Tivemos, no Rio de Janeiro, a fotografia na época chamada de daguerreotipia, no ano seguinte à apresentação do invento na Exposição Universal de 1839. A maioria dos "fotógrafos", inclusive uma mulher, Henriqueta Arms, que atendia à Rua dos Latoeiros (atual rua Gonçalves Dias), número 83, estabeleceu-se na Corte, no centro da cidade, outros, viajaram pelo Brasil. Um desses "fotógrafos" estabelecidos na Corte, e também editor, foi George Leuzinger, de que aqui me ocupo.
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George Leuzinger, 1863. Fonte: Acervo IMS |
A Casa Leuzinger
foi criada, em 1840, pelo fotógrafo sueco George Leuzinger (1813-1892)
Funcionou como papelaria, a princípio e posteriormente como oficina de gravura,
tipografia e litografia, e onde, a partir da metade da década de 1860, é
instalado um ateliê fotográfico. A Casa foi referência em artes gráficas,
impressão e divulgação de gravuras e fotografias pois, além de produzir suas
próprias imagens, o estabelecimento comercializava obras de fotógrafos como
Marc Ferrez (1843-1923) e Albert Frisch (c. 1840-c. 1905), dentre outros.
Em 1845, a
Casa Leuzinger publicou o “Panorama circular da baía de Guanabara”, em 6
partes, com litografias do francês Alfred Martinet[1].
São as primeiras estampas editadas pela Casa. Leuzinger editou também vários
jornais em alemão redigidos, segundo Ernesto Senna em “O velho commercio do Rio
de Janeiro”, de 1908, “por alguns revolucionários e socialistas que a revolução
de 1848 havia feito fugir da Europa”. Ainda, segundo este autor, a Casa Leuzinger encarregou alguns desses
forasteiros, que muitas vezes eram também artistas, de produzir imagens do
Brasil e de seus costumes populares. Essas imagens eram vendidas na Casa
Leuzinger a estrangeiros que passavam pelo Brasil.
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Aqueduto da Carioca , 1865 Leuzinger. Fonte: Brasiliana |
Aléa das palmeiras, Jardim Botânico, 1865 Leuzinger
Fonte: Brasiliana
A seção de
fotografia da Casa Leuzinger foi,
provavelmente, dirigida por Franz Keller-Leuzinger (1835-1890), que era casado
com uma das filhas de Leuzinger, Sabine Christine. Leuzinger foi considerado
por Pedro Vasquez[2],
“o primeiro marchand de fotografias do Brasil. Isso no sentido de distribuidor
de fotografias e não no sentido moderno que damos ao termo, de galerista”.
Acredita-se que o jovem Marc Ferrez (1843-1923) recebeu seus primeiros ensinamentos de
fotografia de Franz Keller, na Casa Leuzinger. Dois anos depois, em 1867,o
trabalho do ateliê fotográfico de Leuzinger ganhou Menção Honrosa na Exposição
Universal de Paris, com um panorama tomado da ilha das Cobras. É a primeira
premiação internacional do Brasil em fotografia. Apresentou também fotos de indígenas
tiradas pelo alemão Albert Frisch (1840-c. 1905), que havia viajado com Keller para o Amazonas.
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O “Catálogo da
Exposição de História do Brasil”, especialmente editado por Leuzinger para o
evento, realizado entre 1881 e 1882, pela Biblioteca Nacional, foi considerado
pelo historiador José Honório Rodrigues (1913-1987) “o maior monumento
bibliográfico da história do Brasil até hoje erguido”.
[1]
Joseph Alfred Martinet (1821 – 1875) dedicou-se à paisagem e ao retrato.
Gilberto Freyre indica ter o fotógrafo chegado ao Rio de Janeiro em 1841, vindo
do Havre, França, indo trabalhar na oficina litográfica de Heaton &
Rensburg e na editora dos irmãos Eduardo e Henrique Laemmert. Para Ferrez,
Martinet foi o “melhor litógrafo que por aqui passou." (Apud RIBEIRO,
Monike Garcia, O prazer do percurso, Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro).
[2]
Pedro Vasquez nasceu no Rio de Janeiro em 1954. Fotógrafo, historiador, curador
e professor. Viveu em Paris entre 1974 e 1979
na cidade, forma-se em cinema pela Sorbonne e publicou seu primeiro
trabalho como fotógrafo-autor: "A la Recherche de l'El-dourado". Pedro
Vasquez destaca-se pelas pesquisas no campo da fotografia realizada no Brasil
no século XIX.
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