Mulher é mulher porque se faz assim, não porque tem um
útero, já dizia, na metade do século passado, Simone de Beauvoir. Não é apenas
um aspecto diferenciado de nosso corpo, o que nos torna um gênero diferenciado,
um ser humano diferente e de características próprias. Durante muito tempo a
mulher, no Brasil, ficou escondida nos aposentos da casa transitando livremente
do quarto para a cozinha. Ainda nos vemos a percorrer esse caminho quando
ouvimos que “o lugar da mulher é pilotando um fogão”. Temos entranhados em nós diferentes preconceitos que visavam,
e ainda visam, infelizmente, tornar a
mulher subalterna, incapaz e dependente. Comenta Gilberto Freyre, em sua obra de
juventude[1],ao
expor o preconceito do homem brasileiro, que esse se fez tecido à cultura, tese
que se tem mostrado, sem prevalência de um sobre o outro, verdadeira. A mulher
foi, desde sempre, objeto desse preconceito de alteridade que, ainda se alia ao
preconceito racial. Não nos esqueçamos que a mulher negra carrega os dois, em
mundo que privilegia o branco, e tem que provar-se mulher, e negra, a cada dia.
As mulheres,
todas, têm a cada dia provar que “valem” (e o termo é proposital, porque torna
objeto) tanto, ou mais, que os homens. Tanto é verdade, que a caminho do
término da segunda década do século XXI, a imprensa mundial estampou
sensacionalisticamente, o protesto de uma atriz ganhadora do Oscar sobre,
ainda, a discriminação feminina contida nos salários diferenciados de homens e
mulheres na mesma função.
Não cabe
discutir aqui a força física. Todas sabemos que habilidades se desenvolvem em
qualquer um, homens e mulheres, que se esforçam para tal e, me parece, dela não
precisamos para caçar ao redor feras, capturá-las e comê-las, pois que já não nos
encontramos em tempos de que disso precisava o ser humano.
Tenho
pesquisado bastante sobre a emancipação da mulher em busca de seus direitos de
igualdade. Caminhamos muito, é verdade, mas ainda não estamos onde queríamos no
início dessa luta. Cresci ouvindo dizer que “feministas” eram mulheres mal amadas,
mas vendo, e depois passando pela mesma situação, que a mulher separada ou
desquitada (o divórcio é uma conquista recente) não tinha satisfeito o marido e
estava “à caça” de homens. A “culpa” do fim do casamento, se havia, era das mulheres! E não se espantem,
há os que consideram o estupro – até parlamentares de nosso Congresso – culpa
das mulheres, que os teriam provocado! Assim, desde sempre, as roupas femininas
foram reguladas por homens – e a Igreja católica não tem mulheres em seus
cargos – que, a partir delas, regulavam condutas.
Não nos
enganemos comemorando hoje o Dia Internacional da Mulher. Não é tempo, ainda de
celebrar. Parece-me que hoje deveria ser, sim, um tempo de reflexão da luta
feminina, ainda inconclusa. A imprensa, arauto de homens, não fala pela mulher.
Só ela fala por si. Por isso, quem é mulher, saiba que cada uma de nós ainda tem
o seu quinhão nessa luta onde nossa arma somos nós mesmas, com nossa inteligência,
nossa força, nossa dignidade, nosso corpo e, principalmente nossa alteridade.
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