Conta o tabloide Gazeta
de Notícias (27/01/1893,p.1, coluna 6) que o Cabeça de Porco surge em 1858, após a venda a José Ferreira
Teixeira, Francisco dos Santos Guimarães e Joaquim Coelho Netto, de quatro
lotes herdados de José Justiano Ribeiro de Farias, que recebera o terreno,
junto com uma extensão dada a Luiz Pereira de Campos, da Câmara Municipal, em
1847 para prolongamento da rua de Sant’Anna.
Desde 1878, por Aviso (de 14 de
outubro- Posturas Municipais) o Ministério proibia construção de cortiço entre
as praças D. Pedro II e 11 de junho e nas ruas do Riachuelo e Livramento, mas,
mesmo assim, o Cabeça de Porco foi construído. Em 1831, foi proposta
desapropriação do cortiço sem indenização porque argumentou-se que fora
construído irregularmente. O cortiço ali permaneceu, ainda que desapropriado Em 1886, nova Portaria exigia a
demolição. Não houve. No ano seguinte os proprietários sustam legalmente a
demolição, o que valeu até 1888, quando se ordenou, novamente, a demolição
(Portaria de 27 de abril) e autoriza-se a Junta de Higiene a fechar o cortiço
(Portaria de 26 de julho). Em dezembro, pela Portaria do dia 27, reitera-se
demolir o cortiço. O cortiço, embalde as Portarias e decisões judiciais,
manteve-se em pé e funcionando.
Em 1891, Carlos Sampaio propôs ao
Ministério do Interior prolongar a Rua Dr, João Ricardo (como passou a
chamar-se o logradouro) para abertura de um túnel. Com a saída do presidente, e
ministério, as ações foram postergadas até 1893. Neste momento, havia
necessidade e ação política de ampliar o solo urbano, com a construção de
túnel, modernizar a região do centro e porto para melhor visão da cidade aos
que chegavam e necessidade de higienizar a região devido às doenças que
grassavam sem controle, o que afetaria a boa situação do maior porto brasileiro.
Nesse momento, então, foi decidido politicamente que o Cabeça de Porco seria demolido.
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Construção do Túnel João Ricardo |
Em 1893, o Prefeito do Distrito
Federal, Barata Ribeiro, resolveu exterminar este cortiço e, para isso, à
noite, fechou a entrada do cortiço, impedindo qualquer tipo de circulação –
fosse de entrada ou de saída – do lugar.
Para assistir e prestigiar (-se) com a derrubada e aliar à sua imagem a
representação de moderno, civilizado e higienista, estiveram presentes as
autoridades capitaneadas pelo Prefeito Barata Ribeiro, o Chefe de Polícia, o
Engenheiro Municipal, o Médico Municipal, o Secretário de Inspetoria Geral de
Higiene, o Delegado da Inspetoria no Distrito, o Fiscal da Freguesia, guardas
fiscais, oficiais da Armada, do Exército, da Brigada policial e alguns
Intendentes. A todos interessava ser visto como moderno, como preocupado com a
higiene, como promotor e incentivador da civilização na cidade do Rio de
Janeiro. Ao término da derrubada a estatística foi lastimável: um sem número de
famílias sem moradia. Estas
reformas inauguraram, então, uma divisão social e permitiram a segregação de
parcela considerável da população que habitava o centro e o porto da cidade ,
tida por feia e pobre. Diz Chaloub (1996) que, como o pobre não conseguia
acumular riquezas era visto como não tendo a virtude de ser um trabalhador e de
ter o vício da ociosidade, por isso a classe pobre era tida como viciosa, de
modo que vício era sinônimo de pobreza e vagabundagem. Para que os pobres não
ficassem à vista no centro político e administrativo da capital do país, foram
sendo empurrados para os morros e subúrbios . Fernandes (1998), ao investigar a
cidade do Rio de Janeiro, explica o que a coletividade da cidade do Rio de
Janeiro entendia por subúrbio:
La
palabra suburbio tiene un significado particular, esto es, denomina los barrios
donde existen ferrocarril y que fueron elegidos por las reformas urbanas a la
Haussmman del inicio de siglo XX como lugar de residencia de las clases
populares en la ciudad. (p.s/n)
durante
muito tempo, se [pensar] a cidade como lugar de modernidade e progresso em
oposição ao mundo rural, considerado o locus da tradição e do atraso. A cidade
passou a ser identificada como campo da racionalidade e do planejamento e,
simultaneamente, como fonte de fragmentação e de aviltamento do
indivíduo.(OLIVEIRA, 2002, p11).

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