Cristo
Redentor, “braços abertos sobre a Guanabara”, liberta minha linda cidade dos
grilhões que a impedem de ser maravilhosa como sempre foi!
Liberta
minha cidade da violência que assola suas ruas, becos e praias da violência que
impede que possamos vivê-la intensamente!
Salva-nos
de gente que não respeita suas tradições, seu jeito irreverente de ser, seu
acolhimento a qualquer um que aqui pise!
Deixa
que vivamos, de novo, nosso estádio símbolo, o Maracanã, nos jogos de domingo a
colorir de gente e bandeiras as ruas, os papos de botequim, tornando visível o
espírito alegre e feliz, o jeito carioca de ser!
Permite
que entremos novamente pela Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do
mundo, sem medo, a admirar de suas trilhas nosso Rio lindo, e penetrar nos seus
caminhos de árvores, bichos, cascatas para respirar o ar fresco que dali sai
para uma cidade quente!
Consente
que, do alto da Ladeira da Misericórdia, possamos revisitar sua história, sua
luta, sua formação de tanta gente misturada, vinda de tantos lugares, que fez
dessa cidade o que ela é!
Aceita
que, junto ao seu marco português, guardado e exposto na Igreja dos
Capuchinhos, se louve essa minha cidade
em qualquer rito que se queira, a partir da religião que se escolheu, sem ódios
e repartições!
Acolhe
a todos que queiram ver, sentir e viver nossa vida carioca como sempre foi, sem
discriminar, sem julgar, permitindo que a convivência nos enriqueça a todos!
Cuida
de nós, seus habitantes, nos morros que circundam nossa cidade e onde, na “porta
do barraco sem trinco, a lua fura o nosso zinco e salpica de estrelas o chão”!
Deixa
que possamos, descansar em nossas “praias
tão lindas cheias de luz, [porque] nenhuma tem o encanto que tu possuis, [com]
tuas areias, teu céu tão lindo [e] tuas sereias sempre sorrindo”, sem que um
arrastão nos perturbe ou que a sujeira nos adoeça!
Traz
de volta seus compositores e pintores que espalharam pelo mundo a beleza de
nossa mulata “bossa nova que caiu no Hully Gully”, que no Rio sempre foi a designação
da miscigenação de brancos e negros, que encantou Sargentelli, que inspirou Di
Cavalcanti e que sempre foi sinônimo de formas generosas e perfeitas que, como
as montanhas que nos cercam, são símbolos de sua formosura!
Tira-nos
da ditadura do “politicamente perfeito” que no Rio não somos perfeitos, somos
gente espontânea que compra quinquilharias na Praça XV ou na Rua do Lavradio
para lembrar dos tempos da Tia Ciata, “ da Praça Onze tão querida, do Carnaval
a própria vida”, e onde nosso samba maxixado nascia nos terreiros dos quintais!
Deixa-nos
viver nossas feiras para ouvir a cantoria dos feirantes “vem maluco, vem madame,
vem maurício, vem atriz, pra comprar comigo” que são memórias da carne vendida
na esquina, do peixeiro que visitava as casas e do leite direito da vaca que a
modernidade nos roubou!
Toma
conta de nós porque até quem governa essa cidade hoje não respeita suas
tradições e jeito de ser!
Liberta nossa
vida de tanto preconceito, “cuidado exagerado” e falta de senso porque “minha
alma canta [quando] vejo o Rio de Janeiro[...] teu mar, praias sem fim”!
Por
hoje, benção meu pai, feliz, apesar de tanta tristeza, aniversário!
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