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domingo, 8 de novembro de 2015

O guizo do felino Gatuno




         
                 Adivinharia o fabulista La Fontaine, nos anos de 1600, o que aconteceria no Brasil em 2015? Por vezes penso que sim. Por isso sirvo-me de suas maravilhosas fábulas, como essa da Assembleia dos Ratos, para escapar da plena ditadura da Justiça injusta de nosso país que impede, tal qual a ditadura militar dos anos 1960,70 e 80, falar/escrever o que se pensa com nomes e sobrenomes.

            Existia, no país dos bichos, um gato esquisito chamado Gatuno que incomodava os ratos moradores de uma grande casa redonda de aspecto engraçado (a casa fora projetada por magnífico arquiteto que amava as formas) porque mandava em todo mundo e ameaçava quem não o obedecesse. Ocupando o topo da cadeia alimentar, esse felino era um predador natural de diversos animais, como roedores, pássaros, lagartixas e alguns insetos.
Gatuno sibilava, arregaçando os dentes e, com a desfaçatez que o caracterizava, esbravejava e miava alto fazendo com seu miado ressoasse tão alto que a cidade toda, e até o país, ficaram com medo do que poderia fazer. O Gatuno, talvez para impressionar seus adversários que somavam quase todos os habitantes do país dos bichos, dizia-se representante do Rei dos bichos e, no comando do parlamento dos bichos, desarquivava projetos das cobras, suas amigas desde sempre, e criava outros, surgidos na idade das trevas dos bichos, que faziam o país dos bichos retroceder no tempo tirando, malevolamente, direitos há muito conquistados de seus cidadãos.





            Os governantes do país dos bichos deixavam Gatuno fazer o que quisesse. Invocam a Constituição dos bichos que assegurava que os Poderes, Gatuno pertencia ao Legislativo, eram independentes e autônomos. Também tinham medo que Gatuno invalidasse, através de manobras maquiavélicas, o direito de governar que receberam em eleição correta e legal. A oposição tinha medo que a reverberação dos sibilos de Gatuno pudessem fazer com que se descobrissem fatos iguais aos que denunciavam dos governantes e, pela imprensa amiga, ininterruptamente, reclamavam do governo mas se metiam com Gatuno com medo que ele denunciasse o que fizeram que eram as mesmas coisas que denunciavam juntos.
            Toda essa confusão no país dos bichos começara quando a oposição ao governo eleito não se conformara com o resultado das eleições e fazia de tudo para governar o país dos bichos no lugar dos eleitos: ameaçava; queria a volta da ditadura dos bichos – quando gorilas passaram a governar à revelia das espécies -; tirava da cartola dos coelhos imensos relatos, chamados pelos animais de “denúncia premiada” (porque premiava o denunciante a não ser preso), que ninguém apurava se eram verdadeiros mas era amplamente divulgado pela imprensa escrita e televisiva; e, para fazer frente ao novo governo eleito, ajudara a eleger o Gatuno.
Enfim... o país foi ficando ingovernável para quem estava no governo dos bichos e para quem queria tomar o poder. Enquanto isso, Gatuno satisfeito com sua eleição no Parlamento, providenciava que o Governo dos bichos não pudesse mandar buscar o dinheiro que ele escondia fora do país dos bichos, tirando da cartola de seus amigos coelhos, outra lei de retrocesso. Dessa vez da economia! O país dos bichos afundava e Gatuno ria, entre os dentes afiados!
Mas como começara a raiva de Gatuno no parlamento dos bichos? Bom, foi durante uma assembleia de ratos que, insatisfeitos com Gatuno, tiveram a ideia de botar no felino deputado um barulhento guizo que os avisasse da chegada dele para que todos pudessem esconder-se de sua língua ferina. Neste dia, reuniram-se os representantes de partidos do parlamento dos bichos que eram inimigos de Gatuno (eram poucos, meia dúzia contra mais de quinhentos “amigos” e “colaboradores”!), membros da sociedade civil organizada, representantes das diversas instituições, enfim, todo o mundo dos bichos, para decidir quem colocaria o guizo em Gatuno para avisá-los com antecedência. A reunião começou no início do ano e até o final dos dias daquele mesmo ano, ninguém se apresentava para colocar o guizo. 



E o Gatuno sibilava, mostrava s dentes e ria!
A situação só se resolveu quando descobriram, no país vizinho, recibos do dinheiro que ninguém sabia que Gatuno tinha escondido e, vendo que no país dos bichos todos tinham medo de Gatuno, mandaram a polícia do mundo para prendê-lo e, ao mesmo tempo, colocar o guizo. Gatuno saiu algemado do parlamento. Não sibilava. Não olhava para os fotógrafos que teimavam em espocar mil flashes. Tentou abaixar a cabeça, como os criminosos sempre fazem para não serem reconhecidos. Não conseguiu, a polícia do mundo não tolerava esse tipo de coisas!
Quem visse Gatuno nem acreditava! A população do país dos bichos sorria feliz: milagre! Até os amigos de Gatuno deram entrevistas para mostrar distanciamento! Mas o mundo estava cheio das maracutaias e mandou prender muitos bichos, inclusive os que deram entrevista.

Essa fábula, claro, termina como as novelas do país dos bichos, com final feliz, porque o povo precisa, ao menos, sorrir, de vez em quando: fez-se Justiça justa. Colocaram m o guizo, e algemas. em Gatuno!

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