Tempos modernos
Os novos tempos trouxeram consigo a electricidade, o automóvel e o telephone, os tecidos finos, os boulevards, o calçamento das ruas e os
palacetes, o aeroplano, o poudre de riz,
o theatro e o cinematographo, a propagação de práticas desportivas, o surgimento
do mercado fonográfico e a popularização da fotografia entre outras novidades. Eram
definitivamente tempos modernos. (SOUZA, 2008, p.52)
As reformas na cidade do Rio
de Janeiro para mostrar ao mundo, através da capital federal, uma nação
moderna, industrializada, civilizada, que pudesse estar no mesmo nível da
França ou da Inglaterra eram discutidas na cidade pelos transeuntes, pela
imprensa, nos bondes, nos quiosques e nos cafés. Os jornais, com intelectuais a
seu serviço e com tema tão contraditório, alargavam os espaços das matérias e
usavam fotografias e charges para obter mais leitores a cada dia, mesmo os que
não soubessem ler, à custa do reordenamento urbano e suas consequências.
A cidade vivia novos tempos. Cortiços e casas pobres foram derrubados,
ruas estreitas e insalubres desapareceram, foram criadas a Avenida Central, a
Avenida Francisco Bicalho, a Avenida Rodrigues Alves, a Avenida Maracanã e a
Avenida Beira-Mar, todas para ligar o centro administrativo e o porto aos
bairros e parecer-se com os boulevars parisienses. Ruas como a Marechal Floriano, a do
Catete, a Uruguaiana, a da Carioca, foram alargadas para facilidade de
circulação de transportes e pessoas; foi construído um teatro, o Municipal, o
Palácio Monroe, a Biblioteca Municipal, a Escola Nacional de Belas Artes, para
inserir a cultura dentre tantas reformas no mapa arquitetônico da capital
federal. Ao mesmo tempo, os habitantes dos cortiços e da área do cais Pharoux
foram empurrados para longe do centro e para os morros[1].
Todas as reformas eram realizadas para embelezar a cidade aos que chegavam de
modo a perceberem, à chegada, uma cidade moderna e civilizada.
Na Escola Normal era o novíssimo relógio à vácuo que mostrava a modernidade
aos passantes, substituindo o antigo sino, para marcar a entrada e saída dos
estudantes, assim como a nova e moderna luz elétrica de sua iluminação externa
que, segundo o Diretor em ofício à Instrução Pública, fazia com que o orçamento
fosse extrapolado, que deveria mostrar a civilidade e probidade do prédio
público de instrução. Mas não eram só essas as reformas. Para
acompanhar as transformações de modernidade[2],
houve uma reforma de instrução que tinha por objetivo a melhoria e modernidade
da Instrução Pública brasileira, a Reforma Rivadávia Corrêa[3],
que foi implementada pelo Decreto nº 838, da Prefeitura do Distrito
Federal, de 20 de outubro 1911.
Expressa no Regulamento da Escola Normal de 1912, a reforma da
instrução pública no Distrito Federal trouxe muitas modificações à formação
docente dos normalistas que começaram pela autonomia institucional, que passou
legalmente a existir. Desde a criação do educandário, e, principalmente após a
confecção do Regulamento de 1881, pela Congregação[4],
com a experiência adquirida pelos docentes, após um ano de atuação na formação
de professores, ter autonomia era um desejo dos professores intelectuais que a
compunham Desejo que só foi alcançado naquele momento de reforma, quando
puderam escolher, dentre seus pares, o Diretor do educandário.
O eleito pela Congregação por “vinte e dois votos contra um” (SILVEIRA,
1954, p.39) para dirigir a Escola Normal foi o médico e político Thomaz Delfino
dos Santos (1860-1947), catedrático de Pedagogia. Ele disputou o cargo com o
Professor Pedro Barreto Galvão, catedrático de Física e Química, responsável
pela implementação dos Gabinetes de Física e Química da Escola Normal da
Capital Federal, em 1890 (SANTOS, 2009). A gestão do eleito durou dois anos,
como determinava a legislação, mas a autonomia de poder escolher o diretor do
educandário na Congregação acabou logo depois da gestão de Thomaz Delfino.
A sociedade, em transição, se urbanizava. O capitalismo cada vez mais
se consolidava na capital federal e a formação de professores se adequava às transformações
da cidade do Rio de Janeiro, através das normas do Regulamento da Escola Normal[5],
O documento indicava, em suas disposições transitórias, no Artigo 144, as novas
prioridades políticas do Distrito Federal para o curso de quatro anos de
formação de professores: o ensino como formação profissional.
Continuavam fazendo parte da formação de professores os cursos de
Ciências e Letras e Artes, como desde a criação da Escola Normal havia sido. Uma
das novidades trazidas foi a alteração do quantitativo de professores (Artigo
59), que passou a ser composto por vinte e quatro professores catedráticos, no
Curso de Ciências e Letras, e dez professores catedráticos, efetivos, no Curso
de Artes. Os docentes comuns aos dois cursos (Ciências e Letras e Artes)
passaram a ser: um professor de Caligrafia, um professor de Ginástica, um professor
de Álgebra, uma professora de Trabalhos de Agulha; um professor de Desenho Linear,
um professor de Francês, um professor de História do Brasil e Instrução Cívica,
um professor de Economia Nacional, História da Indústria e Indústria
contemporânea.
Os docentes privativos do curso de Ciências e Letras (Artigo 59 § 2º)
eram a partir daquele momento: um professor de Português, um professor de
Português e Literatura Nacional, um professor de Francês, um professor de
Aritmética, um professor de Geografia Geral e Corografia do Brasil, um
professor de História Natural e Higiene; um professor de História Geral e da
América, um professor de Pedagogia, um professor de Física e Química. Para o
curso de Artes, os docentes privativos eram: um professor de Música, um
professor de Desenho de Ornato e Figura e um professor de Trabalhos Manuais.
Ao discutir a história das disciplinas escolares, Santos (1990, p.21)
reflete que elas devam ser interpretadas em função das mudanças sociais,
políticas e econômicas que estavam ocorrendo ao serem criadas, assim, posso
inferir, que no Programa de Ensino da Escola Normal de 1913, vinculado à
reforma Rivadávia, as Cadeiras de Física e de Química deveriam abordar as
aplicações à indústria de modo que, com a vulgarização dos conhecimentos
científicos, fossem eles aplicados à
modernidade que as indústrias traziam e se desejava refletir a partir da
formação de professores.
As novas disciplinas[6]
de Economia Nacional, História da Indústria e Indústria Contemporânea foram
organizadas de modo a, certamente, atender os novos tempos de urbanidade e industrialização,
aliadas à modernização civilizatória. Tais transformações precisavam ser
entendidas e partilhadas pelo povo do Rio de Janeiro, o que deveria ser feito
através da educação de seus futuros professores. Eles levariam este
conhecimento aos alunos nas escolas públicas elementares e nas escolas públicas
de 1º e 2º graus.
Dentre as modificações metodológicas, as Cadeiras de Física e de Química
deveriam abordar as aplicações à indústria de modo que, com a vulgarização dos
conhecimentos científicos, fossem eles aplicados à modernidade que as
indústrias traziam e se desejava refletir a partir da formação de professores.
As novas disciplinas[7]
de Economia Nacional, História da Indústria e Indústria Contemporânea foram
organizadas de modo a, certamente, atender os novos tempos de urbanidade e
industrialização, aliadas à modernização civilizatória. É possível refletir,
também, que a recomendação do Programa de Ensino da Escola Normal, em 1913, para
que a Cadeira de História Natural trabalhasse com as aplicações à indústria,
nos conhecimentos de Botânica e Zoologia, estariam, provavelmente,
visibilizando os conhecimentos desta área, para um público maior, face à
valorização da fauna e da flora brasileiras, pelos inúmeros viajantes[8]
que o Brasil vinha recebendo, desde o século anterior. Igualmente é crível
supor, que os conhecimentos ministrados em História Natural deveriam incorporar-se,
às necessidades industriais, que eram necessárias ao desenvolvimento do
capitalismo urbano-industrial, porque, desta forma, flora, fauna e
conhecimentos científicos, ganhariam, destacado papel no currículo escolar, o
que efetivamente ocorreu.
Ampliaram-se também, as noções de Anatomia e Psicologia Humanas,
ciências que estavam se desenvolvendo. Os conhecimentos de Anatomia e
Psicologia seguiam, segundo indícios no Programa de Ensino, as novas
orientações metodológicas, europeias e norte-americanas. É possível supor que,
como os estudos de Dècroly, Dewey, Kilpatrick, Maria Montessori e Ferrière
estavam sendo expandidos, comentados e experimentados desde os últimos anos do
século XIX, estas novidades pedagógicas tivessem chegado ao Brasil[9]
e especialmente aos professores da Escola Normal face à extensa rede de
sociabilidade mantida dentro e fora do Brasil. A esta hipótese alia-se o fato
de Ferrière ter fundado, em 1899, o “Bureau International des Ècoles Nouvelle”,
em Genebra, o que mais rapidamente teria feito circular os novos conhecimentos
daquela instituição. (PEIXOTO, 1933, p.258).
Orientava-se, ainda, no Programa de Ensino, que as Cadeiras de
Pedagogia e de Psicologia considerassem especialmente a Psicologia Infantil, de
modo que a formação dos professores tivesse uma moderna base científica. Ora,
Manoel Bonfim, em 1906, havia criado no Pedagogium
o primeiro laboratório escolar de Psicologia, baseado nos estudos de Alfred
Binet e Théodore Simon – dois estudiosos franceses do desenvolvimento da
inteligência e da cognição – e é provável que estes estudos, também realizados
no Rio de Janeiro, precisassem ser urgentemente, difundidos na capital e
refletidos no país.
Aumentou-se também o pessoal administrativo da Escola Normal, de modo a
poder dar conta da burocracia que passou a existir com a ampliação de três
novas seções burocráticas na Instrução Pública, a partir de 1911[10]:
um chefe de seção (servindo de secretário), um 1º oficial; um 2º oficial, dois
amanuenses, um preparador (além do preparador de Física e Química haveria mais
um, de História Natural), um porteiro, seis inspetores (tantos quantos forem
necessários e extranumerários[11])
e dois contínuos.
Durante o impedimento de um professor, ou no caso de vaga na docência, descrevia
o Regulamento que, regeria a Cadeira outro professor da escola, indicado pelo
Diretor e aceito pela Congregação. Na impossibilidade deste procedimento, o
Diretor, com a aprovação da Congregação, designaria um professor, estranho à
instituição, que tivesse notória competência. Isso deu à Congregação um poder
maior do que já possuía, passando a ser responsável pela admissão e demissão do
corpo docente, ainda que não pudesse mais escolher o diretor do educandário, o
que no ano seguinte à reforma foi modificado.
A Congregação de professores, nesta Reforma, respondia solidariamente
com o Diretor nos "actos a que tiver dado seu assentimento" (art.
149º), o que lhe conferia, de direito, um poder que já possuía, de fato, desde
a criação da Escola, ainda no Império: selecionando Cadeira a ser ministrada; decidindo
a metodologia a ser empregada e os itens do conteúdo de cada uma delas. Enfim,
detendo o poder pedagógico e administrativo da Escola Normal.
Todas estas mudanças da reforma Rivadávia Corrêa na Escola Normal,
viabilizadas através do Regulamento de 1912 e do Programa de Ensino de 1913,
buscavam valorizar as ciências e, junto a elas, a modernidade civilizatória
republicana, tornando a sede do país, a cidade do Rio de Janeiro, catalizadora
e espelho na formação de professores, o que colocaria, se acreditava, o Brasil
na perspectiva do progresso.
Escola profissional: moderna perspectiva da
educação
O prédio da Escola Normal do Distrito Federal, na Praça da Aclamação nº
52, reformado pelo Engenheiro Pereira Passos, estava situado em lugar de
destaque e prestígio, cercado por prédios dos governos municipal e federal e
pela Estação Ferroviária. A Escola Normal para ali se transferira em 1888,
quando o número de alunos matriculados e a posição de importância do
educandário não mais permitiram que dividisse instalações com a Escola
Politécnica, no Largo de São Francisco. Mas o momento era outro, e as necessidades
do regime também.
Na república, nesta nova fase de consolidação do regime, era necessário
demonstrar a modernidade através do aparelhamento da mão-de-obra (de
brasileiros: brancos, negros e mestiços), e dos inúmeros imigrantes, que foram
chegando ao longo do tempo, para as novas funções trazidas pela urbanidade,
pela industrialização, pelas novas ciências que se materializavam e pelo papel
da mulher que começava a modificar-se. Era preciso atender ao capitalismo que avançava,
ao progresso que se pretendia demonstrar e aos novos “ares” da civilidade
europeia que pretendia imprimir ao Rio de Janeiro
Começava o ano de 1914 e a Escola Normal se via às voltas, outra vez,
com mudanças. Mudança para dar espaço maior à Escola Profissional Feminina[12]
que crescia no mesmo ambiente físico onde estava instalada a Escola Normal. Desde
o ano anterior, no mesmo prédio da formação de professores, fora criada a 2ª Escola
Profissional Feminina Rivadávia Corrêa. Era uma nova instituição que já nascia apoiada
nos marcos do capitalismo que se desenvolvia, celeremente, na cidade do Rio de
Janeiro que se acreditava, civilizava-se como uma nova Paris.
No começo do século XX, a então capital
da república, mimetizava a belle époque
parisiense, nela se festejavam as atrizes francesas (Sarah Bernardt), a vida
mundana das confeitarias e cafés (Confeitaria Colombo, Cave, entre outras menos
famosas), a moda parisiense (em lojas como a “Parc Royal”, templo da moda na “belle époque” carioca). A cultura
predominante no período era a da modernidade, eminentemente urbana, que tornou
a cidade do Rio de Janeiro um arquétipo de uma nova ordem mundial e se torna,
ela própria, tema e sujeito das manifestações culturais e artísticas. (SOUZA, 2008,
p.59)
As
escolas profissionais, inseridas na modernidade urbana, visavam o atendimento
às moças e rapazes pobres que ali se instruíam no ensino primário e aprendiam
técnicas profissionais para o trabalho no lar, no comércio que aumentava, e nas
indústrias que surgiam, enfim, nos novos postos de trabalho que aumentavam, de
acordo com o progresso capitalista que se consolidava na capital da república. Estas
escolas profissionais passaram, então, a ser o locus privilegiado para o incremento de uma política de instrução urbana
que envolvia a cidade como um todo, e a escola em particular, em tempos de
moderna estrutura civilizatória com novos hábitos culturais.
A Escola Profissional era parte das estratégias do Estado para obter a
necessária mão-de-obra dos novos serviços e dos postos surgidos. Goodson (1995,
p.78-79) explica que é importante que se conheça as transformações da
sociedade, e os conflitos que daí podem advir, para definir quem a escola deve
formar.
Face aos diversos cursos oferecidos, o educandário feminino precisava cada
vez mais de espaço para as salas ambiente[13].
Por esta razão, A Escola Profissional acabou por ficar com todo o prédio da
Escola Normal. Além disso, o quantitativo de alunos na Escola Normal havia
diminuído, enquanto as Cadeiras ali ministradas aumentaram; os salários dos
professores formados, que poderia ser um estímulo às matrículas, eram baixos e
as poucas escolas oficiais existentes não tinham como absorver, anualmente, o
número de normalistas formados.
Comenta Nunes (1993), ao explicar a Reforma de 1911 e as consequentes
alterações geradas, que:
Esta mudança exigiu a intervenção não só
nos aspectos materiais da escola, o que envolveu a produção de um novo espaço
com prédios e material didático pertinentes aos novos objetivos educacionais,
mas também em seus aspectos simbólicos, pois a escola, mais do que novas
carteiras, quadros ou salas, era um estado de espírito. (p. 183)
Em 1914, a Escola Normal do Distrito Federal foi transferida, por falta
absoluta de espaço físico para funcionar, para a Rua São Cristóvão, 18, em
parte de terreno anteriormente aterrado ao Mangue de São Diogo. Todo o espaço
do prédio da Rua da Aclamação, 52, ficou para a 2ª Escola Profissional Feminina
Rivadávia Corrêa. No Estácio, tendo por vizinhos favelas, instaladas nos Morros
de São Carlos e Matos Rodrigues, e a zona do baixo meretrício, a Escola Normal
do Distrito Federal começou a funcionar fora do círculo de poder que a Praça da
Aclamação conferia às instituições ali sediadas.
Por trás da modernidade: Rua São Cristóvão
nº 18, Estácio
Desde o século XVII, o caminho que se tomava para ir do centro do Rio
de Janeiro para os bairros suburbanos de São Cristóvão, Engenho Velho e Andaraí
Pequeno era feito através da Rua Mata-cavalos. A trajetória seguia então pela
Estrada Mataporcos, até o local conhecido como Largo de Mata-porcos, depois
designado Largo do Estácio, no século XIX. Este espaço geográfico, desde
O Largo do Estácio era um entroncamento, onde o caminho se bifurcava.
Seguindo-se a bifurcação esquerda, ia-se ao Caminho do Engenho Velho; para a
direita, tomava-se o caminho do bairro de São Cristóvão. Até a primeira metade
do século XX, o Largo do Estácio era o principal ponto de entroncamento que
ligava o centro da cidade à zona norte.
No Largo do Estácio e início da Rua de São Cristóvão, situava-se a
Escola Modelo Estácio de Sá, na Cidade Nova. O educandário apresentava uma
arquitetura “sem estilo definido, resultando da associação de formas oriundas
de diferentes estilos” (SISSON,1990,p.68). Fazia parte das escolas construídas
no início do século XX, e por conta disso, “não possuía afastamento frontal, e
tinha fachada assimétrica” (ibidem p. 69) sem grandes ostentações ou
rebuscamentos estéticos. A escola tinha uma construção praticamente na rua,
onde o portão lateral era a única entrada. Poucos metros distanciavam os
pedestres das salas onde, pela altura das janelas, se impedia uma visão ampla
das ruas, impedindo, também ao transeunte, ter visão das atividades escolares. O
estudo da arquitetura dos prédios escolares (WOLFF, 1992; VIÑAO, 1995; FARIA
FILHO e VIDAL, 2000) tem mostrado que, à vista do passante, o espaço escolhido
para educar transparece a nobreza das intenções do ato educativo assim como a
estabilidade da administração pública.
As estruturas do mundo social não são um
dado objetivo [...] são historicamente produzidas pelas práticas articuladas
(políticas, sociais, discursivas) que constroem as suas figuras (CHARTIER,
2002, p.27)
Era diferente do espaço geográfico que ocupava a Escola Normal do
Distrito Federal, na Praça da Aclamação, onde existia um pequeno jardim bem
cuidado que separava o prédio da rua.
O bairro para onde foi transferida a Escola Normal foi nomeado para homenagear
o fundador do Rio de Janeiro, Estácio de Sá,[14].
A região geográfica, com a rua homônima, passa a denominar-se Estácio de Sá a
partir de 1865, quando deixa de ser designada como Mataporcos [15]
por conta de um matadouro ali existente. Esta rua iniciava-se na Rua Conde D’Eu
que, após a república, passou a ser chamada de Rua Frei Caneca, de modo a, ao
retirar uma designação ligada ao Império, valorizar outra que, naquele momento
de mudança de regime político, esteve em posição oposta a ele.
A Cidade Nova, designação que engloba o Estácio e arredores, tem um
histórico muito peculiar por ser o berço do samba carioca, tal como hoje se
conhece. Lopes (2005) identifica na “Pequena África”, no início do século XIX, o
nascimento do samba carioca. Com o crescimento da cidade e arrasamento dos
cortiços, os Morros de São Carlos e Matos Rodrigues receberam os moradores
despejados[16]
que, através da religião dos negros inicialmente, criam o ritmo hoje denominado
samba. Neste momento o tecido social se encontrava esgarçado, com um enorme
contingente de marginalizados que deviam ser “civilizados” para uma cidade
moderna que se construía, com uma elite privilegiada e com indivíduos que
transitavam entre um espaço social e outro.
No Estácio ficavam, a poucos
metros do educandário e da favela[17],
as casas de prostituição representadas pelas “polacas”[18]
que ali vendiam seu corpo, então denominadas “mulheres públicas”. Estas
mulheres foram um contraponto ao recato dos normalistas da Escola Normal, mas
de certa forma faziam parte dos “ensinamentos” recebidos pelos normalistas
homens, ao tempo de sua formação educacional, como lembra o educador e ex-normalista
de 1919, Paschoal Leme (2004):
Éramos levados em passagens furtivas por
aquelas ruas, onde apreciávamos eletrizados a nudez daquelas mulheres, as
chamadas "francesas", mas na realidade "polacas", com seus
enormes seios e coxas à mostra, a nos fazer sinais amistosos e que nos
atendiam, quase maternalmente, com a compreensão que às vezes tinham do
verdadeiro privilégio com que faziam a iniciação daqueles bisonhos rapazes nos
segredos do sexo, exercendo com invulgar dignidade a chamada "mais antiga
das profissões do mundo. (p.121-122)
As “polacas”, como mulheres judias, ou assim se dizendo, “marginalizadas
em sua dupla condição de imigrante e de fora-da-lei” (KUSHNIR, 1996, p.20)
tinham a difícil tarefa de serem “mulheres públicas” e também estavam inseridas
no âmbito da história cultural do entorno da Escola Normal do Distrito Federal,
no início do século XX. A prostituição das “polacas”[19]
ocupava um grande número de casas e ruas nesta região, e deu ao lugar, até
hoje, ao nome que antes já tivera: Mangue, ainda que a prostituição utilizasse
casas desde a Avenida Mem de Sá.
Um currículo ampliado da cultura escolar: o
currículo “ocultado”[20]
Elias (1994) ao abordar, no
estudo do processo civilizatório, “o controle, a restrição e o ocultamento dos
ardores” (p.187), apresenta as prostitutas como parte de “um grupo profissional
como qualquer outro, mas escondidas em lugar próprio e bem definido da vida
pública da cidade” (p. 177). A cidade do Rio de Janeiro as escondera, mas com a
acelerada urbanização, com os aterramentos dos mangues e aumento populacional e,
também, com a mudança da Escola Normal, as expusera a um novo consumidor: os
normalistas. E, ao expô-las, sem delas falar, pelo “ocultamento” social da profissão,
passam a atentar para as influências que daí poderia advir.[21]
Assim para, provavelmente, diferenciar os normalistas dos consumidores
habituais das “mulheres públicas”: filhos dos antigos “barões do café”, antigos
aristocratas, filhos e os próprios políticos do Distrito Federal (VICENT, 2006,
p.93), foi estabelecido, pelo Decreto nº 1678 de 5 de janeiro de 1915, o
uniforme escolar obrigatório. No ano seguinte, pelo Decreto nº 1059, de 14 de
fevereiro, o curso noturno foi extinto. As razões da extinção podem se
explicadas pela imitação das Escolas Normais europeias, que não tinham curso
noturno ou podem, talvez, vir do cronista boêmio João do Rio (1995) que
conhecia as noites nas ruas do Rio de Janeiro na Cidade Nova:
A alma da rua só é inteiramente sensível
a horas tardias. Há trechos em que a gente passa como se fosse empurrada,
perseguida, corrida — são as ruas em que os passos reboam, repercutem, parecem
crescer, clamam, ecoam e, em breve, são outros tantos passos ao nosso encalço.
Outras que se envolvem no mistério logo que as sombras descem [...]. (p.5)
Esta região do Estácio tinha toda uma cultura peculiar, marginalizada, distante
dos antigos círculos de poder da elite, que se apresentou como contraponto do
recato, do pudor e das “boas maneiras” que a Escola Normal ensinava, pregava e
tinha por meta desde a sua criação.
Desde fins do século XIX, uma vida
noturna de diversões, — marcada por segregações de classe e de gênero —,
começou a ser articulada exatamente na mesma região que concentrava muitas
moradias coletivas. (SCHETTINI, 2009,
p.59)
A instituição continuava, no
entanto, ao longo dos anos em que ali permaneceu[22],
a enfrentar o grande problema ocorrido a partir da mudança do seu endereço: sem
entender a cultura popular do seu entorno, dentro do sistema coerente e
autônomo que esta cultura possuía, a negativava, desqualificando-a, porque
funcionava “numa lógica alheia e irredutível à da cultura letrada” (CHARTIER, 1995, p. 179).
A grande mudança na formação de professores, a partir da reforma educacional
de 1911, foi passar a conviver com uma cultura diferenciada, tida por marginal,
avessa aos requintes civilizatórios da elite. A Escola Normal, no Estácio, por
trás da urbanização civilizatória da cidade, ao tornar-se vizinha dos morros e
da prostituição, provocava para ela e para o entorno, conflitos e embates de
representação, se colocando em confronto com as “classes socialmente perigosas”.
O espaço público, dividido entre o educandário, a favela e as casas de
prostituição, onde a marginalidade era fruto de culturas distintas,
incompreendidas entre si, e de interesses diferenciados, com o tempo, provocaram,
a intervenção da Instrução Pública, exonerando o diretor da instituição,
professor Inácio Azevedo Amaral e nomeando uma mulher, a primeira a dirigir no
Brasil uma Escola Normal[23],
inspetora-escolar do 2º Distrito, Esther Pedreira de Mello para “moralizar” a
instituição[24].
Conclusão
Desde o governo Rodrigues Alves,
mais enfaticamente, a cidade do Rio de Janeiro se modernizava através de
reordenamento urbano e de alterações nos hábitos e costumes da população, tidos
por medidas “civilizatórias”. Tais mudanças, acompanhadas pelos governos
seguintes, foram transformando a cidade não só topograficamente como também
culturalmente, pois que velhas tradições, hábitos e aspectos sociais foram extintos
ou modificados para tornar o Rio de Janeiro uma “nova Paris”.
A
reforma de 1911, na Instrução Pública, além de incluir disciplinas novas ao
programa de ensino da formação de professores da Escola Normal do Distrito
Federal, adequando-o às novas políticas de urbanização, industrialização e
modernidade na cidade do Rio de Janeiro, ocupa, em 1913, com outra instituição
de ensino, destinada à profissionalização feminina, o espaço físico da Escola
Normal do Distrito Federal. No ano seguinte, a escola de formação de
professores é transferida para um local sem o prestígio social anterior. Por
esta reforma a Escola Normal tem a autonomia de autogerir-se e de escolher, no
seu quadro de professores, o diretor da instituição. Apesar de autônoma, o que
durou menos que o tempo da Reforma, foi transferida para o Estácio, na Cidade Nova,
fruto do aterramento do Mangal de São Diogo, habitada por fugitivos do
“bota-abaixo” e local de trabalho das “polacas”, perdendo o símbolo de poder
que o endereço anterior conferia.
No novo espaço físico da Rua São Cristóvão, no Estácio, os valores e
significados da Escola Normal, expressos na cultura escolar vivenciada até
então no centro político da cidade do Rio de Janeiro, ao interagir com a
cultura e as representações do entorno geográfico, oriundas dos habitantes da
favela e das casas de prostituição, provoca tal embate que a escola de formação
de professores tem que ser, ao longo dos anos, “moralizada” pelo poder público.
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[1]
A ação do governo não se fez somente contra os seus alojamentos: suas roupas,
seus pertences, sua família, suas relações vicinais, seu cotidiano, seus
hábitos,seus animais, suas formas de subsistência e de sobrevivência, sua
cultura. Tudo, enfim, é atingido pela nova disciplina espacial, física, social,
ética e cultural imposta pelo agente reformador (SEVCENKO, 2010, p.82)
[2] O
Distrito Federal era tido como espelho para a nação brasileira.
[3]
Decreto nº 8.659, de 5 de Abril de 1911.
[4]
Ver SANTOS (2011) para compreender o papel da Congregação na Escola Normal.
[5]
O Regulamento de 1912 expressava as normas administrativas, pedagógicas e de
disciplina para alunos, professores e a Congregação da Escola Normal do
Distrito Federal, face à Reforma de 1911.
[6]
Disciplina no sentido de Chervel (1990) “matéria de ensino suscetível de servir
de exercício intelectual [...], quando a evolução da sociedade e dos espíritos
permite contrapor à disciplina literária uma disciplina científica” (p.179 -
180).
[7]
Disciplina no sentido de Chervel (1990) “matéria de ensino suscetível de servir
de exercício intelectual [...], quando a evolução da sociedade e dos espíritos
permite contrapor à disciplina literária uma disciplina científica” (p.179 -
180).
[8]
Ver também Manizer, Guenrikh Guenrikhovitch. A expedição do acadêmico G. I. Langsdorff ao Brasil, 1821-1828. Trad:
Oswaldo Peralva, 1ª Edição Vol. 329, 1967 Disponível em http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/117/A-expedicao-do-academico-G-I-Langsdorff-ao-Brasil-1821-1828
Acesso em 21/12/2012
[9]
Segundo Mignot e Gondra (2007) as viagens pedagógicas impulsionam a circulação
de conhecimentos, assim como as Exposições Universais.
[10]“A
Reforma na Instrução Municipal”. “Acha-se quase concluída a reforma
administrativa na Diretoria Geral da Instrucção. A reforma creará mais uma
secção denominada “Inspectoria e Estatistica Escolar”[...] com a creação da
futura secção a Directoria Geral ficará dividida em três secções a saber:
“Expediente”, “Contabilidade” e “Inspectoria e Estatistica Escolar”[...] (A Noite, 23/08/1911, p.2, obedecida a
grafia original)
[11]
O funcionário extranumerário era contratado por um tempo determinado para
funções específicas.
[12]
“Os Institutos e as escolas profissionais começaram a ser criadas no município
do Rio de Janeiro ainda no século XIX, se consolidando nas primeiras décadas do
século XX como uma possibilidade de formação de mão-de-obra para uma sociedade
republicana que se instituía e que se pretendia moderna; e no caso das meninas
também como uma escola de formação doméstica.” BONATO, Nailda (disponível
em www.historia.fcs.ucr.ac.cr/.../da%20costa_bonato.doc
Acesso 20/12/2012)
[13]
O curso profissional oferecido nas escolas profissionais femininas, segundo o
Decreto 981, de 2 de setembro de 1914, abrangia
aprendizagem de: modelagem, gravatas, bordados a mão e a máquina,
desenho, pintura, gravura, costura a mão e a máquina e cortes, litografia,
fotografia, escrituração mercantil, datilografia, estenografia, tipografia:
brochura e encadernação, telegrafia, rendas à mão e à máquina, flores e suas
aplicações, chapéus e coletes para senhoras etc. (Art. 26, 27 e 30)
.
[14]
Ruas próximas também são frutos de homenagens à família do fundador da cidade:
Mem de Sá, Salvador de Sá. Outras tiveram a denominação alterada por mudança do
regime político de Rua do Conde d'Eu, para Rua Frei Caneca.
[15]“Coberta
de lagoas, pântanos e restingas a Cidade Nova era uma região extra-muros da
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Dessa planície restou enorme mangal
alagado, de marés salgadas, desde os areais do Capueruçu até São Cristóvão, e
que se constituía de três diferentes porções: mangal do Capueruçu, mangal de
Mataporcos e mangal de São Diogo.[...]
Nesse aterrado, e com as frentes voltadas para Matacavalos e Mataporcos
instalaram-se grandes chácaras, que se
desmembraram no começo do século XIX para dar espaço às vias públicas e à
casaria da Cidade Nova[...] . O antigo mangue da Cidade Nova [...] foi transformado em canal navegável,
reconstruído, em 1805. Com essa reconstrução, foi estendido até Mataporcos –
Estácio de Sá – o aterramento para tornar mais rápido o transporte de
hortaliças, gêneros alimentícios, tijolos, telhas e outras utilidades que
vinham do sertão para a cidade”.(GONÇALVES, 2004, p.294)
[16] A
demolição dos prédios foi iniciada com pessoas ainda neles habitando. Foram 654 prédios destruídos.
(SEVCENKO: 2010, p. 69).
[17]
As favelas no Rio de Janeiro se caracterizaram por concentrar, nos morros que
circundavam a cidade, a população pobre expulsa com o “bota-abaixo” e as que
sem condições precisavam morar perto do serviço. Os morros da Providência, de
Santo Antônio, São Carlos, dentre outros, transformaram-se, assim, em locais de
moradias populares, substituindo os cortiços derrubados no centro da cidade e
na zona portuária.
[18]
As “polacas” ainda que assim designadas, não eram de maioria judia. Ver MENEZES,
Lená Medeiros. Os Estrangeiros e o Comércio do Prazer nas Ruas do Rio
(1890-1930). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,1992 e KUSHNIR, Beatriz. Baile de máscaras: mulheres
judias e prostituição. As polacas e suas associações de ajuda mútua. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
[19]O
termo “polaca”, utilizado para
identificar a prostituta judia nem sempre era atribuído corretamente. As
mulheres “polacas” podiam se confundidas com francesas (e era “chic” ser
iniciado na vida sexual por uma francesa), polonesas, austríacas ou russas.(VICENT,
2006)
[20]
Não estamos tratando aqui do “currículo oculto, mas do “ocultamento” das
mulheres públicas” do entorno escolar e a introdução do “ensinamento” destas
mulheres na formação docente masculina da Escola Normal do Distrito Federal.
[21]
No início da década de 1890 [...] as judias da Europa Oriental eram
consideradas as prostitutas operárias [...] (p. 90) Para as autoridades
municipais o importante era manter as prostitutas longe das linhas de bondes e
dos centros comerciais, e de cidadãos respeitáveis.[...](VINCENT, 2006)
[22] A
Escola Normal só vai sair da Cidade Nova em 1930, aos acordes da revolução.
[23] A
mulher nomeada ,em 1920, foi Esther
Pedreira de Mello (1880-1923) que administrou a instituição por 54 dias.
[24]
“[...]única capaz de substituir em benefício da instrução pública e da
moralidade administrativa, o diretor demissionário[...]”(Correio da Manhã,
17/09/1920, p.3)
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