requisição do Diretor Geral de Instrução
Pública da Prefeitura do Distrito Federal. Estiveram presentes os professores
Alfredo Gomes, Luiz de Moura, Raymundo Monteiro, Francisco Cabrita, Coelho
Barreto, Barreto Galvão, Guimarães Rebello, F.J. Bokel, Emilio Anglada, D.
Marianna Veiga, Arthur Higgins e Frederico Glatthard. Presidiu a sessão o Prof.
Alfredo Gomes, Diretor da Escola Normal do Distrito Federal, secretariado pelo
amanuense José Albino de Souza Pimentel.
O debate foi iniciado após a
leitura da proposta encaminhada pela Direção da Instrução Pública. O primeiro
item discutido foi a exclusão da Cadeira de Astronomia substituída pela de
Noções Concretas de Astronomia. Explicou o Dr. Barreto Galvão que não há
astronomia abstrata por conseguinte tal
enumeração é um erro científico contra o qual se protesta, sugerindo que se
utilizasse a Lei de 17 de maio de 1890, dada à Escola Normal por Benjamin Constant e
que sobre ela deve ser argamassado qualquer trabalho de reorganização do ensino
normal.
O Dr. Cabrita explicou, então que
a lei autorizava o Dr. Prefeito a reformar o ensino e era então dever dele, Prefeito,
ouvir a Congregação. Disse também que esta
só poderá ser ouvida pelo trabalho mandado pelo Sr. Dr. Prefeito sobre o qual
emitirá parecer. Não julgando ser regular ou propícia a consulta que se
fazia naquele momento. O Diretor, Professor Alfredo Gomes, não pensava deste
modo e formulou outras bases de discussão. O Diretor era, ali, o representante
do poder público, da Prefeitura que emitira ordens que a Congregação deveria
obedecer. Mais uma vez a autonomia do intelectual foi respaldada no conhecimento
que detinha sobre a Escola Normal e o ensino primário, o que avivou os ânimos
dos intelectuais professores e instituiu o embate.
O Diretor, usando da retórica a favor
do contexto político que desejava, propôs novas bases de discussão, certamente
apoiado em dois ou três autores estrangeiros que corroborassem o momento para
enfatizar, eruditamente, seus pontos de vista. Sobre estas bases, aguardou o veredictum
da Congregação.
O Dr. Rebello, no entanto, não se
deu por satisfeito e irônico assinalou que era natural que o Prefeito fizesse
uma consulta prévia sobre reformas que desejava fossem executadas. Mais uma vez tenta refutar a retórica, usando
a lógica. Havia, então, dois estilos de discursos e de pensamentos. O Professor
Alfredo Gomes usava a frase sonora, a palavra bem feita, os estrangeirismos que
pedantemente eram incorporados como referências de tudo que dizia. (CARVALHO,
2000). O Dr. Rebello, pragmático, não tentava persuadir ninguém. Usava tão
somente a sua virtude de orador, a sua legitimidade de professor da instituição
e suas virtudes, por isso assegurou que não podia ser nomeada uma comissão para
elaborar as bases que seriam apresentadas à Congregação.
O Dr. Galvão, com a mesma
legitimidade, lógica e pragmatismo, apresentou senões graves à proposta do Diretor, numa tentativa de
desqualificá-la. Enumerou a inclusão da Cadeira de Astronomia, depois a de Física,
a manutenção da Cadeira de Agronomia, que julgou, enfim, excessos no plano de
estudos da formação de professores, conteudismos. De novo usou a autonomia que
o conhecimento das situações do magistério lhe conferia para reclamar da
substituição da Cadeira de Biologia pela de História Natural que é uma designação muito mais dilatada [do
conhecimento], pois compreende diferentes
ciências. Estranhou ainda o professor Galvão que a reforma se mostrasse tão atrasada quando certas idéias já estão
aceitas na Congregação, criando no discurso um pertencimento ao grupo para
quem falava. Repetiu que a melhor base
para a atual reforma é ainda a Lei de organização do ensino normal de 1890,
ora esta reforma havia sido proposta por um partícipe desta Congregação, um
igual, Benjamin Constant, que saíra da Escola Normal para o Governo Provisório,
morrendo pouco tempo depois.
Sugeriu o Diretor Alfredo Gomes que
a comissão fosse composta por ele, os professores Francisco Cabrita e Guimarães
Rebello, os dois primeiros porque um estava na direção e o outro era
ex-Diretor, e sabiam se colocar como mediadores do poder público e daquela
Congregação. O último, ora, era quem reclamava e já estava conseguindo adeptos.
Assim, o
Diretor usou a retórica, e a inteligência, para explorá-las como instrumentos
do poder político. O Dr. Rebello, já envaidecido por ter sido citado
para compor a comissão, resvalou em suas convicções já persuadido pelo Diretor
e passa, num discurso propositivo, próprio dos intelectuais espertos
(BOBBIO,1997, p.73) a achar que as bases formuladas pelo Dr. Alfredo Gomes
têm lacunas mas que, por interpretar o pensamento do legislador, devem servir
de elementos a quem quer que queira estudar o assunto.
A discordância do professor
Rebello ainda que arrefecida por ele mesmo, ganhara mais adeptos. Desta vez é o
Dr. Barreto quem se insurge. De novo usa o discurso pragmático legitimado no
conhecimento que possui, e que, sabe o legislador não tem:
[...] nas bases apresentadas pelo Diretor
ocorreu o que sempre sucede a quem planeja reformas, sem filiar-se a uma seita
filosófica qualquer, foram nela cometidos erros gravíssimos. Para prová-lo,
mostra um: não se pode ensinar biologia a quem não tem estudos de química [...]
O Sr. Cabrita diz que não sabe se
deveria fazer uma reforma baseada no atual curso do 1º grau, quando se ignora
se a intenção do Prefeito seja reformar também o ensino do 1º grau. Pergunta
se, no caso afirmativo, não será trabalho
perdido da Congregação o que agora se está fazendo. O Diretor enfatiza que
não é intenção superior reformar aquele ensino. Diz que o trabalho a fazer deve basear-se no ensino de 1º grau tal qual é hoje
e não como possa ser daqui a meses. Pela discussão, percebe-se que a
Direção da Instrução Pública mandou uma proposta de reforma que deveria ser
ratificada pela Congregação. A Congregação não aceitou isso como base de
discussão e enumerou os "erros" contidos na proposta. Por outro lado
a Congregação viu, apesar da defesa enfática do Diretor (que representava ali o
Poder Público), que sem reforma do ensino de 1º grau não se teria como reformar
o ensino normal.
A finalização desta discussão é que
a Congregação nomeia três partícipes (Cabrita, Rebello e Moura) para compor uma
comissão que, em 48 horas deveria dar seu parecer, apesar da recusa do Dr.
Rebello – desde o início da discussão contra tal reforma – que, foi instado a
aceitar a participação na comissão. O trabalho foi marcado para ser ouvido pelo corpo da Congregação às três horas da próxima
quarta-feira.
Por curiosidade, na reunião
seguinte o trabalho foi apresentado, foram discutidos inúmeros pontos e foi
lavrada uma ata que, no final, vem a ser "desconsiderada". É lavrada
outra Ata, concisa, sem comentários. O trabalho é aprovado para ser encaminhado
à Direção da Instrução Pública.
O
modo de a Congregação exercitar seu poder político, não era necessariamente no
combate direto, dela com seu contendor. Por vezes ela agia politicamente até
com seus pares, neste caso, com o Diretor da Escola, ali representando o Poder
público. O fato de aceder em uma dada situação, não queria dizer que concordava
plenamente. Submetia-se, apenas. Por um momento pequeno ou longo que dependia
das forças com que podia contar para convencer ou ser convencido.
No livro de ofícios de 1897 e 1898,
vários documentos expressam vontades da Congregação, assim como seu poder
político: o ofício nº 27, de 1897, informa que a Congregação insiste na
solicitação ao Dr. Agostinho Raymundo Gomes de Castro e ao Bacharel Alfredo
Moreira Pinto, para fazer parte da Mesa Julgadora do Concurso para provimento
da Cadeira de Geografia e História Geral, que será realizado na Escola Normal, cabendo-lhes
a arguição dos candidatos e o ofício nº33, de 17 de março, onde a Congregação
habilita para o cargo vago[77]
das Cadeiras de Geografia e História Geral o candidato Dr. Balthazar Bernardino
Baptista Pereira.
O grupo diferenciado no campo intelectual que a
Congregação construiu, com cumplicidade, comunicação imediata, predisposição e
a retórica que os identificava, e se tornava para eles a linguagem comum,
fizeram com que participassem ativamente do campo político ainda que não em
situações de pleno conflito, porque se defendiam muito mais do que o necessário
de indivíduos, na maior parte das vezes,
dos intelectuais como seus partícipes o eram, isto é, do mesmo campo
intelectual.
O que uniu estes homens e mulheres
em defesa de uma legitimidade conquistada por seu trabalho na Escola Normal não
foi, acredito, a “vocação” deles como educadores, ou a “escolha” que fizeram de
suas práticas, num dado momento. Foi um sistema inconsciente que Bourdieu (1990)
chama de habitus [que] constitui o produto de uma interiorização
de estruturas objetivas [...] [e] de
esperanças subjetivas [...]que produzem práticas
e ações que se perpetuam (p.139).
Não apresentei aqui uma dicotomia
entre o indivíduo que foi partícipe da Congregação e a sociedade da qual faz
parte, porque ela não existe. Embora, por vezes possa parecer que os embates
entre um e outro permanecem por que representam forças antagônicas. Não, o
embate existe porque há uma delimitação do campo e por que, por medo ou desejo
(ELIAS, 1994) os congregados reduzem ou ampliam a percepção do que eram e do
que desejavam, ou projetavam ser.
2.2.2 A rede de sociabilidade
Muitos congregados pertenciam a
associações literárias, científicas, políticas, beneficentes ou de instrução,
que tinham maior ou menor valor representativo, de acordo com o passar do
tempo. Este fato demonstra a rede de sociabilidade a que pertenciam, além do
grupo diferenciado da Escola Normal que muitas vezes respaldou as vicissitudes
dos embates que vivenciaram. Esta rede de sociabilidade foi muitas vezes
utilizada quando se pretendia obter um favor, um outro emprego ou mostrar as
qualidades que o congregado tinha, seja através de palestras, conferências ou
viagens pedagógicas subvencionadas pelo governo, o que era o caso, por exemplo,
de Antonio Herculano Bandeira Filho, que visitou os Jardins de Infância (1883),
as Escolas Normais da França, da Áustria e da Alemanha (1883), mas estava na
Europa para tratamento de saúde. No seu retorno encaminhou ao governo,
representado pelo Conselheiro
Pedro Leão Vellozo, O Jardim Infantil, sua natureza, seu
fim e seus meios de acção. Rio de Janeiro, 1883, 93 p. O Relatório
sobre as Escolas Normaes primarias em França foi apresentado ao Conselheiro
Rodolpho Epiphanio de
Souza Dantas, Ministro e Secretario
de Estado dos Negócios do Império. Rio de Janeiro,1883 assim como o Relatorio sobre as Escolas Normaes primarias
na Austria e Allemanha, Rio Janeiro, 1883, 26p. [78]
Dentre os membros de inúmeras
associações e entidades tivemos os congregados José Francisco Halbout (da Caixa
Beneficente da Corporação Docente do Externato do Colégio Pedro II), Evaristo
Nunes Pires (do Instituto dos Bacharéis em Letras), Domingos Jacy Monteiro (da Sociedade
contra o Trafico dos Africanos e Promotora da Colonização e Civilização dos
Indígenas), José Manoel Garcia e Augusto Emílio Zaluar (da Sociedade
Auxiliadora da Industria Nacional), Francisco Carlos da Costa Brito (do Instituto
Pharmaceutico), Álvaro Joaquim de Oliveira (da Associação Mútua de Pensões para
a Invalidez e Velhices e de Montepio Previdencia) e Teófilo das Neves Leão (da Sociedade Promotora da Instrução Pública),
Antonio Ferreira Vianna Filho (da Ordem dos Advogados Brasileiros), que
mantinham nestes espaços contatos pessoais diferentes daqueles da Congregação.
Alguns congregados foram fundadores de instituições e jornais, como
Jaime Pombo Brício Filho (do jornal O
Século) e José Veríssimo Dias de Mattos (da revista Amazônia), dentre outros, o que lhes permitia também contatos com
os imigrantes que em sua maioria, na cidade do Rio de Janeiro, trabalhavam em
jornais. José Veríssimo e Carlos de Laet foram, também, fundadores da Academia Brasileira de Letras onde
reuniaram-se a um grupo de intelectuais, escritores, que buscavam organizar o
movimento literário, dentre estes Machado de Assis, Olavo Bilac, Lúcio de
Mendonça, Artur Azevedo, etc.
Enfim, todos os congregados da Escola Normal tinham, no século XIX,
intervenção política e ação acadêmica, condições precípuas de um intelectual. Naquele
momento poucas eram as faculdades disponíveis e nenhuma delas formava
professores. No
Império ou na República, os intelectuais, formados em sua grande parte pelas
poucas faculdades brasileiras, como Manoel Bonfim (Faculdade de Medicina da
Bahia), Alfredo Gomes (Faculdade de Medicina do Município da Corte), Joaquim
Abílio Borges (Faculdade de Direito de São Paulo), Francisco Carlos da Silva
Cabrita e João Pedro de Aquino (Escola Central, depois Escola Politécnica); ou
com passagem anterior, no curso secundário, pelo Imperial Colégio de Pedro II
onde foram laureados como Bacharel em Letras, é o caso, dentre outros, de Tomás
Delfino dos Santos e José Veríssimo Dias de Mattos; ou pela Escola Militar,
como Benjamin Constant e Álvaro Joaquim de Oliveira. Cada um deles, em sua
faculdades/colégios de formação, ainda que estes não estivessem no Rio de
Janeiro, havia possivelmente deixado amigos, companheiros que fossem, com quem
também podiam (re) estabelecer contatos.
Como a imprensa e a literatura se
confundiram no final do século XIX e início do XX, as opiniões, assim como as
prosas e os poemas, se multiplicavam em periódicos de curta duração (SODRÉ,
2004). A todos, especialmente aos letrados e cultos, era dada a possibilidade
de opinar.
Como os letrados e cultos eram
poucos e escreviam para eles mesmos, a imprensa serviu, também para divulgar
quem escrevia e, desta maneira, legitimá-los, pelos seus iguais, como homens
cultos. Desta forma também se legitimavam as opiniões e os conhecimentos
adquiridos pela profissão, muitas vezes, no entanto, mais por folhetos do que
livros divulgando novos conhecimentos através de obras específicas de sua
formação, ou de seu trabalho no magistério, onde destacamos Domingos Jacy
Monteiro (Arsenico e seus compostos: effeitos
phsycologicos e therapheuticos), Evaristo Nunes Pires (Progressos do Brazil no século XVIII, até a chegada da família imperial),
João Carlos de Oliva Maia (O regimen de
internato nos estabelecimentos de instrução secundaria e nas escolas normaes)
e Guilherme Henrique Theodoro Schiefler (Gramática
da Língua Alemã ou Novo Methodo completo para si aprender e traduzir), no
período monárquico e Francisco Cabrita (Geometria);
Pedro José Pinto Peres (Filologia), Eugenio
Guimarães Rebello (Fatos da Marinha de Guerra do
Brasileira, Corte de apelação, Influência do ensino público sobre a educação
republicana) e Rocha
Pombo (História da América). (BLAKE, 1895)
Por
outro lado também se dedicavam os intelectuais à elaboração de textos para
publicidade e a outros empregos públicos (ibidem). Álvaro Joaquim de Oliveira,
por exemplo, era fiscal da Companhia de Estrada de Ferro São Paulo e Rio de
Janeiro e fazia plantas de linhas telegráficas; João Pedro de Aquino, o diretor
da Escola Normal, era também o dono do Externato Aquino, um dos muitos
conceituados colégios particulares da Corte; Pedro Severiano de Magalhães era
também helmintólogo e pesquisador; Antonio Valentim da Costa Magalhães era
também jornalista, contista, romancista e poeta no jornal Amolador; Pelino Joaquim da Costa Guedes era também funcionário da
Secretaria dos Negócios do Interior e da Justiça e redator dos jornais Gazeta da Tarde e Ipiranga.
Para legitimar-se como
intelectuais os congregados além de pertencerem às diversas associações, clubes
literários, educandários e atividades de trabalho diversificadas, puderam deste
modo fazer crescer as suas redes de sociabilidade numa sociedade onde o
apadrinhamento era natural e esperado, exercendo ações para grupos específicos
ou para si próprios.
Então, era comum que
congregados, independente do regime adotado pelo país, face à sua posição,
ocupassem cargos políticos na Câmara, no Pedagogium, na Instrução Pública, nos
jornais, e nos Conselhos Superiores de Instrução, pela legitimidade deste grupo
e pela rede de solidariedade que construíam. Para citar alguns congregados
representativos desta situação, Teóphilo das Neves Leão foi Secretário da Instrução
Pública; Afrânio Peixoto foi Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal;
Lauro Sodré foi o primeiro governador do Estado do Pará; Alfredo Gomes foi do
Conselho Superior de Instrução Pública; Menezes Vieira dirigiu o Pedagogium e
muitos outros.
Importante destacar que foi
encontrado no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, em 2008, uma
placa de madeira, atravessada por uma pena de escrever dourada, com inscrição
em placa de prata, de Benjamin Constant ao Dr. Menezes Vieira, parabenizando-o
pela Direção do Pedagogium, em 1891. Note-se que foi Benjamin Constant, como
Ministro, quem nomeou Menezes Vieira. Ambos pertenciam à Congregação da Escola
Normal.
Participavam também estes intelectuais de, pragmaticamente, transmitir luzes ao povo, seja através
das Conferências Populares da Freguesia da Glória, promovidas pela Associação
Promotora da Instrução do Rio de Janeiro (BASTOS, 2002), é caso do Bacharel
Theophilo das Neves Leão (estudou no Liceu da Bahia, foi professor do Colégio
Pedro II e do Externato Aquino, no Colégio São Pedro de Alcântara, no Colégio
São Francisco de Paula e no Liceu Comercial; foi Secretário Geral da Instrução
Pública; diretor da Escola Normal; palestrou no Externato Aquino; fundou a
Tipografia 5 de março, na Rua do Lavradio com o objetivo único de imprimir
livros didáticos que pudessem ser adquiridos por crianças pobres; era professor
de Geografia e História da Escola Normal) [79]
e de Antonio Ferreira Vianna, filho (doutor em Direito pela Faculdade de São Paulo; diretor das
aulas municipais, advogado dos auditórios da Corte e sócio da Ordem dos
Advogados brasileiros; representou a Corte e a província do Rio de Janeiro na
Câmara Temporária em 1869 e 1877 e na 1ª eleição direta; escreveu, dentre
outras obras A Fusão, em 1859) [80]
era o primeiro, através de sete palestras e o segundo, com vinte palestras,
entre 1873 a 1890 (p.7), ambos
associados àquela entidade [81];
seja através das Sociedades Científicas de que faziam parte, como demonstram as
atividades de Evaristo Nunes Pires Filho e Frederico Carlos da Costa Brito (completou
em 1880 o curso de Ciências Físicas e Matemáticas na Escola Politécnica;
lecionou na Escola de Humanidades e
Ciências Pharmaceuticas, obtendo o título de sócio do Instituto Pharmaceutico;
apresentou-se no Theatro de São Luiz em 1880, em benefício da Sociedade União
Beneficente da Escola Politécnica, da qual fazia parte; era mágico e publicou
diversos artigos contra alguns prestidigiadores; foi membro da Sociedade de
Geografia de Lisboa; premiado pela Sociedade Scientiphica União Polythenica;
publicou diversas obras e artigos nos jornais Folha Nova, Gazeta da Tarde
e no Tempo).[82]
que participavam da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e da Sociedade
Científica União Politécnica (BLAKE, 1895), e Alfredo Gomes que foi presidente
da Associação Paulista de Professores Secundários e da Sociedade Beneficente de
Professores e Auxiliares de Administração e também foi Diretor de entidades de
classe como a União de Professores de Educação e Ensino e Associação Paulista
de Educação [83];
ou das Sociedades Literárias, das quais quase todos eram participantes por
serem escritores, poetas, jornalistas. Todas essas atividades faziam com que,
cada congregado, tivesse uma rede de sociabilidade ampliada levando a cada um o
prestígio de sua presença como intelectual e como membro da Congregação da
Escola Normal.
2.3 O professor Benjamin: um congregado
ministro
Embora tenha sido jubilado da
Escola Normal no dia 25 de agosto de 1889, conforme descrito por Magalhães (2009) e reportado
em O Paiz e o Diário de Notícias, não foi com espanto que alunos e professores
viram o professor Benjamin Constant em meio ao tumulto que assistiam das janelas
em 15 de novembro de 1889. Conheciam sua convicção política.
Segundo seu biógrafo, Raimundo Teixeira Mendes
(1937), Benjamin Constant entrou para a Escola Normal tão logo foi criado o
estabelecimento, conforme também relatam o Decreto 7.684, de 6 de março (de conformidade com o Art. 9 do
Decreto 7.247, de 19 de abril de 1879), a Ata de
Criação da Escola Normal [84]
, o Relatório dos Eventos mais Notáveis da Instituição de 1881, encaminhado ao
Ministro do Império, para, interinamente, dirigir o estabelecimento, reger a
Cadeira de Matemática e Escrituração Mercantil. Passa a Diretor efetivo em 16
de julho de 1881. Por Aviso de 29 de março de 1881 passa a reger interinamente
a Cadeira de Elementos de Mecânica e Astronomia, que só lhe foi dada em
definitivo em 2 de julho de 1885. Cumulativamente regia as Cadeiras de
Matemática Elementar e Escrituração Mercantil, de onde foi dispensado em 13 de
fevereiro de 1884. Em 1883, em virtude
do Decreto nº 9031, de 3 de outubro de 1883, que proibia acumulações no
Ministério do Império (ele dirigia também o Instituto dos Meninos Cegos, onde
inclusive residia, e a Escola Militar) foi exonerado, a pedido, em 30 de
outubro do mesmo ano. A 14 de julho de 1884 assumiu novamente a Direção da
Escola Normal como seu professor mais antigo. Deixa o posto de Diretor em 20 de
maio de 1885, por se haver recusado a propor para lente deste estabelecimento
um protegido do Presidente do Conselho, que, segundo seu biógrafo, já havia dado em concurso provas de sua incompetência
(MENDES, 1937, p.214).
No discurso que proferiu na
criação da Escola Normal [85]
disse que o corpo docente era garantia de bom êxito (MENDES, 1937), o que deixa
claro sua disposição de valorizar os intelectuais que ali se reuniram para a
formação de professores.
Trabalhara
vinte e cinco anos incluídos os dezesseis anos que para lá levou ao ser extinto
o Instituto Comercial; também dirigia o Instituto dos Meninos Cegos, onde
morava, e lecionava ainda, na Escola Militar, onde era Tenente-Coronel. Estava cansado
e doente, como sinaliza Castro (2004) que o coloca na família como o mais
doente, pois faltava a compromissos e aulas por problemas de saúde. Na verdade
sempre tivera mais de um emprego e mesmo assim, segundo o diário de sua filha
Bernardina Botelho de Magalhães, tinha problemas financeiros. Bernardina Botelho de Magalhães, aos
16 anos, escreveu um diário, do ponto de vista doméstico que começa em 7 de
agosto de 1889 chegando ao dia da proclamação da República. Seu diário permite
também ter contato com o universo feminino e expõe a rede de sociabilidade
familiar de seu pai, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o que me permitiu
ter indícios – ela cita apenas o primeiro nome – que alguns professores da
Escola Normal freqüentavam sua residência (Hans Heilborn, pode ter sido um
deles, citado (p.54) como Sr. Hans)
A memória biográfica de
Benjamin Constant foi explorada, por seu principal biógrafo e amigo Raymundo
Teixeira Mendes inicialmente em 1910 , em libreto de 16 páginas, editado pela
Igreja Pozitivista do Brasil e depois em 1937, em edição comemorativa do centenário
de seu nascimento, publicado pela Imprensa Nacional, com 547 páginas. Esta
biografia apresenta Benjamin Constant como um homem culto, muitas vezes
preterido de cargos públicos por força de pouco ou nenhum apadrinhamento por
força de sua ideologia, principalmente. Respeitado por alunos e colegas ainda
que estes divergissem de sua identidade política, como é o caso de Carlos de
Laet, que embora por convicção um monarquista, o via não como um positivista
republicano, mas como primeiro diretor da Escola Normal, presidente de sua
Congregação de 1880 a 1885, tanto que às vésperas da República Carlos de Laet
arranjou emprego para seu genro de Benjamin Constant, Dr. Carlos. Em retribuição,
Benjamin Constant ao ver o seu nome na relação de dispensa da Escola Normal,
após a derrubada da monarquia, arranjou para que Laet fosse aposentado, ao
invés de ser demitido. Aliás, essa rede de sociabilidade de Benjamin Constant,
ainda que não explícita no diário de uma de suas filhas, permite verificar a
diversidade de seus companheiros, especialmente nas homenagens que recebeu após
a proclamação. Todas as escolas em que trabalhou o homenagearam tão logo passou
a integrar o Governo Provisório (Decreto nº 1 de 15 de novembro de 1889)[86].
A Escola Normal, através de seus
professores, segundo o diário de Bernardina (2009), ofereceu-lhe, no quartel, uma
pasta de veludo bordada contendo dentro[87] um bonito oferecimento (p. 92), com
discurso do Professor Antônio Valentim da Costa Magalhães, seu colega
congregado, na entrega do mimo. Os alunos da Escola Normal deram-lhe, também no
quartel onde trabalhava diariamente,
[...] um bonito ramo de
flores artificiais com duas fitas pendentes, uma verde e outra amarela, com o
dístico ao grande cidadão Dr. Benjamin Constant, novembro de 1889, em letras
douradas [...] (ibidem)
Enfim, foi homenageado pelos colegas e pelos
alunos, o que demonstra, também como o consideravam “da casa”, o que me permite
imaginar que os indícios das relações transcritas no diário de Bernardina
possam ser significativos. Até o momento da República, era o professor de Matemáticas de diversas
instituições públicas e privadas; o intelectual que ajudara a fundar, em 1876,
a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, ideário que difundia; o
conferencista que apresentou seu opúsculo sobre as Teorias das Quantidades Negativas no Instituto Politécnico, quando
de sua criação, em 1867. Conceituado entre os colegas pelo hábito de
intermediá-los. Fora combatente da Guerra do Paraguai. Mas, para a Escola
Normal, fora seu primeiro diretor, era um de seus mais antigos professores,
partícipe de uma Congregação que, como presidente, ajudou a criar. Seu biógrafo
oficial faz menção das reuniões feitas em 1880 para modificar, através da
Congregação, o Regulamento. Apresenta, também, as reações políticas individuais
de Benjamin que, quando do falecimento do neto de José Bonifácio, anotou na
caderneta da sua aula de Astronomia na Escola Normal[88]:
Deixei de dar aula em sinal de profundíssimo pezar
pela morte do venerando Conselheiro José Bonifácio. O dia da morte de um homem
que, como este, se impôs ao respeito e a
estima dos seus concidadãos por seus
importantes serviços e elevadíssimos dotes morais, mais ainda do que por seu
invejável talento e vasta ilustração, é um dia de verdadeiro luto nacional. (p.181)
Em
1875, já major, foi convidado a reger a Cadeira de Ciências Físicas e
Matemáticas na Escola Militar. No entanto foi preterido por suas convicções
positivistas. Quando se criou, em 1880, a Escola Normal da Corte, buscou-se um
pouco reparar a injustiça de 1875.
Tomando
por empréstimo de Ilmar Rohrloff de Mattos (1989) sua análise da implantação da
República brasileira, Benjamin Constant pode ser explicado pelos nexos pessoais
que ele construiu individualmente como professor porque
manter a
ordem e difundir a civilização impunham, àqueles que pretendiam exercitar uma
direção, o estabelecimento de nexos com as famílias que compunham a "boa
sociedade", assim como, embora secundariamente, com aqueles segmentos
sociais subalternos. (p.6)[89]
Nexos que ele deixou demarcados no
discurso que fez quando da criação da Escola Normal, na frente do Imperador,
que não desconhecia seu ímpeto e ardor republicano, mas o respeitava. Benjamin
Constant chegou, inclusive, a lecionar para a família do Conde de Axe, por
indicação do Imperador (SILVEIRA, 1954). Durante sua gestão, a Congregação
elaborou o Regulamento de 1881, implantando um novo modelo de formação de
professores de primeiras letras, conseguindo legitimar-se pelo trabalho e
competência, também perante a população que acompanhava de perto as muitas
tensões durante as sessões entre os congregados.
O professor Benjamin era respeitado
também por seus alunos, fossem os da Escola Normal, fossem os da Escola
Militar, fossem os da Escola Politécnica, fossem do Instituto dos Meninos
Cegos, fossem os do Colégio Abílio, onde também trabalhava. Seus discursos e
comícios a favor da República eram bastante conhecidos. Assim, não foi surpresa
fazer parte do Governo Provisório como Ministro nos novos tempos que se
iniciavam, aliás, seu biógrafo comenta que foi cogitado a presidir a República,
narrando conversas entre Benjamin e o Imperador e Benjamin e Deodoro. A
legitimidade de Benjamin Constant, para mim, se constitui como o de uma
autoridade, no sentido de “aquele que é capaz de”, “aquele que detém um poder
que transcende o limite do cargo que ocupa”. Assim, embora líder carismático,
que sem sombra de dúvida, o era, revestia-se de uma autoridade que ultrapassou
os limites dos cargos que ocupou durante sua vida.
A Escola Normal perdeu um professor para receber um partícipe
da instauração da República. Os professores remanescentes da reforma de 1888
tinham, no novo regime, um congregado ministro.
Ao criar o Regulamento de
1890, para a Escola Normal, Benjamin Constant Botelho de Magalhães estava (re) conquistando
para a Congregação a existência, o poder político e a legitimidade. No ano
seguinte (1891), Benjamin Constant apresentou a Reforma educacional, que leva o
seu nome, assegurando os direitos do Regulamento anterior. Essa Reforma foi tão
importante[90]
que vigiu até 1910, sendo mais tarde substituída pela Reforma Rivadávia Corrêa.
A Reforma Rivadávia Corrêa, Lei
Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental, implementada pelo Decreto nº 8.659, de 5 de abril
de 1911, e na Escola Normal pelo Decreto 838, de 20 de outubro do mesmo ano,
trouxe muitas modificações no âmbito da instituição, começando por sua
autonomia. A Escola não era vinculada senão a ela mesma, deste modo, os
professores, através da Congregação, puderam vivenciar o fato de não terem que
explicar-se, ou a seus atos, fora do âmbito escolar. A primeira destas
vivências na Reforma foi a possibilidade da Congregação eleger, dentre seus
pares, o Diretor da instituição. O eleito, como informa Silveira (1954, p.39)
por vinte e dois votos contra um, foi o médico e político Thomaz Delfino dos
Santos (1860-1947), cuja gestão durou dois anos, como determinava a legislação.
Pude encontrar no Regulamento de 1919, artigos
inteiros do Regulamento de 1890. As Atas da Congregação, assim como
Correspondências do Diretor da segunda década republicana faziam, ainda menção
àquele Regulamento de (re) conquista muito tempo depois de ter tido validade.
Por ser 1910 o ano demarcatório da vigência da
Reforma Benjamin Constant, mantive, neste estudo, este marco para enfatizar o
papel deste professor na instituição, o que na verdade, chega a ser redundante
porque o movimento escolanovista de 1932, que criou o Instituto de Educação,
homenageou-o com uma herma disposta à entrada do prédio da Rua Mariz e Barros
no aniversário de seu centenário de nascimento, embora existam controvérsias de
que o homenageado seria Fernando de Azevedo e Benjamin Constant seria, apenas,
uma tentativa de ação política contra Anísio Teixeira[91]. Importante frisar, sem
entrar na polêmica discussão, que Benjamin Constant mostrou seu pertencimento à
Escola Normal e à Congregação embora tenha vivido um período muito curto como
congregado-Ministro.
2.3.1 Uma República em
prol da modernidade
Ao solicitar ao Ministro da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos auxílio para a implantação dos gabinetes das Cadeiras de
Física e Química, o diretor da Escola Normal pretendia fazer, provavelmente, um
pedido ao antigo professor do educandário e seu primeiro diretor, que sabia que
havia uma necessidade a ser suprida, em benefício dos normalistas. Benjamin
Constant Botelho de Magalhães, recém saído das salas de aula da Praça da
Aclamação ao instaurar-se a República para passar a integrar o governo
provisório, ao atender o diretor, provavelmente levou em conta seu papel
naquela escola, mas, certamente, também o que dele esperavam os adeptos de uma res publica voltada a modernização de cima (Lopez, 1997, p.
14), como demonstra sua correspondência:
Atendendo a que pela recente organização
da Escola Normal não poderão deste estabelecimento sair professores com a
preparação scientifica essencial exigida pelo programma de ensino ahi
adoptado... (Ofício 1532, de 10 de outubro de 1890, do Ministro dos Negócios da
Instrução Pública, Correios e Telégrafos para o Diretor da Escola Normal)
No entanto, o que ele não sabia, era
que o próprio Benjamin Constant, quando Diretor da Escola Normal, em 1882, já
tinha enviado ao Ministro do Império, em ofício de 28 de junho, [92] uma solicitação para que
fosse montado e aparelhado um pequeno Gabinete para as Cadeiras de Física e
Química, encaminhando, inclusive, a lista do material que a Escola precisava e
não fora, infelizmente atendido. Ele, mais do ninguém, sabia da necessidade dos
Gabinetes e do material a ser comprado.
Assumir um governo, instaurar um novo regime, construir a nação eram basicamente as
tarefas da República durante o governo provisório. Ao instaurar-se, ela já
trouxera diferentes concepções ideológicas que, naquele delicado momento,
operavam juntas para liderar o país. Problemas existiam, em profusão, exigindo
que deles dessem conta os líderes republicanos: desmontar as bases jurídicas monarquistas, convocar a constituinte,
organizar o novo governo (AQUINO et al,1999, p.77). Por que razão, com tanto a definir, o governo
provisório se envolveu na organização dos gabinetes de Física e Química da
Escola Normal da Capital Federal?
Havia dois anos que o Professor Pedro Barreto
Galvão reclamava, durante as sessões da Congregação, da falta dos gabinetes
para poder lecionar as Cadeiras de Química e Física (e, bem antes dele, Benjamin
Constant). A mudança de endereço da Escola Normal das salas da Escola
Politécnica tirara a possibilidade de uso dos gabinetes daquela instituição,
como se fizera desde a criação daquela escola de formação de professores.
A ida para a Praça da Aclamação, que permitira a
ocupação de todo um edifício antes ocupado pela extinta Escola Primária da
Freguesia de Sant’Anna, com a possibilidade de uma Escola Anexa, trouxera o
problema da falta de gabinetes. O programa de ensino estabelecido anualmente
ficara prejudicado em termos metodológicos porque não havia como usar apenas a
palavra para motivar os sentidos, para atingir-se a racionalidade de que se
precisaria para aprender estas disciplinas sem o uso dos gabinetes e, por
consequência sem a experimentação.
O Professor Pedro Barreto Galvão buscava
informar-se das novidades tecnológicas e científicas ocorridas na Europa, assim
como onde comprar os novos experimentos para uso nas práticas educativas, por
esta razão, não foi difícil preparar uma relação para que o diretor
encaminhasse ao Ministro Benjamin Constant, com inúmeros experimentos, reativos
e maquinarias necessárias às aulas, bem como indicar as empresas vendedoras.
A circulação de modelos pedagógicos se fazia
através de discursos, livros e materiais, dentro e fora das fronteiras
nacionais (MIGNOT e GONDRA, 2007) por isso, as exposições pedagógicas, dentre
elas as de Paris (1867), Viena (1873), Rio de Janeiro (1883), e Londres (1884)
foram relevantes a muitos professores-viajantes não só pela observação de
vários objetos para a prática educativa, mas pela leitura de manuais e folhetos
distribuídos nas exposições de que participavam. Destas exposições também
participavam as fábricas industriais dentre elas aquelas que produziam
materiais educativos. O conhecimento adquirido por quem participava, não era só
para eles próprios, ou para o seu círculo profissional que destas informações
também tinham conhecimento, GONDRA (2007, p.67) cita, também, os livros de
viajantes que eram publicados, comuns no século XIX, que levavam a diferentes
públicos os estudos de viagem.
Ao receber a longa lista, composta não só de
experimentos recém fabricados, como de reativos que possibilitavam reproduzir
vários fenômenos, elaborada cuidadosamente pelo Professor Barreto Galvão, o
Ministro Benjamin Constant designou o professor e lente da Escola Militar
Vicente Athanazio Licínio Cardoso para comprar o material solicitado, porque
ele já se encontrava em viagem à Europa para ver e compreender o cotidiano e as
soluções pedagógicas do estrangeiro (GONDRA,
2007, p.65).
As viagens pedagógicas, para as exposições, ou
para conhecer e comparar modelos, e as trocas de informações sobre os mais
diferentes assuntos eram uma prática de certo modo comum durante o antigo
regime brasileiro como demonstra o Relatório do Ministério dos Negócios do
Império, apresentado em maio de 1885, sobre a Exposição de 1884, em Londres:
[...] Dos trabalhos dessa notável reunião
em 1884 em que intervieram homens eminentes da mais reconhecida competência nos
assumptos a que correspondiam as affirmações dos progressos offerecidas naquele
certamen do que tem produzido a sciencia e a arte em prol desses supremos
interesses da sociedade – a hygiene e a educação – apresentou o Barão de Penedo
o relatório que se encontra [...] (p. 68)
Em prosseguimento de seus atos para implantar os
gabinetes, o Ministro Benjamin Constant disponibilizou oito contos de réis da
conta de Eventuaes do Tesouro
Nacional, em Londres, para que se efetivassem as compras. Naquele momento o Governo
Provisório ainda se inteirava das contas do Tesouro, como de tantas outras
informações financeiras, administrativas e estratégicas. Mesmo assim, a quantia
foi reservada para este fim.
Neste período desenvolvia-se no Brasil a política
do encilhamento, comandada pelo jurista Rui Barbosa, também membro do governo
provisório, que consistia em ampliar a circulação monetária através da emissão
de dinheiro, no intuito de modernizar a nação pelo incremento de créditos
maiores para o setor industrial que se desenvolvia, o que atenderia a uma
grande massa de trabalhadores, oriundos do término da escravidão. Por isso, e
pela especulação que tal política causou na Bolsa de Valores, dispor de oito
contos de réis para a instalação de gabinetes na Escola Normal, é um indício de
que a Escola Normal pudesse estar inserida numa proposta importante para o
movimento republicano, como já foi dito.
O Ministro da Instrução Pública, Correios e
Telégrafos fez a seguir, um seguro do prédio da Escola Normal no valor de um
conto de réis. Este seguro mostrou a preocupação do Governo com o próprio municipal em vista das novas
atividades de experimentações físico-químicas, de conseqüências aparentemente
desconhecidas porque seriam feitas por alunos nos gabinetes que estavam sendo
implantados. Benjamin Constant também
nomeou João Maria Almeida Nogueira como preparador dos gabinetes de Física e
Química da Escola Normal com as atribuições de inventariar e preparar o
material que ainda estava sendo comprado na Europa e somente chegaria no ano
seguinte.
No final do século XIX as viagens para a Europa
se faziam pelos vapores. Os vapores eram assim chamados porque utilizavam as
máquinas a vapor que impulsionavam suas hélices fazendo, deste modo, a
embarcação se mover. Essas embarcações, ainda que com os recursos tecnológicos
de que dispunham (entre eles a máquina a vapor, a bússola, as cartas náuticas)
empreendiam longas viagens entre um e outro continente. (ARIAS NETO, 2001)
Um ofício encaminhado à Escola Normal logo após a
morte de Benjamin Constant, enquanto a instituição ainda pranteava seu
ex-Diretor, da Secretaria da Instrução Pública, Correios e Telégrafos já
alertava para uma boa acolhida aos preparadores da Exposição Columbiana de
Chicago, em 1893, da qual o Brasil participaria:
[...] facilitem o desempenho da comissão
incumbida pelo Governo dos Estados Unidos da América do Norte [representada]
pelo Capitão Alexandre Rodgers e Lientenant Frank E. Sassyer [...] encarregados
dos trabalhos relativos à Exposição Columbiana em Chicago conhecida pela
denominação “The World´s Columbian Exposition” [...] (Ofício nº 1409 de 4 de maio de 1891, do Diretor Geral
da Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública, Correios e
Telégrafos ao Diretor da Escola Normal)
Era importante para a jovem República brasileira
consolidar-se como regime e ao mesmo tempo mostrar as realizações e sonhos de
progresso. Assim, foram gastos cerca de seiscentos mil dólares na construção do
pavilhão brasileiro, considerado um dos mais majestosos das delegações
estrangeiras durante a Exposição, o que era uma forma bem dispendiosa de
apresentar a pujança republicana num momento em que os gêneros alimentícios
aumentavam, as empresas fechavam suas portas e o povo começara a desconfiar que
a república não era tudo aquilo com que se sonhara. (VIRMON, NOGUEIRA, MARIN e
CORRADI, 2008).
Neste momento confuso e turbulento o governo
montava na Escola Normal os gabinetes de Física e Química. A Escola Normal era
uma instituição que o Governo pretendia que fosse modelar para a formação de
professores. Fora desta forma que Benjamin Constant a enxergara, no seu papel
de Ministro do Governo Provisório não só por estar sediada na capital do país,
mas por ter em seus quadros parte da intelectualidade brasileira ligada ao
magistério que, vindo de diferentes unidades da federação, ali lecionava.
Esta condição de modelar que era associada à
Escola Normal da Capital Federal se legitimara quando o Ministério da Instrução
Pública, Correios e Telégrafos encaminhou, a diferentes países e estados
brasileiros, o Regulamento da Escola, elaborado por ele, tendo por espelho o
Regulamento que os professores daquele educandário haviam escrito à luz de suas
experiências no cotidiano escolar, em 1881, dando à instituição uma efetiva
participação no projeto de construção e civilização da nação que estava sendo
desenvolvido pelo Governo. Interessava então investir nesta escola modelar de
formação de professores, para atingir o desenvolvimento científico no país.
O desenvolvimento científico facilitaria o
desenvolvimento da indústria e a indústria precisava, para desenvolver-se, das
novidades tecnológicas que o avanço científico trazia. Era importante e
imprescindível, no entanto, que o povo se civilizasse de modo a que o país
progredisse. Trazer civilização era, naquele momento, trazer os modelos
europeus de vida civilizada. Era educar o povo, dando-lhes instrução,
normas de conduta, lições de higiene e qualquer outro tipo de conhecimento que
tornasse homogênea a população em termos civilizatórios.
E, para isso, as escolas eram um poderoso instrumento que, não só instruíam,
mas homogeneizavam valores e disciplinavam, por suas regras e normas, às
crianças, e, por extensão, aos pais. As Escolas Normais e, dentre elas,
principalmente, aquela legitimada como modelar, formariam os professores que
civilizariam o povo.
Por conta do projeto de construção de uma nação
civilizada, com os mesmos costumes, língua, e ocupando um território que fora
consolidado no Império, o Governo Provisório voltou-se para concluir,
postumamente, o trabalho de Benjamin Constant na implantação dos gabinetes de
Física e Química da Escola Normal, através do transporte do material comprado
pelos vapores da Marinha brasileira.
O empenho de Benjamin Constant em relação à Escola
Normal começara bem cedo, logo que tomou posse no Ministério de Instrução
Pública, Correios e Telégrafos. Através de um ofício de praxe [93]
comunicou seu novo cargo. Também enviou uma lista de exonerações a serem feitas
e as novas normas que incluíam um juramento a ser feito pelos novos professores
da instituição. Todos os professores admitidos em 1888 foram demitidos.
O juramento [94],
para ser feito por todos que tomassem posse de seus cargos, escrito em um
quarto de folha de papel almaço pautado, foi encaminhado à Escola Normal pelo
novo Ministro para que o novo funcionário da instituição se comprometesse com o
engrandecimento moral e material da
República dos Estados Unidos do Brasil, de caráter bastante idealista
visava, em última análise, comprometer o servidor com a república e com a
nação, e deixava óbvia a nova divisão do poder político. Importante frisar que
este juramento foi encaminhado a todas as repartições públicas.
Este ato de dispensa dos professores poderia ser explicado
pela assunção de um novo regime que afasta seus opositores se, muitos deles não
fossem republicanos de primeira hora. Na verdade, quase todos os afastados
faziam parte da lista que, em 1888, recompôs o quadro de professores da Escola
Normal que ficara praticamente vazio.
Mas é possível que, face às mudanças de parcelas do poder
político em 1888, estivessem do lado errado no primeiro ano do governo
republicano. Por outro lado, a relação dos exonerados foi acompanhada de um
juramento que, os constantes na lista dos agora designados, deveriam fazer de
compromisso com a República.
O pertencimento de Benjamin Constant
ao grupo de congregados da Escola Normal mostrou indícios de laços e vínculos, demonstrando
que ainda fazia parte deste grupo de intelectuais. Os laços apareceram quando,
provavelmente por sua interferência pessoal, o Governo Provisório manteve a
aposentadoria do professor Theóphilo das Neves Leão, seu companheiro de tantos
anos de Escola Normal, decretada no antigo regime e mantida no novo, pelo
Decreto n.57 de 14 de dezembro de 1889.
De todos os Decretos do Governo Provisório até 31 de dezembro do ano da
instauração republicana, cento e treze foram expedidos versando sobre a nova
organização, prioridade para um regime que se instalava, somente um tinha como
teor aposentadoria: de Theóphilo das Neves Leão, antigo colega e amigo, membro
da rede de sociabilidade de Benjamin Constant.
Os vínculos se revelam, também, quando uma das primeiras
providências do Ministro é apresentar um novo Regulamento para a Escola Normal,
através do Decreto 407, de 17 de maio de 1890, quase um ano antes de apresentar
uma reforma geral do ensino.
Benjamin Constant não fizera ainda tudo o que pretendia com
relação à Escola Normal. Ele ainda demonstrou seu apreço e pertencimento à
Congregação enquanto Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos ao
implementar os laboratórios dos Gabinetes de Química e Física, em 1891, num
contexto social onde prevalecia o início da industrialização brasileira com
novas formas de energia, de relações sociais e de trabalho, dentre todo um
conjunto de mudanças tecnológicas e políticas, que afetou sensivelmente a
sociedade como um todo e destacou as ciências em particular.
O advento da República e o desenvolvimento da tecnologia
promoveram, no regime que se implantava, face também às bases filosóficas do positivismo
comnteano, uma necessidade, cada vez mais imperiosa, da difusão das ciências,
especialmente da Química e da
Física, pela
necessidade de impulsionar o desenvolvimento econômico e social. A República não
podia ignorar, e não ignorou a modernidade, por isso a
prática científico-metodológica da Escola Normal, que era conhecida por
Benjamin Constant, veio ao encontro das premissas republicanas de progresso e
modernidade civilizatória.
Pouco depois, o país se mobilizava para
modernizar-se, para alcançar a civilização. Para fazer do Rio de Janeiro uma
Paris tropical. Extinguiram-se as epidemias, embelezou-se a cidade, construíram
novos prédios em largas avenidas que lembravam as traçadas por Haussmann em
Paris. Botaram abaixo os cortiços e empurraram o povo para o alto dos morros.
Usaram o aparelho policial para retirar das ruas os negros, como se todos
fossem capoeiras, como se todos fossem delinquentes. Como o pobre não conseguia acumular
riquezas era visto como não tendo a virtude de ser um trabalhador, de ter o
vício da ociosidade, por isso a classe pobre era tida como viciosa, de modo que
vício era sinônimo de pobreza e vagabundagem, o que de forma alguma condizia
com a civilização que se buscava. (CHALOUB, 1996)
Como a cidade
do Rio de Janeiro era tomada pelo comércio ambulante desde o oitocentos, com
aguadeiros e mascates que vagavam pelos logradouros com malas repletas de
quinquilharias e gritos que caracterizavam o que estava sendo vendido; não
havia como não achar a cidade feia e longe da modernidade que se pretendia,
pois este trabalho era realizado em grande parte pelos negros, sendo desprezado
pelos chamados brasileiros. Achava-se que trabalhadores braçais não eram bem
vistos, eram pouco ou nada valorizados, ainda que fossem ocupantes de ofícios
indispensáveis numa sociedade que crescia e não tinha transportes suficientes,
nem baratos, para levar quem queria comprar a quem pretendia vender. Tudo
mudou. Estabeleceram-se regras a serem seguidas para que o povo pudesse
civilizar-se.
Uma das providências do novo regime
foi mandar iluminar os prédios públicos de modo que, ao serem visualizados,
mostrassem austeridade e poder. Iluminaram tanto a Escola Normal que Lima
Barreto, ao flanar por ali para ir ao barbeiro, fez troça em um texto[95]:
[o barbeiro] custou-lhe reconhecer-me!... O meu grande estado hirsuto
fê-lo estranhar-me. [...]Que linguagem diferente,a dele!... A frase era polida,
cuidada, bem construída, isenta dos antigos anglicismos, galicismos, etc.[..] Por
sobre isso a maravilhosa instalação a me
intrigar! Que melhoramentos! Que rios de dinheiro teria custado!... Indaguei,
medroso do motivo de todo aquele aparato de luz e progresso... – Eu lhe
explico, senhor Anacleto. A causa disso é a reforma da instrução. – Que
reforma? – Pois não sabe? Há outra reforma da instrução. Brevemente será
publicada com todas as minúcias. Nem se compara às outras... Verá! [...] (2010,
p.2)
Mas,
com todas essas mudanças civilizatórias, quem era este aluno que a Escola
Normal precisava formar professor primário da cidade do Rio de Janeiro? Que
perfil pretendia a Congregação para o professor primário civilizador? O que
precisava saber este futuro professor primário de modo que ele, nas escolas
públicas, fosse o executor da civilidade do país?
O PERFIL DO PROFESSOR PRIMÁRIO DO RIO
DE JANEIRO SOB A ÓTICA DA CONGREGAÇÃO
3.1 Os livros como instrumentos
civilizatórios
Os livros adotados pela
Congregação podem dizer muito sobre o ensino que foi ministrado não só
pedagógica como politicamente e também sobre quem os selecionou. Foram eles que
informaram como foi trabalhado o programa e também a filosofia utilizada. Eles
indicavam também o que deveria ser lido – e apreendido – por determinado grupo.
Os conteúdos dos livros adotados
pela Escola Normal eram discutidos, até pela imprensa, como no caso descrito
por (MANCINI, 2006):
Um exemplo de o fato dos conteúdos escolares estarem sempre sendo
investigados e vigiados pode ser conferido no artigo do jornal do Comércio de
1887, cuja matéria traz o programa de português que não havia sido aprovado
para ser usado na Escola Normal da Corte. Fonte: Livro de Correspondências
Oficiais da Escola Normal 2a Diretoria-Ministério dos Negócios do Império,
diretor Barão de Mamoré, Rio de Janeiro, 19 de julho de 1887; Ofício ao Diretor
da Escola Normal da Corte, prestar informações acerca do que se alega, em uma
publicação incerta, com, a epigrafe - Ministério do Império - na parte
editorial do Jornal do Comércio de ontem, relativamente ao programa de
português da 1a serie do curso de estudos dessa escola. (p.215)
Fizemos uma pesquisa nos Programas
de Ensino de 1902 para descobrir como ia a recém instaurada educação
republicana para a formação de professores primários na cidade do Rio de Janeiro
e encontramos alguns livros – e autores – que também eram usados no Império,
quando a Escola ainda ostentava o poderoso nome de Escola Normal da Corte. A
necessidade de fazer da educação um espaço de controle social para a criação de
uma nova sociedade "civilizada" continuava.
No início
do século XX, em 1902, os Programas da Escola Normal do Distrito Federal (Rio
de Janeiro) indicavam os seguintes compêndios:
1º ano
|
2º ano
|
3º ano
|
4º ano
|
Português CARVALHO, Felisberto. Selecta
de autores modernos
|
Português BARRETO, Fausto &
LAET, Carlos de. Anthologia nacional AULETTE,
Selectas
|
Português
GOMES, Alfredo. Grammatica portugueza
|
-
|
Francês ROSSMANN & SCHMIDT. Curso prático da língua francesa
|
Francês
ANDRÉ, Charles . Litterature française
|
-
|
-
|
Aritmética COQUEIRO, Dr. Y. A. Tratado de Arithmetica para uso dos
collegios,lyceos e estabelecimentos de instrucção secundaria. Nova ed.
Rio de Janeiro, 1897
|
Álgebra
QUEIROZ, J.J. Algebra
Geometria e Trigonometria CLAIRAUT. Elementos
de Geometria
|
-
|
-
|
Geografia LACERDA, Joaquim Maria de. Curso
methodico de Geographia composto para uso das escolas do Brazil
NOGUEIRA, Thomas Alves. Geographia e Chorographia do Brazil
|
Geografia
FONCIN, P. Geographie Historique
|
Geografia
GAMA, Domicio. Atlas Geographico
|
Geografia
PINTO, Moreira . Corographia do Brazil
|
-
|
História Geral LAVISSSE, Ernesto. Historia Geral (tradução brasileira)
SEIGNOBON, C.H. Resumo da Historia da Civilização (tradução
brasileira ou original frances)
|
História da América POMBO, Rocha. Historia da America
|
História do Brasil RIBEIRO, João.
Historia do Brazil (2ª ed.)
|
-
|
-
|
Física LANGLEBERT. Compêndio de Physica (tradução do Dr.
Carlos Costa)
|
-
|
-
|
-
|
Pedagogia COMPAYÉ, G. Psychologia
applicada à educação (dernière edition)
|
Pedagogia COMPAYRÉ, G.
Cours de pédagogie théorique et appliqué (dernière edition)
|
-
|
-
|
-
|
Leitura Civica
OLIVEIRA, Virgilio
Cardoso Leitura Civica
|
-
|
-
|
-
|
História Natural e Higiene LACASSAGNE, A.
Precés d`Hyginne
|
Quadro
IV Programas da Escola Normal do Distrito Federal (1902)
Fonte:
Programmas de Ensino. Instrucções para
exames, horários e calendário escolar para o anno de 1902. Rio de Janeiro:
Typ. do Instituto Profissional (Boulevard 28 de setembro, nº 33), 1902
O programa mostra que, para quatro
anos de estudos, a professora primária precisava, cognitivamente, segundo a Congregação,
que aprovava os programas em sessão específica para tal, de três anos do idioma
nacional que aprendia nas Selectas,
(compêndio com textos, em prosa e verso, de vários autores e estilos). O
programa previa também dois anos de estudo da língua francesa, com o segundo
ano utilizando, já, um texto em francês, o que provavelmente denotava cultura e
modernidade, das quais não abriam mão os congregados.
Uma das Selectas
tinha a autoria de um congregado, Carlos de Laet, também professor do Colégio
Pedro II. A Gramática de Língua
Portuguesa era, também de autoria de um congregado, Alfredo Gomes. O estudo
de Matemática, por sua vez, englobando aritmética, álgebra e trigonometria,
durava apenas dois anos, enquanto que o de Geografia durava quatro, sendo indicados
autores brasileiros. História era um conteúdo ministrado através de autores
franceses, em tradução ou não, exceto a História brasileira e da América, cujos
autores eram João Ribeiro (João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes),
professor do Colégio Pedro II; e Rocha Pombo (José Francisco da Rocha Pombo),
professor, também do Colégio Pedro II e da Escola Normal. Já a disciplina de Física
era ministrada apenas no terceiro ano, ainda que a Escola Normal tivesse, desde
1890, um laboratório de Química e outro de Física, obtidos com a ajuda do
Ministro Benjamin Constant.
O conteúdo de Pedagogia era dado nos dois últimos
anos, provavelmente com as aulas de aplicação da Escola Anexa que, pelos
indícios, utilizava livros franceses sem tradução. As disciplinas de Leitura
Cívica, História Natural e Higiene mostram a preocupação com os conceitos
positivistas e as necessidades higienistas de uma cidade assolada,
diuturnamente, por cólera, malária e febre amarela.
Uma
nota fiscal da Nicolau Alves & Co. para a Escola Normal mostra que já em
1886 esta livraria se encarregava de mandar
vir da Europa e dos Estados Unidos, por diminuta comissão, qualquer encommenda
de livro. Foram entregues os seguintes livros, em 1886: Souza, Bahia do Rio de Janeiro; Rego, Álgebra; Aulete, Dicionário Portuguez; P. Guimarães, Anatomia – em dois volumes; de Braunis e Bouchard, Anatomie; de H. de Mello, Atlas do Brazil. Pela livraria Lombaerts
& Cª, que também encomendava livros para a Escola, foram compradas as obras
de Vessiot, L´Enseignemt a l´Ecole;
ainda de Vessiot, De l`education a
l´ecole; de Hergomard, Education Maternelle; de Issauroit, Pedagogie e de Bigot, Question d´Enseignement.
A Biblioteca da Escola
Normal inaugurada em 1893[96],
com doações de livrarias onde o educandário costumava comprar, contou também
com contribuições dos professores da Congregação, naquele momento presididos
por Francisco Carlos da Silva Cabrita.
Faziam parte da Congregação, neste ano, de acordo com as assinaturas nas
sessões das Atas da Congregação: Engenheiro Francisco Carlos da Silva Cabrita
(presidente), Francisco José Bokel, Frederico Glatthardt, Bacharel Alfredo
Coelho Barreto, Thomaz Xavier de Oliveira Menezes, Boaventura Plácido Lameira
de Andrade, Engenheiro Pedro Barreto Galvão, Miguel Cardozo, Engenheiro Emilio
F. de Angladda, Arthur Higgins, Dr. Alfredo Gomes, Dr. Raymundo Monteiro da
Silva, Dr. Eugenio de Guimarães Rebello, Dr. Manoel Luiz de Moura e D. Mariana
Veiga.
Os professores Licinio Cardoso, Gayoso, Raja
Gabaglia, Miguel Cardozo e Pedro Barreto Galvão doaram à Biblioteca que se
estava montando suas Teses de Concurso. O professor Alfredo Gomes doou os
seguintes livros: Grammatica Latina, de Pezzi; Grammatica Portugueza,
de Constancio; Grammatica Portugueza, de Braga e Grammatica Franceza,
de Ploetz et ali. Interessante notar que os livros doados não vinham
traduzidos; que embora existissem livrarias que importassem obras literárias do
exterior, a circulação era restrita e as obras vinham por encomenda e que parte
do processo de "civilização" do povo incluía que a intelectualidade,
ao expressar-se, utilizasse a língua francesa.
A livraria Alves & Companhia
doou quarenta e três livros de autores nacionais e estrangeiros, dentre eles: Auguste
Comte et la philosophie positive, de E. Littore; Cours
de physiologie, de M. Durval; Moral evolucionista, de Spencer; Sociologia, de Roberty; La sciense de l` education,
de Bain; Educação Nacional, de Veríssimo; The Graduate English Reader,
de Hervitt; Histoire de la machine à vapeur, de Thurnston; Eletricité
industrielle, de Cadiat e Dubose e Physique mecanique,
de Fischer. O professor Francisco Cabrita doou: L´instructeur primarie,
de Matter; Complemento dos elementos d`Algebra, de Laervice; Gymnastica
de quarto, de Scheiber e Premiers èléments de Géometrie, de
Sounel. (Inventário da Biblioteca, 1893)
Os professores da Escola Normal fizeram doações de muitos livros o que
nos instiga a pensar que material era esse que se desejava que fosse
"lido" pelos normalistas em um momento que a nação se constituía como
tal e se desejava um povo "civilizado"?
Enfim, os livros
indicados, como aqueles doados à Biblioteca da Escola Normal, durante o período
republicano demonstram: a necessidade de conhecimento do idioma francês, a
obrigação de divulgar o mais possível a nova doutrina – o positivismo – e o
repasse de conhecimentos científicos relevantes em um mundo que se
transformava, e em um país que se civilizava mirando um modelo europeu.
A Congregação como partícipe deste processo sabia dar
instrumentos aos professores primários em formação – os livros a serem lidos –
que os habilitasse a educar o povo, especialmente o da cidade do Rio de
Janeiro, sede do governo e espelho para o Brasil.
3.2 O Currículo do
futuro civilizador
O currículo da Escola Normal, desde
1880, buscava inovar a formação de professores primários, até aquele momento
oferecida nas demais instituições provinciais do país, de modo que não só uma
disciplina, Pedagogias, diferenciasse este curso dos oferecidos pelos Liceus. Ao
modificar o Regulamento, em 1881, uma das primeiras providências da
Congregação, que oferecia um currículo propedêutico e ainda não de todo
elaborado às necessidades do professor primário, foi de retirar, como matérias
eliminatórias e obrigatórias Religião e Francês. Possivelmente acreditava a
Congregação que a formação do professor primário devesse incluir tais
disciplinas, portanto, essas Cadeiras poderiam ser aprendidas ali, na Escola
Normal, não havendo necessidade de tê-las como disciplinas eliminatórias.
Pelos indícios encontrados, a
Congregação parecia acreditar, também, que o futuro professor devesse conhecer
de tudo um pouco, isto é, de Escrituração Mercantil, à Física, de Gramática e Matemática,
de História e Geografia. Não podiam faltar os Trabalhos Manuais para os homens
e os Trabalhos de Agulha para as mulheres porque estas Cadeiras auxiliavam à
divisão de tarefas domésticas da família, a quem também a educação deveria
atingir.
Comparando os Regulamentos de 1881,
feito pelos congregados, e o de 1890, outorgado pelo Ministro Benjamin
Constant, observa-se que a autoimagem civilizadora e os instrumentos
pedagógicos, como o currículo, não mudaram apesar da alteração do regime
político.
Cadeiras no Regulamento de 1881
|
Cadeiras no Regulamento de 1890
|
Português
|
Português, Noções de Literatura Nacional e Elementos da Língua Latina
|
Francês
|
Francês
|
Corografia
e História do Brasil
|
Geografia e
História particularmente do Brasil
|
Matemáticas
Elementares
|
Matemática
Elementar
|
Elementos de
Mecânica e Astronomia
|
Mecânica e Astronomia
|
Ciências
Físicas
|
Física e
Química
|
Ciências
Biológicas
|
Biologia
|
Lógica e
Direito natural e público
|
Sociologia
e Moral
|
Cosmografia,
Geografia e História Geral
|
Noções de Agronomia
|
Economia
Social e Doméstica
|
-
|
Música Vocal
e Ginástica
|
Música e Ginástica
|
Caligrafia
e Desenho Linear
|
Caligrafia e
Desenho
|
Trabalhos
de Agulha (para mulheres)
|
Trabalhos Manuais (para homens) e Trabalhos de Agulha (para mulheres)
|
Instrução
Religiosa
|
-
|
Pedagogia e
Metodologia
|
-
|
Noções de Agricultura
|
-
|
Quadro V Cadeiras oferecidas no curso de formação de professores nos Regulamentos de 1881 e 1890
Fonte:
Regulamento anexo ao Decreto 8.025 de 16/03/1881 e Regulamento anexo ao Decreto
407 de 17 de maio de 1890
No texto de 1881
observa-se a inclusão da Cadeira de Pedagogia e Metodologia que objetivava
imprimir um aspecto diferenciado ao curso de formação de professores que se
implementava na Corte e àquele ministrado no ensino secundário. Há, no entanto,
somente em 1884, segundo o Relatório dos Sucessos Mais Notáveis, menção de que
foram realizados pela primeira vez naquele ano os exercícios práticos de
Pedagogia.
Os estudos de Francês,
por outro lado, eram facultativos (art.2o), embora a maior parte dos
livros indicados fosse deste idioma, assim como os de Instrução Religiosa, não
sendo esta última Cadeira eliminatória no exame de ingresso, o que de certa
forma facilitava a entrada do aluno na Escola Normal. Os estudos de Economia Doméstica,
em 1881, pretendiam possibilitar que as famílias também fossem atingidas pelos
esforços civilizatórios a serem alcançados através da educação, o que pudemos
observar pelo estudo dos programas anuais de ensino.
Por outro lado, em 1890,
observa-se a inclusão de Sociologia e Moral e de Física, Química e Biologia
denotando a legitimação e delimitação dessas ciências e a importância destes
estudos em um momento de industrialização e modernidades tecnológicas.
A Congregação, durante a
gestão de Barata Ribeiro (1892-1893), estava às voltas com outras mudanças
advindas da passagem da Escola Normal para o Distrito Federal, discutindo o
Decreto nº 38, que sancionava Resolução do Conselho Municipal de 9 de maio de
1893, que estabelecia:
A Municipalidade manterá no Distrito Federal uma ou
mais Escolas Normais, mistas ou discriminadas para os dois sexos, conforme as
necessidades do ensino, e a cada uma delas será anexa uma escola primária de
educação (Artigo nº20) [...] O curso da Escola Normal será diurno e limitada a
matrícula (Artigo nº 30) [...] Para a matrícula exigir-se- á: o certificado de
estudos primários do 2º grau ou aprovação em exame de admissão correspondente
ao curso destas escolas; certidão de idade superior a 15 anos; atestado médico
de que o candidato não tem defeito físico que o iniba de exercer o magistério
(Artigo nº 31) [...] Em cada Escola Normal o curso compreenderá as seguintes
disciplinas: Português e noções de literatura nacional, Francês, Inglês,
Geografia e História, Matemática, Astronomia, Física e Química, Noções de Mineralogia
e Geologia, Biologia,Sociologia e Moral, Noções de Agronomia, Desenho, Música,
Ginástica, Trabalhos Manuais para o sexo masculino e Trabalhos de Agulha para o
sexo feminino; [...] [tais] disciplinas serão dadas por 15 professores [...]:
um de Português e Literatura; um de Francês; um de Inglês; um de Geografia e
História; um de Matemática Elementar; um de Mecânica e Astronomia; um de Física
e Química, Noções de Mineralogia e Geologia; um de Biologia; um de Sociologia e
Moral; um de Agronomia; um de Desenho; um de Música; um de Ginástica; um de
Trabalhos Manuais e um de Trabalhos de Agulha.[...] Estas matérias serão
distribuídas pelo número de séries que forem determinadas em Regulamento.[...] A
prática escolar das normalistas será feita na escola de aplicação anexa, sob a
direção do respectivo professor e da respectiva professora de acordo com as
instruções da Diretoria da Escola Normal.[...] Um dos professores, livremente
escolhido pelo Prefeito, exercerá cumulativamente a Direção desta Escola.[...]
(SILVEIRA, 1954)
Discutiu-se, também, na sessão da Congregação de 26 de maio
de l893, a nova organização dos programas e o procedimento das Comissões
Avaliadoras dos Exames, sempre trazendo à tona o Regulamento de 1890, naquilo
que se modificava no atual Regulamento. Decidiu-se enfim o horário de
funcionamento da instituição, para as aulas (de 9 às 14 horas), o que, pelo
menos naquele momento, faria desaparecer o curso noturno, o que não ocorreu.
No início do século XX mudanças
ocorreram na Escola Normal, assim como na cidade do Rio Janeiro. O Decreto
Municipal nº 844 de 1901 apresentava o que o novo Prefeito, Dr. Joaquim Xavier
da Silveira Júnior, considerava necessário para melhorar a instituição: a
matrícula numa série dependia da aprovação de todas as disciplinas da série
anterior, acabando com a situação de ouvintes; havia obrigação para as
normalistas de um ano de prática escolar nas escolas-modelo para poderem obter
o diploma do Curso Normal; a direção pedagógica e administrativa da Escola
Normal passava a ser da competência exclusiva do Diretor Geral de Instrução,
que teria no estabelecimento um subdiretor de sua confiança, nomeado pelo
Prefeito do Distrito Federal (o que tirava parte da autonomia e do poder
político da Congregação) e, determinava que somente moças poderiam
matricular-se na Escola Normal, o que feminizava o exercício do magistério
primário.
De todas as mudanças a matrícula só
de moças na Escola Normal foi a mais instigante, por que desde sua criação, tanto
rapazes quanto moças a frequentavam e, nem os Regulamentos ou Relatórios dos
Sucessos Mais Notáveis, ou Ofícios que solicitam inspetoras e inspetores (cada
qual para um sexo) explicava ou indicava como isso ocorria, o que me levou a
indagar se os alunos – moças e rapazes – estudavam na mesma sala de aula, o que
efetivamente não pude responder, ainda que, em pesquisas feitas sobre a
instituição, alguns pesquisadores tenham interpretado, por conta de inspetores
para cada um dos sexos, que houvesse espaços diferenciados por gênero, o que só
acontecia, segundo o Regulamento de 1890, para os responsáveis que levavam o
aluno e aguardavam, na Escola, o término do dia letivo.
O fato das Cadeiras se dividirem em
duas ou três turmas de acordo com a quantidade de matrícula/ano não implica
nesta diferenciação, pois os resultados – sempre publicizados – no Relatório
dos Sucessos mais Notáveis incluíam as designações “moças” e “rapazes” para
apresentá-los. Por outro lado, nos inúmeros documentos que examinei, não
encontrei nenhuma diferenciação de gênero no que se refere a métodos ou
programas, exceto que Trabalhos de Agulha era Cadeira oferecida às moças e
Trabalhos Manuais, aos rapazes. A Ginástica tinha professores diferenciados,
assim como programas para cada sexo. As demais disciplinas, especialmente às do
Curso de Ciências e Letras, e até as aulas Música[97],
não tinham distinção de sexo no que se refere à ambiente, metodologia ou
programa de ensino e, de acordo com a documentação pesquisada, de separação por
ambiente ou alas diferenciadas por gênero já que usavam Gabinetes para as
Cadeiras.
Segundo Uekane[98]
(2008) a procura feminina pela Escola Normal modifica a representação acerca
desta ocupação, não havendo como explicar este fenômeno porque esta temática
deve ser analisada a partir dos jogos de relações que a permeiam, pois as
mulheres tiveram participação neste processo.
Além de ensinar às normalistas como ser professora, a
Escola Normal também lhes ensinava, com a disciplina Trabalhos de Agulha – que
vai perdurar inclusive no Instituto de Educação – [99]
a ser cuidadora do lar; por outro lado a instituição teve, na República, uma
disciplina denominada Economia Doméstica, ministrada por um professor, que dava
subsídios para o cuidado da mulher com as finanças da família.
Gondra e Schueler (2008) comentam que
a docência fica ambiguamente localizada
entre o sacerdócio, a burocracia, a militância política e o comércio (p.
178) e eu ainda completaria, a partir do estudo de Freire (1989), com a
possibilidade de ascensão social, o que era o caso das moças casadoiras e
humildes:
O
ensino feminino difundiu-se a partir de 1870, influenciado pelo positivismo que
via na formação da mulher, ser moralmente superior ao homem, o meio mais eficaz
de propagação de sua ideologia. Por isso os cursos normais começaram a abrir
para moças. A mulher educava, em casa, seus filhos, e na escola, seus alunos,
perpetuando a concepção de inferioridade da própria mulher frente ao homem, de
pequena valorização do trabalho dela e grande valorização do masculino,
sobretudo das elites (p.103)
No começo do século
passaram a incorporar-se ao programa da Escola Normal noções de Puericultura,
Psicologia, Higiene, o que na verdade era para educar às futuras professoras do
ensino primário e, ao mesmo tempo possibilitar às futuras mães uma civilidade necessária
no trato dos rebentos e da família:
A escola parecia
desenvolver um movimento ambíguo: de um lado, promovia uma espécie de ruptura
com o ensino desenvolvido no lar, pois de algum modo se colocava como mais
capaz ou com maior legitimidade para ministrar os conhecimentos exigidos pela
mulher moderna; de outro, promovia, através de vários meios, sua ligação com a
casa, na medida em que cercava a formação docente de referências à maternidade
e ao afeto. (LOURO, 2006, p.87)
Na gestão do prefeito do Distrito Federal Dr. Francisco
Furquim Werneck de Almeida (1895-1897), passa a ser o Diretor Geral de
Instrução Pública José Joaquim de Campos da Costa Medeiros e Albuquerque que
conta em suas memórias ter acontecido um fato curioso ao contratar Valentim
Magalhães, o que demonstra que a Prefeitura e a máquina administrativa da
Presidência da República tinham como preocupação precípua a cidade e sua
modernidade, não a Escola Normal e sua legitimidade, como a Congregação temia:
Medeiros e Albuquerque
aproveitou o encontro [com Machado de Assis] para falar de sua iniciativa de
nomear um outro escritor, Valentim Magalhães, para a regência das aulas
de Português na Escola Normal, onde estudavam as futuras professoras da
disciplina nas escolas primárias cariocas. Medeiros confidenciou a Machado de Assis: escolhera Valentim
Magalhães porque tinha certeza de que ele não conhecia a Gramática Normativa da
Língua Portuguesa. E explicou: “Precisava de um professor que soubesse escrever
e ensinasse a escrever, mas que não ensinasse gramática”. Sorrindo,
Machado de Assis perguntou: “Por que você não me nomeou?”. E acrescentou: “Eu
servia perfeitamente”. Depois, contou: por acaso, dias antes havia aberto o
livro de Gramática Normativa de um sobrinho e ficara espantado com sua própria
ignorância. Não havia entendido nada do seu conteúdo (MEDEIROS E ALBUQUERQUE, 1942, p. 39)
As preocupações do Governo fosse ele Federal
ou Municipal, não estavam, como deixa claro Medeiros e Albuquerque, na Escola
Normal e nas inseguranças da Congregação. As preocupações governamentais eram
outras, mais palpáveis, talvez. Era ensinar o povo a civilizar-se e para isso
também a imprensa contribuiu.
3.3 A Disciplina como
norma de conduta
A disciplina na Escola Normal sempre
foi objeto de item específico no Regulamento, visto que era importante na
estratégia de preparar o executor da civilidade, o futuro professor.
Educar pela
ordem, disciplinar, era também uma forma de conter os arroubos da massa
trabalhadora, que ao final do século XIX ia às ruas reivindicar direitos,
salários mais dignos, condições melhores de vida, situação comum que o jovem da
Escola Normal vivenciava, com constantes greves de trens e bonds[100].
A Escola Normal, como formadora dos professores primários da cidade sede do
poder republicano, não podia furtar-se, e não o fez, para amoldar
temperamentos, aliviar tensões e, finalmente preparar, também pelo cotidiano da
vida escolar, indivíduos “civilizados” que, até só por sua conduta,
“civilizaria” o povo inculto.
No Regulamento de 1890, há vários
indícios do professor civilizador que se pretendia formar: no capítulo II, da
matrícula, explica-se que o exame de admissão ao educandário versará sobre
leitura,
dictado, noções elementares de grammatica portugueza,
arithmetica patica, compreendendo as quatro operações sobre números inteiros,
frações ordinárias e decimaes, noções do systema métrico decimal e morphologia
geométrica (Decreto 407/1890, p.1005).
Deste modo garante-se que o candidato a professor, no futuro,
tenha conhecimentos, ainda que sejam os elementares. Aos candidatos é
solicitado, também, exame de moralidade, passado por duas pessoas conceituadas,
pelo menos, em documento devidamente reconhecido por Tabelião público (Artigo
3º), além de não possuir nenhuma deformidade física que viesse impedir, no
futuro, o exercício da profissão de professor primário (Artigo 4º). Desta forma
continua-se a garantir a probidade de 1824 ao cargo de professor.
Avisa-se que a instituição exigirá do aluno aplicação aos
estudos, não permitirá faltas, que os alunos enfrentarão lições, sabatinas e
trabalhos práticos solicitados por seus professores no intuito de conhecerem o aproveitamento (Artigo 5º). Assim, além
da probidade exige-se empenho e estudo, como condição da formação.
Pode o diretor da Escola Normal, continua o Regulamento, não
efetivar a matrícula de qualquer candidato que, apesar do exame de moralidade,
ele saiba não adequar-se ao estabelecimento, que reservadamente submeterá as razões que para isso tiver ao Ministro
da Instrucção Pública [...] (Artigo 8º). Assim, o diretor podia, senão
desejasse o candidato por qualquer outra razão, excluí-lo do processo seletivo.
Às famílias que levavam os alunos – e lá permaneciam – até
que as aulas terminassem, o Regulamento deixa claro que aos alunos é garantida a precedência nos assentos das aulas, segundo a
ordem de matrícula. Esta preocupação do Regulamento é, provavelmente,
baseada na experiência dos primeiros anos porque os responsáveis pelos alunos
tomavam o assento dos mesmos o que fazia, quase sempre, que estes assistissem
às aulas em pé. Por isso a Escola Normal, depois de um certo tempo, abriu uma
sala para acomodar estes responsáveis, por sexo, durante o horário escolar.
Neste Regulamento, faz-se menção a esta solução, no Artigo 16:
As pessoas que acompanharem os alumnos, quando não
quizerem assistir às lições, havendo logar na aula, sahirão do estabelecimento
ou irão para as salas destinadas ao respectivo sexo, onde se conservarão com a
devida urbanidade. (p.1006)
Havia também a preocupação de aglomerações que pudessem
de algum modo, perturbar as lições que na instituição estavam sendo
ministradas, e a ordem que deveria existir, por isso não era permitido aos
alunos occupar-se com a redacção de
periódicos e com quaesquer trabalho da mesma natureza, que possam distrahil-os
dos estudos regulares. (Artigo 18) Nesta época os folhetos eram
distribuídos com frequência, sobre qualquer assunto e a Escola Normal,
provavelmente, não queria envolver-se em situações que não pudesse efetivamente
controlar.
No caso de desobediência dos alunos
estes seriam, a princípio, advertidos e, no caso de reincidência ficariam
sujeitos à repreensão pública do diretor, mas, se o caso fosse mais grave e a
repreensão não fosse suficiente, segundo o Regulamento, o estudante seria
suspenso por um ou dois anos da frequência das aulas. O Regulamento descreve,
também, as penas a que estaria sancionado o estudante que passa a ser tratado,
neste artigo, como delinqüente, o que
amplia o castigo para dois ou três anos de privação de frequência e exame da
escola. (Artigo 20) Mas, se a falta do aluno consistir em ofensa moral, o culpado além de immediatamente entregue à autoridade
policial, será expulso da escola.
O Regulamento de 1890 não se ocupava somente da família e dos
alunos da Escola Normal, também dos que ali trabalhavam se exigia um tratamento
civilizado para com quem ali fosse ou para o estudante que ali se encontrava
diariamente.
O porteiro e demais empregados subalternos advertirão
com toda a urbanidade os que praticarem qualquer acto contrario à boa ordem e
asseio do edifício.Si as suas advertências não bastarem, darão parte do
occorrido ao director. (p.1007)
Com relação ao professor, no Artigo 30, item 11º, o
Regulamento lembra que deve observar as
instrucções e recommendações do diretor no tocante à polícia interna das aulas,
o auxílio na manutenção da ordem e da disciplina interna da Escola.
A educação
estava fundamentada na ideia de formar para a disciplina. Era entendida como um
mecanismo de controle dos graus de liberdade, de civilização e de submissão. A
escola pública nasce justamente nesse período, visando manter a ordem social,
preceito defendido por inúmeros autores mais liberais, como Adam Smith:
Ainda que o Estado não aufira nenhuma vantagem da instrução das camadas inferiores
do povo, mesmo assim deveria procurar evitar que elas permaneçam totalmente sem
instrução. Acontece, porém, que o Estado aufere certa considerável vantagem da
instrução do povo. Quanto mais instruído ele for, tanto menos estará sujeito às
ilusões do entusiasmo e da superstição que, entre nações ignorantes, muitas
vezes dão origem às mais temíveis desordens. Além disso, um povo instruído e
inteligente sempre é mais decente e ordeiro do que um povo ignorante e obtuso
(SMITH, 1996, p. 217).
Portanto, tudo na Escola Normal, segundo o Regulamento
republicano e com a concepção adotada pela Congregação, era para que, através
da ordem e da disciplina, pudesse ser alcançada a meta civilizatória a que a
Congregação se propunha, desde 1881.
Este objetivo, na gestão de Luiz
Nazareth (1897-1898) resvalou nas necessidades deste Diretor de trazer, através
de um exacerbado patriotismo, tanta ordem e disciplina à Escola Normal que
cassou e suspendeu matrículas de alunos, conforme as Correspondências que
enviou:
Cassei a matrícula aos alunos do curso diurno desta
Escola. Esses moços acompanhavam diariamente, dirigindo-lhes dicterios, uma
aluna residente em bairro afastado desta cidade e no próprio recinto da Escola
pretendeu um deles passar uma carta de galanteio. Bem compreendeis o rigor que
tenho mantido na disciplina de um estabelecimento como este, freqüentado por
300 alunas e uns 20 alunos. A mínima quebra da ordem, o menor desrespeito pode
causar grave alteração na indispensável fiscalização. (Ofício nº 90 de 8 de
julho de 1897)
Suspendi, por 15 dias, ontem a aluna [...] Dei eu
ordem para impedirem que as alunas frequentassem às aulas com os cabelos soltos
pois este hábito, além de causar mal aspecto na escola, tem o inconveniente de
impedir os colegas mais próximos de tomarem notas de suas lições pois o
esvoaçar dos cabelos as interrompe a cada passo. A aluna em questão entendeu
não cumprir a ordem e trazida a minha presença reproduziu a recusa assegurando
em termos desrespeitosos, que não obedeceria pois cabia-lhe o direito de
proceder como entendesse. Diante de tão insólito procedimento, lancei mão do
recurso extremo da lei. (Ofício nº 91 de 8 de julho de 1897)
O Regulamento foi, sempre, o esteio
legal de que se valeu a Escola Normal, e a Congregação por consequência, para
formar civilizadores da nação brasileira, dentro do padrão de ordem a que
acreditavam devia estar submetido o povo.
3.4 Regulamentos civilizatórios
O Regulamento de 1890 estabelece
sintonia ao publicado em 1881, especialmente quanto às atribuições da
Congregação. Ambos valorizam e legitimam o papel civilizador da Congregação de
professores na formação do magistério público primário.
As atribuições são
praticamente as mesmas em ambos os Regulamentos embora a legitimidade da
Congregação fosse de tal ordem, perante o Governo republicano, que incluía a
demissão de professores que não atendessem às expectativas daquele grupo ou a
admissão deles quando não se houvesse tido candidatos para a vaga.
Regulamento de 1881
|
Regulamento de 1890
|
Organizar o programa de
ensino e o horário
|
Nomear comissões para
organizar programas de ensino e pontos para exames para apresentação e discussão
em sessões posteriores
|
Indicar as obras e
compêndios que devem ser adotados na escola
|
-
|
Formular os pontos de
exames dos Cursos de Ciências e Letras e de Artes
|
Eleger as comissões para
exames dos alunos e dos professores
|
Propor ao governo reformas
e melhoramentos que convier introduzir no ensino da Escola Normal e no das
escolas públicas primárias
|
Propor ao governo
reformas e melhoramentos que convier introduzir no ensino da Escola Normal e
no das escolas públicas primárias
|
Tomar conhecimento dos
fatos e delitos de disciplina escolar e punir os culpados
|
Tomar conhecimento dos
fatos e delitos de disciplina escolar e punir os culpados
|
Prestar informações, dar
pareceres e organizar os trabalhos sobre instrução primária
|
Prestar informações, dar
pareceres e organizar os trabalhos sobre instrução primária
|
Designar, à requisição do
Ministério do Império, professores e substitutos para inspecionar escolas
públicas da Corte e visitarem escolas ou colégios particulares
|
-
|
Eleger a comissão julgadora
dos concursos da escola, apreciar os resultados destes e apresentar ao
governo quem deve preencher o lugar
|
Eleger a comissão
julgadora dos concursos da escola, apreciar os resultados destes e apresentar
ao governo quem deve preencher o lugar
|
Eleger ao final de cada
ano, dentre os professores e substitutos do Curso de Ciências e Letras um que
faça o Relatório dos Sucessos Mais Notáveis do Ano Letivo
|
Eleger ao final de cada
ano, dentre os professores e substitutos um que faça o Relatório dos Sucessos
Mais Notáveis do Ano Letivo
|
Resolver os casos omissos
do Regulamento
|
Resolver os casos omissos
do Regulamento
|
-
|
Demitir professores que
não tenham atendido as expectativas da congregação ou torná-lo vitalício, se
tiver atendido
|
-
|
Propor, caso não houvesse
candidato à vaga aberta em concurso para professor, um que preencha a vaga.
|
Quadro VI Atribuições da Congregação nos Regulamentos
de 1881 e de 1890
Fonte: Regulamento anexo ao
Decreto 8.025 de 16/03/1881 e Regulamento anexo ao Decreto 407 de 17 de maio de
1890
Importante destacar que, embora
não explicitado no Regulamento republicano, as Atas das sessões da Congregação
de 1898 mostram que havia formação de comissões específicas e de discussões
para indicar obras e compêndios a serem utilizados na Escola Normal e na
instrução primária. Ressalte-se, também, que as Atas das sessões da Congregação
e os Relatórios dos Sucessos mais Notáveis do período imperial mostram que,
ainda que o Regulamento daquele período não seja explícito, corriqueiramente
formavam-se comissões de
trabalho para posterior discussão do resultado ou
parecer que apresentassem pelo grupo de professores.
Destacamos ainda que, pelo Regulamento
republicano, todos os professores pertenciam à Congregação não havendo
distinções. No Regulamento de 1881 somente os professores do curso de Ciências
e Letras pertenciam à mesma. Houve,
entretanto, em sessão de 19 de maio de 1881, um parecer unânime da Congregação
para incluir Paulino Martins Pacheco, professor de Caligrafia e Desenho, que
fora professor concursado do Instituto Comercial, como participante das
sessões. Por Aviso de 12 de fevereiro do ano seguinte o Ministério do Império
acatou esta sugestão da Congregação.
Diferem os
Regulamentos no quantitativo de cursos a constituírem a formação de
professores. No Regulamento de 1890 não existem mais dois cursos – Ciências e
Letras e Artes – para a formação de professores, como em 1881, só um. Explica
Bourdieu (2007, p.34) que, no seio de uma
cultura, que até então era predominante, havia modelos, regras, exemplos e
imagens que constituíam uma linguagem comum que formavam um elo que exprimia o
campo cultural e, deste campo faziam parte as Cadeiras que antes haviam
sido substituídas.
O Regulamento da
Escola Normal da Capital Federal foi elaborado antes da Reforma implementada
por Benjamin Constant a que buscou também servir de modelo[101], de uma educação descentralizada
para a formação da nacionalidade, no âmbito da educação primária e secundária.
Por isso, provavelmente, ele
encaminhou o Regulamento, através do Ministério de Instrução Pública, Correios
e Telégrafos (Correspondência de 1890-91), a consulados em vários países (assim
como a algumas unidades federativas) como modelar para a formação de
professores: Carta de 11
de julho de 1890 (do Consulado Geral dos Estados Unidos do Brazil, em
Montevidéo); Ofício de 25 de junho de 1890 (do Palácio do Governo do Estado do
Maranhão); Ofício 135 de 23 de junho de 1890 (do Estado Federado do Sergipe,
Palácio do Governo, em Aracaju); Ofício 2929 de 20 de junho de 1890 (do Estado
do Ceará, Casa do Governo); Ofício de 19 de junho de 1890 (do Palácio do
Governo do Estado de Alagoas); Ofício de 18 de junho de 1890 (do Estado Federal
de Santa Catarina, Palácio do Governo); Carta de 18 de agosto de 1890 (do
Consulado Geral do Brazil, em Buenos Aires); Ofício720 de 22 de agosto de 1890
(da Secretaria de Governo do Estado do Piauhy); Carta de 28 de agosto de 1890
(do Consulado Geral do Brazil, em Paris); Carta de 29 de agosto de 1890 (do
Consulado Geral dos Estados Unidos do Brazil, em Antuérpia); Ofício 133 de 30
de agosto de 1890 (do Consulado Geral do Brazil na Itália, Genova); Carta de 9
de setembro de 1890 (do Consulado Geral do Brazil, em Genebra); Carta de 1 de
outubro de 1890 (do Consulado Geral do Brazil no Chile, Valparaíso); carta de
14 de fevereiro de 1891 (do Consulado Geral do Brazil nos Estados Unidos, New
York); ofício 102 de 22 de abril de 1891 (da Diretoria do Pedagogium).
A distribuição do Regulamento por
consulados do Brasil no exterior (Uruguai, Argentina, França, Bélgica, Itália,
Suíça e Estados Unidos da América) e a unidades federativas brasileiras
(Maranhão, Sergipe, Ceará, Alagoas, Santa Catarina e Piauí) pelo Ministro
Benjamin Constant, durante sua gestão no Ministério da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos, não só identifica a estratégia por ele utilizada, como
legitima o Regulamento por tê-lo tomado como modelar para a formação de
professores primários brasileiros.
As Cadeiras
oferecidas no Curso Normal, que visavam preparar para as tarefas docentes,
também guardam semelhanças com aquelas oferecidas pelo Regulamento de 1881. As
Cadeiras do Regulamento de 1881 eram em número maior do que as oferecidas em
1890. Elas refletiram o momento em que se visava “civilizar” o país através do
conhecimento pelos “civilizadores” de diversificados estudos. As constantes no
Regulamento de 1890, por sua vez, refletiam a filosofia positivista que cunhava
nas disciplinas científicas o primado da consolidação do regime e o progresso
que se visava alcançar. Visava também a difusão e consolidação das ciências, o
que de fato demonstraria que o regime republicano acompanhava as modernidades
europeias e estava trabalhando de forma similar para desenvolver a
industrialização.
Através dos livros
adotados, dos programas e do currículo escolar, da disciplina implantada no
educandário e das atribuições da Congregação explicitadas nos Regulamentos, foi
definido o perfil ideal para os professores primários civilizadores oriundos da
Escola Normal.
4.1 A legitimidade da Congregação da
Escola Normal
Há unidades que, para estudarmos, não temos como
extrair apenas uma pequena parte delas porque as partes isoladas daquele todo
não serão compreendidas (ELIAS, 1994). É
possível que a existência de muitas pessoas, suas relações mútuas, provoque o
aparecimento de algo que não foi previsto individual ou coletivamente e, ainda
assim, este aparecimento torne essas pessoas interdependentes. Assim é no meu
estudo sobre a Congregação da Escola Normal. Estudá-la é como construir um
mosaico, onde as partes embora autônomas possuem uma certa interdependência.
Acredito que o estudo sobre a Congregação permite
sentir e interpretar o aparecimento de um grupo diferenciado no campo intelectual
que só pode ser explicado porque sinais deste grupo persistiram, existindo muitos anos após sua criação e seu
desaparecimento, através da linguagem política usada defensiva e retoricamente
para criar um senso comum e do estabelecimento de novos campos de luta social,
política e cultural, o que deixou vestígios nas Atas, nos Ofícios, nos
rascunhos que relatam suas sessões. (HUNT, 2001)
Este grupo diferenciado é explicado por Elias
(1994) quando examina a sociedade compreendida pelo indivíduo, e até como as
diferentes pessoas que formam estas sociedades entendem a si mesmas, em suma, através
da autoimagem e da composição social dos grupos. Isso leva à discussão das
relações entre o indivíduo e a sociedade e desta sociedade de indivíduos com o
próprio indivíduo. Assim, não tive como ver a Congregação sem inseri-la no seu
tempo, como não pude ver seus partícipes apenas como indivíduos sem relação e
interrelação com a sociedade em que viviam e com seus grupos de sociabilidade,
porque entre eles há um intercâmbio que me interessava trazer à tona e que, de
certa forma independia, do regime brasileiro a que estavam submetidos.
Não há como explicar o processo de legitimação da
Congregação – conquistada pelo trabalho, pela experiência, pela adesão a uma
ideologia civilizadora – sem ir e voltar no tempo, sem tornar maior o que
parece pequeno (LEVI, 1992). A retórica, os libelos jornalísticos, o silêncio e
a omissão, sem apequenar o que parece grande demais, permitiram interpretar a
associação do grupo, a defesa de interesses ideológicos, a autoimagem que se perpetuou e o pertencimento e
reconhecimento de cada indivíduo, no grupo e fora dele, o espaço que esta
Congregação – e seus tentáculos de sociabilidade – representavam na política
civilizadora começada no Império e continuada na República, especialmente em
sua primeira década. Bourdieu (2007) defende que a cultura escolar propicia aos
indivíduos um corpo comum de categorias de pensamento que tornam possível a
comunicação, assim, os homens formados em dada disciplina ou dada escola, ou,
ainda, que partilharam experiências comuns, também partilham um certo
“espírito” e os “espíritos” assim
modelados tendem a manter com seus pares uma relação de cumplicidade e
pertencimento que marcam suas relações de sociabilidade. Este sentimento parece
ter presidido a Congregação, a partir do seu primeiro ano de experiências
comuns que veio a constituir-se no seu diferencial dentro do campo da
intelectualidade, especial e marcadamente pela presença e influência do seu
líder carismático Benjamin Constant Botelho de Magalhães.
Essa ordem invisível que oferece ao indivíduo uma
gama de ações e reações, comportamentos, enfim, de certa forma previsíveis, se
torna palpável ao estudarmos a Congregação a partir de uma legitimidade
outorgada pelo poder público que se torna, por conta da experiência, do
trabalho e da inserção intelectual dos membros que a compõem, uma legitimidade
conquistada e ferrenhamente defendida – embora nem sempre ameaçada.
4.1.1 A legitimidade conquistada de
1881
A Congregação da Escola Normal nasce legitimada em 1880, pelo
Governo Imperial. Com a experiência comungada com seus partícipes depois de um
ano de experiências comuns, passa a fazer parte de um grupo diferenciado no
campo intelectual, com mais poder político do que tinha ao ser criada.
Como era feito anualmente, o
Ministro do Estado dos Negócios do Império informou, em relatório, à Sua
Majestade Imperial o fruto de seu trabalho em 1881, relativo ao ano de 1880.
Era um relato das experiências de alunos e professores que atuavam na formação
de professores primários da cidade do Rio de Janeiro. Pelo Relatório do
Ministro do Império, Manuel Pinto de Souza Dantas, na Escola Normal da Corte o
número de matrículas foi de 282 alunos sendo 105 do sexo masculino e 177 do
sexo feminino, todas para a 1ª série. Pela quantidade de alunos as turmas foram
divididas em duas, que foram designadas aos professores da Escola. Para as
aulas de Caligrafia e Desenho Linear, o Diretor contratou o professor público
Candido Baptista Antunes para servir de mestre auxiliar, mas a necessidade
persistiu, visto que foram abertas quatro turmas. As turmas foram então
distribuídas em outras secções. Cada professor ficou com duas secções.
A aula de Música, não
presente no Regulamento de 1880, foi incluída por Aviso de 17 de junho, que
também autorizou a compra de um piano. Na aula de Música foram matriculados 157
alunos. Arthur Camillo e Norberto Amâncio de Carvalho eram os coadjutores
contratados do professor designado para Música, Miguel Cardoso.
A maioria da Congregação decidiu,
apresentando-se vários pretendentes à matrícula nas aulas da 2ª série, e já que
a habilitação deveria ser provada em exames feitos na própria escola, autorizar
a Direção a promover este exame. Para as matérias da 1ª série inscreveram-se
três candidatos. Não puderam prosseguir nos exames das demais Cadeiras porque
foram reprovados em Instrução Religiosa, primeira disciplina em que foram
examinados e de caráter eliminatório. No curso de Ciências e Letras houve cinquenta
e nove inscrições para exames, cujo resultado foi: uma aprovação distinta, duas
aprovações plenas, oito aprovações simples e dezessete reprovações. Deixaram de
prestar exames trinta e um candidatos. Para Caligrafia e Desenho Linear
inscreveram-se onze alunos. Somente dois foram aprovados. Para o exame de
Música Vocal inscreveram-se sete alunos. Foram aprovados somente três.
Em 1881 matricularam-se cento e oitenta
e um alunos, sendo cinquenta e seis do sexo masculino e cento e vinte cinco do
sexo feminino, sendo três senhoras estranhas à Escola, duas para o exame de Português,
no qual só uma foi aprovada e a outra não. A terceira reprovada para o exame de
Instrução Religiosa, ao qual não compareceu.
O Cônego João Pires de Amorim (descende do ramo capixaba da família
Amorim; foi vigário da Arquidiocese do Rio de Janeiro e Presidente do Cabido
Metropolitano; descende de José Pires do Amorim e de D. Joaquina Maria de
Oliveira; nasceu em 1842 e faleceu em 1914), professor interino de Instrução
Religiosa, foi exonerado a pedido, em Portaria de 31 de julho. No seu lugar foi
nomeado, pela mesma Portaria, o Padre Amador Bueno de Barros, que já estava em
exercício por licença do Cônego.
Pela Portaria de 2 de outubro foi
nomeado Oscar do Rego Monteiro para o lugar de amanuense, pela transferência,
para o Arquivo Público, de Francisco Maria Pedreira Ferreira.
Autorizou-se, também, o Diretor a encarregar da função de porteiro, com o pagamento de 600$000 de gratificação, a mesma pessoa que assumia esta função na Escola Politécnica, cujo edifício estava sendo ocupado provisoriamente pela Escola Normal e a contratar, pelo valor de 50$000 de gratificação, para inspeção dos alunos, Joaquim José de Oliveira Alves, Cyrillo José dos Santos, Francisca Eugenia de Carvalho Pereira e Amélia Proença Guimarães.
A Congregação submeteu ao governo as alterações ao Regulamento de 6 de março de 1880. O projeto foi aprovado tornando-se o corpo do Decreto 8.025, de 16 de março de 1881. O projeto apresentado, à luz da experiência de um ano de Escola Normal, previu quatro séries e a alternância de disciplinas.
Autorizou-se, também, o Diretor a encarregar da função de porteiro, com o pagamento de 600$000 de gratificação, a mesma pessoa que assumia esta função na Escola Politécnica, cujo edifício estava sendo ocupado provisoriamente pela Escola Normal e a contratar, pelo valor de 50$000 de gratificação, para inspeção dos alunos, Joaquim José de Oliveira Alves, Cyrillo José dos Santos, Francisca Eugenia de Carvalho Pereira e Amélia Proença Guimarães.
A Congregação submeteu ao governo as alterações ao Regulamento de 6 de março de 1880. O projeto foi aprovado tornando-se o corpo do Decreto 8.025, de 16 de março de 1881. O projeto apresentado, à luz da experiência de um ano de Escola Normal, previu quatro séries e a alternância de disciplinas.
Foram excluídas as disciplinas de
Prática Mercantil e Prática Manual de Ofícios. Suprimiu-se uma das duas
cadeiras de Pedagogia. Dividiram-se as Cadeiras de Ciências Físicas e Naturais
e de Psicologia e Higiene em Ciências Físico-Químicas e Ciências Biológicas.
Criou-se uma Cadeira de Elementos de Mecânica e Astronomia. Os estudos de
Instrução Religiosa e de Língua Francesa passaram a ser facultativos e não
eliminatórias.
Por conta destas alterações, houve
outras: Benjamin Constant Botelho de Magalhães, que regia a Cadeira de
Matemáticas Elementares, passou a reger Mecânica e Astronomia. Carlos Maximiano
Pimenta de Laet passou a reger as turmas de Matemáticas Elementares.
Pedro Severiano de Magalhães (foi cirurgião, catedrático de cirurgia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e helmintologista nas horas vagas; em 1898 descreveu o Hymenolepis carioca de ave doméstica; descreveu também uma filaria no coração de uma criança que, em sua homenagem, foi denominada por Blanchard, Dirofilaria magalhensi) era professor da Cadeira de Ciências Físicas e Naturais e de Psicologia e Higiene e passou a reger as turmas de Ciências Biológicas. O Dr. Herculano de Souza Bandeira Filho passou para a Cadeira de Lógica e Direito Natural e Público. o Dr. Evaristo Nunes Pires foi nomeado para Corografia e História do Brasil. Foram devolvidos ao Imperial Colégio Pedro II os professores José Manoel Garcia e Manoel Olympio Rodrigues da Costa [103]. Manoel Olympio era formado pelo Internato Normal da Bahia; professor da Escola Normal e do Colégio Pedro II; escreveu diversas obras didáticas dentre elas: Grammatica portugueza (destinada ao 1º ano do Colégio Pedro II e adotada nas escolas públicas primárias aprovada pelo Conselho Superior de Instrução Pública e pelo Governo Imperial, em1887) e Noções de Arithmética e do Sistema Métrico Decimal para uso das Escolas (compêndio composto por animação e sob as vistas do Comendador Abílio César Borges e mandado imprimir pelo mesmo para fazer parte de uma coleção de livros escolares, aprovada e adotada pelo Governo Imperial para o Colégio Pedro II e para as escolas públicas do Município Neutro, cuja 2ª edição foi feita em 1877, a 3ª edição, sem data, foi feita em Antuérpia e a 4ª edição foi póstuma, tendo sido revisada pelo Dr. Abílio Borges).
Pedro Severiano de Magalhães (foi cirurgião, catedrático de cirurgia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e helmintologista nas horas vagas; em 1898 descreveu o Hymenolepis carioca de ave doméstica; descreveu também uma filaria no coração de uma criança que, em sua homenagem, foi denominada por Blanchard, Dirofilaria magalhensi) era professor da Cadeira de Ciências Físicas e Naturais e de Psicologia e Higiene e passou a reger as turmas de Ciências Biológicas. O Dr. Herculano de Souza Bandeira Filho passou para a Cadeira de Lógica e Direito Natural e Público. o Dr. Evaristo Nunes Pires foi nomeado para Corografia e História do Brasil. Foram devolvidos ao Imperial Colégio Pedro II os professores José Manoel Garcia e Manoel Olympio Rodrigues da Costa [103]. Manoel Olympio era formado pelo Internato Normal da Bahia; professor da Escola Normal e do Colégio Pedro II; escreveu diversas obras didáticas dentre elas: Grammatica portugueza (destinada ao 1º ano do Colégio Pedro II e adotada nas escolas públicas primárias aprovada pelo Conselho Superior de Instrução Pública e pelo Governo Imperial, em1887) e Noções de Arithmética e do Sistema Métrico Decimal para uso das Escolas (compêndio composto por animação e sob as vistas do Comendador Abílio César Borges e mandado imprimir pelo mesmo para fazer parte de uma coleção de livros escolares, aprovada e adotada pelo Governo Imperial para o Colégio Pedro II e para as escolas públicas do Município Neutro, cuja 2ª edição foi feita em 1877, a 3ª edição, sem data, foi feita em Antuérpia e a 4ª edição foi póstuma, tendo sido revisada pelo Dr. Abílio Borges).
Foram nomeados Domingos Jacy
Monteiro e Augusto Emílio Zaluar para substituí-los. Para regerem as aulas de Ginástica
e Trabalhos de Agulha foram nomeados o Capitão Ataliba Manoel Fernandes e D.
Marianna Bernardina da Veiga.
No entender do Diretor da Escola, expresso no Relatório do Ministro dos
Negócios do Império de 1881, o que mais urgia, no momento, era distribuir o
ensino por aulas diárias que começassem às 9 horas da manhã e fossem até as 5
horas da tarde, com frequência obrigatória para os que destinassem
expressamente ao magistério público.
O primeiro Regulamento da Escola Normal da Corte,
em 1880, conferiu à Congregação de Professores, as seguintes atribuições:
organizar o programa do ensino e o dos exames do curso; rever anualmente os
programas de ensino e as obras e compêndios que devem ser adotados no ensino
primário e normal; propor ao governo as reformas e melhoramentos que conviesse
introduzir no estabelecimento ou nas escolas públicas primárias; tomar
conhecimento dos fatos e delitos
ocorridos no âmbito da escola e punir os culpados e eleger, no fim de
cada ano, dentre os professores, um que fizesse o Relato escrito dos Sucessos Mais
Notáveis do Ano Letivo e das condições do ensino em cada uma das matérias e
disciplinas do curso que, depois de aprovado pela Congregação, deveria ser
remetido ao governo e publicado.
O segundo Regulamento da Escola Normal da Corte (Decreto n.
8.025, de 16 de março de 1881), feito pela Congregação, ampliou o seu poder
político que incluía, além das atribuições que já possuía as seguintes:
organizar o horário da escola; formular os pontos de exames dos cursos; prestar
informações, dar pareceres e organizar os trabalhos sobre instrução primária
que fossem solicitados pelo Ministério do Império, pelo Inspetor Geral ou pelo
Conselho da Instrução Pública; designar professores e substitutos para, junto
com os delegados de distrito, inspecionarem as escolas públicas da Corte e visitarem
escolas e colégios particulares; eleger a comissão julgadora dos concursos da
escola, apreciar o resultado destes e apresentar ao governo quem deveria
preencher as vagas e resolver provisoriamente os casos omissos do regulamento
até que fossem deliberados pelo governo.
Privilegiava, ainda, os professores do Curso de Ciências e
Letras para compor a Congregação e para relatar os sucessos mais notáveis. Os
professores do Curso de Artes podiam apenas ser convidados às sessões para
serem ouvidos a respeito da organização de seus programas de ensino, do horário
e dos pontos de exame das respectivas aulas. Não pertenciam a Congregação.
Estabelecia ainda, o documento, que os substitutos do Curso de Ciências e Letras
poderiam participar, também, da Congregação. Mantinha-se inalterado o quorum
para as sessões e deliberações. Há, no entanto, uma sessão, a de 19 de maio de
1880, onde se discute sobre a participação de Paulino Marques Pacheco, que
ministrava aulas de Caligrafia. Este professor foi autorizado, após deliberação
da Congregação e anuência do Ministério dos Negócios do Império, por Aviso de
12 de fevereiro de 1881, a participar, como congregado, das sessões. Os demais
mestres foram autorizados a participar, votar e serem votados, quando o assunto
fosse de suas Cadeiras.[104]
4.1.2 A legitimidade (re)conquistada
de 1890
A Escola Normal, nos seus quarenta e dois anos de
existência[105],
teve alguns Regulamentos que buscaram definir o objetivo da instituição e
nortear o cotidiano escolar: o exame de admissão; o período de matrículas e exames; o período escolar;
o horário das aulas; os cursos oferecidos; as séries existentes; a avaliação do
aluno para aprovação; o quantitativo de aulas e a frequência de alunos; o tempo
de cada aula (hora/aula); o número de lições por semana em cada série e
Cadeira; a disciplina escolar; as atribuições da Congregação, quando esta
existia, e de seu corpo de professores.
Pelo Decreto de criação republicana e pelo Regulamento anexo
que o acompanha, de maio de 1890, esta Escola Normal foi um estabelecimento de
ensino gratuito, integral e destinado a ambos os sexos, com dois cursos:
Ciências e Letras e Artes. Exatamente como a Escola Normal da Corte.
O documento é subdivido
em capítulos que tratam dos seguintes temas: ensino normal (capítulo I) onde se
especificavam as disciplinas constantes dos cursos de Ciências e Letras e de
Artes e sua distribuição pelas cinco séries; matrícula (capítulo II), onde se
fixava a data de início e término do ano letivo, a qualificação exigida ao
candidato e os documentos a serem apresentados; o regime das aulas (capítulo
III) onde se definiam o período letivo, o horário das aulas, os dias de feriado
e a precedência de lugares; a disciplina (capítulo IV) onde se especificava
onde devem ficar os acompanhantes dos alunos, estabeleciam-se as proibições aos
alunos e previa as sanções aos infratores; o pessoal da escola (capítulo V),
onde se apresentavam os vencimentos do quadro funcional e a progressão da
carreira; o pessoal docente (capítulo VI), onde se regulamentavam os direitos,
deveres e penas dos professores; o pessoal administrativo (capítulo VII)
estabelecendo seus direitos e deveres do diretor, secretário, amanuenses,
preparadores, conservador, porteiro, inspetores e contínuos, assim como as
atribuições relativas a cada um deles. Já o capítulo VIII deste documento
republicano estabelecia as atribuições da Congregação de professores dando-lhe
tanto destaque e relevo quanto no Regulamento feito pelos congregados, em 1881,
à luz de sua experiência de um ano letivo na Escola Normal da Corte.
As atribuições
definidas por este Regulamento Republicano eram nomear comissões para ajuizar
sobre os programas de ensino e pontos para exame; eleger a comissão julgadora
dos concursos da escola e apresentar ao governo quem deveria preencher o lugar;
propor a demissão de professores que não tivessem cumprido seus deveres; eleger
quem deveria compor a comissão dos exames dos alunos; tomar conhecimento dos
fatos e delitos ocorridos na escola e punir os culpados; propor as reformas e
os melhoramentos que conviesse introduzir no ensino do estabelecimento ou no
das escolas públicas primárias; prestar informações, dar os pareceres e
organizar os trabalhos sobre instrução primária; eleger um dos professores, com
exceção do Diretor ou do secretário, para fazer anualmente o relatório dos
sucessos mais notáveis e resolver os casos omissos do Regulamento, ficando esta
decisão pendente da aprovação do governo. As atribuições eram bastante
semelhantes ao Regulamento de 1881.
Explicitava, também,
que a Congregação não poderia reunir-se em sessão sem que houvesse mais da
metade de seus membros, tornando desta forma representativa e democrática cada
sessão; que suas deliberações deveriam ser tomadas pela maioria dos membros
presentes em votação nominal e por vezes com voto justificado por escrito, de
modo a obter-se, além da ata, um documento escrito das decisões; que as
decisões do grupo, se contrárias ao do Diretor, não estavam obrigadas de
execução senão por decisão do Governo; que o Diretor, como presidente, tinha
direito ao voto singular e ao de qualidade, exceto nas votações onde tivesse
interesse pessoal, momento em que prevaleceria a opinião mais favorável. Isto
é, trazia de volta a Congregação, suas sessões e seu poder político.
O capítulo IX do
Regulamento trata do preenchimento das vagas, o seguinte trata da inscrição
para os exames e o próximo sobre os exames propriamente ditos. São tratados
ainda nos demais capítulos os títulos e vantagens e as disposições transitórias.
Os anexos do documento constituem o modelo a que se refere o artigo três e a
tabela de vencimentos dos empregados da escola.
O Ministro e
Secretário de Instrução Pública, Correios e Telégrafos, Benjamin Constant
Botelho de Magalhães, assinou o Regulamento de 1890, um ano antes da reforma
que leva seu nome. Era um ex-congregado, com dez anos de Escola Normal onde
ministrava aulas (de Mecânica, Escrituração Mercantil e, depois, Matemáticas),
dos quais cinco anos como Diretor e presidente da Congregação. E não foi apenas
este o motivo do Ministro para mostrar pertencimento, (re) conquistando com a legitimidade
republicana, a Congregação neste documento. Durante sua gestão como Diretor da
Escola Normal da Corte foi elaborado o Regulamento de 1881, pela Congregação
que, face ao cargo, presidia.
Ao instaurar-se a República, uma das primeiras providências
do regime com relação à Escola Normal, além de dar-lhe a designação de Escola
Normal da Capital Federal, assim riscando, como em tantos outros
estabelecimentos da Corte, qualquer possível alusão ao regime imperial deposto,
foi fazer publicar o Decreto 407, do dia 17 de maio de 1890, com um Regulamento
republicano estabelecendo os fins profissionais daquele tipo de educação,
norteando as atividades escolares e listando os seus professores. Este
Regulamento se assemelha ao de 1881 e praticamente o recria no novo regime, sob
a ótica republicana de Benjamin Constant, mas com o pertencimento de um ex-congregado.
Ainda que o período letivo de 1891 somente
tivesse começado mais tarde, por ordem da Secretaria de Estado dos Negócios da
Instrução Pública, Correios e Telégrafos, no Ofício de 4 de abril de 1891, e
que todos os documentos tenham sido enviados em folhas de papel
almaço
e/ou reaproveitadas, com timbres e nomes de ministérios do Império riscados, o
que demonstrava certa confusão externa, a Escola Normal funcionou regularmente,
ancorada na legitimidade que provavelmente estava por vir, recebendo, inclusive,
do Pedagogium vinte e cinco exemplares da Revista Pedagógica para serem
entregues aos professores e funcionários do estabelecimento, conforme o Ofício
102 de 23 de abril daquele ano, o que mostra que esteve sempre muito próximo à
Escola Normal. Desde 1886, o Relatório do Ministério dos Negócios do Império
esclarece que
[...] enquanto não se crear o Museu a que
se refere o Regulamento da Escola, os professores desta, por ocasião de
tratarem de methodologia especial de matérias que leccionam, e o professor de
pedagogia visitem com os alumnos o Museu Escolar Nacional, afim de exercital-os
no que possa interessar ao ensino.
Pelo Ofício de 22 de abril de 1890 trocam-se,
também, as adjuntas da Escola Anexa, que passam a ser Izabel Pinto de Campos e
Leonor Carvalho da Cruz Araujo e
autorizam-se, pelo Ofício 1285, de 27 de abril, obras na Escola Normal.
Começam, finalmente, os bons tempos sonhados pela
Congregação.
4.2 Embates políticos
4.2.1 O embate com o
poder publico
Em 1888, por força do fracionamento político da oligarquia
cafeeira, dos debates pró-abolição que haviam se desenvolvido e pró-república,
que cada vez ocupavam mais o cenário político, outras oligarquias passam a
participar do jogo social, o que possibilitou que outras forças se
manifestassem. Por isso o Regulamento deste ano é bastante diferente dos
anteriores.
Explica Sodré (1967) que as reformas defendidas pela classe
média que surgira nos centros urbanos, e sua disputa pela participação no poder
só encontram oportunidade de ascensão quando se unem em aliança aos grupos mais
atuantes dela. No final do século XIX, no entanto, os grupos conservadores –
que não pretendiam alijar-se do poder – usavam sua força e sua retórica para
manterem-se com a mesma força política. Assim, lutavam por mais cargos
burocráticos – o que fica bastante claro na Escola Normal com a dispensa de
muitos professores – e assunção de outros que somente serão exonerados em 1890
por Benjamin Constant, já na República.
Em 1888, começaram os primeiros embates entre a Congregação e
o poder público, representado pela Diretoria da Instrução Pública. Neste
momento fica, também, explicitada a autoimagem[106] da Congregação de professores: a de
executores da civilidade que eles levariam, como formadores dos professores primários,
às professoras e professores das escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro.
Por força do Decreto 10.060 de 13 de outubro de
1888, que deu novo Regulamento à Escola Normal, a Congregação foi extinta. A
reforma na Escola Normal, expressa neste Regulamento, causou um enorme rebuliço
que foi discutido dentro e fora dela pelos jornais, visto que grande parte da
Congregação, como visto, também era jornalista de profissão. Assim os jornais
refletiram a ação política dos congregados e seus adversários porque o
jornalismo era também, neste momento, um modo de fazer política. (CARVALHO, 2006)
Os
congregados tinham a vida dominada pela imprensa fazendo do seu trabalho intelectual
também uma profissão pelas causas políticas a serem abraçadas, ora pelo
abolicionismo em todo o seu percurso de eventos, ora pela apaixonada defesa da
República. Como intelectuais que eram, se ocupavam com a escrita de suas ideias,
que se fazia, em alguns momentos, sua principal função. E era nos jornais que
os intelectuais da Congregação através das crônicas, principalmente, emitiam
opiniões e aparentavam a autonomia que não tinham em suas relações com o poder
político. (MICELI, 2001)
Assim,
o Regulamento de 1888 provocou um embate onde os professores transferiram suas
práticas da esfera privada das sessões congregacionais para o debate público e
político dos jornais que era uma das principais instâncias da produção cultural
desta época e onde acreditavam poder ter posições políticas autônomas.
A
reforma foi traumática para a Congregação que praticamente se desfez. Não havia
congregado, por exemplo, que concordasse com o artigo dezoito que determinava
que nenhum professor, catedrático ou adjunto, poderia exercer cargo alheio ao
magistério, bem assim como qualquer
profissão comercial ou industrial, porque praticamente todos eles tinham
mais de um emprego.
O
jornalismo era, então, comparável ao ofício de escritor, o que permitia aos
intelectuais da Congregação uma renda
extra de modo algum desprezada. (MICELI, 2001, p. 55). Dentre os
jornalistas, ou escritores, destacavam-se os congregados: Antonio Ferreira Vianna
(escreveu Biografia de José Bonifácio de Andrade e Silva , Biografia do Doutor
Gabriel José Rodrigues dos Santos, Biografia de Angelo Moniz de Souza Ferraz e
Conferência dos Divinos) [107]Augusto
Emílio Zaluar (publicou artigos no Diário
do Rio do Janeiro e Correio Mercantil)
[108],
Carlos Jansen (além de trabalhos publicados no Rio Grande, Buenos Aires e
outras localidades, escreveu artigos no O
Cruzeiro, de cuja redação fez parte) [109]
e Carlos Maximiano Pimenta de Laet.
Os
professores, praticamente todos, haviam sido atingidos pela nova legislação que
visava também reduzir os custos da Escola Normal que, pela Lei 3.314, de 16 de
outubro de 1886, já ficara menor, rubricado em apenas 67:500$000[110],
mas que também possibilitava que setores antes alijados do poder, especialmente
cafeicultores paulistas, pudessem usar esta estratégia para deter mais poder
político e dele fazendo uso na ocupação de cargos burocráticos.
Além disso, havia discordância da Congregação sobre o
artigo oito do Regulamento, que submetia a instituição ao Inspetor
Geral a quem passava a competir a inspeção e superintendência do educandário,
em tudo quanto dizia respeito a disciplina e ao ensino, tirando o poder
político do diretor e dos professores, assim como a autonomia de que eles
desfrutavam. Autonomia que eles, como intelectuais que eram, acreditavam ter,
por deterem o conhecimento da formação de professores.
Exercitavam, através da imprensa, o papel do
intelectual orientado pelo ideal de conduta, expressando independência, fazendo
com que o monopólio da força que o Estado detém não se tornasse, também, o
monopólio da verdade, na perspectiva de Bobbio (1997). Na medida em que a autonomia se perdera por aquele Regulamento,
gerando um confronto entre o mundo das
idéias e o mundo das ações políticas (p.82)
gerando, deste modo, uma primazia da política sobre a cultura, que desagradava
e insultava os intelectuais da Congregação.
Por outro lado, o Regulamento também extinguiu a Congregação
enquanto um espaço deliberativo de poder estabelecendo, no seu artigo vinte e
um, que os encontros de professores convocados pelo diretor não tinham caráter
de Congregação. Estes encontros foram, naquele texto legal, denominados de conferências pedagógicas[111]
Tais conferências deveriam ter, também, suas atas encaminhadas ao Inspetor
Geral que as enviaria, com seus comentários, ao Ministério. Deste modo as
sessões deixaram de existir para dar lugar a encontros onde apenas se
discutiria aspectos pedagógicos do ensino ministrado, sem conotações políticas,
e ainda submetidas a observância – com comentários – do Inspetor Geral.
As relações entre
intelectuais e o poder nem sempre foram pacíficas, porque nem sempre foram de
submissão. A Congregação
não podia aceitar tanta interferência e não o fez. Os congregados, a seu modo,
pela imprensa, publicizaram seus problemas saindo da esfera privada da Escola
Normal[112]
para o espaço público.
O poder
constituído foi mais forte que a campanha deflagrada pela imprensa,
especialmente no Tribuna Liberal, através
dos artigos de Carlos de Laet, Fausto Barreto e Valentim Magalhães. Na seção
das cartas continuava a discussão através das missivas enviadas por Escolastica Panfilia, pseudônimo de
Carlos de Laet, que passando-se por aluna da Escola Normal, divergia do
programa de ensino dos Picos de Mirandola
da Secretaria do Império (Silveira, 1954, p.27). Usando a mordacidade e
ironia, o jornalista Laet atingia a
Secretaria do Império, ali representada por Balduíno José Coelho, que tomou a
alcunha de Verney [113].
Assim, Laet, na Tribuna Liberal, de 20 de dezembro de 1888, vociferava que o
papel de Verney
[...] foi o de observar à
margem, as mais absurdas disposições. Muitas delas porém se conservaram. No
programa, anotou as matérias que lhe tangiam, isto é, português, geografia e
matemática. Na de português, ressaltou a impraticabilidade de um curso de
gramática histórica para alunos a quem falece o conhecimento da língua mãe. (ibidem)
Escolastica Panfilia, pedia ainda, retificação de sua
qualidade cívica, esclarecendo que
Não sou, nunca fui
normalista. Frequentara de fato, mas como ouvinte, as aulas da Escola Normal.
Certa vez tivera síncope, ao ouvir as aulas do Snr. Dr. Ferreira Vianna Filho.
Desgostei-me e passei a freqüentar as tribunas das Câmaras, onde concluí minha
educação ouvindo o presidente do Conselho. (ibidem)
Em 1888, através da Portaria de 31 de
dezembro, foram exonerados quatorze professores, catedráticos e substitutos,
inclusive o diretor. Sendo eles: Bacharel João Pedro de Aquino, Fausto Carlos
Barreto, Cônego Luiz Raymundo da Silva Brito, Bacharel Alfredo Coelho Barreto,
Dr. Evaristo Nunes Pires, Conselheiro Álvaro Joaquim de Oliveira, Dr. Pedro
Severiano de Magalhães, Bacharel Antonio Valentim da Costa Magalhães, Bacharel
Frederico Carlos da Costa Brito, Bacharel José Gomes de Sousa Gayoso, Dr. Pedro
de Albuquerque Rodrigues, Engenheiro Pedro Barreto Galvão, Bacharel Benedicto
Raymundo da Silva e o Dr. Francisco Moreira Rocha.
Deste embate da
Congregação da Escola Normal com o poder público, que a legitimara desde sua
criação, restaram apenas seis professores que conseguiram, provavelmente por
força de suas relações pessoais, outra das características da intelectualidade,
manter-se no cargo.
Mantiveram-se na Escola Normal pelo Decreto de 2 de
janeiro de 1888, o Bacharel Theophilo das Neves Leão, como novo diretor; o
Bacharel Benjamin Constant Botelho de Magalhães e José Francisco Halbout. Foram
renomeados o Dr. Pedro Severiano de Magalhães, o Dr. Eugenio de Guimarães
Rabello e o Bacharel José Gomes de Souza Gayoso.
O embate ainda não terminara...
4.2.2 O silêncio como
estratégia
Investigar Luiz Carlos da Silva Nazareth
[114] requereu estudar
o período de que fez parte, 1897 e 1898, buscando pistas que pudessem explicar
o fato de um Inspetor escolar dirigir vitaliciamente a Escola Normal que
contava com um prestigiado corpo docente composto da alta intelectualidade
brasileira do período.
O Livro de Ofícios da gestão de Luiz Nazareth[115] deixou para a
posteridade, pistas e indícios que apresentam sua administração na Escola
Normal como um período de mudanças significativas de paradigmas, seja por estar
ali como partícipe de um regime que se instalava, seja por sua atuação frente
ao corpo de professores – a Congregação – que ainda detinha poderes advindos do
regime imperial, seja por não fazer parte do grupo que ali existia.
Luiz Carlos da Silva Nazareth tomou
posse do cargo de Diretor vitalício da Escola Normal em 26 de abril de 1897,
convidado por seu amigo, também médico, como ele, Dr. Francisco Furquim Werneck
de Almeida, Prefeito do Distrito Federal. No mesmo dia, horas depois, assumiu a
Escola Normal, como declarou no documento que o empossa.
Chegar à Escola Normal, neste momento, deve ter sido difícil para este homem circunspeto. Mas assumir a direção da Escola Normal significava para Luiz Nazareth servir à República. No dia em que chegou à Escola Normal, como Diretor vitalício, Luiz Carlos da Silva Nazareth emitiu seu primeiro ofício. O destinatário era o Dr. Alfredo Gomes, até aquele momento professor e conceituado Diretor da escola. Não houvera tempo, visto que a posse de Nazareth fora horas antes, de comunicação entre a Prefeitura e a Escola Normal. O Dr. Alfredo foi provavelmente, tomado de surpresa pelo texto seco e imperativo do novo Diretor: Comunico-vos que assumi hoje a diretoria desta Escola, cargo em que conto com a vossa coadjuvação.
Chegar à Escola Normal, neste momento, deve ter sido difícil para este homem circunspeto. Mas assumir a direção da Escola Normal significava para Luiz Nazareth servir à República. No dia em que chegou à Escola Normal, como Diretor vitalício, Luiz Carlos da Silva Nazareth emitiu seu primeiro ofício. O destinatário era o Dr. Alfredo Gomes, até aquele momento professor e conceituado Diretor da escola. Não houvera tempo, visto que a posse de Nazareth fora horas antes, de comunicação entre a Prefeitura e a Escola Normal. O Dr. Alfredo foi provavelmente, tomado de surpresa pelo texto seco e imperativo do novo Diretor: Comunico-vos que assumi hoje a diretoria desta Escola, cargo em que conto com a vossa coadjuvação.
O Dr. Alfredo era como Nazareth, um
simpatizante do novo regime, no entanto, não esperava ser tomado pelo susto que
recebeu. A ele juntaram-se seus colegas da Congregação, que naquele momento,
não se manifestaram, como talvez desejassem.
Explica-nos Pollak (1989) que
Explica-nos Pollak (1989) que
[...] uma situação ambígua e
passível de gerar mal-entendidos pode, ela também, levar ao silêncio antes de
produzir o ressentimento que está na origem das reivindicações e contestações
inesperadas [...] (p.202)
Assim, naquele momento, e durante toda a gestão de Nazareth à
frente da Escola Normal, a Congregação de professores se manteve silenciosa.
Em maio, depois de vários ofícios ao
dia, encaminha Nazareth o ofício de um Professor de História, que se mostra
contrário ao Decreto que reduzira os tempos de aula da disciplina. Esta
questão, até então, era resolvida pela Congregação, Nazareth, no entanto, seu presidente,
não convocou o grupo durante toda a sua gestão, como acontecera desde a criação
da Escola Normal, em 1880. Encaminhou o ofício a quem criara o Decreto, o
Diretor Geral da Instrução Municipal. Não opinou sobre o tema. Omitiu-se.
A Congregação e Nazareth usaram da
mesma estratégia: o silêncio.
O ofício enviado pelo diretor
Nazareth encaminhando o professor de Trabalhos Manuais, revela um certo
ressentimento e uma total impaciência, colocando-se até numa posição de
superioridade. Chama o professor de incompetente, afirma que ele mal sabia
assinar e insinua que roubara ferramentas da Escola Normal. É óbvio que o
professor se defendeu das inúmeras acusações apresentando suas credenciais,
inclusive a de ter sido contratado pelo professor Benjamin Constant. Nazareth
não ficou satisfeito. Enviou outro Ofício, tão desrespeitoso quanto o primeiro,
comunicando ao seu superior que dera prazo de 48 horas para que as ferramentas
que estavam na casa do professor aparecessem e, encaminhando, porque acreditava
que esta atitude fazia parte de seus deveres, novo Ofício do professor, que não
conseguiu escapar de ser substituído. Estaria perdendo a paciência com os
professores ou o professor de Trabalhos Manuais era um insignificante mestre,
sem expressão, que Nazareth precisava conspurcar para mostrar que de nada valia
a Cadeira e quem a ministrava? A Congregação talvez não tenha ficado satisfeita
pelo encaminhamento do problema, mas, como Foucault (1996,) explica, quando uma nova formação aparece com novas
regras nunca é de um só golpe, numa frase ou numa criação, mas em fragmentos (p.
87). Era melhor silenciar.
Era difícil, muito difícil, encarar
todos os dias os mesmos problemas, seja com os alunos[116], seja com os
professores. Ninguém na Escola Normal entendia seus propósitos. Nazareth pediu
sua exoneração do cargo de Diretor desta
Escola, em 16 de novembro de 1897. [117] Não lhe mandaram
substituto. Pediram-lhe que refletisse e se mantivesse no cargo. Ele atendeu.
Provavelmente acreditando que deveria continuar servindo à nação. Seu dever
para com o cargo, que não mais desejava manter, o fez aguardar até 4 de
fevereiro de 1898. Neste dia enviou seus derradeiros Ofícios como Diretor da
Escola Normal: um para o Diretor de Instrução Municipal, outro ao Prefeito do
Distrito Federal. Em ambos se mostra desgostoso com o rumo que o regime
recém-implantado estava tomando. De fato é até provável que tenha se sentido
traído. Renuncia ao cargo vitalício.
Diz ele:
[...] fui tomado de surpresa [...] desgostoso
ao saber que haviam sido revogadas as instruções [...] votadas pelo Conselho
Superior de Instrução e legalmente publicadas por ordem minha [...].
Sabia ele, mas não levou em conta,
que o ex- congregado Alfredo Gomes, que havia retirado da presidência da
Congregação e da direção da Escola Normal, fazia parte do Conselho, como outros
ex-congregados. Nazareth mostra-se tão surpreso quanto ficara Alfredo Gomes com
sua chegada à Escola Normal.
Fica claro que todo o problema com
que se deparara no Conselho Superior de Instrução viera de um ex-professor da
Escola Normal. Foi ele quem falou o discurso da Congregação aviltada na gestão
de Nazareth. A Congregação silenciada.
4.2.3 A sessão de um 31 de março qualquer
Em meio às Atas da Congregação de 1893-1898, encontrei um
rascunho, provavelmente feito pelo amanuense que secretariava as sessões, de
uma sessão de 31 de março, sem ano. Ao ler todo o livro de atas percebi que
nenhuma sessão fora transcrita naquela data e me perguntei a razão da não
transcrição do rascunho que encontrara.
Em um quarto do papel almaço, cortado meticulosamente de
forma perpendicular, o rascunho, escrito a lápis, contém várias lacunas e
reticências, como a parecer necessitar de uma conclusão posterior. Assim, o seu
autor enuncia repetidas vezes: o Diretor leu [...]. O prof Galvao[118]
falou [...] E deixa incompletos
pensamentos naquele momento expostos.
Ao ler o documento, contido em quinze pedaços numerados pelo
autor na frente e verso do papel muito amarelecido [119],
percebi que se tratou nesta sessão de um ato que é pouquíssimo claro, face às
lacunas existentes, do Diretor Francisco Cabrita e um grupo de professores que
haviam se constituído em uma comissão. Muitas ásperas palavras foram trocadas
entre os congregados sobre o tema não explicitado – e me pergunto se o autor,
provavelmente um amanauense, com autorização do Diretor ou da própria
Congregação, pretendia mesmo escrever esta sessão no Livro de Atas.
Este momento de embate entre os congregados não pude encontrá-lo
nas Atas da Congregação que pesquisei o que me revelou uma possibilidade de não
ter sido transcrito propositadamente. A Congregação, desde seu início, se
constituiu num locus privilegiado de discussões e iniciativas não só
sobre a formação de professores, mas também, do ensino primário que se
consolidava. Representou, durante sua existência – que abrange, nesta formação
de intelectuais e professores, o final do Império e início da República – o
pensamento governamental de construção de uma nação civilizada, agindo
como partícipe ativo desta ideologia.
Construiu sua memória através das atas das sessões, onde se
verificam tensões e embates sobre diversos assuntos ali colocados como pauta de
discussão. É possível que este embate, que provavelmente não foi o único, face a
heterogeneidade de seus integrantes, tenha sido deliberadamente não transcrito?
Não sei. Ainda que saiba que a memória é seletiva, como o foi, também, a
transcrição em ata.
4.2.4 A crença da legitimidade:
tensões e embates
A retórica foi, para os intelectuais da Congregação, a
estratégia de persuasão e de convencimento do outro. Este convencimento muitas
vezes foi necessário nas sessões de modo a fazer prevalecer argumentos, valores
ou direitos que um grupo de congregados, ou apenas um deles, acreditava serem
mais de acordo com seu perfil, caráter ou necessidade.
Ainda que Congregação fosse composta por um grupo
homogêneo em saberes e, por isso diferenciado no campo intelectual, as tensões
entre os seus membros eram constantes e, os consensos nem sempre prevaleciam.
Ao intelectual não era agradável perder uma batalha, ainda que pudesse mudar de
opinião, mas preferia, na contenda, tornar-se sempre vencedor ou deixar
desapercebida sua perda.
Nas sessões os congregados deixavam transparecer seus
valores, como Pedro Severiano em sessão já comentada. Valores que podiam ser
contestados, mas imprimiam ao congregado, como neste caso, uma certa vantagem
em relação ao seu opositor, porque enfrentou, em um mundo que se transformava
celeremente, não seu colega, mas a própria transformação da sociedade que
tirava de casa as mulheres, as instruía e encaminhava ao trabalho, fossem elas
professoras ou médicas.
Estas reuniões da Congregação permitiam, também,
perceber, pela linguagem utilizada, a cultura que cada partícipe detinha e, por
vezes usava contra os outros. Creio, pelo que pude observar, que as Atas
transmitiam apenas um pouco, ou quase nada do que era discutido ferrenhamente
pelos congregados. Foi o caso da Ata “desconsiderada” pela palavra escrita em
vermelho e atravessada pela diagonal do livro. Foi também o caso dos quinze
pedaços de um quarto de folha nunca transcrito no Livro de Atas e também não
complementado, o que me levou a questionar porque quinze e não dezesseis
pedaços de papel, como seria o lógico? Haveria outro um quarto de folha de
papel almaço desaparecido?
O consenso, na Congregação existiu muito pouco, talvez
porque era apenas aparente e, consequentemente, de pouca existência real. O
critério que possibilita a discriminação dos vários tipos de consenso consiste
na variação da deformação ideológica a que é sujeita a crença na legitimidade e
no correspondente grau de manipulação desta crença. A partir dessa premissa é
possível imaginar que também os consensos não são iguais porque as
interferências do poder são diferentes (BOBBIO, 1995). Também podemos refletir
que o que parece consenso, como o silêncio, por exemplo, é uma estratégia de
luta.
Toda tensão e os embates travados pela Congregação e
seus partícipes tinham uma razão: a perda do poder que a legitimidade conferia.
A legitimidade que o poder legal conferia, colocava os congregados como
representação do poder político que eles também, por sua vez legitimavam. No
momento em que as tensões aumentaram e o poder de comando não os considerou
parte legal deste poder, eles deixaram de ser legitimados. Neste momento,
embora não havendo embates, houve tensão. Houve silêncio. O poder que naquele
momento comandava, buscava mudanças, mantendo de pé as estruturas existentes,
propondo, a seu modo, uma diferente maneira de gestão das estruturas. A
Congregação, homogênea e indivisível, contra um contendor comum, não combateu,
ainda que pelos jornais tornasse pública sua indignação. Silenciou.
O silêncio do intelectual não é um recuo estratégico,
não é medo do contendor. É uma estratégia de esperar pelo melhor momento e
atacar, se puder, ou quando puder, como os congregados fizeram na reunião com o
Poder Público, já comentada neste estudo.
O grande embate foi combatido pelo líder carismático
Benjamin Constant, aguardando talvez reforços que só a Congregação legitimada
podia dar-lhe. Ele buscou e conquistou a legitimidade da Congregação no
respeito à Escola Normal, no seu direito inalienável de comando, nas suas
qualidades pessoais e no seu pertencimento que correspondia à tradição
institucional. A legitimidade, neste caso, é uma qualidade do poder porque é
exercida de acordo com as leis, é legal, portanto, é política. Não foi o regime
republicano quem possibilitou a (re) conquista da legitimidade perdida pela
Congregação, foi a autoridade de Benjamin Constant, foi a crença dos
congregados no novo regime que se instaurava com ele à frente.
FECHANDO AS JANELAS DA ESCOLA NORMAL
NA PRAÇA DA ACLAMAÇÃO
Quando o flâneur deduz,
ei-lo a concluir uma lei magnffica por ser para seu uso exclusivo, ei-lo a
psicologar, ei-lo a pintar os pensamentos, a fisionomia, a alma das ruas. É
então que haveis de pasmar da futilidade do mundo e da inconcebível futilidade
dos pedestres da poesia de observação [...] (João do Rio.1995, p.6)
De
pé, ante as inúmeras janelas da Escola Normal vejo o Campo da Aclamação, os
quiosques, o vai e vem de pessoas a esperar o bond, a encaminhar-se para a Estrada de Ferro Central do Brasil.
Quanta coisa mudou desde que a escola aqui chegou! Consigo ver, como se ali
verdadeiramente estivesse, usando minha memória herdada não sei bem o porquê,
dos tempos que se foram, mas como existiram, viraram história. História que se
conta um pouco através dos documentos que leio, manuseio e interpreto.
Atrás das muitas
janelas da Escola Normal, em um prédio que ficou tão diferente que sequer o
reconheço na memória que herdei, estou de pé, a olhar o que aparece no tempo,
como se o tempo voltasse ante meus olhos, à frente das janelas entreabertas da
Escola Normal.
Como começara a formação de
professores primários na Escola Normal? Eu me lembro, nem foi aqui na Praça da
Aclamação. A festa de criação da Escola Normal da Corte foi em uma das salas do
Externato de Pedro II, ali atrás na Rua Larga de São Joaquim. A Escola Normal
passou a funcionar no Largo de São Francisco, no mesmo prédio da Escola
Politécnica. D. Pedro II chamou para professores gente com muita experiência no
magistério.
Vieram do Instituto Comercial e do Colégio Pedro II. Quase todos eram escritores,
poetas, jornalistas. Homens cultos, intelectuais. Eles se reuniram na
Congregação e criaram um novo Regulamento, diferente daquele que foi publicado
quando a Escola começou, levando em conta toda a experiência de um ano de
trabalho. O diretor da Escola Normal era o professor Benjamin Constant. Era
também o presidente da Congregação. Esta experiência dos professores legitimou
a Congregação. Eles passaram a ser diferenciados no campo intelectual porque
sabiam como implementar e fazer funcionar a formação de professores primários,
porque possivelmente conheciam os problemas das Escolas Normais provinciais e
tinham acesso, como homens cultos que eram, a livros e a experiência de outros
países. Foi nesse tempo que se formou a autoimagem de civilizadores da nação
que eles e quem conhecia a Congregação, diziam que eles tinham.
Vejo os alunos do professor
Benjamin, entre tantos militares, a proclamar a República e lembro que ninguém
sabia muito bem o que estava acontecendo no Campo da Aclamação. Vai ver era
mais uma agitação da Escola Militar, dos alunos do professor Benjamin e assim
foram nascendo e crescendo tantos boatos: que gente morreu sem ter morrido e
gente foi presa estando solta. E de repente, lá estava ele, o professor, no
meio dos militares sendo aclamado. Disseram que não éramos mais monarquia, que
a República fora proclamada... Vejo assim, como um filme de fatos reais, a
correr sem que possa detê-lo ou dar mais uma espiadinha.
Dentro da Escola
Normal, posso ver os professores reunidos, preocupados com o que lhes
aconteceria. A Congregação voltaria? Era o que se perguntavam pelos corredores
desde 1888. Lembro bem deste ano! Muita aflição, muitas conversas, professores
antigos indo embora. Disseram que foi porque mudou o governo, os grupos
conservadores não estavam mais no poder e o pessoal de São Paulo foi chegando
para tomar conta de tudo. Muita coisa mudou! A Escola mudou! A Congregação
acabou... Os professores estavam abatidos, perderam seu poder político. A
República modificaria a situação da Congregação? Naquele momento não se sabia,
mas se desejava!
Ouvi, quase sem querer, há algum
tempo, em conversa sussurrada no corredor, que a República seria boa para a
Escola Normal porque o professor Benjamin deve ser o presidente da República.
Diziam, quase em surdina, que teríamos um gabinete de Física e Química melhor
do que aquele que usávamos na Escola Politécnica. Ah, tudo me vem à memória
como se acontecesse ontem...
Comentavam, lembro bem, que a
Congregação ressurgiria. Que seria como em 1881, quando os professores,
reunidos tinham poder político e mandavam na Escola e no ensino primário da
cidade toda.
Ao saber que o professor
Benjamin Constant era o Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos,
os professores ficaram contentes: primeiro o professor Benjamin Constant montou
os Gabinetes de Física e Química e mandou comprar todo o equipamento na Europa.
Contratou o preparador para cuidar dos Gabinetes e receber e catalogar o
material. Fez seguro para este prédio da Escola Normal, mobilizou vapores da
Marinha brasileira para trazer as muitas caixas de material. Depois, ele criou
antes mesmo da Reforma educacional que leva seu nome, um Regulamento novo para
a Escola Normal. Enviou para quase o mundo todo e para as principais unidades
da Federação brasileira. Tornou a Escola Normal uma instituição modelar. Neste
Regulamento ele incluiu, outra vez a Congregação, legitimando-a. Foi uma
(re)conquista da legitimidade da Congregação, porque mesmo depois de ter-se
aposentado, ele mostrou seu pertencimento à Escola Normal. O Regulamento era
bem semelhante ao que ele fizera junto com os congregados em 1881. E ele o conhecia
bem porque era o presidente da Congregação quando foi elaborado.
Quando o professor Benjamin
Constant morreu a Congregação ficou preocupada. Eles tinham estratégias para
defender a legitimidade: a retórica, o uso dos jornais onde trabalhavam para
publicar notícias, uma ampla rede de sociabilidade... Perderiam a legitimidade
(re) conquistada? Mas, nada aconteceu e eles, legitimados apesar da morte de
seu mais antigo congregado, puderam definir o perfil ideal para o professor
primário civilizador, no século XX, na cidade do Rio de Janeiro.
Escolheram os livros adequados, um
currículo e programas que valorizassem o ideal republicano de tornar civilizado
o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, que era a vitrine do país na Europa. A
Escola Normal continuava, apesar do tempo que passava, a ter na Congregação um
grupo diferenciado no campo intelectual pelo conhecimento da formação de
professores do ensino primário na cidade do Rio de Janeiro, capital do país.
Pude então ver, atrás das janelas,
de relance, a cidade que crescia e se modernizava, os
boulevares, as largas avenidas, as ruas se entrecortando longe do cais
do porto, onde a cidade começara. Consegui ver, passeando no Campo da
Aclamação, entre as cascatas e caminhos sinuosos de Mestre Glaziou[120]
a mulher, do início do século, profissionalizada professora, como representante
em serviço, e ganhando proventos, de uma mãe ampliada fora do recato do lar. Vi
mulheres andando sozinhas, sem o habitual séquito que mais vigiava do que fazia
companhia, com roupas compridas e quentes que lembravam gravuras dos postais do
quiosque da esquina. Parecia Paris de tanta coisa chic, provavelmente compradas na Rua do Ouvidor!
A
Rua do Ouvidor, a tenho em minha lembrança, com suas lojas luxuosas, cheias de
mulheres a comprar fazendas, botões, luvas, livros, e a falar francês, ao lado
do ambulante que vendia coisas diversas, e nem tão bonitas, às outras mulheres
que por ali também passavam, escondido da polícia que não permitia ambulantes
numa cidade civilizada.
Passei os olhos pelos prédios
públicos, iluminados, bonitos, que faziam a rua tornar-se mais acolhedora com
suas formas majestosas de ser do Governo. Tudo iluminado, realçando as formas
austeras e belas, com sacadas à frente das janelas!
No Largo de São
Francisco, se fechar os olhos, posso ainda ver os tílburis com seus cocheiros que
aguardavam os que podiam pagar para levar a Botafogo ou ao Cosme Velho, como o
Dr. Machado de Assis, porque como se comenta, todos os dias ele sai para
encontrar os amigos e “jogar conversa fora”, como se diz, lá na Garnier. Vejo
ao longe, vindos talvez dos jornais em que escrevem, os professores da Escola
Normal. Com quem estarão falando sobre o último “caso” ocorrido na Escola
Normal, ou no Rio de Janeiro?
Na Praça, em frente a mim, vejo a
andar depressa uns rapazes que sem serem jornalistas, me olham, como se a
perguntar se havia visto algo que lhes rendesse a celebridade repentina de uma
manchete no dia seguinte, como se a Escola Normal fizesse parte desta
intrincada rede de informações dos jornais do Rio de Janeiro!
E a grande Avenida, de que todos falam ainda
hoje! Avenida Central... Cada prédio lindo: o prédio de O Paiz é majestoso! O Theatro Municipal? Nem acredito que não estou
em Paris!
Olho atrás das janelas e quase não
vejo nada. Desço as escadas de madeira e escuto o ranger do assoalho e as
cortinas feitas pelo Asilo dos Meninos Desvalidos, do Boulevard 28 de Setembro,
a balançar com a suave brisa da noite.
Vou esperar para ver a Escola
mudar, tudo agora é tão apertado aqui! Vou esperar para ver a cidade crescer,
iluminar-se com as novas invenções elétricas, encher-se de prédios bonitos, de
gente, de poetas...
E os professores, vejo os que dão
aulas no Curso Noturno, todos tão circunspectos a mostrar sua cultura nas
sessões da Congregação que o Diretor convoca, ao dirigirem-se às alunas que, em
bando, falam um pouco alto demais para a juventude que ostentam, respeitosamente lançar ao ar, boa noite. Lá
vão eles, provavelmente para alguma associação da qual fazem parte.
Esperar para ver... Enquanto isso deixe- me fechar as outras janelas
e pensar em tudo que aconteceu aqui. É noite e até o Curso Noturno já se foi.
Algumas coisas, porém, ficam na minha cabeça sem deixar que eu me afaste das
janelas agora fechadas. Tantas coisas para saber desta Escola!
Pergunto-me, ao adentrar à sala do
Sr. Diretor para fechar as janelas, se nos anos vindouros, com tantos
documentos, se poderá conhecer tudo da Escola Normal? Não sei. A escolha dos
documentos e do que conhecer depende do pesquisador, de sua interpretação, foi
isso que ouvi do professor de História outro dia.
Ah, mas se eu escolhesse, se
pudesse escolher, escreveria sobre a nossa ex-aluna e agora professora de
Pedagogia, D. Esther Pedreira de Mello para estudar. Mulher combativa, baiana,
a primeira Inspetora Escolar que o Distrito Federal teve. Será ela a primeira
diretora mulher da Escola Normal? Penso
no que diria sobre ela, como contaria essa experiência de ser mulher pioneira
no início do século XX, mas, isso não é mais história, é futuro.
REFERÊNCIAS
ABRANCHES, Dunshee. Governos e congressos da República dos Estados Unidos do Brasil - 1889
a 1917. São Paulo : M. Abranches
vol.I, 1918
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Biografias de Afrânio Peixoto e
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___________________.Relatório
do Ministro e Secretário dos Negócios do Império, 1881 Anexo D. Sucessos mais notáveis do ano letivo de
1880 e das condições o ensino na Escola Normal do município da Corte,
organizado na conformidade do art.58, n 4 do Regulamento anexo ao Decreto 7.684
de 6 de março de 1880, pelo professor Carlos Maximiano Pimenta de Laet e
apresentado à Congregação da mesma escola na sessão de 7 de fevereiro de 1881.
____________________.
Relatório do Ministro e Secretário dos Negócios do Império 1882. Anexo C Relatório dos Sucessos mais notáveis no ano
letivo de 1881 na Escola Normal da Corte apresentado à Congregação em 29 de
maio de 1882
____________________.
Relatório do Ministro e Secretário dos Negócios do Império 1883. Anexo
C Relatório dos Sucessos mais notáveis no ano letivo de 1882 na Escola Normal
da Corte apresentado à Congregação em
14 de maio de 1883
_____________________.
Relatório do Ministro e Secretário dos Negócios do Império 1885 Anexo C Relatório dos Sucessos mais
notáveis no ano letivo de 1884-85 na Escola Normal da Corte apresentado
à Congregação em maio de 1885
______________________.
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CENTRO
DE MEMÓRIA INSTITUCIONAL. (CEMI). Escola Normal - 3ªs vias de notas fiscais
(1886-1890). Nota fiscal da Nicolau Alves & Co Rua Gonçalves Dias, 46-48 em
30/04/1886, Rua do Ourives, 7 em 30 de outubro de 1886, 1886 manuscrito
______________Escola
Normal - 3ªs vias de notas fiscais
1886-1890. Nota fiscal da
Livraria Lombaerts & Cª , Rua do Ourives, 7 em 30 de outubro de 1886
manuscrito
______________Ata
de Criação da Escola Normal, 1880. manuscrito
_____________ Escola Normal. Atas da Congregação 1893 a 1898. manuscrito
_________________Regulamento anexo ao
Decreto 8.025 de 16/03/1881
______________Livro
de Pontos. 1880 a 1894. manuscrito
______________Escola
Normal da Corte.Livro da Porta. 1880. manuscrito
____________ Escola Normal da Corte. Atos –– 1883 a 1889. Manuscrito
______________Regulamento anexo ao Decreto 407 de
17 de maio de 1890
______________Correspondências
(1890-1891). Ofício de 4 de abril de 1891. manuscrito
_____________ Correspondências (1890-1891). Ofício de 22 de
abril de 1891. manuscrito
______________Correspondências
(1890-1891). Ofício nº 102 de 23 de abril de 1891. manuscrito
_____________ Livro de Designações (1880-1889). manuscrito
______________Escola Normal.
Correspondências – 1890 a
1891. Manuscrito
_____________Escola Normal. Registro
dos pedidos feitos pelos gabinetes de Química e Física.1890-1891.
Manuscrito
_____________ Correspondências (1890-1891) .Carta de 11 de
julho de 1890 (do Consulado Geral dos Estados Unidos do Brazil, em
Montevidéo); Ofício nº 1285 de 27 de
abril de 1891;
Ofício
de 25 de junho de 1890 (do Palácio do Governo do Estado do Maranhão); Ofício
135 de 23 de junho de 1890 (do Estado Federado do Sergipe, Palácio do Governo,
em Aracaju); Ofício 2929 de 20 de junho de 1890 (do Estado do Ceará, Casa do
Governo); Ofício de 19 de junho de 1890 (do Palácio do Governo do Estado de
Alagoas); Ofício de 18 de junho de 1890 (do Estado Federal de Santa Catarina,
Palácio do Governo); Carta de 18 de agosto de 1890 (do Consulado Geral do
Brazil, em Buenos Aires); Ofício720 de 22 de agosto de 1890 (da Secretaria de
Governo do Estado do Piauhy); Carta de 28 de agosto de 1890 (do Consulado Geral
do Brazil, em Paris); Carta de 29 de agosto de 1890 (do Consulado Geral dos
Estados Unidos do Brazil, em Antuérpia); Ofício 133 de 30 de agosto de 1890 (do
Consulado Geral do Brazil na Itália, Genova); Carta de 9 de setembro de 1890
(do Consulado Geral do Brazil, em Genebra); Carta de 1 de outubro de 1890 (do
Consulado Geral do Brazil no Chile, Valparaíso); Carta de 14 de fevereiro de
1891 (do Consulado Geral do Brazil nos Estados Unidos, New York); Ofício 102 de
22 de abril de 1891 ( da Diretoria do Pedagogium). Manuscritos
_____________Escola Normal. Registro
de Aquisições da Biblioteca. 1893
a 1897.Manuscrito
______________Programmas de Ensino para o anno lectivo de
1894. Rio de Janeiro:Typographia de Soares & Niemeyer, Rua da Alfândega,
6. 1894
______________Escola Normal. Correspondência Oficial – 1894.
Manuscrito
______________ Ofícios Expedidos 1897-1898. Ofício 55
de 25 de maio de 1897 c/anexo do Ofício s/nº de 20 de maio de 1897, assinado
pelo professor Fritzglatthaldt. manuscrito
______________ Ofícios
Expedidos 1897- 1898 Ofícios 90 e 91 deb8 de julho de 1897. Manuscrito
______________
Ofícios Expedidos 1897-1898. Ofício
nº 119 de junho de 1897. manuscrito
______________Escola Normal. Designação
e Regulamentos – 1897 a
1901. Manuscrito
_____________
Ofício nº 84 de 30 de junho de 1899
ao Diretor da Escola Normal (Correspondências). manuscrito
___________
Livro
de Designações (1900-1910).manuscrito
___________
Livro
de Exames Práticos (1901 – 1908). manuscrito
_____________Programmas
de Ensino para o anno lectivo de 1902. Typographia do Instituto Nacional.
Boulevard 28 de setembro, 33.
____________
Programmas
de Ensino para o anno lectivo de 1904
____________
Programmas
de Ensino para o anno lectivo de 1905
____________ Programmas de Ensino para o anno letivo de
1908.Typographia Carvallaes, Rua do
Ouvidor 113
____________
Programmas de Ensino para o anno lectivo
de 1909(com anotações de Corregio de Castro sobre alguns itens modificados no
Regulamento desde 1890)
___________ Escola Normal. Actas da Congregação 1912 – 1914. Sessão da Congregação de 5 de
setembro de 1912
.
_____________Regulamento..
Prefeitura do Districto Federal. Escola Normal. Rio de Janeiro: Papelaria
Mendes, 1912
___________ Escritura
de venda do terreno à Rua Mariz e Barros 273, Freguesia do Engenho Velho,
1927
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Planta Arquitetônica da Escola
Normal, 1928
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Atos do Diretor. Ato de 10 de fevereiro de 1947. Cria a Congregação.
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República Brazileira, 21 de novembro
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Jornal do Commercio, 16 de novembro de 1889
Correio do Povo
Sítio Mosaico dos Amorim. O tronco Capixaba.
Disponível em
[1]
Durante o Governo Provisório republicano foi designada como Escola Normal da
Capital Federal. Em 1892 passa a ser chamada Escola Normal do Distrito Federal.
[2]
Criado por mim, no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), em
9 de dezembro de 2005, para reunir, catalogar e difundir a memória
institucional e aberto aos pesquisadores em fevereiro de 2006.
[3]
Estou considerando como papéis de memória aqueles documentos textuais,
manuscritos ou não, pertencentes aos acervos dos lugares de memória,
representados nesta pesquisa pelo Arquivo Nacional e Biblioteca Nacional
brasileiros, pelo Centro de Memória Institucional (CEMI), pela Biblioteca do
Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ) e pela Biblioteca da Câmara Federal. Uso a
perspectiva de Nora (1993), de unidades
significativas, que o tempo, os homens, ou a instituição, elegeram, como de
elemento simbólico, para guarda do patrimônio da sua memória. (p.31)
[4]
General de Brigada, Ministro e Secretario do Estado dos Negocios da Instrucção
Publica, Correios e Telegraphos. (grafia de época)
[5]
Chefe do Governo Provisorio da Republica dos Estados Unidos do Brazil.
[6] Paulo Barreto, ou João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos
Coelho Barreto foi um jornalista,
cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro.
[7] O
verbo flanar é explicado pelo próprio autor da expressão: Flanar! ai está um
verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua
! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e
comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem [...] JOÃO DO RIO
(1995, p.5)
[8]
Personagem de Machado de Assis (1839-1908) em duas obras: Esaú e Jacó (1904) e Memorial
de Aires (1908).
[9] O
Passeio Público é uma praça localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Foi construído junto ao mar no século XVIII, a mando do vice-rei D. Luiz de
Vasconcelos e Sousa (Visconde de Figueiró), que encarregou do projeto o
arquiteto e construtor Valentim da Fonseca e Silva (Mestre Valentim). Foi a
primeira praça pública da cidade. Desde o final do século XVIII até o início do
XX, o local foi um ponto de encontro da população carioca. Hoje, devido a
sucessivos aterros, o Passeio Público fica distante do mar.
[10] O largo da Carioca é uma praça localizada no
centro da cidade do Rio de Janeiro. Sua história está ligada à história do
convento de Santo Antônio. Em 1723 foi inaugurado no local o primeiro chafariz
da cidade, o chafariz da Carioca, substituído por outro, em 1750, ambos
abastecidos pelo aqueduto que vinha do morro de Santa Teresa. O chafariz deu o
nome ao largo. No século XX, foi arrasada boa parte do morro de Santo Antônio
(para que fosse feito o Aterro do Flamengo), mas preservou-se a parte onde
estavam localizados o Convento e a Igreja.
[11] A
rua do Ouvidor, principal rua comercial do Rio de Janeiro no século XIX (e em
boa parte do século XX), ia do mar ao largo de São Francisco. Nela ficavam as
lojas elegantes da época, como charutarias, sapatarias, joalherias, lojas de
roupas etc., assim como a sede do Jornal do Commercio, da Gazeta de
Notícias e de outros periódicos. Nela situava-se também a livraria Garnier,
casa editora de grande parte da obra de Machado de Assis e ponto de encontro da
intelectualidade nas últimas décadas do século XIX.
[12] Tílburi é um carro de duas rodas
e dois assentos (tilbureiro e passageiro), sem boleia, com capota, e puxado por
um só animal. Foi inventado
por Gregor Tilbury, na Inglaterra, em 1818,
e trazido ao Rio de Janeiro como transporte coletivo, através da França, em 1830.
[13] Atual
Praça da República. Foi um depósito de lixo e esgoto colonial, sobre o terreno
alagadiço aterrado pelo Conde de Resende, Vice-Rei do Brasil. No início do
século XVIII, ainda era um campo de cajueiros e ficava fora da cidade, que
terminava na Rua da Vala, hoje Uruguaiana, nesta época chamava-se Campo de São
Domingos. Mais tarde passou a chamar-se Campo de Santana. A partir de 1822, por
ordem de D. Pedro I, passou a ser o Campo da Aclamação, devido ao fato
histórico da Aclamação do Primeiro Imperador do Brasil, ocorrida em 12 de
outubro de 1822. Em 1831, possuía três nomes: era para uns o Campo de Honra;
para outros o Campo da Regeneração e ainda o Campo da Liberdade. Em 1889, com a Proclamação da República,
passou a ser finalmente a Praça da República. No século XIX, a praça separava a "Cidade Nova" da
"Cidade Velha". Em 1873, foi reurbanizada, sendo demolido um antigo
chafariz de 1818 e as casas humildes de trabalhadores. Em 1870, existia na
praça um grande picadeiro, onde os candidatos a cocheiro de tílburis aprendiam
o ofício e prestavam exames. Na época da Proclamação da República, nela morava
próximo ao próprio público da Casa da Moeda, o Marechal Deodoro da Fonseca,
numa casa ainda hoje preservada pelo Exército. (Cardeman e Cardeman, 2004 e
Cavalcante, 2004)
[14]
Em 1927 o Prefeito Pereira Passos comprou um terreno na Praça da Bandeira para
ali erguer a Escola Normal do Distrito Federal (Escritura de venda do terreno à
Rua Mariz e Barros, 273, Freguesia do Engenho Velho, 1927; Planta arquitetônica
da Eschola Normal, 1928)
[15] Segundo pude observar em fotos no acervo AGCRJ; Fundo/coleção: Prefeitura do Distrito Federal/RJ; Coleção fotográfica
(1903-1958) Autor: Augusto Malta
[16]
Personagem de Lima Barreto (1881-1922) na obra Recordações de Isaías Caminha (1908)
[17] A
Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II foi inaugurada em 29 de março de 1858,
com trecho inicial de 47,21 km, da Estação da Corte (Praça da Aclamação) a
Queimados, no Rio de Janeiro. Esta ferrovia se constituiu em uma das mais
importantes obras da engenharia ferroviária do país, na ultrapassagem dos 412
metros de altura da Serra do Mar, com a realização de colossais cortes, aterros
e perfurações de túneis, entre os quais, o Túnel Grande com 2.236 m de
extensão, na época, o maior do Brasil, aberto em 1864. A Estrada de Ferro D. Pedro II, através do trabalho dinâmico de seus
operários e técnicos, transformou-se, mais tarde (1889) na Estrada de Ferro
Central do Brasil, um dos principais eixos de desenvolvimento do país.
[18]
Expressões de João do Rio (1881-1921) em A
Alma Encantadora das Ruas (1995)
[20] O documento não é datado.
[21]
Em 1874, a Escola Central transferiu-se do Ministério do Exército para o
Ministério do Império, com o nome de Escola Politécnica atendendo apenas alunos
civis. Além de bacharéis em ciências e engenheiros civis, que já se formaram
pela Escola Central, foram criadas novas especialidades de engenharia. Até
meados do século XX, seus programas de ensino eram considerados padrões para
todas as escolas de engenharia do País.
[22] FONSECA,
2010
[23]
De acordo com o Ofício 84, de 30 de junho de 1899, ao Diretor da Escola Normal,
oriundo da Secretaria da Instrução Pública.
[24] Ofício 119 de 27 de setembro de 1899, onde o
Diretor da Escola Normal pede informações ao Dr. Fausto de Aguiar Cardoso sobre matéria publicada no Jornal do
Commercio hoje para responder ofício do Diretor Geral da Instrução Pública;
Ofício 122 da mesma data, professor diz não
ter feito alusão ao programma, apenas modificou methodo do seu antecessor.
[25]
Ofício 119, de junho de 1897(Livro de Ofícios
Expedidos 1897-1898)
[26]
Auguste Marie François Glaziou, era botânico e arquiteto e também paisagista
francês.Projetou e remodelou o Campo de Santana, transformando-o numa miniatura
do Bois de Boulogne entre 1873 e 1880. O campo ganhou grutas, cascatas e
caminhos sinuosos: um jardim europeu “natural” no meio de uma cidade tropical.
(Needell, 1993, p.53)
[27]
Informação do Almanack Laèmmert, 1889
p. 669
[28] Decreto
que deu novo regulamento à Escola Normal não só acabando com a Congregação mas
proibindo o segundo emprego dos professores que deveriam dedicar-se, em tempo
integral, às atividades educativas.
[29]Jornal República Brazileira, 21 de
novembro de 1889.
[30] Res publica é a expressão latina para
coisa do povo ; república é a forma simplificada desta expressão.
[31]
Os jacobinos recebem esta designação numa alusão à Revolução Francesa, em sua
Terceira República.
[32]
São assim designados os que assinaram o Manifesto Republicano de 1870.
[33]
Jornal Novidades- RJ, de 15 de
novembro de 1889.
[34] Segundo o autor são 20 jornais no norte e 54 no sul do
país. Também havia 237 clubes republicanos dos quais 204 eram em São Paulo, Rio
de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Muitos jornalistas e escritores
se reuniam, no Rio de Janeiro, na confeitaria Pascoal, na Rua do Ouvidor. Entre
estes: Olavo Bilac, Emílio de Menezes, Coelho Neto, José do Patrocínio, etc.
[35] O
itaocarense Patápio Silva, flautista, nasceu em 22 de outubro de 1880, filho
legítimo de Bruno José da Silva e de Amélia Amália Medina da Silva. O flautista
e compositor causava admiração e assombro aos seus contemporâneos, sendo um dos
primeiros artistas brasileiros a gravar discos. A obra de Patápio requer
tratamento especial, tanto por sua singular beleza quanto por suas dificuldades
de execução. Entre suas composições estão gravadas e editadas pela antiga Casa
Edison do Rio de Janeiro várias músicas, podendo ser citadas: Evocação,
Margarida, Primeiro Amor, Oriental, Sonho, Idílio, Zinha, Amor Perdido. Gravou
ainda para a mesma Casa Edison, Alvorada das Rosas, de Júlio Reis; Só para Moer,
de Viriato Silva; Allegro, de Adolf Terschak, Serenata de Braga, de Gaetano
Braga e Serenata Oriental, de Ernesto Köhler. Patápio Silva faleceu,
prematuramente, aos 26 anos, em Florianópolis, com funerais custeados pelo
Governo do Estado. De lá, os seus restos mortais foram traslados para o Rio de
Janeiro, sendo sepultado no cemitério de São Francisco Xavier.
[36]
Foi obedecida a grafia original. O poema, em um espaço denominado Galeria, não
é assinado.
[37]Destaque-se que uma das primeiras experiências de formação docente na
Europa ficou sob a responsabilidade de Charles Démia (1636-1689), um abade
francês que, em 1678, fundou uma Escola Normal, em Lyon, na França, fechada em
1689, após a sua morte. Ainda na França, em 1688, na cidade de Paris,
encontramos a iniciativa do francês Jean Baptiste de La Salle (1651-1719),
fundador da Congregação dos Lassalistas. La Salle estabeleceu, uma escola de
formação de professores. A origem do processo de escolarização, segundo Norbert
Elias (1994b), está relacionada às mudanças ocorridas a partir do século XVI,
quando se configura uma nova sensibilidade que afeta as formas de relação. Seja
na maneira de comer, de vestir, de falar, de atuar e pensar, a classe dominante
procura impor-se no trato com os demais, por meio de maneiras que identificam a
nobreza e os critérios sociais de distinção. No Brasil as Escolas Normais são
criadas a partir do modelo francês, uma vez que eram destinadas às elites
apreciadoras das bases culturais da formação européia. (VASCONCELOS, 2004,
p.67) Para a autora as Escolas Normais configuram-se em seu formato original, a
partir da Revolução Francesa, quando se difunde a idéia de uma Escola Normal a
cargo do Estado, destinada a formar professores leigos. Mas as condições para
sua concretização localizam-se no século XIX, quando se consolidam os Estados
Nacionais e surge a necessidade da implantação de sistemas públicos de ensino
e, conseqüentemente, das Escolas Normais que preparem seus professores.
24 Para o
Império brasileiro os gastos com o conflito (guerra do Paraguai), agravaram a
situação financeira, pois foram necessários novos empréstimos com a Inglaterra.
[38]
Comenta Silveira (1954, p.8) que a informação foi extraída do livro Ensino Popular no Distrito Federal, de
1936, de autoria de Otacílio Augusto da Silva, que lhe foi emprestado por Alair
Acioli Antunes.
[39] Tipo
de embarcação utilizada para transporte de pessoas e mercadorias entre longas
distâncias que utilizava um motor de propulsão a vapor que impulsionava hélices
laterais e assim se movia.
[40]
Expressão cunhada por Angela de Castro Gomes em A Escola Republicana: entre luzes e sombras (2002)
[41] O
Colégio nasceu da reorganização do antigo Seminário de São Joaquim, conforme
projeto apresentado à Regência de Araujo Lima (1837-1840) pelo então Ministro
Bernardo Pereira de Vasconcellos. Inaugurado em 1837, na data de aniversário do
imperador (2 de dezembro) foi denominado Imperial Colégio de Pedro II.(GONDRA e
SCHUELER, 2008, p.127)
[42]
Desta maneira eram designados os prédios públicos próprios, não alugados ou
cedidos, do Governo, seja Provincial, Federal ou Municipal (do Município
Neutro).
[43] Relatório
do Ministério dos Negócios do Império, 1888
[44] O
governo republicano, de modo a apagar da memória o regime monárquico, deu nova
denominação à algumas instituições, como a Escola Normal da Corte, que passou a
chamar-se Escola Normal da Capital Federal (até 1892); ao Colégio Pedro II, que
passou a chamar-se Ginásio Nacional; à Estrada de Ferro D. Pedro II, que passou
a chamar-se Estrada de Ferro Central do Brasil.
[45] A
Escola Normal foi designada de duas formas diferentes no período de 1880 a 1932,
quando foi extinta e criado o Instituto de Educação. Como Escola Normal da
Corte, de sua criação até o advento do regime republicano, vinculada ao
Ministério dos Negócios do Interior e, na República, como Escola Normal da
Capital Federal, inicialmente vinculada ao Ministério da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos e, após a extinção do Ministério, à Prefeitura do
Distrito Federal, quando passa a denominar-se Escola Normal do Distrito Federal
(1892).
[46]
Documentos manuscritos do acervo do Centro de Memória Institucional (CEMI) do
Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro.
[47] O
Regulamento era, sempre, o anexo de um Decreto. Ele normatizava as áreas administrativas
e pedagógicas da Escola assim como deliberava, disciplinarmente sobre os
segmentos participativos institucionais.
[48]
Relatório dos Sucessos mais Notáveis do ano de 1880.
[49] Para o estudo das disciplinas escolares ver BITTENCOURT, C. M. F.
Disciplinas escolares: história e pesquisa. In OLIVEIRA, M. A. T. de; RANZI, S.
M. F. (Orgs.). História das disciplinas
escolares no Brasil: contribuições para o debate. Bragança Paulista: EDUSF,
2003 e PESSANHA, Eurize Caldas; DANIEL,
Maria Emília Borges e MENEGAZZO, Maria Adélia. Da história das disciplinas
escolares à história da cultura escolar: uma trajetória de pesquisa. Revista Brasileira de Educação, Set /Out
/Nov /Dez Nº 27, 2004. p.57-70
[50][...]
O mestre
é homem de bons costumes e cumpridor de seus deveres [...] Relatório
apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro na 1ª sessão
da vigésima segunda legislatura no dia 8 de setembro de 1878 pelo presidente,
Visconde de Prados. Rio de Janeiro, Typ. Da Reforma, 1878.
[51]Relatório
dos Sucessos mais Notáveis da Escola Normal, em 1882
[52]
[...] elegeu a Congregação duas comissões: uma para visitar as escolas públicas
subvencionadas e outra para propor livros que devam ser usados nas ditas escolas
[...] Relatório dos Sucessos Mais Notáveis, 1883
[53] (BLAKE, 1895, Tomo V, p.24)
[54] BLAKE, 1895, Tomo VI, p.357
[55] BLAKE, 1895, Tomo II p.314
[56] BLAKE, 1895, Tomo III, p.196
[57] BLAKE, 1895, Tomo I,p.351
[58] BLAKE,1895, Tomo II, p.320
[59] BRAGANÇA, 2001
[60]
Provavelmente alguns destes modelos de gesso compuseram a sala de Sociologia na
Escola de Professores, em 1932, conforme consta de fotografia exposta no livro
de Venâncio Filho sobre os cinquenta anos do Instituto de Educação porque hoje são apenas 34. Constam do acervo iconográfico
do CEMI.
[61]
Pertenceu à Congregação da Escola Normal no Império e na República. Foi
professor do Instituto de Educação, em 1932. Em 1935 foi o primeiro reitor da
Universidade do Distrito Federal (UDF).
[62]Pertenceu
à Congregação imperial. Faleceu em 3 abril 1882, no Rio de Janeiro. (BLAKE,
1895,Tomo I, p.351)
[63]
Pertenceu à Congregação imperial. Foi aposentado ao instaurar-se a República.
[64]
Pertenceu à Congregação republicana.(Nasceu na Bahia em 21 de fevereiro de1880
e faleceu em 4 março de 1923) SILVEIRA, 1954, p.88
[65]
Pertenceu à Congregação republicana. Foi o único Diretor vitalício da Escola
Normal (entre 1897 e 1898).
[66]
Pertenceu às Congregações imperial e republicana.
[67]
Pertenceu às Congregações imperial e republicana.
[68]
Pertenceu às Congregações imperial e republicana.
[69] A galeria dos congregados foi feita por mim
apenas para dar um rosto aos partícipes da Congregação, sem preocupação de a
qual Congregação pertenceram estes professores, se imperial ou republicana,
porque a composição da Congregação podia variar de acordo com o momento por que
passava a Congregação.
[71]
Não encontrei em nenhum dicionário da língua portuguesa a palavra tal como
grafada, preferindo mantê-la como o autor a escreveu. Acredito, no entanto, que
seja inocência a palavra.
[72]
Domingo, 25 de setembro de 1910. Telegrammas - Tentativa de homicídio seguida
de suicidio - Rio, 24 - Estudante Pedro Severino de Magalhães, de 18 annos de
edade, filho do lente da Faculdade de
Medicina, dr. Pedro de Magalhães, tendo sido hoje preso de um forte accesso de
loucura tentou assassinar o engenheiro allemão Zohmir. Em seguida suicidou-se. Diário de Pernambuco, 25 de setembro de
1910.
[73] Título
do manifesto de Émile Zola no jornal, usado como instrumento de defesa de
Alfred Dreyfus.
[74]
Para Manheim, o intelectual media os conflitos com o poder político já que é o
representante da ciência que conhece a ideologia e o meio social; Gramsci vê o
intelectual como dirigente e organizador da cultura, estabelecendo as
categorias de intelectual orgânico e tradicional; Bourdieu acredita que o poder
simbólico transforma o capital econômico em capital cultural de modo que
posições tomadas em nome da ciência são determinadas por interesses de classe;
Bobbio diferencia os intelectuais entre ideólogos e espertos e enfatiza que o
intelectual não faz coisas, mas reflete sobre elas, que não maneja objetos, mas
símbolos e cujo instrumento de trabalho não são máquinas, mas ideias.
[75]
Anuário Estatístico do Brasil., 1996
[76]
Atas da Congregação
[77]
Por morte do congregado Boaventura Plácido Lameira de Andrade.
[78]
BLAKE (1895, p.188)
[79] SILVEIRA,
1954, P.64-66
[80]
BLAKE, 1895, Tomo I, p.164
[81] A
Congregação escolheu, em sessão de 2 de abril de 1884, por eleição, o professor
de Pedagogia para tomar parte nas Conferências Pedagógicas, como representante
da Escola Normal da Corte. As Conferências Pedagógicas foram instituídas pelo
Artigo 76 do Decreto 1331 A de 17 de fevereiro de 1854 para serem realizadas
duas vezes por ano, nas férias da Páscoa e de dezembro. (Decreto nº 1331 A de 17/02/1854)
[82]
BLAKE, 1895, Tomo III, p.503
[83]MORAES,
Daniele. Dia do Professor: a história da
comemoração.
[84]
Assinaram a Acta de Criação: Álvaro Joaquim de Oliveira, Antonio Pompeu de A.
Cavalcante, José Rodrigues de Azevedo (ilegível), Dr. Arnon Ferreira das Neves Armando, Henrique Valentim (ilegível),
Arthur Otto Higgins, Bacharel João José Dias (ilegível),
Maria do Carmo de Paula Menezes, Ida Angélica Dunham, Alcina da Motta e Silva,
Seraphina Augusta Gonzaga, Maria Carolina Alves de Azevedo, Rosa Paula de
Viterbo Pereira, Honorina Gabriella Pereira, Sebastião (ilegível), José Antonio
Gomes, Raul d`Ávila Pompéia,
Aristides Leonardo Pereira dos Santos, Maria Christina Anderett Corrêa, Maria
do Carmo (ilegível) B. de Castro, Antonio Borges de Castro, Thereza Barreto
Montebello, Antonio (ilegível), Álvaro Soares d´Andrea, Francisco Ignácio
Ferreira, Manoel (ilegível) de Araújo Silva. Em negrito o nome dos professores
da Escola Normal e do jornalista (Raul d`Ávila Pompéia) que assinam a ata.
[85][...]
e consentiu que o bacharel Benjamin Constant Botelho de Magalhães orasse [...]
a Gazeta de Notícias [...] publicou
um resumo do dito discurso, impregnado de positivismo [...] (SILVEIRA, 1954,
p.10)
[86] O
Decreto foi assinado por Manuel Deodoro da Fonseca, chefe do Governo
Provisório, Ruy Barbosa, Quintino Bocaiúva, Benjamin Constant, Wandenkolk
Corrêia e S. Lobo.
[87]
Ainda que não exista na frase boa concordância, ela foi escrita como deixada no
Diário da autora.
[88]
apud Teixeira Mendes, 1937
[90]
No Regulamento da Escola Normal de 1919 ainda aparecem resquícios do Regulamento
de Benjamin Constant (1890)
[91]
Conforme documentos dos acervos Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira sob a
guarda do CPDOC/FGV.
[92]
Livro de Correspondências da Escola Normal da Corte (manuscrito)
[93]Benjamin
Constant assina, seja como professor, seja como Ministro, nos documentos
internos da escola e nas correspondências que envia para a escola, apenas desta
forma, como grafado. Nunca usou seu nome completo nestes documentos que pude
encontrar, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o que indica que assinava
como era, provavelmente, mais conhecido.
[94]
Declaro solennemente que assumo o compromisso de
honrar, de envidar todas as forças ao meu alcance para fielmente cumprir os
deveres do cargo de que serei empossado e de cooperar efficazmente para o engrandecimento
moral e material da Republica dos Estados Unidos do Brasil. Capital Federal,
em de maio de 1890. (Transcrição dos
dizeres da figura acima, obedecida a grafia e o conteúdo originais do
documento)
[95]
LIMA BARRETO, apud O Globo, 2010
[96]
Livro de inventário/doações da Biblioteca 1893
[97]
De acordo com os programas da disciplina de Música (1894), o conteúdo a ser
ministrado era: Theoria Elementar; Leitura Desenvolvida nos Compassos Simples e
Compostos; Solfejo nas Claves de Sol (2ª linha), F (4ª linha) e Dó (1ª linha);
Cantos Patrióticos em coro e uníssono; Exercícios Variados no quadro preto
pautado. (p.10)
[98] A
formação de professoras primárias na Escola Normal da Corte (1880-1885), 2008
[99]
O CEMI possui, no acervo iconográfico, material da disciplina Trabalhos de
Agulha da aluna Darcy Motta, datado de 1939, período em que ela estudou no
Instituto de Educação. É uma camisa de pagão para bebê bordada a mão e outro
trabalho com linha, parecendo macramê.
[100]
Rodrigues (1976, p.371) estima que as greves que ocorreram no Brasil de 1900 a
1910, tiveram os seguintes motivos: defesa (34), solidariedade (33), horário
(11), salário (44), diversos (16).
[101] O Rio de Janeiro se transformou num
verdadeiro laboratório de iniciativas educacionais devido a sua importância
política e econômica.
[102]
Na linguagem comum,
o termo legitimidade possui dois significados: um genérico e um específico. No seu significado genérico, legitimidade
tem, aproximadamente, o sentido de justiça ou de racionalidade (fala-se na legitimidade
de uma decisão, de uma atitude, etc.). É na linguagem política que aparece o significado específico.
Nesse contexto, o Estado é o ente a que mais se refere o conceito de legitimidade.
O que nos interessa, aqui, é a preocupação com o significado específico, o
significado político do termo, segundo Bobbio Num primeiro
enfoque aproximado, podemos definir legitimidade
como sendo um atributo do Estado, que
consiste na presença, em uma parcela significativa da população, de um grau de
consenso capaz de assegurar a obediência sem a necessidade de recorrer ao uso
da força, a não ser em casos esporádicos. É por essa razão que todo
poder busca alcançar consenso, de maneira que seja reconhecido como legítimo, transformando a obediência em adesão. A crença
na legitimidade é, pois, o elemento integrador na relação de poder que se verifica
no âmbito do Estado.
(BOBBIO, 1998,p. 674).
[103]
BLAKE, 1895, Tomo VI, p.176
[104]
Relatório dos Sucessos Mais Notáveis
[105]
O Decreto 407 de 17 de maio de 1890 cria o estabelecimento e apresenta seu
Regulamento; o Decreto 3.810 de 19 de março de 1932, extingue a Escola Normal do
Distrito Federal e cria o Instituto de Educação.
[106]
Estamos chamando de autoimagem o que a Congregação pensava sobre si mesma, no
sentido de ELIAS (1994b): [...] não é inteiramente sem importância para a
discussão [...] que, no campo da sociedade, ocorram disputas [...] que se
legitimam através de profissões de fé sociais baseadas em valorações diametralmente
opostas do indivíduo e da sociedade. [...] O que um dos lados diz que deve ser
é pensado e falado como algo que é [..]
[107] BLAKE,1895, p. 164
[108] BLAKE, 1895, p. 351
[109] BLAKE,1895, p. 74
[110] Coleção das Leis do Império. Lei 3314 de
16/10/1886.
[111]
Art.21 parágrafo 1o do
Regulamento de 1888.
[112]
Relatório do Ministro dos Negócios do Império apresentado em maio de 1889.
[113]
Luis Antonio Verney escreveu, em 1746, a obra Verdadeiro método de estudar (Cartas sobre retórica
e poética). O uso desta
alcunha parece indicar ao seu contendor que também ele, Balduíno, era
intelectual e sabia fazer uso da retórica.
[114]
Diretor vitalício da Escola Normal nomeado pelo Prefeito do Distrito Federal
Furquim Werneck. Era Inspetor escolar interino do 4º Distrito. Era médico por
profissão.
[115]
Acervo CEMI,1897
[116]
No Ofício 119 de 1897, apresenta-se Nazareth
novamente como mantenedor dos bons costumes. Conta que chegou ao seu
conhecimento que uma aluna havia realizado um casamento ilegal, amplamente
noticiado no jornal República,
casando-se com um homem casado, e cassa sua matrícula.
[117]
Palavras textuais do Ofício por ele enviado em 16 de novembro de 1897.
[118]
Escrito como o documento.
[119]
Atas da Congregação - 1893-1898 (rascunho em separata)
[120]
Auguste Marie François Glaziou era um botânico e arquiteto paisagista francês
que remodelou, no século XIX o Campo de Sant’Anna transformando-o em uma miniatura do Bois de Boulogne.
Um comentário:
Olá, Heloísa!Parabéns! Apreciei muito seu trabalho e gostaria de uma nota simplificada da intelectual Esther Pedreira de Mello, apenas para demarcar sua atuação no campo educacional e político nos anos de 1920. Sou doutoranda do PPGE da UFSC e gostaria de situá-la no contexto dos anos 1920, mas algo bem breve, pois ela só aparece em uma citação de uma conferência que estudo, você possui algum trabalho que eu possa utilizar como referência? Abraços, Solange Aparecida de Oliveira Hoeller.
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