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quarta-feira, 8 de março de 2017

De mulher para mulher

Nísia Floresta (escritora, editora)
Hilária Batista de Almeida (Tia Ciata)
Iyakekerê, cozinheira
Esther Pedreira de Mello (Inspetora Escolar)
Cecília Moncorvo Filho (Crysanthème) Jornalista
Cecília Meireles (Escritora, Jornalista)
Chiquinha Gonzaga (compositora)
Clementina de Jesus (compositora e cantora)
Dilma Rouseff (presidente do Brasil)

Clarice Lispector e Carolina de Jesus (escritoras)  





Dandara dos Palmares (guerreira quilombola)





















A mulher, como essas mulheres das fotos, não pede licença para ir onde quer ou fazer o que quiser, não pede desculpas por ser mulher, não se diz inferior a ninguém e já há muito ocupa o lugar de provedora de sua família. A mulher sabe que ninguém a valora, a não ser ela mesma. Mas essa mulher que somos hoje não surgiu agora, não se fez de geração espontânea, não brotou de inteligência masculina. A mulher de hoje foi forjada nas muitas mulheres do mundo e de suas lutas para conseguir ser mulher. Ela saiu dos quartos e cozinhas das casas coloniais onde servia ao seu senhor para adentrar as salas e chegar às ruas, ocupar espaços públicos e privados, chefiar economicamente sua casa, trabalhar em qualquer profissão que escolha e ser, simplesmente mulher. O gênero feminino abandonou a ideia de que mulher é útero e passou a mostrar-se a si, e aos homens, como gênero diferenciado, com útero. Porque ser mãe ou não ser, é escolha feminina, ainda que os homens queiram legislar sobre esse corpo que não têm. A mulher é indelevelmente marcada pelo aprisionamento sofrido ao longo do tempo nos cantos escuros e empoeirados da História humana; pelo aviltamento do jugo masculino que a via objeto servil de cama e mesa; pelo inconcebível descaso que sofreu, e sofre, no deboche, na pancada, na morte. A mulher tem sua História escrita com sangue e lágrimas no corpo e na alma, cicatrizes de gritos, sussurros e discursos de rebeliões, de embates, de silenciamentos que lembram, sempre, que há nela a garra e a força urdida em vários avanços e recuos para ser, apenas, mulher.
Hoje comemoramos a nós e nossa luta diária para sermos tudo o que quisermos, quando quisermos, e com quem quisermos, porque dia da mulher é todo dia, sempre na batalha de recriar-se em um mundo feito por, e para, homens.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Meu Rio de 452 anos.



           





 
 Cristo Redentor, “braços abertos sobre a Guanabara”, liberta minha linda cidade dos grilhões que a impedem de ser maravilhosa como sempre foi!
            Liberta minha cidade da violência que assola suas ruas, becos e praias da violência que impede que possamos vivê-la intensamente!
            Salva-nos de gente que não respeita suas tradições, seu jeito irreverente de ser, seu acolhimento a qualquer um que aqui pise!
            Deixa que vivamos, de novo, nosso estádio símbolo, o Maracanã, nos jogos de domingo a colorir de gente e bandeiras as ruas, os papos de botequim, tornando visível o espírito alegre e feliz, o jeito carioca de ser!
            Permite que entremos novamente pela Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo, sem medo, a admirar de suas trilhas nosso Rio lindo, e penetrar nos seus caminhos de árvores, bichos, cascatas para respirar o ar fresco que dali sai para uma cidade quente!
            Consente que, do alto da Ladeira da Misericórdia, possamos revisitar sua história, sua luta, sua formação de tanta gente misturada, vinda de tantos lugares, que fez dessa cidade o que ela é!
            Aceita que, junto ao seu marco português, guardado e exposto na Igreja dos Capuchinhos, se louve essa minha  cidade em qualquer rito que se queira, a partir da religião que se escolheu, sem ódios e repartições!
            Acolhe a todos que queiram ver, sentir e viver nossa vida carioca como sempre foi, sem discriminar, sem julgar, permitindo que a convivência nos enriqueça a todos!
            Cuida de nós, seus habitantes, nos morros que circundam nossa cidade e onde, na “porta do barraco sem trinco, a lua fura o nosso zinco e salpica de estrelas o chão”!
            Deixa que possamos, descansar em  nossas “praias tão lindas cheias de luz, [porque] nenhuma tem o encanto que tu possuis, [com] tuas areias, teu céu tão lindo [e] tuas sereias sempre sorrindo”, sem que um arrastão nos perturbe ou que a sujeira nos adoeça!
            Traz de volta seus compositores e pintores que espalharam pelo mundo a beleza de nossa mulata “bossa nova que caiu no Hully Gully”, que no Rio sempre foi a designação da miscigenação de brancos e negros, que encantou Sargentelli, que inspirou Di Cavalcanti e que sempre foi sinônimo de formas generosas e perfeitas que, como as montanhas que nos cercam, são símbolos de sua formosura!
            Tira-nos da ditadura do “politicamente perfeito” que no Rio não somos perfeitos, somos gente espontânea que compra quinquilharias na Praça XV ou na Rua do Lavradio para lembrar dos tempos da Tia Ciata, “ da Praça Onze tão querida, do Carnaval a própria vida”, e onde nosso samba maxixado nascia nos terreiros dos quintais!
            Deixa-nos viver nossas feiras para ouvir a cantoria dos feirantes “vem maluco, vem madame, vem maurício, vem atriz, pra comprar comigo” que são memórias da carne vendida na esquina, do peixeiro que visitava as casas e do leite direito da vaca que a modernidade nos roubou!
            Toma conta de nós porque até quem governa essa cidade hoje não respeita suas tradições e jeito de ser!
Liberta nossa vida de tanto preconceito, “cuidado exagerado” e falta de senso porque “minha alma canta [quando] vejo o Rio de Janeiro[...] teu mar, praias sem fim”!
           
            Por hoje, benção meu pai, feliz, apesar de tanta tristeza, aniversário!