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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Fábrica Alliança: operários em Laranjeiras e a constituição do bairro

           


              Relevante que eu destaque aqui a importância da Fábrica Alliança na cidade do Rio de Janeiro e, principalmente, para o bairro de Laranjeiras. Conta-nos Nireu Cavalcanti (1999), arquiteto e historiador, que Laranjeiras[1], onde estava assentada a fábrica, era um bairro aristocrático onde conviviam palacetes, e a partir da segunda metade do século XIX, também o comércio e a indústria. Embora situado entre o centro da cidade e a zona sul, mas por causa das montanhas que cercam a sua área, o bairro de Laranjeiras era protegido do tráfego de passagem que se fazia entre as duas partes. Essa peculiaridade, que lhe garantia ter apenas o pequeno tráfego interno, começou a ser alterada com a abertura do primeiro túnel da cidade, em 1887, no alto da rua Alice e com o aumento do fluxo após a realização do corte do Morro Novo Mundo, ligando a rua Pinheiro Machado à rua Farani.
            Em 1872, na área da atual rua General Glicério e adjacências, os Srs. Francisco de Sá Nogueira, José Duarte da Fonseca Silva e Miguel Couto dos Santos, instalaram uma lavanderia de grande porte: a "Companhia Econômica de Lavanderia a Vapor". Oito anos depois, a firma foi vendida, mudando de ramo, e de donos. Passa a ser uma indústria de fiação, tecidos e tinturaria chamada "Alliança". Seus proprietários eram os portugueses José Augusto Laranja, Joaquim Carvalho de Oliveira e Silva e o inglês Henrique Whittaker, que, a seguir, retirou-se da empresa. Assim começou a "Fábrica Alliança", que veio a ser uma das mais importantes do ramo têxtil, no Rio de Janeiro.
          Essa fábrica mudou a composição da população do bairro e, segundo Nireu Cavalcanti (1999), também sua arquitetura e seu urbanismo, embora não fosse a única fábrica do bairro, já que havia, na rua Pereira da Silva, uma oficina de produção de cerveja, cujo proprietário era Luís Bayer[2] e, depois de seu falecimento, sua viúva. Informa ainda este historiador que, a partir da instalação da "Fábrica Alliança" apareceram no bairro casas, pequenas, de porta-e-janela, e as vilas que se espalharam, além de construções da própria fábrica. Por conta de um maior número de habitantes, os operários portugueses[3], italianos e brasileiros, o comércio ali cresceu e se diversificou. Mas foi a "Fábrica Alliança" quem atraiu para o bairro muitos operários para nela trabalharem. As fábricas "Alliança", em Laranjeiras, as "Companhias Carioca" e "Corcovado"[4], no Jardim Botânico, a fábrica "São Félix", na Gávea[5], e pequenas fábricas de produção diversificada, principalmente em Botafogo, atuaram como imãs de povoamento desses bairros onde estavam instaladas, ampliando-os além da elite que ali residia.
          As indústrias levaram à formação, nas suas proximidades, de núcleos de população operária, que habitavam vilas construídas pelas próprias empresas, ou cortiços, geralmente improvisados como segunda fonte de renda pelos imigrantes, no mais das vezes portugueses, donos de armazéns. Vieram também outros trabalhadores, em busca de habitações modestas, cujo aluguel era baixo, e o encontravam nas vilas e cortiços ali existentes. Foram esses pobres que enriqueceram estes bairros com novas expressões culturais, populares, trazendo uma vida social mais coletiva.
          A fábrica, como diferencial relevante, oferecia aos empregados atividades culturais e de lazer através do clube, do cinema e do teatro.  Em Laranjeiras, por conta dos empregados da "Alliança", surgiram os ranchos "Arrepiados" e "União da Aliança"[6], ambos ligados à Fabrica. Além do futebol do Fluminense, foram muitos os times populares do bairro, como o Estudantina, que tinha até sede na rua das Laranjeiras[7] e depois mudou-se para o centro e virou gafieira. Surgiram ali, também, blocos carnavalescos como "Rasga", "Periquitos" e "Canarinhos de Laranjeiras". O aristocrático bairro de Laranjeiras, no início do século XX, passou a ser também operário, o que grupava, em um mesmo espaço geográfico, culturas distintas, o que não ocorreu só no bairro de Laranjeiras. Ao longo dos séculos, muitas outras famílias importantes, como a dos Lisboa, Velasco, Roxo, Torre, Frontin, Pereira Passos, Teixeira de Freitas, Moura Brasil, comerciantes, profissionais liberais, militares graduados da época (General Andréa[8], Beaurepaire Rohan, Almirante Delamarre, etc.) e políticos, deram ao bairro a fama de ser este um bairro aristocrático da cidade do Rio de Janeiro. Ficaram famosos os saraus e os bailes nas mansões da Condessa de Haritoff[9] ,ou os concertos, no Clube Laranjeiras, em que vinham tocar músicos famosos como Alberto Nepomuceno.


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[1] Realizada a ocupação da Carioca pelos primeiros sesmeiros, os seus sucessores, ao longo do século XVII, transformaram suas chácaras em produtoras de hortaliças, legumes, frutas, cereais (principalmente arroz) e farinha de mandioca. Uns preferiram explorar a indústria cerâmica, outros a extração de pedras Além da exploração agrícola e industrial, os proprietários da Carioca abasteciam a cidade com lenha e carvão produzidos pela derrubada de suas matas. Também vendiam a água do rio Carioca aos moradores do centro da cidade. Os ricos proprietários da Carioca, que em sua maioria dedicavam-se ao comércio ou eram militares graduados, aformosearam suas chácaras com belas casas senhoriais  muradas e vistosos portões no espaço hoje ocupado pelos bairros da Glória, Catete, Cosme Velho e Laranjeiras.. No século XVIII a Carioca já começa a ser identificada em três zonas distintas: a da Glória, a do Catete (que ia até o Morro da Viúva) e o interior do Vale nomeado Laranjeiras (abrangendo desde o Largo do Machado, inclusive, até a caixa d'água do rio Carioca, na rua Almirante Alexandrino). O nome "Laranjeiras" aparece nos documentos, a partir de 1780. (Cavalcanti, 1999)

[2] A referência inicial deste cervejeiro consta no Almanak Laemmert de 1849, p.401

[3] “Os processos de expulsão [daqueles imigrantes considerados anarquistas] refletem, com exatidão, as tendências globais da imigração para a cidade  no final do século XIX e primeiras décadas do século XX, onde os portugueses, seguidos de italianos e espanhóis provenientes das áreas rurais constituíam a maioria dos que se destinavam ao Rio de Janeiro.”(MENEZES, 1997, p.7)

[4] Esta fábrica, pertencente à Companhia de Fiação e Tecelagem Corcovado, foi fundada por José da Cruz, em 1889, em terras da antiga chácara de João Calhau. O estabelecimento ficava na atual Rua Jardim Botânico. Em 1884, a Companhia de Tecidos Carioca já havia se instalado junto ao Rio do Algodão, nas proximidades da atual Rua Pacheco Leão. A fábrica da Cia. Corcovado encerrou suas atividades na década de 1940 e teve seu terreno desmembrado em lotes para a construção de moradias(CURIOSIDADES CARIOCAS, 2008 Disponível em http://rio-curioso.blogspot.com.br/2008/10/fbrica-corcovado.html acesso 12/06/2013)

[5] A vocação fabril do bairro remonta ao final do século XIX, quando o Rio de Janeiro experimentou um surto industrial que fez da Freguesia da Gávea uma das áreas mais industrializadas da cidade. As primeiras fábricas foram a Fiação e Tecidos Corcovado, a Companhia de Fiação e Tecidos Carioca, a Fábrica de Chapéus do Braga e a Fábrica de Malhas São Félix, essa última localizada na Rua Marques de São Vicente, fábrica que posteriormente passou a chamar-se Cotonifício Gávea. (Azevedo, 2011)

[6]“Através dos relatos escritos dos cronistas, foram registradas muitas das manifestações populares, como as festas religiosas e os carnavais das ruas e dos salões. Tais manifestações do "povo", produzidas, via de regra, em um circuito cultural narrado pela oralidade, eram compartilhadas por muitos desses letrados. Nesse circuito, alguns cronistas carnavalescos, como Vagalume, Eneida e Jotaefegê, se tornaram verdadeiros entusiastas do que viria a constituir certas características peculiares à ideia de "cultura popular urbana do Rio de Janeiro"( GONÇALVES,2003,p.91)  

[7] A Gafieira Estudantina foi fundada em 1931, na Rua Paissandu, no bairro do Flamengo. Os fundadores foram Manoel Gomes Matário, em sociedade com um estudante de Direito chamado Pedro, daí o nome Estudantina. Anos mais tarde, foi transferida para a Praça José de Alencar, no bairro do Catete, onde permaneceu até a década de 1940. Em 1942, foi transferida para a Praça Tiradentes, número 75, sendo, os donos à época, Lino de Souza e Manoel Jesuíno (Disponível em http://www.estudantinamusical.com.br/nossa-historia Acesso 8/8/2012)

[8] Francisco Joze de Souza Soares d'Andrea, Barão de Caçapava. Chegou ao Brasil com a Corte, em 1808

[9] Ana Clara Breves de Moraes Costa, chamada por Nicota, sobrinha do Comendador José de Souza Breves, era casada com Maurice Haritoff, em 1867. Recebeu de dote de casamento a fazenda Bela Aliança (em Vargem Grande). Consta que tanto em Bela Aliança, como em Laranjeiras, os Haritoff recebiam com igual elegância e fidalguia. Em 1883 ocasal inaugurou os salões de Laranjeiras, e começou a série deliciosa dos "mardis de Mme. Haritoff". O "Messager du Brésil", publicou larga notícia: "... une brésilienne doublée d'une vraie parisiense, dont la grâce, l esprit et la haute distinction ont reçu une consécration solenelle dans les salons les plus aristocratiques de la société européene, vient d inaugurer ses mardis dans le magnifique hôtel qu elle habite à Laranjeiras". (ÁRVORE GENEALÓGICA. Disponível em http://www.geni.com/people/Anna-Clara-Breves-de-Moraes-Costa/6000000017611668115  Acesso em 02/01/2013)

domingo, 7 de dezembro de 2014

O Rio e seus pedacinhos de paraíso

           



              Tenho uma amiga que mora em um lugar lindo no Rio. Meio escondido da vista de que passa apressado pelas ruas de Laranjeiras, fica o Parque Guinle, no sopé do Morro de Santa Teresa. A princípio, o que se vê é um parque lindo, mas poucos sabem que este parque foi traçado, em 1916, pelo paisagista francês Gerárd Cochet para Eduardo Guinle, na perspectiva de um jardim particular. Nessa época o paisagismo unia o desenvolvimento do capitalismo à imagem naturalista, numa proposta pedagógica para construção de novos valores coerentes com a urbanização a partir das edificações e paisagismo. A Alemanha é precursora nessa proposta que, a seguir, foi abraçada pela França, da qual Cochet é um expoente, e Estados Unidos, cujo Central Park é uma mostra do período. O jardim dos  Guinle foi criado nessa lógica urbana, mas somente após a morte do patriarca a família Guinle decide dividir o Parque com moradores, que não o próprio clã.





           
       Em 1946 decide a família preservar o parque e, em seu entorno manda construir luxuosos edifícios. A tarefa arquitetônica foi entregue a Lúcio Costa, que projetou e construiu os três primeiros prédios designados Nova Cintra, Bristol e Caledônia.  A construção ocorreu de 1948 a 1954. Nesse período houve a intervenção de Roberto Burle Marx no jardim do palacete Guinle. Os prédios previstos, mais três, pelo projeto original, foram obra do escritório MMM Roberto.





         Atualmente o conjunto residencial do Parque Guinle está dentro da Área de Proteção Ambiental São José. Seus três edifícios se encontram na Rua Gago Coutinho e rua Paulo César de Andrade. As fachadas, todas, exprimem o pensamento arquitetônico que alia textura e leveza, marca da arquitetura brasileira do período.


            À entrada do Parque, mantém-se o portão original da residência da família lembra os aspectos históricos de um Rio de palacetes e chácaras, já desaparecido. Já passei uma manhã toda lá, desfrutando da aragem sempre fresca propiciada por inúmeras árvores. É um lugar lindo para quem quer descansar do caos urbano, dentro da cidade. É um pequeno paraíso desses que só o Rio oferece.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Rio de Janeiro não visto: (re)construindo memória da cidade

Memórias do não visto

            A cidade do Rio de Janeiro está a um passo de completar 450 anos e, ainda, poucos de nós temos a memória do que não chegamos a ver. As fotografias, quando existem, as palavras escritas em desvão do tempo passado, as pinturas, essas nos trazem à memória do que não vimos, só. Não vejo exposições a apresentarem aspectos arquitetônicos ou culturais de nossa cidade. Mas sei que as pessoas se interessam porque há alguns anos escrevia uma seção de revista dirigida aos taxistas- os recepcionistas da cidade -. A seção, com artigos mensais, chamava-se Memória. Todos os táxis que peguei, enquanto escrevia os artigos, creio que durante dois ou três anos, foram comentados pelos taxistas com seus passageiros.
            Ao escrever minha tese de doutorado tive acesso à memória esquecida que poucos conhecem dessa cidade. Percorri o prédio denominado Palácio da Prefeitura, pertinho da Praça da Aclamação, hoje Campo de Sant’Anna. Ela majestoso! Sediava a Prefeitura do Distrito Federal quando o Rio de Janeiro era, ainda, capital do Brasil. Foi derrubado para abertura da Avenida Presidente Vargas. Como a Igreja de Sant'Anna que dá nome ao espaço.
            A abertura da Avenida levou consigo, para o subterrâneo da memória do habitante da cidade casarios sem importância e ruas inteiras, como a São Pedro, no mesmo entorno, que sequer saberia ter existido não fosse por meu interesse pela historiografia existente sobre a história da cidade.


Rua São Pedro, década 1920 (AGCRJ)


            Visitei, em minhas pesquisas, o Convento da Ajuda através das muitas páginas de Luiz Edmundo e das fotos, últimas, desse ponto tradicional da cidade em suas Folias de Reis e seus presépios, seus doces gostosos, sempre cobertos por toalhinhas bordadas e perfumadas, pelas freiras que, dizem, guardava a sete chaves a receita mágica da “mãe-benta”, doce de estalar na boca. Quem tem memória desses fatos, e do convento, derrubado no primeiro decênio do século XX?



Covento da Ajuda em foto de Malta (AGCRJ)

            Sugiro aos “lugares de memória” do Rio, aos arquivos, museus, bibliotecas, que apresentem ao habitante da cidade o Rio que não vimos. Seria bom que pudéssemos, todos nós, construir essa memória.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O maior cortiço da cidade do Rio de Janeiro: Cabeça de Porco




            Conta o tabloide  Gazeta de Notícias (27/01/1893,p.1, coluna 6) que o Cabeça de Porco surge em 1858, após a venda a José Ferreira Teixeira, Francisco dos Santos Guimarães e Joaquim Coelho Netto, de quatro lotes herdados de José Justiano Ribeiro de Farias, que recebera o terreno, junto com uma extensão dada a Luiz Pereira de Campos, da Câmara Municipal, em 1847 para prolongamento da rua de Sant’Anna.



            Desde 1878, por Aviso (de 14 de outubro- Posturas Municipais) o Ministério proibia construção de cortiço entre as praças D. Pedro II e 11 de junho e nas ruas do Riachuelo e Livramento, mas, mesmo assim, o Cabeça de Porco foi construído. Em 1831, foi proposta desapropriação do cortiço sem indenização porque argumentou-se que fora construído irregularmente. O cortiço ali permaneceu, ainda que desapropriado          Em 1886, nova Portaria exigia a demolição. Não houve. No ano seguinte os proprietários sustam legalmente a demolição, o que valeu até 1888, quando se ordenou, novamente, a demolição (Portaria de 27 de abril) e autoriza-se a Junta de Higiene a fechar o cortiço (Portaria de 26 de julho). Em dezembro, pela Portaria do dia 27, reitera-se demolir o cortiço. O cortiço, embalde as Portarias e decisões judiciais, manteve-se em pé e funcionando. 
            Em 1891, Carlos Sampaio propôs ao Ministério do Interior prolongar a Rua Dr, João Ricardo (como passou a chamar-se o logradouro) para abertura de um túnel. Com a saída do presidente, e ministério, as ações foram postergadas até 1893. Neste momento, havia necessidade e ação política de ampliar o solo urbano, com a construção de túnel, modernizar a região do centro e porto para melhor visão da cidade aos que chegavam e necessidade de higienizar a região devido às doenças que grassavam sem controle, o que afetaria a boa situação do maior porto brasileiro. Nesse momento, então, foi decidido politicamente que o Cabeça de Porco  seria demolido.

Construção do Túnel João Ricardo
           
            Em 1893, o Prefeito do Distrito Federal, Barata Ribeiro, resolveu exterminar este cortiço e, para isso, à noite, fechou a entrada do cortiço, impedindo qualquer tipo de circulação – fosse de entrada ou de saída – do lugar.  Para assistir e prestigiar (-se) com a derrubada e aliar à sua imagem a representação de moderno, civilizado e higienista, estiveram presentes as autoridades capitaneadas pelo Prefeito Barata Ribeiro, o Chefe de Polícia, o Engenheiro Municipal, o Médico Municipal, o Secretário de Inspetoria Geral de Higiene, o Delegado da Inspetoria no Distrito, o Fiscal da Freguesia, guardas fiscais, oficiais da Armada, do Exército, da Brigada policial e alguns Intendentes. A todos interessava ser visto como moderno, como preocupado com a higiene, como promotor e incentivador da civilização na cidade do Rio de Janeiro. Ao término da derrubada a estatística foi lastimável: um sem número de famílias sem moradia. Estas reformas inauguraram, então, uma divisão social e permitiram a segregação de parcela considerável da população que habitava o centro e o porto da cidade , tida por feia e pobre. Diz Chaloub (1996) que, como o pobre não conseguia acumular riquezas era visto como não tendo a virtude de ser um trabalhador e de ter o vício da ociosidade, por isso a classe pobre era tida como viciosa, de modo que vício era sinônimo de pobreza e vagabundagem. Para que os pobres não ficassem à vista no centro político e administrativo da capital do país, foram sendo empurrados para os morros e subúrbios . Fernandes (1998), ao investigar a cidade do Rio de Janeiro, explica o que a coletividade da cidade do Rio de Janeiro entendia por subúrbio:

La palabra suburbio tiene un significado particular, esto es, denomina los barrios donde existen ferrocarril y que fueron elegidos por las reformas urbanas a la Haussmman del inicio de siglo XX como lugar de residencia de las clases populares en la ciudad. (p.s/n)

             Todos os fatos que, como fenômenos, ocorreram na história no Rio de Janeiro são típicos. Isso aconteceu porque a cidade foi tratada, por razões políticas, em momentos temporais diferenciados, como um “espelho da nação” o que, muitas vezes, colocou a cidade como catalizadora das políticas públicas, especialmente na área educacional.    Esta a razão de,

durante muito tempo, se [pensar] a cidade como lugar de modernidade e progresso em oposição ao mundo rural, considerado o locus da tradição e do atraso. A cidade passou a ser identificada como campo da racionalidade e do planejamento e, simultaneamente, como fonte de fragmentação e de aviltamento do indivíduo.(OLIVEIRA, 2002, p11).



sábado, 1 de novembro de 2014

VOZES FRANCESAS NA BIBLIOTECA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL (1936-1938)





A montagem

            Ao instalar-se a Universidade do Distrito Federal (UDF)[3] fez-se necessário pensar em uma biblioteca que pudesse atender às necessidades de pesquisa e de incremento à cultura, valores necessários à formação docente de professores secundaristas e universitários. Ainda que a formação profissional de professores secundaristas no Brasil fosse tardia, como o foi também em Portugal, também aqui o desenvolvimento deste processo se deu através de um conjunto de valores que, elencados, davam a medida da formação profissional, que abarcava crenças, valores éticos e o perfil almejado (PINTASSILGO, 2011, p.5).
            No que concerne ao perfil desejado, era esperado, segundo o Decreto nº 5.513, de 4 de abril de 1935, assinado pelo Prefeito do Distrito Federal Pedro Ernesto[4], que a UDF:

promovesse e estimulasse a cultura de modo a concorrer para o aperfeiçoamento da comunidade brasileira; b) encorajasse a pesquisa científica, literária e artística; c) propagasse as aquisições da ciência e das artes, pelo ensino regular de suas escolas e pelos cursos de extensão popular; d) formasse profissionais e técnicos nos vários ramos de atividade que as suas escolas e institutos comportarem; e) providenciasse a formação do magistério, em todos os seus graus.

            A Biblioteca estava instituída, na implementação da UDF, como instituição complementar[5], definida no Artigo 3 daquele Decreto de criação, como de experimentação pedagógica, prática de ensino e pesquisa e difusão cultural.
            Assim, fez-se necessário que a biblioteca fosse, naquela estrutura, o elemento impulsionador, e materialmente concreto, dos valores e ideal anisiano[6] que ajudariam a formar os docentes. De outro modo, para a França, a biblioteca teria, com a cultura francesa ali difundida, um espaço privilegiado para que os escritores franceses transmitissem sua filosofia, seu pensamento, suas mais recônditas ideias.
Tantas foram as doações francesas que, segundo a correspondência nº 7/BU, de 19 de maio de 1938:

desde a data de sua instalação, em fevereiro de 1936, até o encerramento do ano escolar de 1937, [que]a biblioteca da Universidade do Distrito Federal não permitiu que os funcionários que nela exerciam suas atividades desviassem seus esforços da constituição de seu núcleo inicial.


A instituição pretendia, como formadora de professores, ser um núcleo de formação intelectual do país (FÁVERO, 2004, p. 148).  A biblioteca, ali, era então a materialidade da cultura (MOGARRO, 2011) entendida como

o meio pelo qual uma sociedade fortemente hierarquizada mantinha um código de critérios definidos [e] assegurava sua homogeneidade com base em uma elite relativamente estável (CERTEAU, 1995, p.103).


Por outro lado, a biblioteca era também um elemento transformador do processo de apropriação da cultura que se desenvolvia na UDF. No Brasil, desde a colonização, a cultura se baseava no tripé biblioteca, teatro e museu porque atingia e era desfrutada, apenas, por aqueles indivíduos das classes sociais mais abastadas, que pudessem instruir-se (MILANESI, 1997, p.23). Assim, realçar qualquer destes itens era ressaltar a cultura institucional. De que modo este objetivo foi consolidado?
A biblioteca foi montada mais pelas doações que recebeu, principalmente da França, do que pelos parcos recursos da Prefeitura do Distrito Federal ou pelo fundo Affono Penna[7]. Segundo Bergson (2006, p. 268) as obras dos filósofos franceses foram escritas para a humanidade e, sendo a França o modelo civilizatório brasileiro, as doações bibliográficas, que estamos considerando aqui vozes francesas, foram julgadas pelo bibliotecário da UDF Gastão Cruls, médico, escritor e apaixonado pela literatura, um valioso préstimo (CRULS, 1936, Súmula nº 1/BU) à nova universidade.
Os primeiros livros a chegar foram recebidos pelo bibliotecário que, provavelmente com prazer, desfazia os embrulhos meticulosamente feitos. Ele havia sido empossado em 25 de janeiro de 1936 para iniciar a biblioteca da Universidade do Distrito Federal. Ao chegar, já entusiasmado, o bibliotecário encontrou alguns livros e material de estudo [que se havia conseguido, quer por] créditos especiais, abertos no exercício de 1935, quer por uma ou outra oferta feita à Universidade (ibidem).
Havia na Biblioteca que a UDF deveria montar 73 obras, distribuídas em 138 volumes, 94 quadros murais para a Escola de Ciências e 5 estampas coloridas para o Instituto de Artes, de acordo com o relatório do bibliotecário à Reitoria da UDF.
Houve então, por parte dele e de outros funcionários da Universidade, um trabalho exaustivo para constituir o núcleo inicial daquela biblioteca. Todos desempenhavam outras funções que não aquela de escolher, receber e catalogar os livros, mas mesmo assim,

embrenharam-se no trabalho enfadonho  de procurar nos catálogos editoriais, nos repositórios bibliográficos e demais fontes de informação (UDF, Relatório nº 7/BU de 19 de maio de 1938)

           
Indicações bibliográficas

A função da Universidade é [...] única e exclusiva. Não se trata somente de difundir conhecimentos. O livro também os difunde. Não se trata somente de conservar a experiência humana. O livro também a conserva. [...] Trata-se de manter uma atmosfera de saber, para se preparar o homem que o serve e desenvolve [...] de conservar o saber vivo e não morto, nos livros ou no empirismo das práticas não intelectualizadas. (Boletim da UDF, 1935, p.15)


            As sugestões dos livros a serem comprados, com verba francesa ou do fundo de doação Affonso Penna[8] vinham em catálogos remetidos pela França onde professores e o bibliotecário Cruls escolhiam os livros que não tinham sido doados e seriam, então, comprados com dinheiro do fundo Affonso Penna.
Os professores dos diferentes cursos da Universidade indicaram os livros que conheciam e que consideravam necessário ao seu magistério naquela universidade que se propunha a ensinar a meninos, a rapazes, a mestres (PEIXOTO,1936), aumentando ainda mais o trabalho a ser feito.
            Concomitante à chegada de livros, previamente escolhidos, afluíam ao serviço de leitura e consulta os alunos e docentes interessados (Relatório nº 7/BU op. cit.). O que demonstrava o interesse e a curiosidade da leitura entre todos que não tinham fácil acesso em outro lugar no país, aos exemplares ali depositados.
            Em abril de 1936, chegou à biblioteca que ainda se constituía, uma valiosa carga vinda de Paris,

nenhuma dádiva poderia ter sido feita[...] cuja biblioteca se inicia sob os melhores auspícios [..] pelo que há de mais nobre e mais alto tem produzido o preclaro pensamento francês. (UDF, Lista de Livros, nº 7/BU, 4 de maio de 1936)


Era uma remessa que chegava à Universidade vinda de sua co-irmã francesa, intermediada pelo professor recém-contratado pelo reitor Afrânio Peixoto, em sua viagem a Lisboa e a Paris, Émile Bréhier. Segundo o relatório do bibliotecário, em 1936, a Universidade de Paris enviou 495 obras, em um total de 864 volumes.
Não havia sequer estantes que comportassem os livros. De pronto providenciou-se mobiliário para que se iniciasse a catalogação sistemática. Comprou-se uma estante Fiel, de aço, seguindo-se logo depois, outra compra e mais outra, de forma que cinco estantes foram adquiridas para armazenar os livros oriundos da Universidade de Paris.
 Era pensamento [do bibliotecário e seus auxiliares] levar adiante o trabalho de fichamento e localização dos volumes (ibid). Isso não pode ser feito, pelo menos da maneira rápida que se pretendia. A todo o momento chegavam encomendas a serem desembrulhadas, a serem listadas, a serem precariamente catalogadas.
Com a saída do professor Afrânio Peixoto da reitoria, em solidariedade ao amigo Anísio [9], assumiu o reitor Dr. Affonso Penna Júnior que, graças a seu círculo de sociabilidade, e a sua própria solidariedade ao criar o Fundo Affonso Penna, conseguiu ainda mais obras para a biblioteca universitária.
        As obras foram subdividas pelo bibliotecário Cruls em pequenas bibliotecas como a Bibliothèque Larousse, com obras de Racine, Balzac, Moliére, Chateaubriand, Stendhal, Montesquieu, Victor Hugo, dentre outros; os Clássicos Larousse, com obras de Comte, La Fontaine, La Bruyère, Lamartine, Boileau, Marivaux, Thierry, Fénelon,Voltaire, G. Sand,dentre outros; Peuples et Civilisations, com obras de Fougères, Roussel, Piganiol, Albertini, Halphen, Pirenne, Hauser, Saint-Léger, Lefebvre, Renouvin,  Lalande,  Aulard, dentre outros; Bibliothéque de La Faculté dês Lettres de Paris, com obras de Hauvette, Luchaire, Dauzat, Zivy, Boutrox, Luchaire, Lafaye, Courmot, Verrier, Virgile, Cartault, dentre outros e a Bibliothèque d’Histoire Littéraire et de Critique,  com edições vindas da Garnier.

As razões francesas

            A França sempre procurou se caracterizar como expressão máxima da civilização, e o livro, até os anos de 1940, era o instrumento que distinguia os cultos daqueles que não o eram (MILANESI, 1997, p.49), deste modo se aliavam intenções: daquele país e da universidade em propagar a cultura e influência francesa, ainda que as metas de cada um fossem diferenciadas.
Ao discutir as trocas simbólicas e o papel da linguagem nestas trocas, Bourdieu (1983, p.161) demonstra que a língua, não importa se falada ou escrita, não é só um instrumento de comunicação ou mesmo de um conhecimento, mas um instrumento de poder. E a língua francesa, entre os cultos no Brasil, era o idioma referencial, até mesmo na linguagem cotidiana, para quem pretendia demonstrar aos outros o conhecimento e a cultura. Assim, era usada, retoricamente, não só por quem dominava o idioma como por aqueles que desejam aparentar erudição.
As relações culturais franco-brasileiras eram consistentes, particularmente nos anos de 1930, com a criação do Institut Franco-Brésilien de Haute Culture [10] (FERREIRA, 1999, p. 286). Deste modo, poder compor a biblioteca de uma Universidade que pretendia consolidar-se como centro de formação intelectual do país, era ter o respaldo do poder cultural que a França detinha, com suas missões culturais, desde o século XIX, no ideário brasileiro.
Estaria a Universidade do Distrito Federal privilegiando, na formação cultural dos professores secundaristas e universitários brasileiros, ainda, a matriz de civilização francesa? Ou, as doações apenas estavam indo de encontro à ênfase da ciência básica e ao saber desinteressado (FÁVERO, 2008, p.171) que Anísio Teixeira pretendia para a UDF? 
A oferenda francesa englobou mais de duas mil obras, de autores nacionais nas áreas de Filosofia, Literatura, História, Geografia, Literatura francesa, etc. que refletiam sua adequação à formação de professores, a pesquisa e a cultura. Outros professores franceses, contratados pelo reitor, também sugeriram livros que foram doados ou adquiridos pela UDF, do mesmo modo que o fizera o bibliotecário que, por catálogos franceses, fazia suas escolhas. Até abril de 1938, o setor recebeu 2.289 obras, doadas ou compradas pelo fundo Affonso Penna, à Livraria Quaresma, pelo preço único por unidade de 10$000 (Relatório nº 13/BU, op. cit.).
Assim, várias pessoas se acreditavam credenciadas, ou legitimadas, para mediar cultura e conhecimento na UDF a partir da biblioteca institucional, entre estas os professores franceses contratados pelo reitor Afrânio Peixoto.
Era também necessário imprimir à biblioteca modernidade, civilização e  refinamento necessários de modo a tornar, a partir desta materialidade cultural, a UDF uma universidade promotora de cultura. Segundo Bergson (2006) as obras dos filósofos franceses foram escritas para a humanidade (p. 268), e sendo a França o modelo civilizatório, era natural que, para a diferenciação pretendida, o berço civilizatório ocidental fosse visitado.
Mogarro (2011, p. 162) explica, comparando a apropriação das leituras na formação de professores em Portugal e Brasil, que as coleções editoriais para professores, este o fim último da biblioteca da UDF, têm uma dupla intervenção cultural: a editorial, que leva em conta a destinação dos livros, sua circulação e o mercado e a, no campo da pedagogia, que privilegia a seleção dos autores e o que se pretende que, na formação de professores, se aprenda e, posteriormente, seja difundido.
 A França, através de sua política externa, preocupava-se, principalmente com as dificuldades por que passava o mercado editorial francês, com pífia produção naquele momento, a quem interessava fazer produzir, por outro lado, os catálogos encaminhados privilegiavam autores franceses que o país difundiria ainda mais na América do Sul.
A UDF, criada a partir de inspiração anisiana, trazia em seu bojo, a temática da tradição da formação professoral, ainda que com o caráter inovador da Escola Nova, tornando desta forma a grande novidade da inclusão da pesquisa como método do ensino da formação docente, uma inovação aparente (PINTASSILGO, 2011, p.22)[11] A tradição de ver a formação docente impregnada de missões como o de articulá-la com a liberdade, o sonho, a esperança são também traços marcantes do discurso desta Universidade criada para ser diferente, porque moderna, dentro de um contexto aparentemente sem tradições.

As razões da UDF

Explica Reis (1970, p.89) que foram influências culturais reconhecidas pela elite brasileira as de nacionalidade portuguesa (a Universidade de Coimbra), as de nacionalidade inglesa, francesa, alemã e posteriormente a norte-americana. O fato de buscar no continente europeu a cultura que se desejava imprimir, não era de modo algum inesperada.
Contratou o reitor Afrânio Peixoto vários professores, em sua grande maioria de nacionalidade francesa, para lecionar diferentes disciplinas e construir uma trajetória institucional de pesquisa para alunos e docentes brasileiros. Eles eram profissionais reconhecidos na França e deram um impulso significativo às disciplinas que vieram lecionar. Vinham com a chancela do governo francês, prontos a contribuir significativamente para a UDF.
Foram contratados e selecionaram livros: Émile Viktor Leinz (Mineralogia e Geologia), Bernard Gross (Física), Èugene Albertini, Henri Hauser e Henri Tronchon (História), Étiene Souriou (Psicologia e Filosofia), Jean Bourcieuz (Filologia das Línguas Românticas), Jaques Perret (Línguas e Literatura Greco-romanas), Pierre Deffontaine (Geografia) e Robert Garric (Literatura), Jean Bourcieuz (Filologia das Línguas Românticas), dentre outros professores.
            Era parte do paradigma anisiano que alunos e professores e, também, a intelectualidade extramuros, tomasse contato com os saberes que, na Europa, se modificavam em razão dos novos tempos de industrialização, ideologias e consumo[12].
Assim se institucionalizava a pesquisa mudando o eixo cultural brasileiro. Novamente alinhavam-se os interesses franceses que não desejavam perder espaço para a Itália, a Alemanha ou os norte-americanos no Brasil.
 A biblioteca da Universidade do Distrito  Federal  foi  organizada  de  modo  a

tornar-se sinônimo de instrumento político de transformação e estratégia de intervenção[...] na luta pela imposição de determinadas representações no campo da cultura e educação [...] (MOGARRO, 2011, p.175)

A biblioteca corporificou, deste modo, a necessidade e os princípios da instituição como promotora da solidariedade entre os professores, em ação e em pensamento, que socializava a cultura, socializando, também, os meios de adquiri-la. Assim, era pertinente que ali se transmitisse a cultura do que se considerava moderno e civilizado.   

Dicotomia ou complementaridade?

Tanto a Universidade de São Paulo (USP), criada em 1934, como a Universidade do Distrito Federal (UDF), organizada em 1935 no Rio de Janeiro, foram, até certo ponto, esforços institucionais para atender aos anseios de modernização expressos pelos intelectuais e educadores na segunda metade da década de 20, quando houve um vigoroso debate nacional sobre a educação que nos convinha, com a destacada participação dos partidários da escola nova. (VICENZI, 1986, p.2)

A criação da Universidade do Distrito Federal (UDF),[13] uniu esforços intelectuais para imprimir na nova empreitada: a institucionalização da cultura, através das pesquisas sobre o Brasil; uma nova metodologia a partir dos conceitos da Escola Nova; experimentos da integração com outros intelectuais e valorização da ciência através da biblioteca universitária. Foram esforços brasileiros e franceses, cada um com seu próprio objetivo: idealista ou pragmático, que alinhados, mudaram o eixo cultural e deixaram influências marcantes para as gerações posteriores.
Havia interesse francês em, principalmente depois da guerra, fazer da cultura sua propaganda política, criando uma simbiose perfeita de tal forma que os franceses, professores, escritores, cientistas, enfim, se tornassem «embaixadores» (SUPPO, 2000, p.311).  Em 1932, a questão da propaganda francesa tornou-se obsessiva até por conta da complexa política na Europa, após o Tratado de Versalhes.
Interessa destacar o paradigma defendido pela Associação Brasileira de Educação (ABE) e Associação Brasileira de Ciência (ABC) e implementado na UDF, e as pretensões políticas francesas que se alinhavam na reforma educacional anisiana[14]: a criação de uma universidade que, em sendo, um lugar de liberdade, possibilitasse aos que ali ensinassem e aos que ali aprendessem sua futura profissão de educador, ser o fino escól da humanidade para quem a vida só vale pelos ideais que a alimentam (TEIXEIRA,1935).
Para a França, a UDF era um espaço importante a ser conquistado, visto que a colônia francesa não era numerosa no Brasil e a elite era consumidora de produtos franceses. Por isso era relevante que, no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, onde estava concentrada a elite intelectual, se falasse francês, o que cotidianamente ocorria para parecer ser culto. A meta era que se pudesse ler em francês para entender e assimilar a cultura francesa. O melhor lugar para que estes objetivos fossem implementados eram as universidades que se estavam criando[15], principalmente uma universidade no centro cultural do país.
Para a França a cultura estava dentro de seu complexo sistema de propaganda que fazia o país manter e conquistar aliados no pós-guerra. Este sistema incluía os professores que, por nacionalismo ou ascensão profissional, se predispunham a propagandear a França, comercial ou culturalmente, em busca de aliados.
Mesmo tendo ido a Lisboa inicialmente, e depois, em busca de judeus que já haviam sido cooptados por ingleses e americanos, como explica Afrânio Peixoto em correspondência a Anísio Teixeira, o reitor da UDF viajou com um propósito: contratar docentes europeus que pudessem ensinar aos futuros professores secundaristas e universitários e também atualizar aqueles que já trabalhavam, sem a devida experiência europeia, institucionalizando a cultura. A Europa, a França especialmente, era o símbolo do mundo civilizado. A França tinha todo o interesse de cedê-los: eram os embaixadores: aqueles que divulgariam e expandiriam o futuro apoio à França.
            Mas não seria suficiente a tática da UDF de, com os contratados, limitar os conhecimentos trazidos por eles aos muros da universidade. Era importante partilhar, legitimar a Universidade,  o que interessava também a França.
A universidade era, no paradigma anisiano, o espaço da liberdade, da congregação, o que unia perfeitamente ambos os interesses, ainda que idealistas, de um lado e pragmáticos do outro. Era necessário que a UDF pudesse imprimir modernidade, civilização e refinamento de modo a tornar -se uma universidade promotora de cultura. Era parte deste paradigma que alunos e professores e, também, a intelectualidade extramuros, tomasse contato com os saberes, que na Europa se modificavam em razão dos novos tempos de industrialização, ideologias e consumo[16]. Assim se institucionalizava a pesquisa, mudando o eixo cultural brasileiro, apoiada numa tradição de tornar a formação docente uma missão inovadora (PINTASSILGO, 2011).
Novamente alinhavam-se os interesses franceses que não desejavam perder espaço para a Itália, a Alemanha ou os norte-americanos no Brasil, e estar presente, de forma concreta nos livros que subsidiavam a formação destes docentes era, talvez, mais importante do que apenas ter alguns poucos professores não-franceses (italianos e alemães) como incentivadores e ministradores de uma “nova” metodologia voltada a pesquisa.
Conta-nos Schwartzman (2001, p.13) que por não existirem instalações na nova Universidade que se constituía para os laboratórios e experimentos de pesquisa, os alunos visitavam e pesquisam em várias instituições brasileiras e tinham contato com intelectuais brasileiros e europeus de outros países.  Frequentavam, dentre outros, Leinz, geólogo alemão, no Departamento Nacional de Produção Mineral; os laboratórios de Lauro Travassos, em Manguinhos; o alemão Viktor Gross, no Instituto Nacional de Tecnologia. Observavam as pesquisas mais recentes e as experiências em andamento. Era a integração pretendida entre a intelectualidade, através da Universidade do Distrito Federal, conforme a proposta de Anísio Teixeira. Mas, o que observavam pragmaticamente, era lido e compartilhado nos livros da biblioteca universitária composta por autores franceses.
Tais contatos entre não franceses e estudantes, no entanto, naquele momento político, não interessavam à França, que, de certa forma, sentia que perdia, com cada alemão ou italiano, que os estudantes entrassem em contato, um pouco de sua influência cultural.
Assim, embora com objetivos diferenciados, e até dicotômicos, a UDF teve suas atividades bem sucedidas porque houve, naquele momento, complementaridade de ações, unindo o sonho, o ideal e outros valores apoiados por uma “nova” forma de educar, aos interesses de uma nação preocupada em estabelecer novas alianças em um mundo conturbado após a primeira guerra mundial e as consequências para a França do Tratado de Versalhes.

Bibliografia francesa: doação e sugestão

Em 4 de maio de 1936, o bibliotecário acusou o recebimento, através do relatório nº7/BU, de 472 obras, doação da Universidade de Paris, intermediada pelo professor contratado Èmile Bréhier.
Ainda no mesmo ano, segundo o relatório nº 17/BU de 11 de junho, a UDF recebeu, ainda da Universidade de Paris, por intermédio dos professores contratados Henri Hause e Gaston Leduc, pacotes de livros que incluíam, dentre outras obras, Les Origines Historiques des Problè Économiques Actels, de Henri Hauser; Manuel du Baccalauréat (seconde partie), Serie Philosophie, de Pierre Janet; Les causes de la guerre mondiale, de Camille Bloch.
            Gastão Cruls, em 1937, apresenta a reitoria a escolha deste bibliotecário frente aos catálogos de livros franceses (Relatório nº 13-BU de 11 de agosto), no valor de 70.000 francos, em generosa oferta do Governo francês à nossa Universidade, conforme relatório 139/RU de 29 de julho de 1937.
            Tal quantia foi posta a disposição da Universidade pela França, como doação, a alguns institutos e bibliotecas de países estrangeiros (ibidem) para escolha de livros a partir de catálogo enviado pela Embaixada (ibidem).
            Os livros franceses, escolhidos por catálogo, vieram do Ministério das Relações Exteriores da França, por intermédio do Professor Philippe Arbos (Relatório de 13 de julho de 1937 nº 10/BU), por um pagamento total de 2.025 francos, pagos por cheque do Banco do Brasil, do fundo,  e da conta particular de Affonso Penna Júnior, de acordo com a fatura de Roberto Alvim Corrêa. Foram entregues à Rua do Catete, 147.
            Em 12 de agosto de 1937, mais uma vez o bibliotecário Gastão Cruls encaminhou à reitoria, através do relatório nº 14/ BU, a relação de livros recebidos.

Concluir ouvindo vozes

           
            A intelectualidade brasileira recebeu significativa influência dos franceses que, como «embaixadores» de seu país, aqui atuaram como professores, dentro e fora da UDF. Estes professores, assim como o bibliotecário Gastão Cruls trouxeram, para a biblioteca da Universidade do Distrito Federal as vozes francesas, representando a cultura, considerada à época, a modernidade, a civilização e a universalidade. No momento em que a França participou desta «troca» cultural havia interesses nacionais de continuar uma política iniciada no início do século, e alargada, a partir de Versalhes, de empreender, propagandística e politicamente, um alinhamento considerado necessário, especialmente com os países da América do Sul, o que foi feito nas novas universidades que estavam sendo criadas: a Universidade de São Paulo e a Universidade do Distrito Federal.
A criação destas universidades brasileiras, fez com que se alinhassem França e a elite intelectual brasileira, ainda que seus objetivos não fossem os mesmos. Pelo que pude depreender, a matriz francesa e o idealismo de Anísio Teixeira se complementaram, assim como as pretensões para a UDF e a expansão, como política, da francofilia.
A biblioteca da UDF foi a materialização da política externa francesa, tanto em termos editoriais de aumento da produção e circulação de livros, quanto pedagógica de, em difundindo a cultura francesa, obter, em futuro próximo, novos aliados fora do eixo europeu.
            Ainda que a UDF tivesse sido uma experiência de curta duração, é inegável, que a meta de institucionalizar a pesquisa foi alcançada, mesmo que não exatamente como planejado pelos franceses em sua política propagandística de alinhamento. Mas os franceses tiveram com essa experiência, do contrato de aulas às conferências, e mais ainda com a formação e circulação de conhecimentos expostos na biblioteca universitária, uma influência sólida que perdurou muito tempo após a extinção da UDF na elite intelectual brasileira, ainda não analisada devidamente pela historiografia, como observaram Suppo (2000) e Venâncio Filho (1997).

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[1]  Supervisora Educacional (aposentada) da FAETEC. Criou e coordenou, de 2005 a 2012, o Centro de Memória Institucional (CEMI) do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro. Recebeu moção de relevantes serviços prestados à memória do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do grupo de pesquisa Instituições, Práticas Educativas e História, orientado pela professora doutora Ana Chrystina Venâncio Mignot.
[2] Este artigo foi apresentado em Salamanca, Espanha, no CIHELA (X Congreso Iberoamericano de Historia de la Educación Latinoamericana), em 2012.Toda a classificação sumária do arquivo UDF, que nos possibilitou chegar a esta pesquisa, foi coordenada pelo Prof. Dr. Bruno Dassie, então professor do ISERJ, que, com outros colegas da  instituição se voluntariaram a auxiliar o CEMI nesta tarefa, face ao grande número de documentos não catalogados deste acervo.
[3] A Universidade do Distrito Federal teve sua reitoria instalada no Instituto de Educação, à Rua Mariz e Barros nº 273. O prédio, mandado fazer para a Escola Normal do Distrito Federal, abrigou, também a Escola de Professores, designação como ficou conhecido o Instituto de Educação, incorporado à UDF.
[4] Pedro Ernesto Baptista foi prefeito do Distrito Federal por dois períodos: entre 30 de setembro de 1931 a 2 de outubro de 1934 e entre 7 de abril de 1935 a 4 de abril de 1936. Ver também NUNES, J. R. A administração Pedro Ernesto e a questão educacional. Rio de Janeiro: IFCH / UERJ, 2001(Dissertação de Mestrado)
[5] Eram nomeadas instituições complementares, segundo o mesmo artigo 3 do Decreto 5.513/1935: a Biblioteca Central de Educação; a Escola-Rádio; a Escola Secundária do Instituto de Educação; a Escola Elementar do Instituto de Educação; o Jardim de Infância do Instituto de Educação; uma escola secundária técnica; uma escola elementar experimental; uma escola maternal; e laboratórios e clínicas dos hospitais do Distrito Federal.
[6] Anísio Teixeira fez parte de uma geração de intelectuais cuja preocupação maior, na primeira metade do século XX, foi organizar a nação e forjar o povo através de uma cultura que procurava assegurar a sua
unidade pela instrução pública, pela reforma do ensino e pela construção de um campo cultural a partir da universidade. Essa preocupação levou-o, como outros educadores que lhe foram contemporâneos, a uma relação contraditória com o Estado. (NUNES, 2000, p.13) Anísio Teixeira foi personagem central na educação brasileira nas décadas de 1920/1930. Adepto do movimento da Escola Nova, fez reformas educacionais na Bahia e Rio de Janeiro. Criou a Universidade do Distrito Federal em 1935, quando era Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal. Ver também sobre o educador  INEP. Biobibliografia de Anísio Teixeira. Revista brasileira de Estudos pedagógicos, Brasília, v. 82, n. 200/201/202, p. 207-242, jan./dez. 2001 e ROCHA, João Augusto de Lima. Referências à Revolução na Obra de Anísio Teixeira. Brasília: Revista de Pedagogia, Universidade de Brasília, ano 2 – número 4 – Terceiro especial sobre Anísio Teixeira e sobre ideais anisianos  FÁVERO, Maria de  Lourdes. A. Universidade e poder. Rio de Janeiro: Achiamé, 1980; MENDONÇA, Ana Walesca. Anísio Teixeira e a universidade de educação. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001 e PAIM, Antonio. UDF e a Ideia de Universidade. Rio de Janeiro: Biblioteca Tempo Universitário, 1981.
[7] Affonso Augusto Moreira Penna Júnior (1879-1968) foi advogado, professor e ensaísta, membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 7. Foi reitor da Universidade do Distrito Federal.
[8] O fundo de doação Affonso Penna tinha este nome porque foi constituído por este reitor que, com recursos próprios (o demonstram os cheques dele nos relatórios da biblioteca universitária) comprava livros para a biblioteca universitária da UDF.

[9] A oposição a Anísio Teixeira começa com a criação da UDF, acusada de ser uma universidade esquerdista, senão comunista (FÁVERO, 2004). Alceu Amoroso Lima deflagra uma campanha, com intelectuais católicos, que chega ao Ministro da Educação, Gustavo Capanema exigindo medidas enérgicas contra o comunismo. Por estar fragilizado politicamente o Prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto, demite Anísio Teixeira. A seguir muitos professores, inclusive o reitor, deixam seus cargos em ato de solidariedade, sendo muitos deles, em seguida presos. O Decreto 6215/1935 modifica a estrutura da UDF tirando-lhe a autonomia. Pelo Decreto nº 1.063 de 20 de janeiro de 1939, a UDF foi extinta e seus cursos incorporados à Universidade do Brasil.
[10] A ideia de construir uma Maison de France surgiu após a Exposição Universal, comemorativa do primeiro centenário da Independência do Brasil, que aconteceu no Rio de Janeiro, então capital da República, em 1922.  Do conjunto de edifícios que ocupava quando da Exposição, o governo francês doou ao Brasil uma parte do complexo, uma réplica idêntica do Petit Trianon (a famosa construção de Ange-Jacques Gabriel, de 1768, construída ao lado do Palácio de Versalhes, em Paris), transformado logo em seguida em sede da Academia Brasileira de Letras. Desejosos de mostrar seu reconhecimento, um grupo de intelectuais brasileiros pensava estabelecer, perto da Academia, uma Casa da Cultura Francesa. Essa instituição deveria ser essencialmente a sede do Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura, encarregado de promover o intercâmbio universitário entre os dois países e abrigar um secretariado permanente de trocas culturais. Os diversos projetos em estudo para a construção do edifício, no entanto, foram interrompidos pela eclosão da Segunda Guerra Mundial. (Consulado Geral da França no Rio de Janeiro, A França no Brasil)
[11] A inovação aparente, para o autor, é uma inovação lastreada em hábitos e tradições já existentes que surgem como se novas fossem.
[12] Ver também FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A UDF, sua vocação política e científica: um legado para se pensar a universidade hoje. Pro-Posições. v. 15. n. 3 (45)  set./dez. 2004 
[13] Criada pelo Decreto nº 5.513 de 4 de abril de 1935. Para maiores informações sobre as universidades de curta duração, como a UDF, que foi extinta em 1939 para dar lugar à Universidade do Brasil, ver também como importantes referências os trabalhos: CUNHA, L. A. C. R. A Universidade Temporã - O Ensino Superior da Colônia A Era de Vargas, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1980; CUNHA, Luiz Antonio. «Ensino Superior e a Universidade no Brasil» In: TEIXEIRA, Eliane Marta; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive. 500 anos de educação no Brasil, Belo Horizonte: Autêntica, 2007
[14]Anísio Teixeira, como Diretor Geral do Departamento de Educação e Cultura do Distrito Federal empreendeu, a partir, de 1932, uma ampla reforma educacional, do ensino primário à criação de uma universidade. (MENDONÇA, 1993)
[15] Inicialmente a Universidade de São Paulo, em 1934, depois a Universidade do Distrito Federal, objeto deste artigo. Estas Universidades foram criadas numa perspectiva de ensino articulado, o que as diferia, por exemplo, da Universidade do Rio de Janeiro, de 1920.
[16] Ver também FÁVERO, 2004.op.cit