Memórias do não visto
A
cidade do Rio de Janeiro está a um passo de completar 450 anos e, ainda, poucos
de nós temos a memória do que não chegamos a ver. As fotografias, quando
existem, as palavras escritas em desvão do tempo passado, as pinturas, essas
nos trazem à memória do que não vimos, só. Não vejo exposições a apresentarem
aspectos arquitetônicos ou culturais de nossa cidade. Mas sei que as pessoas se
interessam porque há alguns anos escrevia uma seção de revista dirigida aos
taxistas- os recepcionistas da cidade -. A seção, com artigos mensais,
chamava-se Memória. Todos os táxis que peguei, enquanto escrevia os artigos,
creio que durante dois ou três anos, foram comentados pelos taxistas com seus
passageiros.
Ao
escrever minha tese de doutorado tive acesso à memória esquecida que poucos
conhecem dessa cidade. Percorri o prédio denominado Palácio da Prefeitura,
pertinho da Praça da Aclamação, hoje Campo de Sant’Anna. Ela majestoso! Sediava
a Prefeitura do Distrito Federal quando o Rio de Janeiro era, ainda, capital do
Brasil. Foi derrubado para abertura da Avenida Presidente Vargas. Como a Igreja de Sant'Anna que dá nome ao espaço.
A abertura
da Avenida levou consigo, para o subterrâneo da memória do habitante da cidade
casarios sem importância e ruas inteiras, como a São Pedro, no mesmo entorno,
que sequer saberia ter existido não fosse por meu interesse pela historiografia
existente sobre a história da cidade.
Rua São Pedro, década
1920 (AGCRJ)
Visitei,
em minhas pesquisas, o Convento da Ajuda através das muitas páginas de Luiz
Edmundo e das fotos, últimas, desse ponto tradicional da cidade em suas Folias
de Reis e seus presépios, seus doces gostosos, sempre cobertos por toalhinhas bordadas
e perfumadas, pelas freiras que, dizem, guardava a sete chaves a receita mágica
da “mãe-benta”, doce de estalar na boca. Quem tem memória desses fatos, e do
convento, derrubado no primeiro decênio do século XX?
Covento da Ajuda em
foto de Malta (AGCRJ)
Sugiro aos “lugares
de memória” do Rio, aos arquivos, museus, bibliotecas, que apresentem ao habitante da cidade o Rio que não vimos. Seria bom que
pudéssemos, todos nós, construir essa memória.
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