Lagoa Rodrigo de Freitas |
O que
distingue uma cidade? Será que são as pessoas que, indistintamente habitam
aquele espaço geográfico, ou o tempo que inexoravelmente atravessa os mais escondidos
umbrais que a rodeiam? Entre aquilo que se adivinha, e o que se apresenta, de um espaço
há diferença? Invariavelmente me acometem indagações ao iniciar um texto,
especialmente se o ato de impregnar o papel, modernamente materializado em tela
luminosa de computador, deixa que sejam absorvidas em espaço antes branco,
letras, vernáculos, frases inteiras, sem reclamações ou interesse.
Esse
movimento de colorir com letras um espaço incolor é o mesmo que me sempre me
guia ao descrever minha cidade. Faz-me um bem incontido ir dando cor a espaços
que conheço e outros que sequer visitei. Hoje, especialmente, queria colorir de
outra cor que não vermelho, os espaços recreativos, coletivos e lindos do Aterro
do Flamengo, tomado do mar pelo aterro sucessivo da baía de Guanabara, e da
Lagoa Rodrigo de Freitas, antes chamada dos socós que a escolheram, e que Rodrigo de Freitas
adquiriu em 1660.
Quero,
tendo por cenário esses cartões-postais do meu Rio, refletir sobre o que
distingue uma cidade. Muitos dos que me leem tomam esses espaços públicos como
reduto de parte da elite. Não são. Cada pedacinho desse chão tomado ao mar,
à especulação imobiliária, aos sucessivos desmandos governamentais de todas as
esferas, é nosso, da população carioca e de quem escolheu o Rio para viver,
como é nosso o Parque de Madureira, a Quinta da Boa Vista, a Floresta da Tijuca
e outro qualquer espaço da cidade. Por isso nós, que pagamos altíssimos
impostos – em qualquer bairro onde vivamos – temos o direito de desfrutá-lo com segurança.
Estou
cansada de ver, a cada dia, fotos diferentes de crianças, homens e mulheres, a estampar jornais escritos e
televisivos que informam, sem pena de nós todos, mortes, esfaqueamentos, balas “perdidas”,
livramento de presos condenados por benesses de uma Justiça do réu. Meu cansaço
deve ser igual ao de outros cariocas que assomam nossas praias, ruas e favelas
a pregar paz. Mas a quem nos dirigimos? A quem governa ou a quem mata, sem dó,
sem necessidade, só para ter uma morte no currículo estampado ferozmente
através de tatuagens que riem, mas deviam chorar?
Quando era
pequena e não se sabia a quem dirigir-me, dizia-se “reclame ao bispo”, não
necessariamente a ele – que também já foi uma vítima da criminalidade do Rio -.
É a quem agora reclamo, desabafo, me insurjo e me queixo: “ao bispo”, porque
não sei a quem me dirigir.
ESTOU CANSADA DE TANTA VIOLÊNCIA!
Sei que já
colocamos panos brancos nas janelas, já escrevemos BASTA mais que um aluno
indisciplinado do século XIX na lousa, já fincamos cruzes na areia, já colorimos de
protestos um ponto de ônibus, uma estação de trem, uma encosta.... espaços
públicos! Que choraram como nós a cada morte ali.
ESTOU CANSADA DE TANTA VIOLÊNCIA!
Cansada de
pedir, implorar e ouvir do Prefeito que "a atribuição não é sua" – mas a cidade,
toda ela, é sua responsabilidade, não é? -; do Governador que "vamos colocar policiamento" –
ainda vão? – ; do Secretário de Segurança – "que a polícia
prende e o Judiciário solta" - e aí???? -; do
Judiciário – "que isso não se aplica ao caso específico" - o que see aplica doutor???? -. Quero saber: Quem é o “bispo”? A
quem reclamo, me queixo e me insurjo?
ESTOU CANSADA DE TANTA VIOLÊNCIA sem saber a quem apelar !
Estou cansada da
ineficácia das políticas públicas que, parecem, só servem para engordar bolsos. Aliás o que mais se faz no país ultimamente! Falta tudo! Até segurança! E ninguém, ninguém, se responsabiliza. Não são as autoridades constituídas o “bispo”. Quem é? Mas, e a gente comum, assim como eu e você? Reclama a quem? Novos tempos dizem que devemos nos
exercitar. Onde? Na sala minúscula de apartamentos? No alto dos morros que
recortam a cidade? Nos plays? Na rua não dá! A pretexto de termos uma vida saudável
no futuro, podemos perder a vida em um segundo do presente. Prega-se que é
relevante que usemos transporte público, mas, se usarmos podemos ser assaltados
e mortos dentro dele, ou à espera dele, nos pontos. E, outro velho ditado me ocorre: se
correr o bicho pega (e mata), se ficar o bicho come (e some com o corpo do
infeliz!).... ESTOU CANSADA DE TANTA VIOLÊNCIA !
Seja quem
for o “bispo” que administra o Rio de Janeiro, que manda, enfim, no que é feito
ou será feito na cidade, é a você que me dirijo:
ESTOU CANSADA DE TANTA
VIOLÊNCIA NA MINHA CIDADE!
FAÇA ALGUMA COISA, QUALQUER COISA, PELO RIO DE
JANEIRO E SEUS HABITANTES!
Hoje, é só
a violência, que o descaso do “bispo” inominado produziu ao longo de décadas, que
distingue minha cidade! ESTOU CANSADA!
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