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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

TEATROS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO EM 1900






Atriz  francesa Gabrielle Rejane
apresentou-se no teatro Lyrico em 1902

             Outro dia, pesquisando na Brasiliana, que aliás recomendo pelo excelente acervo todo digitalizado, tive oportunidade de ler, numa extensa lista publicada em almanaque em Portugal, os teatros existentes na cidade do Rio de Janeiro. Não só pela quantidade de teatros, mas pela quantidade de lugares. Havia teatros fora do centro da cidade, assim como teatros campestres, que suponho, tenham sido ao ar livre.
            A cidade do Rio de Janeiro, nesta época, está preocupada em assemelhar-se a Paris. A República, recentemente instalada, está querendo passar a quem à capital chegasse, ares de “civilização” e “progresso”.
            Vale a pena conferir a relação de teatros e seus endereços. São centros de cultura a disseminar, na capital do país, a civilização.

Âpollo (Theatro).— Situado á rua Lavradio, 50 e construído pelo actor Guilherme da Silveira. Tem
uma ordem de camarotes, tribuna nobre, camarote da policia e conservatório, logar para quatro
cenlas cadeiras na platéia e uma vasta galeria.

Theatro Éden Laoradio.—Marques. do Lavradio, 96. E' theatro campestre., construído pelo engenheiro Francisco Justin, e em que trabalham companhias eqüestres e gymnasticas. servindo também para rei iresentações lyricas, dramáticas e bailes; comporá 2:500 pessoas, e está siluado em um grande jardim, servindo de recreação durante os entre-actos.

Eldorado (Theatro Campestre). —Funcciona no becco do Império esquina da rua Santa Thereza. Tem Restaurant no interior do jardim.

Engenho de Dentro (Theatro do). — Pertence a uma Sociedade Dramática Recreativa do Engenho de Dentro.

Ofíicinas.Gávea (Theatro da). — Rua da Boa Vista, 39, Jardim Botânico. Pertence a uma sociedade particular  de amadores, dá mensalmente uma representação dramática.

Lucinda (Theatro). -— Na rua Luiz Gama. 24. Fundado pelo actor Furtado Coelho. E' campestre, tem 13 camarotes. 306 cadeiras, 96 logares nas galerias nobres e 200 logares nas galerias geraes. Preços: camarotes I5-S000, cadeiras de 1.» classe 3-S000, de 2.» classe 2£000, galeria geral e entrada geral

Lyrico (antigo Theatro D. Pedro II). — Na rua 13 de Maio. Teleph. 88, proprietário Bartholomeu Corrêa da Silva. A sala comporta 2.000 espectadores inclusive a orchestra. Tem duas tribunas nobres, 42 camarotes de t.a ordem, 42 de 2ª e uma galeria na 3ª ordem com 500 logares. A platéia divide- se em 426 cadeiras de 1ª classe e 380 de 2ª. Entre os camarotes de 1ª ordem e a platéia há uma varanda com 220 cadeiras.

Phenix Dramática (Theatro). —Ms. Ajuda 59. E' campestre e tem 12 camarotes, 300 cadeiras. 62 galerias nobres e 500 logares nas galerias geraes.Preços: Camarotes 12$000, cadeiras e galerias nobres 2#000, galeria geral ou entrada geral.

Recreio Dramático (Theatro). — Rua Luiz Gama.45. Teleph. 634. Companhia Dramática empreza do artista Dias Braga.

 Pedro de Alcântara (Theatro).Praça Tiradentes, Teleph. 230. Têm uma tribuna nobre, 30  camarotes de 1ª classe. 27 de 2ª e 30 de 3ª. 288 cadeiras de 1ª classe, 244 de 2ª, 28 galerias nobres e 400 logares nas galerias geraes.

Sant’Anna (Theatro).Na rua Luiz Gama. Teleph 259, antigo Theatro Cassino, construído de novo. É campestre. Tem uma tribuna nobre, 18 camarotes de 1.» classe e 4 de 2.» classe, 81 cadeiras numeradas, e 500 logares nas galerias. Preços: Camarotes de 1ª classe 15$000, de 2ª classe 12-JS000, varandas e cadeiras numeradas 2ª 5000, galerias ou entrada geral 1£000.

Tlialma (Theatro). — Rua Propósito, 12, pertence a uma sociedade particular.

Todos-os-Santos (Theatro de).Rua Imperial em Todos os-Santos. Propriedade de uma associação particular para o recreio das famílias da freguezia.

Variedades Dramáticas (Theatro). —— Na praça de Tiradentes. antigo «Príncipe Imperial.


Fonte:  Almanach Illustrado do Brasil – Portugal , 1º ano, 1900 Vendido Águia D”Ouro Netto & Nunes Rua  do Ouvidor, 135 PP 25-26 In Ie ne fay rien sans Gayeté (Montaigne, Des livres)Ex Libris José Mindlin

sábado, 11 de agosto de 2012

O Almanak Laèmmert








O Almanak Laèmmert, publicado anualmente de 1844 a 1889, apresentava o município da Corte, a cidade do Rio de Janeiro desta época. Ele não só incluía inúmeras seções de anúncios, os mais variados, sobre o comércio, venda  e fuga de escravos, a indústria e a parte administrativa da cidade, como oferecia o calendário lunar, os dias santos e de guarda, as comemorações da Corte, a legislação existente, a relação dos agraciados com as diferentes ordens e títulos da nobreza e, também, um pequeno quadro genealógico real.
O guia, distribuído gratuitamente para quem comprasse o Almanak   indicava a moradia dos principais habitantes da cidade assim descritos: altos funcionários, empregados, negociantes, capitalistas, proprietários, fabricantes, artistas e industriais.
O Almanak Laèmmert era editado pelos irmãos Eduardo e Henrique Laèmmert e tinha sua sede no centro da cidade, à rua da Quitanda 77.
Tanta informação trazia o Almanak no período em que circulou que, hoje, é fonte de pesquisa de historiadores que encontram em suas páginas importantes dados sobre o segundo reinado.

domingo, 5 de agosto de 2012

1889: Febre amarela e falta d´água

Chafariz do Lagarto, projeto de Mestre Valentim,
criado em 1786 pelo Vice- Rei D.Luiz de  Vasconcellos




Em março de 1889, a cidade do Rio de Janeiro conviveu com um violento surto de febre amarela que matou cerca de duas mil pessoas. Era época de um calor muito grande o que baixou, em níveis críticos, os mananciais de água que abasteciam a cidade. Assim, a falta de saneamento que já existia, aliada à falta d´água fez um grande estrago à cidade e seus habitantes.
A cidade levou mais de cem dias sob estiagem, a seca, como diz o Relatório do Ministro do Império de 1888, o que ocasionou inúmeros transtornos à população e matou muita gente.
Os chafarizes, pontos de abastecimento do povo, ficaram secos. Se via gente, muita gente, nos chafarizes do Campo de Sant`Anna, no do Largo do Capim, no do Largo do Mata-Porco, enfim, nos muitos chafarizes que existiam espalhados pela cidade. A todo o momento promoviam-se comícios nos chafarizes exigindo água imediata. Os jornais cobravam do governo imperial as providências. Todo o Rio de Janeiro reclamava.
O governo imperial, por sua vez, tentando resolver os problemas da seca e da febre amarela, editou o Decreto 10.181/89 que disponibilizava, depois de muita discussão dos nobres que compuseram uma comissão especial, um crédito extraordinário de 5.000:000$000 para estabelecer um sistema hospitalar completo de terra e uma reforma no porto, além de obras para o saneamento sistemático e preventivo da capital. Parte destes recursos não ficou no Rio de Janeiro, foi encaminhado às províncias do norte que também sofriam com a falta de água.

O Chafariz do Mestre Valentim, do Carmo ou Chafariz da Pirâmide
 teve as obras iniciadas em 1779 na gestão do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos.
O desenho do chafariz foi feito pelo Brigadeiro Jacques Funk. Mestre Valentim apenas,
ao mudar-se de lugar o chafariz, reformou a obra incluindo o brasão do Vice-Rei.


A seca continuava. E a febre amarela persistia, como sempre, há muitos anos. O povo não sabia mais o que fazer até que o Engenheiro Francisco de Paula Bicalho, que chefiava a Diretoria de Obras do Novo Abastecimento, deu uma declaração aos jornais informando ter recusado um plano de reforço ao abastecimento de água da cidade que, em 40 dias, resolveria o problema da seca. Todos opinavam. Todos tinham a solução. Todos criticavam.
Nesta imensa confusão, o Diário de Notícias publicou um artigo, assinado pelo Engenheiro Paulo de Frontin, que dizia poder resolver o abastecimento em seis dias. Ninguém acreditou. Seis dias?
Como não havia outra idéia para o problema da seca, o governo imperial disponibilizou verba e contratou o engenheiro Paulo de Frontin que, imediatamente, começou a trabalhar. Ele construiu logo uma comunicação provisória, através de uma calha de madeira, ligando as cachoeiras de Tinguá, na serra fluminense, à cidade. Era por ali que a água passaria.

Em seis dias o Rio de Janeiro tinha água e o povo cantava pela rua “Palmas! Palmas ao Frontin!”
Quanto a febre amarela... bom, esta só se resolveu, nas áreas urbanas, na década de 1930. No Rio de Janeiro, finalmente acabou em 1903, com as providências de Oswaldo Cruz, mas isso já é outra história.