Um mapa do mundo que não tenha utopia não merece uma espiada[....]
(Oscar Wilde)
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Que
é utopia? É o irrealizável, o sonho, a ilusão? Ou é o divagar do consciente por
mágicas planícies de sonho distantes, mas plausíveis?
Creio
que a escolha depende do tipo de gente que somos. O pessimista, aqueles para
quem nunca nada dará certo, e os jornais estão cheios de pessimistas!, por
certo optarão pela primeira hipótese. a escolha deve-se ao medo, insegurança, u receio de
como continuar sendo pessimista em um mundo agradável, onde se escolhe ver tudo
cinza.
Por
outro lado, quem vê a vida colorida, entre os quais me incluo, optarão pela
segunda hipótese. Esses, como eu, sonham e porque sonham, têm esperanças. são utópicos, dirão os outros!
E
por que escrevo, em desabafo, tudo isso? Por que estamos, no Brasil, sendo
adestrados (a palavra é essa mesma!) a não ter esperança, a não sonhar...
Olhe
os jornais, qualquer um, são um exercício diário de nos tornar capazes de não ter
esperança. E como mostram o mundo os Manuais da Desesperança Diários? Mostram seres humanos em longas jornadas a pé para fugir da guerra, deixando no caminho sua dor e seu lamento e até a própria vida, para ter uma
vida sem sofrimento; mostram psicopatas travestidos de ódio a despejarem em pessoas
com bombas para depois matarem-se em nome de Deus que isso nunca lhes pediu, ou
a ninguém; são criminosos soltos travestidos de políticos e empresários, a
debochativamente perguntarem-se: quanto
mais posso fazer?; mostram imagens coloridas
a apresentar-nos a nova bala perdida (e encontrada, infelizmente por algum
morador pobre das favelas) em um lastro de sangue; é a nova lista de policiais
corruptos a fazerem festas (a última foi agora, antes do Natal de 2015!) no
novo presídio para onde estão detidos; mostram novos nomes a engrossar as muitas listas da
Lava-Jato (e eu me pergunto por que não dão logo os nomes todos? Por que o conta-gotas,
a novela ininterrupta e sem final feliz?); mostram que o Rio faliu; mostram que pessoas morrem à porta
dos hospitais do Rio que não têm como atender paciente: mostram em manchetes as novas dívidas da
PETROBRAS após a imensa roubalheira; mostram em detalhes com entrevistas de "especialistas", o tira não-tira a presidente eleita
democraticamente; mostram as palavras do PSDB (sempre um “santo”, mas e o Azeredo?!, e a pasta rosa?!); mostram a
ineficiência de rica mineradora destrói cidades, o ecossistema de dois estados
brasileiros ee mata várias pessoas; mostram a tristeza epistolar de Temer que respinga das lágrimas do seu autor e alegra as redes sociais de tanto deboche; mostram o mosquito
que só infligia dengue, mas agora infecta também com Zica e Chikungunya, numa
especialização voraz de contaminação e morte; mostra o volume morto dos rios do
sudeste a cada dia mais morto, sem chuva suficiente; só desgraça...
Mas,
você leu em tanto jornal, alguma réstia de esperança? Eu li, escondida a
notícia, entre tantas outras (creio que o jornalista autor do artigo teve de
brigar com o Editor para colocá-la no nosso Manual de Desesperança Diário , o
jornal (de papel, televisivo, radiofônico e de internet): a FIOCRUZ desenvolve pesquisas, até agora bem
sucedidas, de extinção do mosquito contaminador por outros mosquitos iguais, estéreis; um rapaz pobre e esforçado foi campeão mundial de surf; pescadores que sofreram um naufrágio
salvam-se, todos; os Correios, de novo (como todo ano fazem!) respondem aos
pedidos de Papai Noel das crianças com imensa rede de solidariedade; igreja (não sei
qual religião) fez linda festa de Natal para moradores de rua na Cinelândia;
várias pessoas se juntam para dar, todo os dias do ano, comida aos moradores de
rua; número de doações aos moradores de Minas, que perderam suas casas em
tragédia da lama, supera expectativas; mais um cãozinho voltou ao lar após
pedido nas redes sociais; criança sequestrada foi recuperada às vésperas do
Nata (os pessimistas dirão que teve medo e abandonou a criança, eu, otimista,
penso que se arrependeu do ato insano cometido!); o STF jogou no lixo as tramóias de Cunha; o
Papa Francisco visitou o continente africano indo a lugares perigosos; firmado
em Paris o primeiro acordo global contra a emissão de gases que provocam efeito
estufa; desde outubro empregados domésticos no Brasil têm direito ao FGTS; uma
substância foi produzida por um pesquisador aposentado (mas não inativo!) de
São Paulo que pode curar o câncer atrás da inibição e destruição da célula
doente; derrota do chavismo nas urnas da Venezuela; a suprema Corte Americana
legalizou a união de pessoas do mesmo sexo (que podem, enfim, viver em paz!)
nos 50 estados; os alunos de São Paulo invisibilizaram
com a ocupação de suas escolas medida arbitrária do Secretário de Educação (que
pediu demissão!) endossada pelo governador que teve, ante ao apoio da população
aos alunos, de voltar atrás na sua decisão; o Rock in Rio reuniu muita gente a
cantar feliz no Rio de Janeiro; Cuba e Estados Unidos reatam laços rompidos na Guerra
Fria; Papa intermedia a reaproximação de Cuba e Estados Unidos; Brasil recebe
refugiados de braços abertos; só boas notícias, mas não pude colocá-las todas,
que existem!, por que nosso Manual da Desesperança Diário não as publica. É difícil sabê-las.
Mas,
terminando o ano de 2015, peço que reflita: o sonho é o alimento da alma, que
se revigora a cada amanhecer. Não perca o seu. Sonhos são como utopias,
difíceis, mas é pela luta que empreendemos nossa jornada na vida. Nada é fácil!
Neste
final de ano, não seja adestrado pelo Manual da Desesperança Diário. Deseje um
Feliz Ano Novo! Veja os fogos, mais uma vez, com olhos de que nunca os viu.
Pule sete ondas, coma ervilha ou romã, coma uvas... Sonhe! Deseje-se boa sorte!
Crie listas do que fará no próximo ano, mesmo que saiba que não a lerá a partir
de 1º de janeiro. Desperte o otimista que existe dentre de você e, com um copo
ou uma taça, de refrigerante ou espumante, deixe sua esperança contaminar
beneficamente os que estão perto de você.
Feliz 2016!