Adivinharia o fabulista La Fontaine, nos anos de
1600, o que aconteceria no Brasil em 2015? Por vezes penso que sim. Por isso sirvo-me
de suas maravilhosas fábulas, como essa da Assembleia dos Ratos, para escapar
da plena ditadura da Justiça injusta de nosso país que impede, tal qual a
ditadura militar dos anos 1960,70 e 80, falar/escrever o que se pensa com nomes
e sobrenomes.
Existia,
no país dos bichos, um gato esquisito chamado Gatuno que incomodava os ratos
moradores de uma grande casa redonda de aspecto engraçado (a casa fora
projetada por magnífico arquiteto que amava as formas) porque mandava em todo
mundo e ameaçava quem não o obedecesse. Ocupando o topo da cadeia alimentar, esse
felino era um predador natural de diversos animais, como roedores, pássaros,
lagartixas e alguns insetos.
Gatuno sibilava,
arregaçando os dentes e, com a desfaçatez que o caracterizava, esbravejava e
miava alto fazendo com seu miado ressoasse tão alto que a cidade toda, e até o
país, ficaram com medo do que poderia fazer. O Gatuno, talvez para impressionar
seus adversários que somavam quase todos os habitantes do país dos bichos, dizia-se
representante do Rei dos bichos e, no comando do parlamento dos bichos, desarquivava
projetos das cobras, suas amigas desde sempre, e criava outros, surgidos na
idade das trevas dos bichos, que faziam o país dos bichos retroceder no tempo
tirando, malevolamente, direitos há muito conquistados de seus cidadãos.
Os
governantes do país dos bichos deixavam Gatuno fazer o que quisesse. Invocam a
Constituição dos bichos que assegurava que os Poderes, Gatuno pertencia ao
Legislativo, eram independentes e autônomos. Também tinham medo que Gatuno
invalidasse, através de manobras maquiavélicas, o direito de governar que
receberam em eleição correta e legal. A oposição tinha medo que a reverberação
dos sibilos de Gatuno pudessem fazer com que se descobrissem fatos iguais aos que
denunciavam dos governantes e, pela imprensa amiga, ininterruptamente, reclamavam
do governo mas se metiam com Gatuno com medo que ele denunciasse o que fizeram que
eram as mesmas coisas que denunciavam juntos.
Toda
essa confusão no país dos bichos começara quando a oposição ao governo eleito não
se conformara com o resultado das eleições e fazia de tudo para governar o país
dos bichos no lugar dos eleitos: ameaçava; queria a volta da ditadura dos
bichos – quando gorilas passaram a governar à revelia das espécies -; tirava da
cartola dos coelhos imensos relatos, chamados pelos animais de “denúncia
premiada” (porque premiava o denunciante a não ser preso), que ninguém apurava
se eram verdadeiros mas era amplamente divulgado pela imprensa escrita e
televisiva; e, para fazer frente ao novo governo eleito, ajudara a eleger o
Gatuno.
Enfim... o
país foi ficando ingovernável para quem estava no governo dos bichos e para quem
queria tomar o poder. Enquanto isso, Gatuno satisfeito com sua eleição no
Parlamento, providenciava que o Governo dos bichos não pudesse mandar buscar o
dinheiro que ele escondia fora do país dos bichos, tirando da cartola de seus
amigos coelhos, outra lei de retrocesso. Dessa vez da economia! O país dos
bichos afundava e Gatuno ria, entre os dentes afiados!
Mas
como começara a raiva de Gatuno no parlamento dos bichos? Bom, foi durante uma
assembleia de ratos que, insatisfeitos com Gatuno, tiveram a ideia de botar no felino
deputado um barulhento guizo que os avisasse da chegada dele para que todos
pudessem esconder-se de sua língua ferina. Neste dia, reuniram-se os
representantes de partidos do parlamento dos bichos que eram inimigos de Gatuno
(eram poucos, meia dúzia contra mais de quinhentos “amigos” e “colaboradores”!),
membros da sociedade civil organizada, representantes das diversas
instituições, enfim, todo o mundo dos bichos, para decidir quem colocaria o
guizo em Gatuno para avisá-los com antecedência. A reunião começou no início do
ano e até o final dos dias daquele mesmo ano, ninguém se apresentava para
colocar o guizo.
E o Gatuno sibilava, mostrava s dentes e ria!
A situação só
se resolveu quando descobriram, no país vizinho, recibos do dinheiro que
ninguém sabia que Gatuno tinha escondido e, vendo que no país dos bichos todos
tinham medo de Gatuno, mandaram a polícia do mundo para prendê-lo e, ao mesmo
tempo, colocar o guizo. Gatuno saiu algemado do parlamento. Não sibilava. Não
olhava para os fotógrafos que teimavam em espocar mil flashes. Tentou abaixar a
cabeça, como os criminosos sempre fazem para não serem reconhecidos. Não
conseguiu, a polícia do mundo não tolerava esse tipo de coisas!
Quem visse
Gatuno nem acreditava! A população do país dos bichos sorria feliz: milagre!
Até os amigos de Gatuno deram entrevistas para mostrar distanciamento! Mas o
mundo estava cheio das maracutaias e mandou prender muitos bichos, inclusive os
que deram entrevista.
Essa fábula,
claro, termina como as novelas do país dos bichos, com final feliz, porque o
povo precisa, ao menos, sorrir, de vez em quando: fez-se Justiça justa. Colocaram
m o guizo, e algemas. em Gatuno!
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