Foto da revista Fon Fon. Em um café, do lado de fora, na mesa, Medeiros de Albuquerque, Coelho Neto e Thomaz Lopes. |
Ainda pouco
se sabe sobre os antigos cafés do Rio, mas comprei um livro ótimo, que
provavelmente só é encontrado nos “sebos”[1],
Antigos Cafés do Rio de Janeiro, do jornalista mineiro Danilo Gomes[2]
(1989). Neste pequeno artigo, passo algumas informações que o pesquisador
levantou nesse estudo e que achei interessante. A pesquisa foi feita utilizando
por fonte diferentes publicações, de diversos autores, que retratam a cidade do
Rio de Janeiro em épocas distintas. Assim, alguns cafés, aparecem em alguns
livros que desaparecendo após a publicação, deixaram rastros que levaram Gomes
à existência desses estabelecimentos.
Conta o
pesquisador que quase nada se sabe sobre estabelecimento deste tipo no período
colonial, mas que, segundo o Almanak Histórico para o ano de 1792, de Antônio
Duarte Nunes, existiam à época 32 casas de café[3]
e 216 tabernas[4]. Em
1899, Von Leithold e Von Rango[5]
citam que o primeiro flagrante de um café na cidade, foi descrito por dois
alemães que visitaram a cidade em 1819. A descrição do estabelecimento é medonha:
[...] nos cafés uma porção de qualidade inferior custa
4vinténs.Consiste de cafeteira de amanho regular, servida com açúcar não
refinado, leite que parece água e pão francês com manteiga rançosa, de
procedência inglesa. Nesses cafés também se vendem limonada, não dos limões
verdadeiros, mas da outra espécie. É uma bebida azeda como a laranjada, que
logo azeda com o calor[...}devido às nuvens de moscas que se encontram nos cafés,
nenhum estrangeiro pode nele demorar-se. Mais familiarizados com esses insetos
os brasileiros suportam-lhe melhor o incômodo [..] (p.21)
Eu imagino, leitor, o estabelecimento, e o
gosto do produto oferecido, mas, era um café, no início do século XIX, na
cidade do Rio de Janeiro! Não nos informam, porém, nem os visitantes nem o
autor, o nome deste café, sujo, parco e famoso.
Vieira Fazenda (1874-1917)[6]
noticia que havia uma casa de café em frente à Igreja de Nossa Senhora do Parto,
na rua São José, e por ali se passava em direção ao cais Pharoux. Oliveira (1984)
cita também os cafés Braguinha e do Estevam. O primeiro, tinha por
slogan “a fama do café com leite” e estava instalado no Largo do Rocio (atual
Praça Tiradentes). Como o largo, neste período era fronteira da cidade e
sertão, não creio ter sido muito melhor do que o café retratado pelos
visitantes prussianos! O segundo, que indica no nome seu dono, é citado pelo
historiador como “centro de reunião da sociedade distinta”. Bom lembrar que,
nessa altura, mulheres não saiam às ruas, exceto para ir à missa, e negros
eram, ainda escravos, logo os pertencentes à “sociedade distinta” eram tão
somente homens brancos. Talvez a reunião que o café proporcionava, devesse à
sua boa localização: ficava de portas abertas na esquinas de Ouvidor e Ourives
(atual Miguel Couto), centro do comércio local.
Havia também, um café, ainda no
século XIX, denominado Armada (comenta
o autor que era luxuoso (só imagino!), em obra de Ernesto Senna (1858-1913)[7],
que destaca, no período, mais de 362 estabelecimentos “onde se vendia café,
bebidas e se explorava o jogo de bilhar, estabelecidos em várias ruas da Pontado Caju ao Jardim Botânico”(P.140).
Machado de Assis, também citado pelo
autor, em crônica de 2 de março de 1873, sob o pseudônimo de Dr. Semana[8],
refere-se ao “botequim francês”, o Caffé
de Alsacie e Loraine. Fica esta casa de comércio na rua Uruguaiana, (antes
Rua da Vala[9])
Antes de começar a publicar, em outras postagens, detalhes desses, e outros, estabelecimentos que vendiam café, deixe-me
fazer aqui distinção entre café e botequim (como depois se chamaram as velhas
tavernas). O primeiro estabelecimento, mesmo servindo bebida alcoólica, vendia
café ou café com leite e pão, o outro não.
[1]
Os “sebos” são lojas de venda de livros usados. Diz-se que o vernáculo teria
surgido por conta de serem os livros e o local de seu armazenamento e venda
ensebados, isto é, sujos. Pelo que li parece que essas lojas teriam chegado ao
Brasil por volta do século XIX, o que não se pode, efetivamente, precisar.
[2] A publicação é da Livraria
Kosmos, do Rio de Janeiro.
[3] Chamavam-se casas de café
e licores.
[4] OLIVEIRA, José Teixeira de
Oliveira. História do Café no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Ed. Kosmos,
1984
[5] Em “O Rio de Janeiro visto
por dois prussianos”, edição de 1966, em português. Citado por Oliveira (1984,
cap.XXI, s/p.)
[6] José Vieira Fazenda,
historiador, médico e político, escreveu “Antiqualhas e Memórias do Rio de
Janeiro” (1904), Os provedores da Santa Casa da Misericórdia da cidade de S.
Sebastião do Rio de Janeiro (1912) e “Notas
históricas sobre a Praça do Commércio” (1915).
[7] Escreveu O Velho Comércio
do Rio de Janeiro, publicado pela Garnier, s/d.
[8] Esse pseudônimo foi usado
pelo escritor ao assinar artigos do periódico Semana Ilustrada ( Rio, 1860-1876).
[9] "Rua da Vala",
por ter uma vala, construída no século XVII pelos monges franciscanos para
escoar o transbordamento da Lagoa de Santo Antônio (que se localizava no atual
Largo da Carioca) até o mar, na abertura entre os morros da Conceição e de São
Bento. O nome da rua mudou para "Rua Uruguaiana" em 1865, em
comemoração à retomada da cidade homônima na Guerra do Paraguai O nome foi
mudado em 1865, para homenagear a batalha de retomada da cidade homônima na Guerrra
do Paraguai.
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